[sc:review nota=5]

Antes de tudo, explicar o óbvio: eu pretendia fazer um artigo separado para cada episódio, mas meus artigos estão todos atrasados e os episódios de Kiseijuu já estão acumulando. Como são os dois episódios de um só arco, resolvi fazer um artigo só. Me desculpe se não ficar tão bom quanto seriam artigos individuais. Sobre os episódios em si, apesar de tudo, ao final do oitavo episódio eu achava que o Shimada fosse durar mais. Provavelmente eu achei isso por causa da ligação dele com a Ryouko, única parasita pura nomeada na série que vive por mais de um arco. O Shimada durar teria levado a série para um rumo interessante, que forçaria a discussão das relações entre humanos e parasitas em direção a alguma forma de coexistência. Ao invés disso, o Shimada morreu e a história segue o rumo totalmente inverso: a humanidade começa a conhecer os parasitas, reconhecendo-os como nada além de inimigos, e começa a planejar estratégias para combatê-los. Não que isso não possa ser interessante também, e essa nem foi a primeira vez que Kiseijuu me enganou sobre os rumos que pretendia seguir, mas estou um pouco sem ideias sobre o que esperar para o próximo episódio agora.

Começo reconhecendo: a Tachikawa é muito corajosa. Ela representou para o anime aquele fio de esperança, o mesmo que eu tive, de que parasitas e humanos pudessem tentar o caminho da conciliação. Mas Shimada se recusou. Claro que colocar um parasita rejeitando o caminho da coexistência reforça o caráter de monstro inimigo dos parasitas, mas eu ainda não consigo vê-los dessa forma tão simplista. O próprio anime já deu incontáveis pistas de que os parasitas não são piores que os seres humanos, e que só odiamos eles tanto assim porque são a única espécia que se atreve a nos predar. Mas são inteligentes e casos como o próprio Shinichi e também o Uda demonstram de forma inequívoca que essa não é a única opção. Ainda assim, por enquanto é a opção do anime.

Durante o episódio 9 a Tachikawa descobriu que o Shimada era um parasita (além de descobrir o que são parasitas) mas ao invés de entregá-lo para as autoridades (o que seria bem fácil para ela que tem um irmão trabalhando na polícia) ou mesmo comentar sobre o assunto com qualquer conhecido, decide ter uma conversa cara a cara com o próprio Shimada. Para nós espectadores é fácil pensar o quanto a Tachikawa estava sendo ingênua e o quanto ela estava se arriscando. Mas ela não conhecia nada sobre o Shimada e sobre os parasitas, só sabia o que a polícia já sabe: eles são monstros que comem pessoas. Claro que os sentimentos dela pesaram, mas não deixa de ser louvável que ela tenha pensado em conversar antes de apontar o dedo para acusá-lo. Ora, se as autoridades sabem tão pouco sobre os parasitas, o que garante que sejam todos monstros? Para quem assiste a resposta a essa altura parece dolorosamente óbvia (pelo menos no caso do Shimada), mas coloque-se no lugar da Tachikawa que não sabe nada do que eu e você sabemos.

Enquanto isso o protagonista, Shinichi, está tendo sérios problemas com sua nova natureza, ainda em algum lugar indefinido entre humano e monstro, e a incompreensão da Murano não o ajuda nem um pouco. Não se trata apenas do relacionamento entre os dois, eu acho que se ela fosse mais compreensiva, se tentasse entendê-lo (sem deixar de repreendê-lo quando ele merecesse, como eu acho que foi o caso com o cachorro morto), ele teria mais paz de espírito para, inclusive, lidar melhor com o Shimada. Claro que a culpa não é só da Murano. O Shinichi está perdido. O fato da Murano não ajudar só significa que ele terá que se achar sozinho. Mas talvez os acontecimentos infelizes do episódio 10 pudessem ser evitados se o Shinichi estivesse menos preocupado com outras coisas. Veja, ele foi grosso sim com ela, e tenho certeza que ele ter mudado tão rápido é estranho, e é compreensível que ela esteja preocupada. Mas que esforço ela fez para entendê-lo? O evitou quase o tempo todo. Quando finalmente decidiu que era hora de voltar a falar com ele, não tentou entendê-lo apesar dele estar tentando se explicar. Só bateu na tecla de que ele havia mudado, estava diferente e ela não o reconhecia mais. O que ele poderia fazer? O que poderia dizer? Ele não pode mais voltar a ser como era antes. Se é isso que ela quer, então está mesmo tudo acabado entre eles. Murano não está preparada para crescer junto com o Shinichi e lidar com mudanças.

