Gakkou Gurashi está prestes a lançar o seu último episódio e não poderíamos deixar de elaborar um artigo especial dedicado à sua emblemática abertura! Afinal, ela foi cuidadosamente planejada para ser um importante elemento da narrativa, com poder de causar tanta aflição e ansiedade quanto as cenas construídas durante os episódios em si. Se você é do tipo que gosta de apreciar aberturas de animes, então com certeza já reparou nas várias modificações que aconteceram à medida que a história avançou. Algumas têm a intenção apenas de servir de metáfora para se adequar ao rumo da história, outras podem ser consideradas spoilers gravíssimos. Por ser algo que estimula a curiosidade de todos, preparei essa análise detalhada expondo a minha interpretação sobre os principais conceitos trabalhados nela até agora.

*Atenção: se você ainda não assistiu Gakkou Gurashi ou está com episódios atrasados, saiba que este artigo possui muitos spoilers! Tudo o que o anime mostrou, até o seu décimo primeiro episódio, poderá estar descrito aqui.

Uma parte extremamente importante da abertura de um anime é a sua música. Porém, quando acompanhamos animes que estão em lançamento, muitas vezes optamos por assistir episódios liberados por fansubs de tradução rápida e eles costumam não traduzir nem abertura nem encerramento. Então, caso você não tenha pesquisado, provavelmente ainda não conhece o conteúdo da dançante música de abertura de Gakkou Gurashi. Resolvi começar essa análise chamando a atenção para a letra da música porque, apesar dela não sofrer nenhuma modificação durante a temporada inteira, ela é cheia de frases de duplo sentido e complementa de uma forma incrível os “spoilers” mostrados.

O nome da música é “Friend Shitai” (ふれんどしたい), cuja pronuncia é “Furendo Shitai”, e significa: “Eu Quero Amigos”. Só pelo título, já se percebe que o ponto de vista utilizado é o da Yuki. A letra funciona como uma narração inteligente do modo como a Yuki enxerga os acontecimentos ligados ao apocalipse zumbi. O duplo sentido das frases “denunciam” a realidade do que está acontecendo. Ou seja, nossos amigos asiáticos podem ter percebido os spoilers desse anime logo nos primeiros minutos do episódio de estreia. A começar pelo título: a pronuncia da palavra “Shitai” (したい), “querer”, é a mesma da palavra “cadáver” (死体). Então, ao invés de estar dizendo que queria amigos, na verdade Yuki podia muito bem estar relatando a existência de um amigo cadáver (Megu-nee!).

Para analisar melhor tanto a música quanto os aspectos visuais, dividi a abertura em cinco partes específicas. Veremos que cada uma delas mostra perfeitamente os fatos que o anime abordaria durante a temporada, ou até mesmo a forma como aconteceriam. Antes de falar sobre isso, recomendo assistir a abertura legendada no vídeo abaixo.

(Legendado pelos amigos do “Kiyoteru FANSUB”. Conheçam o trabalho deles visitando o site: http://www.kiyoterufansub.com).

Abertura do primeiro episódio, legendada em português:

 

Primeira Parte: Traumas Pessoais.

Traumas pessoais.

Traumas pessoais.

Na primeira parte, a música fala sobre poderem fazer o que quiser o tempo todo por ainda possuírem sonhos. Porém, a letra original traz repetidamente a palavra “Shitai”, da qual já falamos anteriormente. Isso distorce o verdadeiro significado para algo que pode passar a ser interpretado como uma “revelação” de que o lugar está cercado por mortos a todo momento. E essa estrofe termina com a expressão “Issho ni!” (一緒に!), que significa “Juntos”. Porém, também há uma palavra cuja pronuncia é facilmente confundida com essa, que é “Isho ni!” (遺書 に!), e significa algo como “bilhete de suicídio”. Então o significado oculto para essa primeira parte, em uma interpretação que leva em conta a existência do uso proposital de duplo sentido, seria um alerta de que continuar vivendo normalmente em um lugar onde há tantos zumbis é o mesmo que assinar um bilhete de suicídio (Foi exatamente isso que aconteceu com Megu-nee).

Deixando as suposições de lado, a parte visual aborda os traumas pessoais de cada uma das garotas e sua forma de lidar com isso enquanto ocupam a mente com atividades do “Clube de Vida Escolar”. Repare que a primeira cena é justamente a mesa onde elas costumam fazer as refeições. Isso já é um spoiler para quem, ao saber da situação mental da Yuki, passa a duvidar sobre a existência da professora. A mesa possui apenas quatro cadeiras e canecas, sendo as canecas personalizadas para cada integrante. Megu-nee, além de não possuir cadeira ou caneca, também é a única cujos pertences não aparecem em cima da mesa.

