[sc:review nota=5]

É o terceiro episódio e há uma porção de coisas que dá para ter certeza. Acima de tudo, tenho certeza que essas coisas são apenas o cenário, a história de verdade talvez ainda esteja por vir, ou talvez já esteja se insinuando de formas sutis demais para a minha sensibilidade perceber. Falando em coisas que eu não percebo, já li mais de uma pessoa dizer ter visto referências a elementos de filmes de terror japoneses nos primeiros episódios. Eu não conheço nada sobre filmes de terror japoneses, então é normal que eu não tenha identificado nenhum desses elementos, mas também não percebi nenhuma atmosfera de terror em momento algum. Falha minha? Vou discutir um pouco sobre isso.

Dou de barato que as referências estão lá. Por que as pessoas estariam mentindo sobre elas? E não foi uma pessoa só, então a hipótese seria a alucinação coletiva, o que não faz sentido nenhum também. Então ok, há elementos que referenciam filmes de terror japoneses em Yurikuma Arashi. O clima da história, no entanto, não me parece nem um pouco com terror. Temo que esses elementos estejam aí para referência mesmo, como uma pista de alguma outra coisa, e não para tornar essa história uma de terror. Eu nem sei que elementos são esses (prometo que em algum momento eu pesquisarei, e se você souber por favor me diga nos comentários), então tenha ciência que o que estou falando aqui é completamente especulativo. Começo com um exemplo-questão para chegar ao que quero dizer: uma máscara de hóquei é um elemento de terror? Para ser sincero, acabei de pesquisar no Google Imagens e confesso que me senti ligeiramente inquieto, assustado, hahaha. Mas por que é assim? Não é que a máscara em si seja assustadora. É tudo culpa do Jason, de Sexta-Feira 13. A série de filmes Sexta-Feira 13 é de terror mas o que estabelece o clima não é máscara, ela é apenas a marca registrada do monstro assassino do filme. O que aterroriza é que não importa o quanto você ache que o matou, o quanto você corra dele, Jason irá fatalmente aparecer do nada de volta e tentar te matar de novo. Isso e toda a edição de vídeo que deixa o espectador sempre desconfortável. A máscara, repito, é só um ícone. Eu me assustei porque tenho em minha mente ela associada a um personagem de terror, mas quem não a conhece, como eu não conheço filmes de terror japoneses, pode enxergar nela só um objeto como qualquer outro.

Em Yurikuma não há nada que me faça sentir desconfortável (bom, imagino que quem não goste de ver garotas se lambendo possa se sentir desconfortável com isso, mas não é desse tipo de desconforto que falo). Um recurso muito comum em filmes de terror é o uso de ângulos de câmera não horizontais, forçando o espectador a virar a cabeça. Outro são cenas escuras e estáticas ou semi-estáticas interrompidas bruscamente por algo incômodo (ou ruído, uma criatura monstruosa, etc). Yurikuma tem cenários tão ortogonais, geométricos e cores tão berrantes (especialmente rosa) que é quase o extremo oposto disso. A sensação é de aridez, não de desconforto. Então por que Yurikuma tem elementos reconhecíveis (por quem conhece) de filmes de terror? Eu não sei que filmes são esses, mas um tema muito comum no terror, frequentemente em nível simbólico, é o sexo. Canibalismo em terror por exemplo é quase sempre uma metáfora para sexo. Então meu chute, construído em dois parágrafos sobre algo que eu não vi nesse anime, é que esses elementos de filmes de terror existem em Yurikuma Arashi como mais uma pista para o tema da história. Sexo. Mais precisamente, sexualidade.

Agora vou apontar as obviedades. A essa altura está mais do que claro que ter “Yuri” no nome significa ser uma ursa, certo? Então a própria diretora da escola, ex-amiga da mãe de Kureha quando elas eram alunas, é uma ursa. E isso provavelmente está diretamente relacionado ao destino da mãe da protagonista, e talvez ocupe até um espaço central na história. Também é notável como durante o Ritual de Exclusão apenas nomes sem “Yuri” apareceram entre os mais votados. Ursas não podem ser devoradas, e o Ritual de Exclusão, que me pareceu ser a própria Tempestade Invisível (ou ao menos uma das formas dela) serve, sem que as humanas saibam, para entregar uma delas para que sirva de comida para uma ursa. E não deixe de perceber como o Ritual de Exclusão é, aparentemente, uma consequência do conselho-ordem da diretora (que é uma ursa!) para que as alunas andem sempre em pares. Toda a estrutura da escola provavelmente está armada para que as alunas sejam devoradas, uma de cada vez. E as ursas nem precisam se conhecer e saber quantas delas existem lá. Apenas é assim.

Sobre ser invisível, o título desse artigo afinal, acho que também ficou claro que se trata de reprimir a sexualidade. Todas elas devem ser amigas, diz a humana. Sumiko não queria ser só amiga, não quis abandonar o seu amor, por isso foi excluída (levada pela Tempestade Invisível, que é a tempestade causada pelas invisíveis) e consequentemente devorada por uma ursa. Ser invisível é se esconder, se negar. É “não sair do armário”, se preferir o popular. Com Sumika morta, Kureha não quer negar seu amor, e por isso ela é a excluída da vez. Da mesma forma como pessoas com sexualidade ou comportamento sexual incomum (como mulheres que são sexualmente ativas e admitem isso) são excluídas da sociedade no mundo real. Durante os julgamentos as ursas sempre se recusam a ser invisíveis, e por isso elas são ursas e por isso a humanidade construiu um muro para excluí-las. Voltando ao início do anime, percebo que os ursos não apenas começaram a atacar humanos, eles se levantaram antes e começaram a atacar humanos. Levantar-se no contexto de Yurikuma parece assumir o significado de não se acovardar, não se encolher, não ser invisível, mas ser altivo e defender suas convicções.

E acho que agora dá para dizer com certeza que a relação entre Ginko e Lulu com Kureha não é apenas incidental. Não poderiam ser quaisquer outras ursas ali. Há algo de especial entre elas, e estou curioso para descobrir o que é.

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