[sc:review nota=3]

Ainda não entendi se os trens são tradicionais, com rodas, ou levitam de alguma forma. De todo modo, pela via parecem ser monotrilhos, mas pelo trem não parecem nada. E em um momento os vilões estão na cabine de comando do trem, mas em outro toda a frente do trem se abre para os passageiros saírem, demonstrando que ele não tem cabine nenhuma. Não faria sentido ter cabine de todo modo já que a condução é remota, então acho que o erro foi ter aparecido uma cabine em primeiro lugar. Consistência é isso aí. Há problemas gritantes também na conexão entre as dominators e Sybil. É tudo futuro, a tecnologia pode ser diferente? Claro, espero que seja. Mas vejo no anime problemas que nunca existiram ou já foram resolvidos pela tecnologia hoje, e certamente não espero que tenham surgido ou ressurgido em um futuro distópico onde a sociedade é regida pela tecnologia. Estou sendo mesquinho, apontando detalhes do cenário ao invés de considerar tudo isso liberdade criativa na condução da história? Estou mesmo. E é um artigo longo sobre isso. Me aguente. Quando a história é boa a gente ignora o som no espaço e a cabeça do protagonista continuar inteira embora ele tenha sido arremessado com tal força contra uma parede que a mesma rachou. Quando ela é ruim, bem, aí todos os defeitos ficam muito mais evidentes. Psycho-Pass 2 pode muito bem ser considerado uma desconstrução do mundo criado pelo próprio Psycho-Pass original, ao levar às raias do absurdo os temas propostos e recursos de narrativa utilizados na primeira temporada. O problema é que isso não parece intencional.

Por que eles reuniram todos os trens em um lugar só? E um lugar fechado e vulnerável ainda por cima. Nenhum sistema de segurança ferroviária decente faria isso. Haviam trens, imagino, circulando por uma vasta malha subterrânea de linhas. Ainda que só parte deles tenham sido desviados para aquele pátio subterrâneo, isso não faz sentido. O sensato seria evacuar todos os trens na estação mais próxima ao ponto em que estivessem, exceção feita talvez ao trem imediatamente à frente do trem desgovernado. Isso é o que é feito hoje. E o trem desgovernado? Dou de barato que Kamui é tão pica das galáxias que ele ou alguém escalado por ele foi capaz de assumir o controle do comando do trem e do aparelho de mudança de via e por isso o centro de operações não só não conseguiu pará-lo como não pôde evitar que ele fosse ao encontro dos demais trens. Mas será que situações parecidas não ocorrem hoje em dia? Digo, trens desgovernados, que não obedecem sinalização ou perdem os freios. Infelizmente acontece, mas felizmente a operação ferroviária de hoje tem um modo relativamente eficiente de lidar com eles: desligando a eletricidade do trecho de linha ocupado pelo trem perdido. Sem energia ele continuará se movendo por inércia mas acabará parando. Na verdade isso nem sempre é recomendado: imagine o que acontece a um trem sem freio e sem energia em uma ladeira. Mas francamente, se fosse isso teriam dito, e todo o sistema de túneis subterrâneos da cidade parece bastante plano sempre que surge em tela. Ou talvez eles tenham assumido controle do sistema de controle remoto de energia também? E não havia nenhum controle local que pudesse ser acionado manualmente. Sim, admito que há explicações plausíveis, elas apenas são complexas demais para parecerem óbvias.

