[sc:review nota=3]

Foi um final feliz para a Maria, não é? Então tem isso, eu acho. Eu não queria um final trágico, e esse definitivamente não foi um final trágico. O que não quer dizer que eu esteja satisfeito com ele. O que dizer daquele momento em que ela está encarando Miguel e todo mundo aparece pra dar uma mão? Foi como uma versão piorada da formação da Sociedade do Anel em Senhor dos Anéis. Ártemis e Príapo: “Você (Maria) tem o nosso apetite sexual insaciável!”. Viv: “E os meus cachos perfeitos!”. Edwina: “E-e-e a minha ti-timidez!”. Bando de bruxas sem nome: “E a nossa irrelevância!”. Bem, para o meu gosto, não foi um final feliz!

Para começo de conversa, esse anime abusou das pontas soltas que jamais serão amarradas. Não serão mesmo, acredite em mim, ele é baseado em um mangá curto e já encerrado, então a chance de ter uma continuação é abaixo de zero (a menos que venda discos loucamente, o que, francamente, eu duvido; aliás, já saíram resultados de vendas dos primeiros discos dessa temporada, se alguém souber como Junketsu no Maria está se saindo, dá uma comentada aí). Como o próprio Bernard, as questões filosóficas e teológicas levantadas por ele, e por si só muito interessantes senão por qualquer outra razão por fazer um breve passeio por vários autores, dos gregos antigos aos católicos (inclusive um herege), tiveram um final melancólico. Enquanto Bernard foi pulverizado por fazer muito menos do que a bruxa que estava sendo naquele instante julgada e absolvida, o pensamento criado por ele (na verdade, o pensamento dos autores supra-mencionados, que foi citado muito brevemente e bem por cima) foi apenas ignorado no final. E os pergaminhos onde Bernard carregava isso foram queimados por Gilbert junto com outros religiosos do monastério para mostrar como a Igreja da Terra é ruim, malvada e fechada à novas ideias.

As guerras aparentemente vão continuar, e Maria vai continuar em sua, er, guerra particular contra elas, da forma como puder. Imagino se a maldição que vincula a perda da magia à perda da virgindade foi removida quando Maria foi absolvida também. Apenas imagino, porque é lógico que o episódio não menciona. O que Cernuno queria com Maria eu também não faço a mais pálida noção. Só sei que, de alguma forma, ele parecia gostar dela. E o que diabos são as Valquírias? O conde Guillaume deixou o Joseph pedir demissão de boa, e até olhou para ele com uma compleição quase paterna, como quem estivesse orgulhoso de seu filho que cresce e sai de casa. E vai se casar com uma bruxa. Que só te deu problema e você tentou matar. Pai é quem cria né, e pai entende e perdoa as escolhas do filho. Especialmente porque a Maria se tornou uma moça comportada e trocou a combinação pano preto aberto dos lados com casaco de peles por cima por uma adequada indumentária aldeã completa, que estava na moda naquela estação. Preciso perguntar: Maria perdeu sua virgindade? Do jeito que ela tava feliz com seu namoradinho novo, tenho impressão que ela perdeu naquela noite mesmo. Espero que Ártemis e Príapo tenham saído de casa. E daí volta a questão: ela perdeu a magia por causa disso? Sei lá. Os produtores do anime consideraram essa uma informação desimportante.

Alguém pode tentar defender o anime dizendo que ele só fez o que está no mangá, mas eu respondo que essa é a pior defesa que se possa fazer. A produtora já sabia que esse era o final desde que escolheram o material a animar, e não é possível que tenham achado aquilo um final bom. Mesmo que tenham achado o final bom, não quero acreditar que o tenham achado o melhor final possível. Veja, lançado em uma antologia seinen, Maria teve apenas 3 volumes. Isso cheira a cancelamento pra você? Porque pra mim fede a cancelamento. Principalmente considerando esse final claramente apressado que jogou às favas quase tudo o que a história havia desenvolvido até então. Então eles decidiram animar um mangá cancelado com final apressado e não mudaram o final? Sabe, adaptar não é só transportar de uma mídia para outra. É verdade que alterações as vezes pioram histórias, mas as vezes melhoram. Quando você tem um final de merda, a chance de você melhorar mudando ele é imensa, convenhamos. A hipótese concorrente é ainda pior: eu não li o mangá, então não posso dizer com certeza que o final é o mesmo. E se eles mudaram o final? Sendo esse o caso, deduzo que quisessem sapatear em cima do cadáver de Junketsu no Maria depois de cancelado.

