Episódio semelhante ao terceiro. Aqui também temos um traidor de seu país, dessa vez do Reino Unido ao invés da França. Mas com algumas diferenças importantes. E o que realmente tornou esse episódio impactante não foi suas semelhanças nem suas diferenças com o terceiro episódio: foi a retratação do sofrimento humano, das dificuldades que pessoas de verdade passaram durante a guerra. No final das contas isso tem a ver com o terceiro episódio também, mas foi o quarto que havia retratado isso de forma mais cruel até agora – nele o espião sequer teve grande participação na história, permitindo que os personagens daquela história em particular brilhassem sozinhos. De todo modo, quem está esperando por um episódio que comece a contar uma história que englobe todo o anime ao invés de histórias fechadas, episódicas, pode tirar o cavalo da chuva que ainda não foi dessa vez.

Esse episódio escolheu homenagear Haifuri, depois do anterior fazer o mesmo com Kabaneri

Esse episódio escolheu homenagear Haifuri, depois do anterior fazer o mesmo com Kabaneri

Tem forma mais eficiente de apertar nosso coração do que usando crianças? Joker Game parece saber que não. A principal personagem desse episódio é uma mãe que, como a garota francesa do terceiro episódio, se tornou uma espiã para os alemães. Há várias diferenças entre as duas, contudo: a francesa não teve escolha, sua família estava sendo ameaçada. Eles seriam mortos se ela não aceitasse e ela seria provavelmente morta também. A inglesa procurou os alemães, ela totalmente queria ser uma espiã. Como consequência, a francesa não fez lá um trabalho muito bom, na verdade ela se esforçava ao máximo para manter os companheiros da sua célula da Resistência longe de problemas, enquanto a inglesa provavelmente cumpriu missões e caçou avidamente sua presa. A francesa foi chantageada, a inglesa buscava vingança. Nenhuma das duas estava feliz com o que fazia.

A espiã inglesa provavelmente achou que pudesse escapar ilesa depois de matar um criptologista inglês, que ela pudesse depois de cumprida sua vingança descansar em algum lugar com sua filha e envelhecer em paz. Isso foi bastante ingênuo da parte dela, eu penso. Mesmo se os ingleses não tivessem abordado o navio dela coincidentemente logo depois de executar seu plano (aquilo foi bastante forçado, não acha?) ela provavelmente teria pelo menos alguma dificuldade fugindo dos alemães. Com a liberdade de deslocamento que ela tinha acho que poderia, digamos, mudar-se para um lugar seguro como os EUA, mas isso seria jogar toda a sua vida até então fora, o que talvez não fosse grande problema para ela. Mesmo assim ela estaria sob risco de ser descoberta pelos aliados ou pelo eixo: a guerra era mundial, lembra?

A última vez que viu a filha

A última vez que viu a filha

Mas esse era o tamanho da determinação dela e o nível de risco que estava disposta a assumir. Ela só não podia mesmo era suportar fazer ainda mais mal para a própria filha. Que bom que espiões japoneses têm bom coração então, né? É nessas horas que é preciso ser bastante crítico e lembrar-se que isso é uma obra de ficção, e mais ainda, ficção escrita por japoneses. Não caia no conto do bom espião. O que não quer dizer que algo assim acontecer fosse impossível: certamente seria um disfarce útil para um espião viver em uma casa aparentemente normal cuidando de uma órfã de guerra que ele adotou como filha e um cachorro. Seria bom enquanto durasse. E imagino que ele esteja pensando nisso, de fato: arrumar um bom disfarce para ficar à espera em algum lugar. Tempos de guerra são tempos duros, difíceis, não é a melhor coisa que poderia acontecer àquela garota mas pelo menos está bem longe de ser a pior.

O criptologista inglês e o espião japonês

Ao longo do episódio o espião japonês e o criptologista inglês conversam longamente sobre a famosa máquina alemã de criptografia: o Enigma. Suas mensagens foram quebradas pela primeira vez por poloneses em 1932 (Marian Rejewski, Jerzy Różycki e Henryk Zygalski), bem antes portanto dos eventos do anime e desse episódio (que deve ser em 1939 também como os anteriores, embora não informe) e o aperfeiçoamento contínuo da máquina fazia com que esse trabalho de decodificação fosse ininterrupto. Após declarar guerra à Alemanha em 1939 os ingleses partiram do trabalho dos poloneses e trabalharam ativamente na produção de máquinas de decodificação chamadas “bombas eletromecânicas”, em projeto concluído pela primeira vez em 1940 sob direção de Alan Turing. Que eu saiba, os métodos usados foram muito mais sofisticados e eficientes que os sugeridos pelo criptologista inglês desse episódio, mas guerra é guerra, pode ter acontecido de tudo.

