É como diz o velho ditado: disciplina na vida, disciplina no rakugo. Ou é como o ditado diria se ele existisse. De todo modo, disciplina foi o tema que permeou todo esse episódio e pude assistir as abordagens de seus quatro personagens principais a esse respeito: o Velho Yakumo, o Novo Yakumo (que ainda não é Yakumo), o Sukeroku (que agora já é Sukeroku de verdade) e a Miyokichi (que acabou de pegar o bonde andando mas já sentou na janelinha).

No episódio anterior Yakumo e Sukeroku se tornaram adultos e ainda aprendizes tentavam encontrar o seu caminho. Bom, o Sukeroku basicamente já encontrou o dele faz tempo na verdade, ou se não encontrou ou ainda tem dúvidas o anime não contou para ninguém, então era só o Yakumo que estava com dúvidas sobre que caminho seguir mesmo – e a falta de dúvidas do Sukeroku o deixava com ainda mais dúvidas. Além do rakugo, o Yakumo fez coisas típicas da idade como namorar, trabalhar, se esconder no interior por causa da Segunda Guerra Mundial, essas coisas comuns mas importantes pelas quais todo jovem adulto passa. E tudo isso contribuiu positivamente para ele descobrir sua vocação: rakugo. O Yakumo quer mesmo ser um contador de histórias.

Esse quarto episódio narra o começo dessa vida, nesse caminho que ele escolheu, as novas dúvidas que ele tem, talvez não tão novas assim, e como é difícil ser um adulto e se relacionar com outras pessoas.

Yakumo em seu emprego de garçom (arrasando corações)

Yakumo em seu emprego de garçom (arrasando corações)

Houve uma apresentação de rakugo nesse episódio, mais uma vez do Sukeroku, mas apesar disso eu não diria que rakugo foi o tema central do episódio. Bom, eu já disse qual eu acho que foi o tema principal né? Disciplina. O rakugo tem a ver com o episódio na medida em que se relaciona com o tema disciplina.

Yakumo e Sukeroku agora são profissionais, não moram mais com seu mestre e precisam ganhar a vida por conta própria. Moram juntos e … bom, o Yakumo mantém a casa, até onde eu entendi, e o Sukeroku gasta todo o pouco dinheiro que ganha com rakugo em festas e bebidas. O Yakumo por sua vez tem um emprego como garçom porque apenas o que ganha como contador de histórias não paga o aluguel. Sukeroku faz aquele rakugo do jeito dele, desajeitado, pateta, mas todo mundo ri e ele fica feliz por causa disso. Yakumo foca no treinamento e, segundo seu mestre, sua forma é perfeita, e é exatamente esse o seu problema. Yakumo se veste na linha, Sukeroku se veste de qualquer jeito e até penhorou o kimono que ganhou de seu mestre – para comprar mais bebidas.

O mestre fica bravo mas os dois não prestam

O mestre fica bravo mas os dois não prestam

Lembra-se da primeira apresentação do Yakumo? O Yakumo jovem, naturalmente, no segundo episódio. Aquele desastre monótono e quase balbuciado. Agora ele não tem mais esse problema! Sua forma é perfeita, seu próprio mestre reconhece! Mas isso ainda não é bom. O que é bom, então? Não é bom ser bom, não é bom ser ruim, e não é bom copiar qualquer outra pessoa, diz o Velho Yakumo. Sabendo tudo o que não é bom, agora o Novo Yakumo está mais uma vez confuso e inseguro tentando descobrir o que é, afinal de contas, bom.

