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A frase do título desse artigo é dita pela heroína desse mundo, a própria Joana D’Arc. Ela foi escolhida pelos deuses para executar uma tarefa não menor do que derrotar o próprio Bahamut, ou nisso ela e toda a humanidade acreditam piamente. Ela, como sua contraparte do mundo real, era apenas uma filha de camponeses e, no entanto, acaba se tornando uma poderosa guerreira que liberta seu povo em mais de uma forma: não apenas da forma óbvia, direta, lutando e derrotando seus inimigos, mas de forma simbólica também, se tornando um feixe de luz a mostrar o caminho em meio às trevas que cada vez mais cobrem o mundo. É por ter a santa escolhida pelos deuses que os homens podem viver em paz mesmo sofrendo constantes ataques de hostes demoníacas. Esse é o papel dela. Joana D’Arc não escolheu fazer isso, foi o destino dela que se encarregou de torná-la o que ela é. Esse é o papel da heróina das pessoas do mundo de Shingeki no Bahamut. E qual é o papel dos nossos heróis, os espectadores? Quais os papéis de Favaro, Amira, Kaisar e Rita?

Joana D'Arc sem sua armadura, andando sozinha quando encontra Favaro

Joana D’Arc sem sua armadura, andando sozinha quando encontra Favaro

Vou apenas resumir nesses primeiros parágrafos os acontecimentos e revelações importantes desse episódio antes de falar do que eu realmente pretendo falar. Primeiro, Bahamut foi selado pelo maior dos deuses, Zeus, e pelo maior dos demônios, Satã, que transformaram a si mesmos nas duas chaves que selaram Bahamut: a Celestial, que Amira roubou, e a Demoníaca, que provavelmente está em Helheim. Há uma profecia que os humanos conhecem que diz que quando as chaves forem reunidas, o selo irá se desfazer, Bahamut despertará e mais uma vez trará a destruição ao mundo, e então um herói surgirá e o derrotará. Como já disse, os homens acreditam que esse herói é Joana D’Arc. De fato, os deuses a escolheram, mas não tenho certeza que o plano deles é tão simples assim. Conversando entre si, eles falaram nela como a escolhida para ser um “receptáculo”, e não costumo ver muito heroísmo em receptáculos. Talvez pretendam selar Bahamut no corpo de uma mortal? Pobre Joana D’Arc.

A estátua do Bahamut na capital do reino, com o minúsculo herói no topo de sua cabeça (aquela bolinha)

A estátua do Bahamut na capital do reino, com o minúsculo herói no topo de sua cabeça (aquela bolinha)

E qual é a dos demônios? Eles estão atacando os humanos, ou mais especificamente, estão atacando a nação à qual Joana D’Arc pertence, e penso que seja apenas para atrapalhar os planos dos deuses, não por algum tipo de ódio primal contra seres humanos. Finalmente Lavalley revelou-se como um traidor, e mais do que isso, creio que ele seja o demônio Martinet ou esteja intimamente associado a ele. Martinet foi o demônio responsável por fazer Amira roubar a Chave Celestial e por querer ir até Helheim. Como Martinet não parece ser um traidor entre os demônios, só posso supôr que esteja apenas cumprindo uma missão; de certa forma, a mesma que Azazel, que após seu fracasso foi rejeitado por Lúcifer e partiu com todas suas tropas para recapturar Amira e se redimir. O que querem os demônios? Talvez o mesmo que os deuses, mas usando Amira como seu “receptáculo”. Foi revelado que Amira é, na verdade, meio anjo e meio demônio, e isso deve fazer dela uma candidata a receptáculo muito melhor que uma humana como Joana D’Arc. Estando certas as imagens que Amira vê em seus sonhos, acredito que sua mãe fosse uma anja (ou deusa, Bahamut parece tratar os dois como a mesma espécie), o que faria de seu pai um demônio. O próprio Martinet? Lavalley, supondo que ele seja um demônio e não seja o próprio Martinet? Mais importante, o que os deuses ou os demônios ganham criando um receptáculo para o Bahamut, e se o selaram juntos milênios atrás, porque não o, hmm, “receptaculizam” juntos também? Se fosse só para destruir ou derrotar o Bahamut esse seria o caminho natural. Tem caroço nesse angu.

