[sc:review nota=4]

Um divertido episódio sobre memórias, preconceito, amizade e esporos de cogumelo. Também serviu para mostrar que pessoas não são assim tão diferentes de monstros, no sentido maligno da palavra. O problema é que eu nem acho que os monstros de Kekkai Sensen pareçam monstros, para mim, com raras exceções, eles parecem alienígenas, e eu não associo alienígenas à maldade automaticamente. Mas ok, eles são monstros, e espera-se que monstros sejam maus. Na verdade, em vários episódios vemos monstros causando na cidade, matando por esporte, matando pra comer, matando por matar, matando em geral. Monstros são monstros, afinal. Mas pessoas também podem ser monstros. Essa é a mensagem de fundo desse episódio.

Dado que monstros não existem no mundo real, os monstros em ficção servem para estabelecer pontos de referência sobre maldade, malícia, loucura, escolha aí um adjetivo ruim: existe um monstro que personifica isso. Em histórias como Kekkai Sensen, onde os monstros não são apenas predadores mas onde homens e monstros convivem, eles servem para que olhemos para eles como o espelho da humanidade, o seu contrário. E ao olhar para a humanidade de volta, consigamos identificar o que nós mesmos fazemos de monstruoso. Para a história não ficar caricata demais e perder de vista essa função, é comum que se comparem pessoas e monstros, não só para apontar diferenças mas também para apontar semelhanças. Em Kekkai Sensen, isso começa com os membros da Libra. Todos eles estão no meio do caminho entre serem humanos e serem monstros, e de fato lutam pelo que chamam de “equilíbrio” embora até agora tenham agido apenas como uma força vigilante, os Vingadores ou Superamigos do anime, se quiser. Eles são boas pessoas, ainda que sejam meio monstros.

Esse episódio aprofunda esse tema ao mostrar como humanos completamente normais podem ser monstruosos. E como monstros podem ser ingênuos e inocentes como crianças humanas. O personagem central nessa trama é Nej, o monstro cogumelo que adora hambúrgueres de um restaurante onde não deixam ele entrar. Nenhum monstro pode entrar, na verdade. Nej vive em um distrito onde foi instalado um grande teto artificial para afastar as brumas que cobrem toda a cidade, e nesse distrito a maioria dos habitantes são humanos e eles desprezam os monstros. A saída para o pequeno cogumelo é ficar perto do restaurante contando com a colaboração alheia. Quando perseguia Leonardo para pedir a ele um dos hambúrgueres que o garoto havia acabado de comprar atravessou a rua de qualquer jeito e foi atropelado. Aparentemente isso não faz mal nenhum a ele, mas assustou Leonardo e os homens que guiavam o caminhão, que começaram a culpá-lo e um deles estava a um passo de pedir indenização ao Nej. Para facilitar, chamarei os caras do caminhão de o Gordo e o Magro. O Gordo é o mais revoltado, o Magro até parece aliviado por não ter problema nenhum mas justifica a ação do seu companheiro dizendo que eles estão muito atrasados e por isso estressados, tudo isso com um rosto quase bondoso, confiável. Mais tarde Leonardo reencontraria os dois estorquindo o Nej para revender hambúrgueres para ele. Nej sabe estar sendo estorquido, mas o que ele pode fazer? Ele gosta muito dos lanches e não pode entrar na loja. Leo não pode deixar isso assim e passa a comprar hambúrgueres para o cogumelo, e eles se tornam grandes amigos.

Então Nej é atropelado de novo pelo caminhão do Gordo e o Magro. E dessa vez a culpa foi toda deles, estavam preocupados demais com os próprios problemas e não prestaram atenção ao caminho. O Gordo é um imbecil (e um monstro) e começou a socar implacavelmente o cogumelo, que ficou vermelho e acabou emitindo uma nuvem de esporos. Ele escapou depois e todo mundo, ele incluso, esqueceu de tudo. Bom, todo mundo menos o Magro, que estava com uma máscara de gás por um motivo tão estúpido que nem vou escrever aqui. Leo não encontrou Nej no dia seguinte, e de volta à Libra, escutou essa história de amnésia massiva no tal distrito, e se lembrou que Nej havia dito sobre ele e sua mãe terem também amnésia e não se lembrarem um do outro. Preocupado com o amigo fungo, Leo voltou ao distrito, procurou e encontrou Nej. Apenas para ser surpreendido pelo maior monstro do episódio: o Magro. Testemunhando o poder dos esporos do Nej, ele decidiu colhê-los. Como? Espancando-o, lógico. Ele queria esses esporos para cometer crimes e pagar a dívida que eles tinham com não sei quem e coisas genericamente vis. Quando Nej está quase lançando seus esporos, Leo apela para que ele não faça isso, para que eles não esqueçam um do outro, o que funciona, o cogumelo se acalma mas continua sendo espancado com um taco. Leo usa então seus poderes para confundir a visão do Gordo e o Magro, eles caem zonzos, retiram suas máscaras, e decidem matar a ele antes. Mostrando que é mais humano que muitos humanos de verdade, Nej usa seus esporos com mais intensidade do que nunca, causando amnésia em um quarteirão inteiro.

Leo e Nej esqueceram um do outro. Mas criariam depois uma nova amizade de novo, tudo desde o começo. Enfim, um bonito episódio. Sobrou tempo ainda para no final o irmão da White (aquele vampiro) ser formalmente apresentado ao Leonardo, que reagiu como todo garoto apaixonado de anime conhecendo o cunhado reagiria: feito um idiota. Até aí foi legal também. Se alguma coisa me incomodou nesse episódio, é que foi mais um em que o protagonista não fez nada para recuperar a visão da irmã, o que é a suposta razão para ele estar ali em primeiro lugar.

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