Yakumo e Sukeroku em sua casa

Yakumo e Sukeroku em sua casa

No episódio anterior o Yakumo foi tão … digamos, disciplinado? em seus primeiros relacionamentos românticos que a internet toda terminou o episódio achando que ele é gay. E a bem da verdade talvez seja mesmo, mas eu não teria tanta certeza. Acho que ele é só muito focado, disciplinado mesmo. O seu primeiro namoro era proibido então era natural que ele fosse cuidadoso, e quando terminou sua preocupação maior era com a guerra iminente – porque ela iria impedi-lo de praticar rakugo, não por causa da guerra em si ou das namoradinhas. Depois, no interior, ele teve mais uma vez a chance de ter um relacionamento romântico mas dessa vez sequer deixou qualquer coisa começar, porque ele sabia que ou era aquilo ou era rakugo. E ele escolheu o rakugo. Fãs de homoerotismo podem querer me corrigir: “ele escolheu o Sukeroku“. Eu também acho que o amigo é muito importante para ele, mas acho que é só isso: um amigo muito importante. Um irmão que a vida deu para o menino coxo abandonado pela mãe gueixa conseguir encontrar um novo propósito na vida. O Sukeroku é muita coisa pro Yakumo. Ele é tanto para o Yakumo que considerar que seu sentimento é de caráter romântico talvez seja menosprezar a importância do Sukeroku para o Yakumo. E tenho certeza que o Yakumo é tão importante quanto para o Sukeroku.

E nesse episódio mais uma vez o romance se aproxima do Yakumo. Já adulto, não resolvido da vida mas encaminhado, ele finalmente poderia considerar o assunto a sério, não é? Poderia, se a mulher que se aproximou dele, a Miyokichi, não fosse a mesma por quem o Sukeroku está apaixonado. Falando um pouco dela, a primeira pergunta é: por que o Yakumo? Tendo vivido na Manchúria durante a guerra ela não deve ter uma perspectiva muito bela da vida, e no momento tendo a enxergar seu personagem como alguém disposta a usar sua feminilidade para conseguir uma vida boa e estável, e aposto que o Velho Yakumo pintou um quadro lindo do Novo Yakumo para ela – certamente deve ter parecido uma excelente oportunidade. O Sukeroku deve ter sido até agora o cafajeste bonitão que sempre esteve ao lado do Velho Yakumo, de quem ela dependeu até hoje. Mas futuro? Duvido que ela enxergue um futuro para ele.

Enfim, o importante é que o Yakumo resistiu bravamente aos avanços da Miyokichi por consideração ao amigo, mas no final das contas não aguentou e cedeu. Foi seduzido. Será que irá se apaixonar? Será que Rakugo Shinjuu vai ter um triângulo amoroso dolorido separando irmãos? De minha parte, já aceitei que a história do anime não é do Yotarou e da Konatsu mas do Yakumo e do Sukeroku, e estou satisfeito que a parte mais monótona da história já passou e nesse episódio começou o drama de verdade.

Yakumo e Miyokichi, juntos sob pretexto dele ensiná-la coisas como dança e música

Yakumo e Miyokichi, juntos sob pretexto dele ensiná-la coisas como dança e música

  1. Olá, Fábio! Tudo bem? Chell do blog Not Loli! aqui, comentando pela primeira vez! ^_^ Me tornei fã dos seus posts de Rakugo Shinjuu assim que os descobri, mas é a primeira vez que comento aqui, então peço desculpas se escrever demais!

    Seu post da semana foi engraçadíssimo e me fez rir muito. “Miyokichi (que acabou de pegar o bonde andando mas já sentou na janelinha)” foi a melhor descrição dela que eu li até agora! Realmente, a Miyokichi chega com aquele papo de que gosta de artistas de rakugo e coisa e tal, mas ela provavelmente sabe de muito mais coisas do que o que vemos até agora.
    Concordo que o episódio foi bem fácil de se identificar, ainda mais por tratar dessa coisa da disciplina e o papel dela na vida adulta, mas como escrevi no meu blog, o que eu mais notei no episódio dizia respeito à sexualidade dos personagens. Pensando agora por esse lado, nós dois fomos tendenciosos, acho, porque a primeira metade do episódio falava quase que só sobre disciplina, e a segunda metade falava quase que só sobre sexualidade… mas as coisas se misturam em Rakugo Shinjuu, e tudo vem junto, e você acaba não conseguindo evitar as interpretações pessoais, porque essa é a magia das histórias realistas.