Em seguida, alguns símbolos “interagem” com as garotas enquanto elas são apresentadas individualmente. Eles representam as histórias pessoais de cada uma e, mais tarde, veríamos essas histórias serem contadas como traumas do passado que justificam ações do presente.

  • Yuki: Urso. O urso aparece junto à Yuki em vários momentos, desde o início. O episódio cinco revelou que ele está relacionado às memórias que Yuki possui de Megu-nee, cuja morte foi o grande trauma que a fez fechar os olhos para a realidade e continuar agindo como se nada tivesse mudado. Muitas vezes, o urso é usado para simbolizar a própria figura ingênua e frágil da professora.
  • Kurumi: Coração. O trauma de Kurumi foi causado pelo grande impacto emocional de ter que matar o senpai por quem estava apaixonada. Ela se mostra forte a maior parte do tempo, mas é incapaz de matar zumbis quando pensa na possibilidade de ainda serem alguém que possui memórias da época em que estavam vivos. Suas ações estão ligadas diretamente às suas emoções a maior parte do tempo.
  • Yuuri: Flor. A Yuuri fazia parte do Clube de Horticultura e, portanto, ela é a pessoa que cuida da comida e das plantações que a escola possui. Ela se mostrou emocionalmente estável até o episódio nove. Porém, subentende-se que a morte de Megu-nee foi o acontecimento que mais influenciou o seu modo de agir atualmente. A ligação do símbolo com esses sentimentos se dá pela localização da cruz feita em memória da professora: na horta.
  • Miki: Osso + Taroumaru. Essa dispensa explicações, mas certamente Miki e Taroumaru foram muito importantes na sobrevivência um do outro e, apesar deles terem feito as pazes apenas a dois episódios atrás, eles sempre possuíram uma forte ligação entre si. Podemos dizer que o Taroumaru é a “versão viva” do cd player que Kei deixou. Ao descobrir que perdeu o elo de lembranças com sua amiga (que o Taroumaru representava), esse vazio passa a ser retratado a partir da abertura do episódio dez, que foi quando seria revelado que ele foi infectado. Então, quando o osso é lançado para o lado de Miki, já não há mais a presença do cachorro para apanhá-lo com a boca.

Segunda Parte: Esperança.

Esperança.

Esperança.

A segunda parte está relacionada com o progressivo desaparecimento da esperança que havia sido tão bem cultivada pelas garotas, por influência de Megu-nee, ao tratarem a escola como seu novo lar. A medida em que a história se aprofunda, revelando o quanto todas ainda estão emocionalmente machucadas por tudo o que já aconteceu, elas passam a questionar se realmente deveriam continuar na escola ou não, e também, a demonstrar uma certa descrença na possibilidade de algum dia receberem ajuda externa. Isso é demonstrado simbolicamente através de mudanças na cor do céu, tornando o dia cada vez mais escuro e ameaçador, além do aumento do número de zumbis em frente à escola.

O céu se mantém com um belo tom de azul até o episódio seis, pois o episódio seguinte é aquele em que as garotas depositam todas as suas esperanças de um resgate e de ter um futuro normal, nas cartinhas que amarraram a balões e soltaram ao vento. Nesse respectivo episódio, a coloração do céu mudou para um alaranjado bem leve, de fim de tarde. Para mim, essa mudança foi uma das mais angustiantes, pois a confiança das sobreviventes estava se esvaindo, assim como a luz de um belo dia. E o crepúsculo da esperança estava bem ali, prestes a ceder o seu lugar para a impiedosa escuridão que só poderia estar anunciando a chegada do desespero.

Essas metáforas ajudam o espectador a se envolver mais facilmente na atmosfera cada vez mais sombria do anime. Porém, essa parte da abertura não serve apenas para isso, ela também contém spoilers. Durante boa parte da temporada, ela mostra de que forma se daria o resgate da Miki, que aconteceu no quinto episódio. O arco em que as garotas visitam o shopping dura dois episódios. Então, se houvéssemos prestado atenção na abertura, poderíamos facilmente deduzir que Yuki e Taroumaru seriam os principais responsáveis pela iniciativa de salvar a Miki. Na abertura, a Yuki é a pessoa que puxa a Miki, que estava isolada lá atrás, segurando pela mão, para seguirem Taroumaru enquanto Kurumi e Yuri as acompanham.

Terceira Parte: Personagens Secundários.

Personagens secundários.

Personagens secundários.