O episódio em si se desenvolve em torno de Miguel e Maria. Primeiro eles lutam, e aí ocorre aquela cena que descrevi no parágrafo introdutório. Todos lançam seus ataques mais poderosos ao mesmo tempo e todos são humilhantemente derrotados por um Miguel sem arranhões com um golpe só. Quando Joseph e depois Ezequiel protegem Maria, cada um a seu modo, Deus (que deve ser o sol) ordena (via sinais luminosos, presumo) que Miguel faça um julgamento diferente de Maria. Assim, o arcanjo aparece para todas as pessoas que conhecem Maria e pergunta a elas o que acham da bruxa. Martha defendeu, dizendo que Maria era uma amiga desde muito tempo e que se arrependia de tê-la negado mas não pretendia cometer esse erro de novo, Guillaume diz que ela era um porre que só zuava com os rolês dele, e por aí vai. O momento fora da curva foi quando Bernard ao invés de se limitar a defender ou condenar Maria começou a defender a sua própria conclusão religiosa sobre o mundo e, insatisfeito com a presença de Miguel (já que ele defendia um mundo em que o Homem encontre a salvação sozinho) decide estrangular o enviado celeste. Monges loucos à parte, Maria é absolvida. Ê, viva. Essa foi toda a minha empolgação com essa cena.

Mas nem tudo foi ruim. Para começar, eu acertei que a narradora era a Ann envelhecida contando a história da bruxa que conheceu em sua infância. Bastante esperto, se me perguntar, adiciona uma camada a mais de imersão na história sem alterar nada nela. Mas o melhor desse episódio, e o melhor de Junketsu no Maria como um todo, foi o desenvolvimento de Ezequiel. De anjinha mandona arrogante, ela passou por uma transformação completa conforme convivia com Maria e as pessoas próximas a ela e conforme entendia sua forma de ser e de pensar, e se tornou capaz de contrariar uma ordem expressa dos céus. Porque é lógico que a Igreja do Céu também é malvada, duh. Por ter pensamento próprio Ezequiel não serve mais como enviada divina (excelente, porque para servir a Deus você precisa obviamente ser uma máquina sem pensamentos; faz tempo que eu não via uma ficção tão anti-religiosa assim). Mas tudo bem! Com isso ela é, na verdade, premiada com o direito de nascer como uma humana e pode até escolher a sua futura mãe. Sem surpresa aqui, ela escolhe Maria, que a acolhe. Eu fiquei realmente feliz pela anjinha. A história dela foi a única com começo, meio e fim nesse anime.

  1. Concordo, discordo, concordo, discordo. Acho que o final caiu bem a obra. Achei meio inesperado, como tudo se reverteu, inimigos em amigos, bem e mal. Fiquei feliz pelo final.

    • Eu certamente não fiquei triste pelo final, hehe. Mas acho que a obra tinha potencial e ela acenou com esse potencial em alguns episódios, mas no final das contas tudo acabou do jeito que começou, na prática. A relação das bruxas com as igrejas (do céu e da terra) continua a mesma, a Maria continua a mesma (embora fique implícito que em algum momento perdeu sua magia), a guerra continuou (historicamente já estava próxima do fim, de todo modo), e havia apenas dois personagens que se transformaram radicalmente em comparação com o início da série: a Ezequiel foi banida do céu (e nascerá como filha da Maria, o que é um final bonito mas persiste o fato de que ela foi banida) e o Bernard virou pó (e os documentos que representavam suas ideias queimados).

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