Quarto artigo de primeiras impressões da temporada de abril de 2016! Os outros três artigos foram:

  1. Mayoiga, Terra Formars Revenge, Re:Zero Kara Hajimeru Isekai Seikatsu
  2. Jojo’s Part 4: Diamond is Unbreakable, Kuma Miko, My Hero Academia
  3. Endride, Ushio to Tora, Gundam Unicorn RE:0096

Nos dois primeiros artigos eu procurei misturar animes completamente diferentes, enquanto no terceiro os três são histórias de ação, só o que muda é o cenário. Na verdade não é que eu esteja escolhendo muito, estou tentando misturar o máximo possível considerando as datas de lançamento dos animes, e esse terceiro foi o que deu pra fazer.

Mas agora a mistura é muito louca de novo: uma comédia slice of life escolar com garotas que gostam de motos, um anime mais maduro e realista sobre espionagem no Japão na época da Segunda Guerra Mundial, e uma fantasia medieval de formato clássico – herói forma grupo de aventureiros para caçar o dragão. Bakuon!!, Joker Game e Seisen Cerberus, respectivamente. O que achou deles? Leia abaixo o que eu achei:

Ela fica o tempo todo de capacete, não fala nada. Esse tipo de piada me irrita

Ela fica o tempo todo de capacete, não fala nada. Esse tipo de piada me irrita

Bakuon!!, episódio 1 – K-On! com motos?

Sempre que aparece um anime slice of life escolar só com garotas muita gente logo diz que é um “K-On de complete com a peculiaridade desse anime“. O mesmo aconteceu com Bakuon, claro! E será que é mesmo? Temo que eu não seja o mais adequado para responder isso. Eu não assisti o anime de K-On, li apenas o mangá. Embora a história em si não deva mudar muito, muita coisa muda quando um 4koma vira um anime, é uma experiência completamente diferente. Eu poderia tentar comparar os personagens, mas não dá para saber muito sobre as garotas de Bakuon logo no primeiro episódio, exceto que elas parecem muito mais idiotas que as garotas da banda de Yui e Ritchan.

O que é muito bom (sem desmerecer K-On, que eu não assisti), porque as personalidades bizarras de cada uma das garotas do Clube de Motocicletas tornam o anime muito engraçado. Elas gastam menos tempo comendo bolo e mais tempo criando confusão umas com as outras. Deu para rir várias vezes durante o episódio, o que se tratando de uma comédia é muito positivo, não é? O ruim é que assim que a protagonista conseguir sua moto elas não terão mais objetivo nenhum e o anime precisará se sustentar apenas com suas piadas, e isso nem sempre funciona (vide Dagashi Kashi). K-On por mais raso que seja ainda te dá algo no que se agarrar e conseguir torcer pelas personagens, e o clima de paz entre elas permite apenas relaxar de vez em quando também. Mas isso é um problema que Bakuon pode vir a ter, não um problema que ele já tenha. O que me incomodou, isso sim, foi a presidente do clube. Me dá coisas ver ela muda e com capacete o tempo todo – o único personagem de todos os animes da história que eu aceito que seja assim é a Celty, de Durarara, e veja só, mesmo assim ela fala bastante!

Todos compraram exatamente o mesmo modelo de terno, variando apenas a cor e o tamanho

Todos compraram exatamente o mesmo modelo de terno, variando apenas a cor e o tamanho

Joker Game, episódio 1 – Estou enxergando coisas?

Começo dizendo logo o que importa: o anime é bom. O protagonista é meio cabeça-dura e raso, mas é só o primeiro episódio e ele tem potencial ainda – e a história irá cobrar isso dele. A animação está muito boa e muito bonita. Como um anime de espionagem, embora eles mal tenham começado já deu para sentir um gosto de suspense logo no primeiro episódio. Nada do que reclamar da técnica ou da narrativa.

Mas só eu que achei esse anime uma propaganda imperialista japonesa? Calma, vamos devagar. Primeiro vou explicar o nome do anime: Joker Game é o nome que os espiões da Agência D dão para um “jogo” que consiste em, bem, fingir que estão jogando enquanto estão em segredo loucamente passando sinais uns para os outros, roubando para enganar o “coringa” (joker), que não sabe de nada, e vencê-lo na partida independente de quão bem ele jogue. O jogo é uma metáfora, dizem eles, para política internacional: as conferências entre nações são jogos de cartas marcadas, quem vai despreparado para o verdadeiro jogo está fadado a perder, não importa o que faça. E eles afirmam convictos: no atual tabuleiro internacional, o coringa é o Japão. Anote isso: segundo Joker Game, o Japão é um país que joga limpo na diplomacia internacional, ao contrário de, bem, todos os outros.