Concluindo, eu sei que eu sempre fico na expectativa de que no próximo episódio o anime vai tomar um rumo de verdade, e quem sabe, não é? O título do próximo episódio é uma derivação do nome do anime, tem que ser dessa vez. Será que vai? Ah, uma curiosidade: você pode brincar com uma versão online da Enigma nesse site.

  1. Este episódio foi bom, este anime em geral retrata uma temática que sempre me atraiu a atenção a Segunda grande Guerra, eu gosto de história em geral, mas é nas guerras que se vê o engenho e prepotência do homem, este anime até agora tem tido uma trama episódica mas mais lá para a frente a história deve ficar mais continua.
    Realmente este anime tem feito muitas referencias aquele navio de guerra inglês estava muito bem feito tal como os membros da tripulação do mesmo (o estúdio está de parabéns, até os uniformes dos soldados da marinha estavam bem realistas tal como as espingardas com as baionetas).
    A maquina de criptografia alemã (enigma), deu muitas dores de cabeça aos serviços de inteligência dos aliados, mas a sorte dos alemães acabou quando um dos seus submarinos foi capturado e os aliados obtiveram um exemplar da famosa máquina com os códigos, ai é que a situação dos alemães sofreu de uma reviravolta.
    De resto o episódio boi bastante bom, tive pena da criança, mas acho que aquele espião tinha que morrer por ser tão filho da mãe, ao menos a mulher teve o direito de vingar o marido e pai da sua filha.
    Como sempre uma excelente matéria.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Pelo que estudei, o Enigma era um problema sim mas não era nenhum fim do mundo. Como decodificar suas mensagens já havia sido descoberto pelos poloneses quase dez anos antes, como descobri e publiquei no artigo. Como a máquina era continuamente aperfeiçoada (a Enigma normal tinha 3 discos, mas chegou a existir uma de 8 discos usada apenas pelo alto escalão, por exemplo) o trabalho de decodificação também precisava ser contínuo – e capturar chaves ajudava quando vinham junto com uma cópia da máquina, permitindo uma engenharia reversa suave. Os alemães chegaram a ter outra máquina de criptografia, pelo que entendi mais poderosa que a Enigma, chamada Lorenz. Essa só foi decodificada pelo Colossus, o famoso primeiro computador eletrônico digital do mundo – e graças a um erro procedimental de um operador alemão.

  2. Quando mencionaram a máquina Enigma, logo eu lembrei de Alan Turing, Churchill e um bombardeio a uma cidade inglesa onde os habitantes não foram avisados por receio de que os alemães suspeitassem que o código havia sido decifrado.

    Acho que o episódio foi uma analogia a essa história.

    O senhor McCloud era mesmo um vilão? Foi ao velório do marido daquela mulher e ela usou uma foto com os dois juntos para identificá-lo, não fica evidente no anime, mas parece que havia intimidade entre eles.
    Será que ele tinha outra escolha? Poderia ter pedido ao marido dela que faltasse ao trabalho? Ele sabia com antecedência qual navio seria escolhido? Podemos acusá-lo tão facilmente como a mulher o fez? Afinal, só nos é mostrado o ponto de vista dela.

    A atitude dela foi egoísta.
    Traiu o seu país por uma vingança particular e como o assassino do seu marido, também pode ter matado outras pessoas trabalhando como espiã.
    E no final, a filha foi a maior vítima, além de perder o pai, perdeu a mãe.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Tem razão, interessante ponto de vista. Acho que o episódio se esforçou em mostrar o criptologista inglês como vilão sim, mas era uma guerra, merdas muito piores do que aquela foram feitas. São problemas morais insolúveis, já que nunca saberemos se teria sido melhor se fosse diferente, porque não foi diferente. O caso mais famoso disso na Segunda Guerra sem dúvida são os bombardeios atômicos. Mas para além disso, fiquei com a impressão que ele talvez não fosse apenas um amigo, ou não quisesse ser apenas um amigo. Claro que isso pode ter sido apenas dificuldade dos japoneses retratarem a cultura ocidental mais íntima, que permite o toque humano.

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