E o primeiro anime da temporada que vou cobrir com artigos semanais é Twin Star Exorcists. Um anime de ação sobrenatural com humor, que adapta um típico mangá battle shounen do mesmo autor de Binbougami ga!, uma comédia nonsense também sobrenatural, e é só na arte e nas etiquetas que os dois são parecidos, um é de ação e o outro não, o tipo de comédia e o tipo de sobrenatural são diferentes. Ah, e os dois têm mais uma coisa em comum: eu gostei.

Esse primeiro artigo cobre os episódios 2 e 3, para minha opinião sobre o primeiro episódio leia o artigo de primeiras impressões. Vamos lá?

Não confio nesse cara

Não confio nesse cara

No segundo episódio, Rokuro descobre que Benio se mudou para a mesma casa onde ele vive. Que é o quê alias? Um alojamento para exorcistas? Bom, vou tratar como se fosse um alojamento, por enquanto não importa mesmo. Nem preciso dizer que Rokuro ficou confuso e irritado ao ver a Benio em sua casa, e a recíproca é verdadeira. Eles começaram com o pé esquerdo. E devo dizer, até o final do terceiro episódio continuam apenas pulando em um pé só. A verdade é que eles não se entendem: o Rokuro acha a Benio convencida demais (e ela se comporta dessa forma mesmo), e a Benio acha o Rokuro um covarde por desperdiçar seu potencial como exorcista (e ele é covarde mesmo!).

Então os dois estão certos? Ora, tão certos quanto qualquer um que conheça apenas superficialmente outra pessoa possam estar. A Benio não sabe porque o Rokuro tem medo, e o Rokuro não sabe porque a Benio age de forma convencida. A bem da verdade, isso eu não sei também, mas parece ter algo a ver com os pais dela. Talvez seja apenas o orgulho do sangue falando, mas eu espero que seja um pouco mais do que isso. Embora os dois sejam protagonistas, até aqui o foco no Rokuro é inegável. Sei muito mais sobre ele do que sobre ela. Dá para ter uma ideia do que ele pensa e de porque ele pensa, mas ao menos que a Benio abra a boca suas motivações íntimas são insondáveis. É como se ela jamais tirasse a máscara que ela usa como exorcista.

A Benio foi pra matar! Essa luta foi divertida

A Benio foi pra matar! Essa luta foi divertida

E isso gera algum incômodo às vezes. O exemplo máximo foi após a luta entre os dois no segundo episódio quando o líder dos exorcistas os declarou noivos. Os colegas exorcistas do Rokuro o animavam e parabenizavam pelo “prêmio” de casar e constituir família com a Benio, e a situação atingiu o auge do absurdo quando eles começaram a fazer isso na presença da Benio. É como se ela fosse um objeto! Felizmente ela se insurgiu contra isso, e acho que a mensagem foi bem dada para eles, para o Rokuro e para o espectador. Infelizmente ela deu como motivo para se opôr a isso apenas o fato do Rokuro não querer ser um exorcista. Nada sobre casamentos arranjados sem sentimentos. Nesse sentido o clássico Ranma ½ lidou muito melhor com o tema décadas antes. E não é que se possa taxar que a Benio não se importe com um casamento arranjado (com o que o Rokuro se importa e deixou bem claro, aliás), mas sim que não dá para saber o que ela está pensando. Com raiva, no calor do momento, ela disse só uma coisa e nada tinha a ver com sentimentos. Talvez ela tenha tanta raiva dele que nem pensou mais profundamente a respeito do tema ainda. Talvez ela pense mas não tenha compartilhado seus pensamentos conosco.

No terceiro episódio eles começam a nova rotina, com a Benio indo à mesma escola que o Rokuro e inclusive estudando na mesma classe. Mas nada de comprar uniforme escolar novo, aposto quanto quiser que ela vai continuar usando esse até o final do anime. Parece que as rígidas escolas japonesas não se importam tanto assim com seus uniformes, né? Mas isso não importa, estou sendo apenas chato – até porque o uniforme faz parte do character design dela, é natural que não mude. Enfim, nesse novo ambiente fica claro o que já dava para supôr desde o primeiro episódio: Otomi, a colega de classe e amiga de infância do Rokuro, gosta dele. Mas ele nunca vai vê-la como uma garota porque a vê como uma irmã ou prima, apenas por ela ser neta do velho que parece ser o dono do alojamento onde o Rokuro vive. Isso é um ponto de enredo interessante, porque embora ela não seja uma exorcista, não tenha aparentemente poder nenhum, ela sabe sobre os exorcistas, está mais próxima a eles do que uma pessoa comum.

Alguém gosta de alguém, né?

Alguém gosta de alguém, né?

Mas o fato mais notável do terceiro episódio foi a luta da Benio e seu impacto no mundo real – visto em primeira mão pelo Rokuro. Ela teve uma luta difícil contra um kegare especialmente poderoso. A luta ocorreu no magane, sobreposto ao mundo real em um parque de diversões onde o Rokuro estava passeando com a Otomi, que o levou lá para se animar – ela percebeu que ele anda deprimido, só não sabe porquê. Sem dúvida a mera presença da Benio está abalando a determinação do Rokuro em não ser um exorcista. E se quer saber, creio que ele nunca foi lá muito determinado, e a intenção declarada dele de ser qualquer outra coisa e seu esforço em conseguir isso para mim soaram nesse episódio como uma forma de distração, de auto-enganação. Mas tinha que chegar a Benio e dizer as palavras que ela disse no primeiro episódio, não tinha? Derrotar todos os kegare do mal. O mesmo sonho que o Rokuro tinha.

Rokuro limpando a sujeira da Benio no mundo humano

Rokuro limpando a sujeira da Benio no mundo humano

O episódio infelizmente perdeu uma boa oportunidade, na minha opinião. A luta da Benio afetou o mundo real, como já disse, e no parque de diversões o Rokuro viu o estrago que essa luta causou em uma montanha russa, quase matando duas crianças. Para sorte delas, o Rokuro estava lá, com toda a coragem que ele sabe demonstrar quando está sério. A Benio viu a conexão entre os mundos que o kegare criou mas não se preocupou em ir lá depois ver o que havia acontecido, quais eram os danos, se alguém havia se ferido. Esse era o momento para o Rokuro dar uma bronca nela. Derrotar os kegare sim! Mas por quê? Em primeiro lugar, para salvar pessoas, não é? E ela fracassou nisso. Mas o Rokuro se calou. Talvez o assunto surja de novo futuramente.

Como nota final, Arima, o líder dos exorcistas, se reuniu com 12 pessoas bem suspeitas nesse episódio. Algo que sempre me incomodou desde o primeiro episódio (desde a sinopse, na verdade) é: para quê criar “o mais poderoso exorcista de todos”? Para derrotar todos os kegare? Perfeito, parece bom. Mas os exorcistas atualmente já não lidam bem com os kegares? Não vejo o Japão caoticamente sendo devorado por eles no anime, tudo parece razoavelmente sob controle, com exceções aqui e ali, e principalmente com baixas entre os próprios exorcistas, o que é a fonte do trauma do Rokuro. Sempre me parece perigoso criar ou invocar ou de alguma forma trazer ao mundo um ser tão poderoso assim, e sempre fico cismado com quem planeja fazer isso.

Os doze sinistros

Os doze sinistros

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