    Enfim, quanto a esse ponto, sou sou fã assumida de histórias homoeróticas, mas eu não acho que foi isso que me fez acreditar na possibilidade (que reconheço que não é nada mais que uma possibilidade até o momento!) de sentimentos românticos unilaterais do Yakumo. ^_^; Eu não diria em nenhum momento que o Yakumo “escolheu o Sukeroku”, por exemplo, mas é inegável que o interesse dele pelo rakugo veio muito mais de Sukeroku do que do próprio mestre, e nesse sentido eu entendo que as pessoas que querem enxergar isso também não estão sendo ilógicas, mas com certeza exageradas. No mais, o Yakumo resistiu bravamente aos avanços da Miyokichi sim, mas por que? Poderia ser pelo Sukeroku, mas também poderia ser pelo mestre, ou apenas por ele mesmo não querer. E levando em conta o fato de que desde que o mestre veio com essa ideia (de dar-lhe uma geisha) ele já não se mostrou interessado, acho que essa interpretação de que *ele* não queria é bem possível também.
    Também não tenho dúvida que a profundidade do relacionamento deles – e de muitos outros personagens na série, por falar nisso – vai muito além de uma questão “é romântico/sexual ou não?”, mas uma coisa não exclui a outra. Foi por tudo isso que só nessa semana a ideia do “mas e se o Yakumo REALMENTE tiver tido algum interesse sexual pelo Sukeroku?” me ocorreu, mas eu não torço por isso, apenas gosto de especular. E o mágico de Rakugo Shinjuu, na minha humilde opinião, não é nem tentar chegar a uma conclusão, mas sim as múltiplas interpretações que a história apresenta.

    No mais, eu concordo 100% com seu post, e fico ansiosamente no aguardo de mais episódios e posts! 🙂 Até mais!

    – Chell
    http://www.notloli.com.br/

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Obrigado pelo comentário =)

      Não é tanto que eu não tenha percebido a importância do componente sexual desde a aparição da Miyokichi nesse episódio, mas mais que escolhi encaixar isso na narrativa sobre disciplina que eu já havia identificado desde o início do episódio. Como estou escrevendo artigos sobre cada episódio do anime posso me dar ao luxo de não escrever tudo em um dado artigo – se for algo importante, ressurgirá noutros episódios e terei outras oportunidades de escrever. Se não for importante, bem, não é tão ruim então não escrever, certo? Essa é minha abordagem com esse tipo de artigo, que desenvolvi mais ou menos durante a primeira temporada que acompanhei no blog.

      E a sexualidade do Yakumo é assunto sério nesse anime. Eu não sou fã de homossexualidade masculina, admito que evito ler/assistir algumas coisas apenas por saber de antemão que esse é o tema da história (mas raramente evito só por haver o elemento, sem que ele seja o tema central). Já li coisa ou outra, mas não é do meu gosto, fazer o quê, hehe. E mesmo eu, que não simpatizo com o tema, vejo ele jogado na minha cara desde o episódio anterior – e não, não estou achando ruim. Histórias boas são histórias boas são histórias boas. Rakugo Shinjuu é uma história boa, e nesse sentido é bom que, ele sendo ou não gay no fim das contas, isso não tenha sequer sido cogitado nas sinopses e trailers, porque criaria a chance de eu deixar de assistir temendo não gostar. E eu estaria perdendo esse anime incrível!

      Enfim, respondi muito sobre o que eu penso da sexualidade do Yakumo (ou melhor, sobre os indícios dela) em comentário no seu artigo (esse aqui galera, vai lá ler: http://www.notloli.com.br/2016/02/shouwa-genroku-rakugo-shinjuu-4-os.html) que, ao contrário do meu, foca bastante nesse assunto. Provavelmente eu ainda escreverei um artigo focado nisso também, e pela prévia e pelo ponto em que a história se encontra, acredito que será no próximo episódio =)

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