O protagonista é o único que veio do exército, todos os demais espiões são civis. O anime explica o Joker Game demonstrando-o, com os demais sete espiões derrotando o protagonista. Com formação militar, ele tem a honra em alta conta, e contrasta seus colegas de quartel com seus colegas espiões: pelos primeiros, ele daria a vida. Já pelos atuais… Eles saem a noite para beber e sair com mulheres, enquanto o rígido militar vai dormir cedo. E é enganado por todos. O que havia de mais japonês naquela época do que um soldado? Bom, muita coisa, lógico, mas estou falando aqui de ideais e de propaganda. Sem dúvida era o soldado que representava o ideal propagado de cidadão japonês, de modo de vida japonês. E embora ele tenha se formado um espião, ele passa o episódio inteiro dizendo o quanto a espionagem é algo indigno, desonrado, etc. Como ele é o protagonista, o anime é construído de forma a nos solidarizarmos com a posição e opinião dele. Então anote aí: segundo Joker Game, o japonês ideal é o antigo soldado do Exército Imperial Japonês.

Complementando tudo isso o protagonista esbraveja seu ideal na cara de seus companheiros, que nem irritados ficam, apenas riem e respondem que sendo o Japão o coringa na diplomacia internacional, ele pode perder a guerra, e vindo a perder, pode ser forçado pelos vencedores a mudar sua cultura, a própria cultura que ditou o ideal japonês que o protagonista carrega no peito com tanto orgulho. Como espectadores sabemos que de fato isso aconteceu: duas bombas nucleares e o Japão foi forçado a engolir seu orgulho e render-se incondicionalmente, tendo sido ocupado por décadas e forçado a abrir mão precisamente de seu outrora “glorioso” Exército Imperial. Tome mais uma nota: segundo Joker Game, o Japão foi forçado a abrir mão do que tinha de melhor porque foi derrotado na guerra.

Com tudo isso eu começo a ver sinais até onde eles talvez nem existam. Por exemplo, no fato de serem oito os espiões. Ao fim da Segunda Guerra, impuseram-se como potências cinco países que mais tarde se tornariam os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU: Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido, França e China. Do outro lado haviam três derrotados: Japão, Alemanha e Itália. Somou? Oito. Foi o próprio anime quem comparou o seu carteado com a política internacional de alto nível entre países. E o Japão, naquela mesa de pôker, era o único bom e inocente.

Essa animação ruim logo no primeiro episódio?

Essa animação ruim logo no primeiro episódio?

Seisen Cerberus, episódio 1 – Nunca leve seus filhos em cerimônias de selamento de dragões

Alguém tem uma só boa explicação para os pais do Hiiro terem levado ele à cerimônia onde o flagelo do mundo, o terrível dragão Dagan Zot, seria selado de uma vez por todas? Ele não foi lá pelo seu poder mágico, porque ele não tem nenhum. Dez anos se passaram desde então e ele se tornou um espadachim, quer que eu acredite que ele tinha algum poder mágico quando criancinha? Ele estava lá apenas segurando um espelho. Tudo bem que era um espelho super importante, um item necessário para o ritual, mas acredito do fundo do coração que qualquer um pudesse ter feito aquilo, supondo que precisasse ser segurado por uma pessoa (não podia ficar só apoiado em uma pedra, sei lá…?).

A única explicação é lógico que é a conveniência do enredo: Hiiro estava lá quando tudo deu errado e para que o garoto não morresse seu pai lançou uma magia que vinculou de alguma forma os corações de Hiiro e Dagan Zot. Bom, em um anime tão padrão sobre fantasia medieval capa e espada “vamos matar o dragão” algumas conveniências podem ser perdoadas, né? O vínculo entre protagonista e dragão pode render muito afinal de contas. Esse é outro anime que estou esperando a história de verdade começar, e se não dá para botar muita fé no que apareceu até agora, não tenho grandes motivos para duvidar que possa vir a ser bom também.