Há uma sequência de quatro frames, que mostra os personagens secundários. Ela foi modificada aos poucos: cada vez que era revelado o destino que o respectivo personagem teve, seu frame era trocado por um mais obscuro. Primeiro foram as colegas de turma da Yuki, depois a Kei, seguida de Taroumaru e Megu-nee. Ou seja, todos que faziam parte dessa sequência já estavam condenados à morte, e a abertura fez questão de dar bastante tempo para deduzirmos isso sozinhos e ficarmos nos torturando ao pensar que Taroumaru (o último dos secundários a morrer), teria o mesmo fim trágico. E adivinhem qual parte da música é usada enquanto esses frames são exibidos? Exatamente a mesma estrofe do início! Aquela na qual pode ser aplicado o duplo sentido sobre o lugar estar cheio de cadáveres. (“Shitai Kara! Shitai Nara! Shitai Toki Shitai Desho!?” = “Começa com um cadáver; já é um cadáver; é hora do cadáver; isso é um cadáver, certo!?”). Reparem que são quatro frases, sendo ditas diretamente para os respectivos quatro personagens que não sobreviveriam nessa história. Não deveríamos mesmo ter acreditado que algum deles poderia escapar ileso…

Quarta Parte: Sobrevivência.

Sobrevivência.

Sobrevivência.

Essa parte trata de ir mostrando a passagem do tempo, com as folhas do álbum de formatura ficando amareladas; e também a crescente melancolia acompanhando os passos das garotas desde que tiveram que começar a se preocupar com questões relacionadas a sobrevivência. A primeira vez que precisaram pensar nisso, foi justamente no terraço, enquanto o sol se preparava para se pôr. Foi quando descobriram que algo estava muito errado e perceberam o caos que já havia tomado conta da escola. A Yuki entra em desespero pela primeira vez e puxa sua touca para tentar esconder o rosto enquanto grita apavorada. Tudo isso é revelado apenas no terceiro episódio, mas já estava ali na abertura desde sempre. É claro que a forma mostrada é a fantasiada pela Yuki, e a cena é narrada com o momento em a música diz: “No telhado vemos a cor do sol, tente gritar com todas as forças”.

Última Parte: Formatura.

Formatura.

Formatura.

Na última parte vemos Yuki correndo alegremente pela escola destruída, o que simboliza perfeitamente o modo como ela tem vivido, ignorando as tragédias ao redor e apenas se preocupando em aproveitar os dias como uma aluna normal faria, enquanto aguarda por sua formatura. A modificação mais legal que essa parte possui é a troca das cores no “chão” onde a Yuki pisa. É como se ela estivesse presa em uma dimensão completamente diferente do restante das garotas, e só conseguisse alcançá-las de verdade após passar pela dolorosa missão de enfrentar seus traumas; encarar seus medos de uma forma que suas cicatrizes emocionais não sejam capazes de afundá-la em sofrimento, mas sim impulsioná-la a ser aquela que vai levar suas amadas amigas para fora da escola, rumo a novas responsabilidades.

A julgar pela forma como o décimo primeiro episódio terminou, eu creio que a Yuki será aquela que realmente salvará o grupo. Especialmente a Yuuri, que está em um momento de total descontrole e desorientação. A touca da Yuki está ligada ao seu medo extremo de viver nesse mundo apocalíptico. Quando ela pula em direção a Yuuri para abraçá-la, no finalzinho da abertura, ela deixa sua touca cair. Isso indica que sua vontade de salvar as suas amigas, que agora são sua família também, é muito maior do que a dor de ter que enfrentar seus medos/traumas. E é por isso que acredito que o significado dessa “formatura” que veremos no último episódio, se trata de todas as integrantes do Clube de Vida Escolar saindo da escola juntas, guiadas pela coragem da Yuki. Bom, agora só nos resta aguardar e torcer para que o início do último episódio esteja recheado de “spoilers do bem”. Eu quero final feliz!!!

 

Se você ficou com vontade de conferir esses detalhes e analisar por si mesmo o que mudou de uma abertura para a outra, confira os vídeos abaixo. Eles mostram todas as mudanças que a abertura sofreu, fazendo comparações episódio a episódio.

*Obs: os episódios 3, 4 e 8 não sofreram nenhuma mudança em relação ao anterior, portanto, não foram utilizados.

Primeiro episódio x Segundo episódio

Fator que motivou a mudança: revelação da situação psicológica da Yuki.

 

Segundo episódio x Quinto episódio

Fator que motivou a mudança: desaparecimento da Kei; Yuki recuperando uma parte de suas memórias através do encontro com zumbis no shopping.

 

Sexto episódio x Sétimo episódio

Fator que motivou a mudança: revelação de como ocorreu a morte de Megu-nee.