Agora sobre os passageiros dos trens. Havia apenas 500 reféns. Somando os passageiros dos vários trens parados naquele grande pátio subterrâneo havia apenas 500 passageiros. Um trem sozinho carrega confortavelmente mais de mil passageiros, varia em cada sistema, mas esse é um número razoável para quase a totalidade deles. Com confortavelmente quero dizer confortavelmente mesmo: até os que estiverem em pé estarão confortáveis, não falo de trens lotados em horário de pico. Mais: os trens de Tóquio são particularmente grandes, comportando uma quantidade igualmente grande de pessoas. E vários trens juntos tinham apenas 500 passageiros. Claro que Kamui em sua incrível sabedoria escolheu uma hora que ele sabia que o sistema estaria particularmente subutilizado, essa é a explicação que livra a cara do roteirista. Mas sem nenhuma construção narrativa em torno disso parece só uma falha grotesca de construção de cenário. Mas chega de falar de trens. Quero falar da outra tecnologia estupidamente irrealista que esse episódio exibiu: a conexão entre dominators e Sybil.

Como aprendemos na primeira temporada, há vários escâneres de leitura cimática, mas seus dados entram em uma fila para serem analisados por Sybil conforme a disponibilidade do sistema. Os únicos leitores com acesso privilegiado e leituras em tempo real são as dominators, por isso mesmo denominadas Olhos de Sybil, o que é muito adequado. Nem vou entrar na questão de como elas conseguem se conectar ao Sistema em lugares onde não há conexão disponível, porque eu já havia engolido isso na primeira temporada. Nesse episódio descubro que exatamente por ter leituras em tempo real as dominators podem ser usadas para sobrecarregar a conexão com Sybil. É um ataque clássico de negação de serviço, que sempre será eficiente em redes não importa quanto a tecnologia evolua, então até aí sem problemas. Exceto o fato de serem necessárias míseras seis dominators fazendo leituras em poucas centenas de pessoas ao longo de alguns minutos para que uma conexão de uma tecnologia futurista de importância vital para sua sociedade fique saturada. Que porcaria de conexão essa, hein Sybil? Me pergunto como é que o sistema nunca saiu do ar antes. Lembra-se da primeira temporada quando Makishima deu os capacetes da pureza de espírito para dezenas de foras da lei causarem pela cidade? Como Sybil não caiu com todas as conexões feitas para leitura de seus estados mentais naquele incidente? Claro, pode-se argumentar que o problema não é a quantidade global de conexões, mas o número de conexões em uma área específica. Aí faz todo o sentido: o que caiu não foi a conexão com Sybil, mas a conexão com um roteador local daquela área que por sua vez se conecta com Sybil (ou com outros roteadores, enfim, não importa). Ainda assim é pouco para a tecnologia atual: um roteador wi-fi industrial especialmente potente pode suportar mais de uma centena de conexões simultâneas, e no caso de Psycho-Pass estamos falando de apenas seis conexões. Conexões sendo usadas implacavelmente, mas apenas seis. Quer mesmo me convencer que a tecnologia de um futuro que permite criar um supercomputador usando uma matriz de cérebros humanos vivos e capazes de manter suas consciências e individualidades não é capaz de lidar com seis conexões pesadas? Quando muito as dominators se desconectariam (como acontece quando você e sua faculdade inteira estão usando o wi-fi aberto durante o intervalo de aulas) mas a rede continuaria ativa à pleno vapor.