Uma coisa contudo é bem ruim: a animação. Traços grossos, definição baixa, enquadramentos horríveis, qual é? Todo anime capricha no primeiro episódio! Será que foi concluído tão em cima da hora assim? Ou está mesmo com tão poucos recursos, ou sendo produzido por uma equipe tão de terceira? Animação é o tipo de coisa que costuma ser boa nos primeiros e nos últimos episódios, então se foi horrível no primeiro minha expectativa de que melhore é bem baixa. Não que nunca tenha acontecido, mas os casos que me lembro de ver a animação melhorar depois de um começo sofrível foram todos de mudança de técnica (por exemplo, Kingdom, que começou usando muito 3D CGI e era horrível, mas em torno do episódio 10 já não tinha mais 3D exceto em cenas de movimentação de exércitos).

  1. Excelente matéria Fábio, Joker Game foi uma estreia muito boa, principalmente para quem aprecie a história (principalmente a parte da Segunda Guerra Mundial), animação boa e uma op excelente. Para quem sabe um pouco de história sabe que o Japão saiu prejudicado na Primeira Guerra Mundial, mesmo tendo ajudado os aliados e ter tido um papel crucial no combate aos alemães na Ásia no final da mesma não viu comprida as suas demandas atendidas na Liga das Nações (como todo a gente sabe o Japão é pobre em recursos naturais e já naquela altura já tinham excesso de população e eles queiram ter novos territórios para se poderem expandir em termos económicos e sociais. O Japão nunca perdoou o Ocidente por causa da decisão da Liga das Nações, pois sentiu-se prejudicado mesmo tendo ajudado os aliados, e assim os japoneses ficaram com rancor do Ocidente e muito se especula que tenha sido uma das razões do Japão se ter aliado às potências do Eixo (Alemanha e Itália) na Segunda Guerra Mundial.
    Quanto a Bakuon não tenho muito a dizer, um excelente anime (ops publicidade) sobre motas, para quem é fã de motas deve é um bom anime para passar o tempo.
    Quanto a Seisen Cerberus, o anime em si não é mau, mas este tipo de fórmula da história já está um pouco gasta na indústria dos animes, mas como é só o primeiro episódio pode ser que ainda melhore lá mais para a frente.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Sem dúvida, muita coisa aconteceu no Japão na época, em termos de política internacional, se formos passionais sobre o assunto, ele de fato foi “traído” na Conferência Naval de Washington – os americanos inclusive haviam interceptado e decodificado mensagens telegráficas japonesas antes da conferência. O Japão viveu um período de crescimento da democracia no final da Era Taishô seguida por um crescente militarismo durante a década de 1920. O Imperador Hirohito assumiu o trono em 1926 e em seu discurso em 1928 prometeu lutar pela paz mundial e a amizade entre as nações. Ainda assim, as divergências políticas internas cresciam, e uma série de incidentes levaram à vitória da facção militarista. É sempre difícil falar sobre essa época, mas não me proponho a isso, ao invés apenas critico o atual crescimento do discurso de glorificação desse período histórico, expresso na política com a reinterpretação constitucional para permitir ao Japão enviar tropas para o exterior, e na cultura com obras como Gate e sua apologia desavergonhada ao militarismo. Levantei a bandeira aqui ao falar sobre Joker Game porque me pareceu que esse pode ser o caminho do anime também, mas com sorte talvez seja outro. A ver. O blog finisgeekis escreveu um artigo apenas sobre Joker Game e incluiu muitas informações sobre o Japão nessa época, vale a pena a leitura: http://finisgeekis.com/2016/04/11/joker-game-lutando-a-guerra-perdida-no-japao-dos-anos-1930

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Tanto Bakuon quando Seisen Cerberus usam fórmulas já clássicas de seus respectivos gêneros, mas enquanto Bakuon desde o primeiro episódio mostrou algo a mais (motos) e teve uma execução técnica muito boa, Seisen Cerberus ainda não provou porque ele merece um lugar de destaque entre as fantasias medievais, além de ter tido uma execução bem abaixo do aceitável para um primeiro episódio.

  2. Obrigado pela dica de leitura, irei ler com gosto (adoro tudo sobre história) continua com as tuas excelentes matérias (não estranhe a minha maneira de escrever é pt/pt), já agora parabéns pela escrita, fluída e sem erros.

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