Felizmente a Tachikawa estava preparada para lidar com a possibilidade do Shimada rejeitá-la. Infelizmente para a escola o que se seguiu foi um banho de sangue. Ferido pelo solvente (aposto que qualquer parasita que tome conhecimento disso tomará mais cuidado com suas células externas durante suas transformações a partir de agora), Shimada perdeu o controle de parte de suas células mais externas por perder o contato com elas. Foi como uma divisão, daquelas que o Migi já mostrou como fazer. Como o Migi disse antes, partes muito pequenas não possuem inteligência, apenas seguem uma diretriz determinada pelo parasita antes da divisão. E que diretriz o Shimada teve tempo de determinar? Nenhuma. Ele estava simplesmente em modo de ataque e atacando. Assim, não só o Shimada não conseguia voltar ao normal como seus tentáculos externos atacavam sozinhos quem quer que se aproximasse. Como ninguém em condições de conversar com ele se aproximou durante todo o massacre nunca saberemos, mas tenho quase certeza que se ele pudesse teria evitado tudo aquilo. O que não quer dizer que ele não mataria ninguém. Tenho certeza que matari. Mas fugiria rapidamente depois de matar uns poucos, não por sentimentos que os parasitas não possuem afinal, mas por puro bom senso e lógica, que não os falta: teria sido mais seguro.

Eu achei que o Shinichi poderia acabar se expondo. Bom, ele evitou combate direto e ninguém viu suas transformações, mas os saltos que ele deu com a Murano foram claramente super-humanos. Ela pode estar deslumbrada com ele e anestesiada com o trauma do que aconteceu na escola, mas se ela parasse para pensar friamente iria concluir que o Shinichi simplesmente não pode ser humano. Por enquanto parece que ela não está disposta a pensar ainda. O que só pode significar mais drama para o Shinichi. Não há como ignorar que a Kana continua andando por aí e também deslumbrada com o Shinichi. E uma morre de ciúmes da outra. Quero dizer, ótimo, tudo o que eu precisava no meu anime de horror era de um triângulo amoroso adolescente.

Sobre ser um anime de horror, o episódio 10 foi o primeiro que realmente me pareceu ser de horror em algumas cenas. Não por causa da matança em si, ver o Shimada matando não era horror, era apenas gore. Mas o Shinichi andando pelos corredores vazios de uma escola atacada por um monstro, seguindo seu rastro de corpos, com toda a pressão psicológica que ele estava sentindo no momento e a forma como a cena foi montada, culminando no momento que ele encontra os sobreviventes mas parte deles foge e é capturada e morta fora da tela e a fuga dele e da Murano de um inimigo que não estão vendo onde está (bom, o Shinichi provavelmente tinha uma ideia suficientemente precisa da posição do Shimada, mas o que importa é o clima da cena) foi muito legal. Passou muito bem o clima de horror que a série supostamente tem. Só por causa disso achei o episódio 10 fantástico.

Infelizmente as coisas agora escalaram. O governo já prepara o contra-ataque, o protagonista já está vendo os efeitos disso e o episódio termina sombriamente com uma narração, indicando uma provável mudança de rumos na narrativa. Com que tipo de arco será que Kiseijuu terminará sua primeira metade? A Ryouko já deve estar à beira de dar a luz. Consigo imaginar esse bebê nascendo no final do episódio 12 e a Ryouko o erguendo de forma sinistra, em um clima de nascimento do Anti-Cristo. Mas já errei tanto até agora que, sinceramente, não me leve a sério quando faço previsões sobre Kiseijuu. E bom, já que estou falando de dois episódios em um só artigo e, por enquanto pelo menos, só estou escrevendo artigos com uma imagem, nada mais justo que encerrar com uma imagem do episódio 10.

O novo Shinichi consegue suportar a pressão e fazer o que deve ser feito

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