[sc:review nota=3]

Essa é a conclusão a qual Ange chega depois de ser rejeitada por sua própria irmã, sua família e seu povo. E ela não estava só desabafando não, ela planeja realmente provocar todo o caos que puder até que sua última gota de sangue escorra para fora de seu corpo então sem vida. Não posso dizer que concordo com ela, mas ao mesmo tempo a entendo. No geral, o episódio não foi ruim, mas mais me incomodou do que me agradou. Ou seja, algo normal em se tratando de Cross Ange.

Conforme visto na prévia ao final do episódio anterior, esse começa com Ange sendo chicoteada pela própria irmã mais nova. O preconceito nesse mundo não tem qualquer limite moral, racional, nenhuma piedade, e nenhuma nuance: existem pessoas que odeiam normas, que se divertem com sua desgraça, querem sua tortura, sua morte, querem que sejam banidas e varridas da sociedade, e existem pessoas que aceitam normas como pessoas normais (isso soa péssimo mas tenho certeza que é intencional). Para o azar das normas os primeiros superam os segundos por vasta maioria. Felizmente, contrariando minha suposição do artigo anterior, Momoka se encaixa no segundo grupo. Ela foi usada pelos irmãos malvados da Ange para atraí-la sem saber que estava levando sua mestra-dona para uma armadilha.

Já cansado de torturar Ange, o reizinho Júlio profere sua sentença de morte para delírio da plateia que assistia a tudo. Claro que as ex-amigas de Ange do quadribol estavam assistindo da primeira fileira e só não foram mais incisivas nas ofensas contra a princesa do que a própria família real. Ange tenta argumentar que não importa o que ela possa ter feito, a pena de morte é um exagero. Não sei se foi intencional, mas acabam admitindo que Ange está certa quando o único argumento que resta para condená-la é ela ser uma norma. Por algum motivo Ange tira esperança do desespero (que ela não aparentava, de todo modo; bom, depois do que passou em Arzenal isso não seria surpreendente, mas ainda acho estranho) e diz para si mesma que não irá morrer enquanto começa a cantar a canção que sua mãe cantava, para o desgosto de seus irmãos e de todos os demais presentes. Ange é levada ao cadafalso e ele é aberto.

No mundo real ela teria morrido ali e Tusk seria um fracasso ambulante. Forcas são projetadas não para matar os condenados por sufocamento, mas para partir seus pescoços com o peso de seus próprios corpos em queda livre. O nó da corda, a posição no pescoço e a altura mínima da queda são morbidamente calculados para matar instantaneamente. Claro que as vezes falha e o pobre coitado se contorce sem ar até a morte, mas isso é a exceção, não a regra. Por isso Tusk foi um imbecil, é quase inacreditável que ele tenha recebido qualquer treinamento e esteja na posição em que está. Ele não deveria ter esperado até que Ange caísse para então cortar a corda e salvá-la, porque o mais provável é que depois de cair não houvesse mais salvação possível. Mas bem, isso é Cross Ange.

Para piorar, libertar Ange da forca foi tudo o que Tusk fez, porque em seguida ele caiu mais uma vez de cara na virilha dela e foi nocauteado pela princesa. No meio da confusão Momoka se libertou e ajudou Ange a levar o inútil do Tusk até a moto voadora dele e então partiram para segurança. Porque um reino mágico não precisa de Força Aérea, então não tinham como persegui-los, suponho. Durante a viagem de volta para Arzenal Tusk afirma ser um “Cavaleiro de Villkiss” e que sua função como tal era proteger … as normas matadoras de dragão, suponho. Ou talvez só as que pilotem a Villkiss, como é o caso de Ange, coincidentemente. De volta à Arzenal, Ange é espancada e presa por ter desertado. Pelo menos dessa vez não fui obrigado a assistir isso e não houve nenhuma sugestão de que ela tenha sido sexualmente violada, mas ela foi jogada nua na cela porque alguém na Sunrise deve achar muito sexy uma adolescente nua desacordada cheia de escoriações.

Salia e Ersha demonstram estar pessoalmente ofendidas por Ange ter fugido. Realmente não entendo porque. Não é como se Ange tivesse fugido delas, e ela tinha uma boa razão para fugir. Não que elas queiram saber. Ersha até pergunta, mas não espera Ange responder. Bom, Ange sendo Ange acho que ela não responderia mesmo, mas permanece o fato de que Ersha sequer esperou. Depois é revelado que Chris e Rosalia reagiram de forma parecida com Hilda. No caso delas a sensação de que foram abandonadas é um pouco mais compreensível, mas ainda achei forçado. A propósito, Hilda e Ange estão na mesma cela. Parece que Hilda não foi condenada à morte, mas apenas presa e reconduzida para Arzenal. Depois de tomar uma surra de 50 homens, segundo a própria.

E agora as duas, Ange e Hilda, tornaram-se definitivamente melhores amigas depois de fugirem, se frustrarem profundamente ao serem desprezadas e odiadas pelas pessoas que mais amavam, serem recapturadas (bom, Ange voltou sozinha, mas dá no mesmo) e presas pela deserção. Mas creio que haja uma diferença entre as duas: Hilda depois de rejeitada pela mãe, apesar de todas as palavras duras que ouviu, apesar de ter sido traída, não parecia odiá-la por isso. Estava apenas apática e profundamente magoada. Enquanto Ange, por sua vez, parece ter nutrido um profundo ódio contra o mundo que a rejeitou, julgou, e tentou matá-la. Nesse contexto é que Ange decide querer se vingar do mundo por tudo o que ele fez a ela. De novo: não aprovo, mas compreendo. E conforme Hilda a questionava sobre como fazer isso, Ange respondia como pretendia fazer dar certo de um jeito ou de outro. Isso trouxe um pouco de ânimo de volta à Hilda, e no final a ruiva concorda com a princesa e o episódio chega ao fim com elas decididas a se tornarem protagonistas de suas próprias histórias, mesmo que a única forma disso ser possível seja através de uma triste história de vingança e destruição. Não é o fim da esperança: é a esperança no fim. Seria uma melhora no enredo, mas não consigo levar a sério. Duvido que Cross Ange se atreva a me provar que estou errado.

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