E tem a questão constrangedora da segurança da conexão de reserva. Porque o objetivo de Kamui era derrubar a conexão principal para que Sybil fosse forçada a ativar a conexão reserva, que teria um sistema de segurança mais fraco. Preste atenção nisso: conexão com segurança mais fraca. Isso não existe. A segurança está nas pontas, não no meio em si. Esclareço: em uma conexão entre duas máquinas quaisquer (seu PC ou mobile e o servidor onde anime21 está hospedado, por exemplo) são as máquinas que determinam o nível de segurança, não a conexão. Não importa se você estiver conectando via wi-fi, cabo, dial-up (isso ainda existe?), o país onde você está, etc, a forma de entrar no painel administrativo do blog é a mesma, bem como sua segurança. Não que não seja possível definir níveis de segurança e formas de login diferentes dependendo da conexão, mas para que fazer isso ao invés de sempre usar a segurança máxima? No blog, eu poderia por exemplo livrar o endereço de IP da minha casa do fardo de ter que digitar uma senha. Mas não estamos falando de um blog e de uma conexão de conveniência, mas de uma conexão reserva para um sistema vital para uma cidade onde dezenas de milhões de pessoas vivem (hoje a metrópole toquiota tem 30 milhões de habitantes, quantos terá no futuro de Psycho-Pass?). Obviamente não há vantagem nenhuma em ter um sistema de segurança mais vulnerável associado a uma conexão reserva. Por que é assim? Só posso especular. Talvez com a queda do roteador principal (viu que já dei de barato a hipótese de que derrubaram só a conexão local, né?) tenha entrado no ar um roteador reserva que na verdade é mais antigo e a conexão com ele não suporta protocolos tão avançados de segurança. Mais ou menos como existem hoje roteadores wi-fi antigos que só suportam WEP ao invés de WPA (se você tem um roteador wi-fi jamais use segurança WEP, ok?). Ainda assim, é só a conexão com a máquina local (o roteador) que seria menos segura, não a conexão com Sybil. A não ser que a conexão entre os roteadores e Sybil simplesmente não tenha um sistema de segurança, mas isso seria estúpido demais. E de novo, aqui estou eu explicando coisas absurdas que o anime não se deu ao trabalho de explicar e estou precisando fazer um esforço danado para que tudo faça um mínimo de sentido. Mas esse esforço não vale a pena para Psycho-Pass 2.

A história é tão absurda quanto o mundo onde ela ocorre. Já entrei em detalhes no artigo sobre o episódio anterior então não vou me prolongar muito a respeito, me restringindo ao que ocorreu nesse episódio. Jura que querem que eu acredite que a segurança pública não tem suas próprias bombas? E que estão usando as bombas apreendidas de um bandido associado a Kamui, conforme o próprio previu? E que por isso elas não funcionam? É tanta bobagem que foi difícil segurar o riso nessa parte. Kamui é mesmo tão inteligente! Espera, não teria sido ainda mais inteligente não dar bombas para a segurança pública assim não correrendo o risco de, sabe, eles terem alguém que as analisasse antes e desarmasse qualquer sistema de controle remoto para poderem utilizá-las conforme suas próprias necessidades? É lógico que isso não aconteceu porque Psycho-Pass 2. Inteligência e Psycho-Pass 2 são como água e óleo queimado fedorento radiativo estelar do inferno com lasers. Shimotsuki continua patética. Mas entre uma ataque de negação de culpa e outro ela finalmente resolveu contar para Tsunemori o que sabia. Só agora, menina? Por que faz isso comigo? Outra parte engraçada pra caramba foi quando a Tsunemori foi falar com o figurão preso no episódio passado, e ele havia ficado lá esse tempo todo sendo interrogado pelo Saiga. Tá bom, nem se passou tanto tempo assim, é possível, vá lá, mas a cena foi tão mal montada que foi engraçado. Parecia alguém casualmente entrando no quarto de dois amigos conversando em um fim de semana qualquer. E eu estava certo sobre Kamui e Sybil serem conceitualmente semelhantes, dado que ambos são quimeras formadas pela união de cérebros de várias pessoas. E adivinhe só, é exatemente por isso que Sybil não é capaz de medir o estado mental de Kamui. E não é nem por incapacidade, é porque Sybil teria que alterar seus algorítmos para ser capaz de medir o estado mental de uma quimera desse tipo, o que, adivinhe só, permitiria que o próprio Sybil pudesse ter seu estado mental medido. Confesso que a premissa é interessante, só é uma pena que foi terrivelmente desenvolvida. Pior: já que esse sempre foi seu plano, fica implícito que Kamui sabe que Sybil é uma matriz de cérebros, o que é um segredo que nem o Estado sabe. Ai Psycho-Pass 2, acaba logo. Quero parar de sofrer com você e poder esperar em paz até que saia o filme, o qual certamente fará eu sofrer ainda mais.

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