 

Nono episódio x Décimo episódio

Fator que motivou a mudança: o episódio dez foi tão tenso que não dá para escolher apenas um fator. Só sei que a coisa foi feia…

 

Décimo episódio x Décimo primeiro episódio

Fator que motivou a mudança: confirmação do destino de Taroumaru e o desespero de uma corrida contra o tempo.

 

  1. Meu comentário é também pro post do ep 12…. Olha, pra começar, eu chorei muito no fim, pois, depois de ter agonizado muito, ver um final feliz, foi lindo. Talvez pq eu assistir Mirai Nikki, depois de tanto terror, sangue e medo, houve o Happy End…. Bem, primeiro, sobre o negócio lá da bolinha, bom, o próprio ser humano, é “burro” pois, se alguém jogar algo, nós vamos olhar na direção em que foi jogado, é inevitável. Com os zumbis, não seria diferente, certo? Outra, eu estou começando a pensar, que, aquela ‘pessoa’ que os zumbis estavam devorando, era sim, a Kei. A minha teoria é a seguinte, ela estava por aí, e como ela estudava na tal escola, ela resolveu ir até lá, talvez ela tenha sido mordida na entrada, ou em outro lugar, então ela tentaria escapar mas, ela foi atacada por outro grupo. Nós vemos pela Kurumi, que o “processo de zumbificação” é um tanto demorado(eu acho que talvez isso dependa do fato da pessoa tentar resistir, ou não) ou seja, ela ficou ali, esperando, então, no outro dia, restava apenas Kei como zumbi…. Agora, Taroumaru…. Bom, isso vai envolver a Megu-nee também. Eu acho que eles (os zumbis) têm um tanto de consciência sim, ele deve ter “lembrado” do tanto de carinho que recebeu de Yuki, e o fato de ele não ter salvo a Miki, foi talvez por que ele não percebeu que ela estava realmente em perigo, e o fato dele ter atacado a Kurumi, deve ter sido por que ele tinha acabado de ter virado zumbi, mas, ei, não demora? Gente, Taroumaru é um cachorro, numa “batalha” entre um cachorro com um zumbi, quem você acha que vai “vencer”? E, ele ainda TENTA atacar a Yuki, pois ele ainda é um zumbi, então, ele sente cheiro de “comida”. Agora, pra ficar ainda mais claro que eles têm consciência, ou, apenas um pouco…. Eles ouviram e compreenderam o que a Yuki disse, mas, por que, a Kei, no caso, que estava se transformando não foi embora? Pois pelo simples fato de que ela estava se transformando. E outro que deixa bem evidente, é que a “Megu-zumbi”, afastou-se das garotas, apesar de ter atacado Kurumi,(pelo mesmo fato de Taroumaru atacar Yuki, ela não deixa de ser um zumbi) ela tentou fazer isso, apenas para protegê-las. Agora, outros fatos. Será que a “inocência” de Yuki, e o fato dela “evitar” a realidade, se deve por que é um “reflexo” de Megu-nee sob Yuki? Pois até a morte da tal professora, ela sabia o que acontecia…. E, naquele tal manual, em que dizia algo como “ser doce e gentil, não é uma virtude”, será que devia ser cada um por si, e, o fato de Megu-nee ter ajudado, e dado a própria vida pelas garotas, foi o que o ocasionou sua morte? É bem provável que sim. Espero que tenha uma 2ª temporada, e que ela explique isso tudo e mais um pouco…..

  2. É com certeza um anime feito como nenhum outro até hoje. Mesmo em vista daquele que eu o considero como o melhor de 2017 que foi o Youjo Senki. Gakkou Gurashi conseguiu inovar em muito neste tipo já batido de história.
    Desde sua abertura até a sua história envolvente fazem desse anime o melhor de seu gênero. E com certeza não haverá outro que consiga ser tão bom como Gakkou Gurashi.
    Não há muito o que falar exceto que é excelente e que deveriam lançar a segunda temporada do mesmo.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Em um gênero saturado (apocalipse zumbi), Gakkou Gurashi inova com sua protagonista, que está tão traumatizada que não consegue enxergar a realidade, e suas amigas agem de acordo com as expectativas dela, para não feri-la ainda mais. Tudo isso reforçado esteticamente alternando a forma como o cenário é exibido a depender se estamos vendo do ponto de vista da Yuki (a negação da realidade) ou das demais (a realidade como ela é).

      Eu adoraria assistir uma segunda temporada, mas de fato o que fez a diferença, o que tornou o anime memorável, foi isso, e não dá mais para insistir nesse tema porque a Yuki já o superou. Suponho que possam apresentar novas personagens traumatizadas e fazer algo parecido, mas ainda não seria a mesma coisa.

      Obrigado pela visita e pelo comentário =)

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