O herói que derrotará o Bahamut quando ele despertar. Ele está em escala natural, será que a espada que ele segura é real e será usada?

O herói que derrotará o Bahamut quando ele despertar. Ele está em escala natural, será que a espada que ele segura é real e será usada?

Agora os papéis dos heróis. Começando pela mais fácil, o papel de Rita: ela está lá para ser a única personagem equilibrada e com bom senso, com a função de resolver os conflitos dentro do grupo de heróis, guiá-los para o caminho correto e, por último mas não menos importante, ter um poder útil para ataque e suporte quando necessário. Ela não se desenvolveu nada como personagem, simplesmente resolveu seguir o Kaisar sem nenhum motivo aparente, depois fez Favaro salvá-lo, e nesse episódio foi a primeira a perceber que algo havia acontecido com Amira. Ela pode ser legal, e eu acho ela legal, mas ela é só um instrumento de roteiro, para o bem ou para o mal. Imagino que papel ela terá quando chegarmos ao arco final. Personagens assim são bons candidatos à morte para aumentar a carga emocional. Até agora Bahamut não apelou para o emocional do expectador, mas nunca se sabe.

Esse é o rei com cara de carta de baralho. Vou chamá-lo de Rei de Copas

Esse é o rei com cara de carta de baralho. Vou chamá-lo de Rei de Copas

A outra garota, a heroína, a nossa querida demônia (desculpe, meia demônia), a nossa Amira, tem no universo de Bahamut a mais importante função, embora ela ainda não esteja muito clara. Se eu estiver certo e ela for, como Joana D’Arc, um receptáculo para o Bahamut, imagino que após uma sequência de tentativas frustradas de impedí-la de cumprir com esse seu papel, ela vá, de fato, absorver a criatura imortal que não é deus nem demônio e é mais poderosa que ambos. Antes e depois da transformação, contudo, o papel dela é o de donzela em apuros. Sim, ela é forte pra caramba, sim, até agora ela mais ajudou o Favaro do que foi ajudada por ele, mas no fundo, ela não tem a menor capacidade de viver por conta própria nesse mundo. Ele a está salvando diariamente apenas por estar do lado dela. O fato dela salvá-lo de monstros de vez em quando não muda o fato de que ela precisa dele mais do que ele precisa dela.

Três anjos (ou deuses) aparecem sobre a capital para instruir os humanos sobre como agir com Amira e os demais cativos

Três anjos (ou deuses) aparecem sobre a capital para instruir os humanos sobre como agir com Amira e os demais cativos

Favaro é o herói da história, ele possui o mais alto e nobre papel para nós, espectadores, ainda mais considerando que essa é uma história de aventura fantástica do começo ao fim. Kaisar é seu conflito pessoal, o primeiro que ele precisa superar para se transformar no herói que ele está destinado a ser, e a partir daí será seu mais fiel parceiro. Nem mais forte nem mais fraco, Kaisar complementa Favaro para que ele não pareça isolado do mundo e, portanto, menos humano. Joana D’Arc parece humana? Sempre sozinha, liderando um exército enorme sozinha, derrotando monstros e demônios sozinha, sozinha até em momentos íntimos, como quando ela encontrou com Favaro nesse episódio. E não foi um encontro inconsequente: é muito simbólico que seja ela a dizer que com certeza Favaro tem um papel a desempenhar, tem um destino. Favaro ainda não sabe disso, mas instintivamente ele procura proteger aqueles que lhe são caros, e é por isso que apesar de tudo ele fez o que fez para salvar Kaisar e Amira. E apesar de tudo nem pestanejou antes de correr para procurar Amira quando Rita disse-lhe que ela havia desaparecido – mesmo eles estando brigados, mesmo ele tendo dito coisas horríveis para ela poucas horas antes. Favaro, em suas próprias palavras, é apenas ele. Ele não pode evitar ser mentiroso, trapaceiro, egoísta, mulherengo. E ele não poderá evitar ser o herói que salvará Amira e derrotará Bahamut quando chegar a hora.

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