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Ela morreu? Ela morreu, não morreu? Ou está sofrendo de uma doença grave que, se não for suficiente para matá-la em breve, vai impedi-la de tocar, algo parecido à mãe de Kousei, não é? Estou ansioso para descobrir mas não me conte! Não vou procurar spoiler ou o mangá também, vou diligentemente aguardar o próximo episódio. E se tenho algo para dizer a respeito, é que uma história tão conveniente assim não é nada além de brega e apelativa. Mas as sessões de música desse e do segundo episódios me conquistaram, não tem jeito. Nem gosto muito dos personagens, mas me divirto com as emoções em estado puro que Shigatsu consegue transmitir. Esse episódio lança um pouco mais de luz na relação entre Kousei e sua mãe, e abre espaço para muitas especulações, só não mais do que as especulações sobre a Kaori. Mas quero começar esse artigo tratando do elefante na loja de cristais.

Kousei sente-se tocando embaixo de um profundo oceano

Kousei sente-se tocando embaixo de um profundo oceano

Shigatsu trata de um assunto sério, que é o trauma mental do Kousei, como mera ferramenta de enredo. O garoto foi maltratado pela própria mãe doente durante boa parte da infância, psicologicamente, emocionalmente e fisicamente. Ela morreu e ele está traumatizado até hoje, e ao invés de buscar tratamento psicológico, que é o que ele precisa, ele vai apenas “se esforçar com a ajuda de seus amigos” e tudo vai ficar bem no final. Seria legal se funcionasse assim na vida real. Podem existir casos isolados onde realmente uma pessoa, com pura força de vontade e ajuda de pessoas queridas próximas consiga se livrar de um problema de saúde mental sério? Não duvido que seja possível. Mas esses casos podem ser generalizados? Lógico que não. Não obstante, ficção lida por definição com ideias, que são generalizadas. Faz parte da imersão em uma história o leitor se sentir dentro dela de alguma forma, frequentemente no lugar de um dos personagens protagonistas. E a ideia de que podemos superar traumas apenas com força de vontade é absurda, é um desserviço enorme à medicina da saúde mental, sempre tão menosprezada. Mas a história escolhe fazer isso porque tem apelo, daí que eu a chame de apelativa. Se Tsubaki fosse mesmo uma boa amiga para Kousei e gostasse mesmo tanto assim dele, não iria forçá-lo da forma como o está forçando, iria respeitar seus problemas e ajudá-lo da forma correta, sugerindo que busque tratamento. Mas se isso é uma coisa assim tão ruim, como eu posso gostar? Para mim, gostar de Shigatsu é um prazer envergonhado. E já que cheguei até aqui, então por que não continuar?

Kaori sucumbe no palco

Kaori sucumbe no palco

Não tem como falar desse episódio sem começar pelo final. Depois de uma apresentação conturbada por causa do problema do Kousei mas que terminou ovacionada pelo público, Kaori desmaiou no palco. Como nada é à toa, certamente não foi por causa de alguma bobagem como ela ter comido mal no café da manhã. Os sinais estavam aí desde o episódio passado, quando ela passou em um hospital e quando ela chorou para o Kousei dizendo que estava quase se partindo, ou algo nesse sentido. Na verdade, os sinais vêm de bem antes, de quando ela falou que queria tocar para que as pessoas se lembrassem para sempre dela através de sua música, e até mesmo pelo próprio nome do anime (“sua mentira de abril”) e as referências nada sutis dos demais personagens sobre coisas efêmeras quando se referindo à própria Kaori ou a coisas relacionadas a ela. Então Kaori desmaiou em palco, a expressão dela em alguns momentos da apresentação já não era muito saudável, e certamente a causa é grave. Duvido que ela tenha morrido agora, mas pode muito bem estar com alguma doença em estado terminal. Ela está, no mínimo, em situação parecida a que a mãe de Kousei estava nos seus últimos anos. Quem escreveu essa história só pode odiar o Kousei, por ter coragem de fazê-lo reviver a mesma situação dramática. O garoto não viveu nem duas décadas ainda! Isso é demais para uma pessoa só em tão pouco tempo!

Kousei está encolhido nas sombras, Kaori é a luz

Kousei está encolhido nas sombras, Kaori é a luz

Pelo menos todo o comportamento da Kaori até agora é perfeitamente adequado a esse final. O que a torna mais um mero instrumento de enredo, mas bom, já disse que nem gosto muito dos personagens em Shigatsu, então não espero muito deles mesmo de qualquer forma. As emoções que o anime transmite são o que me divertem, ainda que fundamentadas em apelação e breguice. Nesse episódio foi possível sentir todo o drama de Kousei, sobre o qual até agora só tinha ouvido falar. E a relação que ele tinha com a mãe dele parece mais complexa também – e isso ter sido aprofundado instantes antes da Kaori colapsar no palco dá mais um sinal da gravidade da situação de saúde dela e do quanto o autor gosta de roteiros bregas. Aparentemente nem sempre sua mãe o maltratou. Quando ele era bem pequeno ela parecia ser uma boa mãe, que não maltratava o filho e o ensinava música por amor à música e ao filho. Mais ou menos como Kaori está agora devolvendo o amor à música para Kousei. Em algum momento ela deve ter ficado doente e não pôde mais tocar, e começou a cobrar cada vez mais do próprio filho, a descontar nele suas frustrações. Como era uma criança muito nova Kousei não entendeu essa mudança, que deve ter sido gradual, e no fundo do seu coração se culpava, achava que a mãe estava doente por culpa dele. Sobre a doença em si, se ela acabou imobilizada em uma cadeira de rodas com respirador mas ainda mantinha suas faculdades mentais intactas, chuto uma doença degenerativa muscular. O que assustadoramente pode se encaixar na situação da Kaori também. Talvez essa tenha sido a última vez que ela tocou?

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