Eu comentei no episódio 1 e aparentemente alguém me ouviu, esse episódio dois de Berserk teve um número maior de 2D decente com 3D passável e bem menos do 3D bisonho que vimos no episodio 1, bom, pelo menos me pareceu assim. Acho que depois desse episódio fica mais do que definido que não veremos o arco das crianças. O que enquanto me entristece, pois o Guts ganha muito como personagem nesse arco, não pesa especificamente na qualidade do anime já que querer adaptar 90 capítulos em 13 episódios pra início de conversa é realmente complicado, e, sinceramente, o mais importante numa adaptação é que saiba adaptar de uma forma que divirta e atraia público, não precisa seguir o que o autor fez como se fosse uma bíblia (apesar de obviamente preferir o arco da convicção do manga ao que está sendo apresentado no anime até agora.)

Bom sem mais delongas vou dar um resumo do episódio que nos foi apresentado, Guts é abordado pela Ordem dos Cavaleiros da Santa Sé, supostamente comandada por Farnese, que lhe acusam de ser o cavaleiro negro do bando do “Falcão das Trevas” (o que sinceramente me parece estranho mas não vou falar nada) e querem levá-lo à Santa Sé para ser julgado como herege. Guts enfrenta e mata diversos sem muitos problemas porém seus ferimentos da batalha contra a árvore demoníaca lhe custam caro, o que termina em sua captura que ele logo dá jeito de contornar com uma fuga do acampamento dos cavaleiros. Falando assim parece que pouco aconteceu mas na verdade nós fomos apresentados a diversas nuances dos personagens durante esse episódio.

Tá aí um 3D decente

Abrimos o episódio com um flashback de uma cena clássica da Era de Ouro, essa cena no contexto atual significa pouco (aparentemente só porque ele foi atingido por uma flecha) porém é de extrema importância para a dinâmica entre Guts e Caska, nela Guts tenta garantir uma rota de fuga para Caska para que ela possa sobreviver à batalha e correr atrás de seu sonho de ser a mulher que ficaria ao lado de Griffith como sua espada e principal general, é uma cena que demostra o antigo ideal de Guts de meramente viver como uma extensão de sua espada no campo de batalha matando até ser finalmente morto, e nessa singela troca de palavras percebemos o quanto Guts admira alguém com sonhos maiores que os deles e ao mesmo tempo o sentimento de camaradagem que ele possui e que ele fez o seu melhor para esconder no episódio passado.

De volta a realidade entendemos que Guts está realmente ferido porém ele não pode simplesmente se render e deixar por isso mesmo o que o leva a retalhar diversos dos cavaleiros de Santa Sé (que de acordo com Serpico são somente nobres mimados sem experiência em combate), quando finalmente Azan, o segundo em comando dos cavaleiros, que claramente têm muito mais poder de voz e respeito que a Farnese sobre o exército decide que está na hora de agir e desafia Guts que o reconhece como Azan, o Cavaleiro da Ponte, um homem honrado que parou um exército de 100 homens só pra escoltar um idoso que atravessava uma ponte. Guts porém não tem qualquer apreço pela honra de um guerreiro já que tendo vivido sua vida como mercenário, matar ou morrer foram suas únicas verdades num campo de batalha, e após constatar que em seu estado ferido não teria chances contra Azan Guts corre na direção de Farnese que o atinge por impulso depois de um pedaço de madeira, que convenientemente ninguém mais viu ser lançado (provavelmente pelo Serpico), o desequilibrou pondo-o fora de combate.

Fora de combate em meio a seus devaneios do passado vemos Guts sendo resgatado por Griffith em meio a uma montanha de corpos, Griffith explica a Guts que a vida de um soldado vale menos que uma moeda da prata (algo que mercenários como eles entendem perfeitamente bem) e que as pessoas que nasceram destinadas a mudar o mundo são realmente abençoadas, fazendo referência a si mesmo pois seu sonho é criar um reino e de fato mudar o mundo, e ao mesmo tempo Griffith desperta uma chama em Guts, uma chama que iria pôr suas antigas resoluções em cheque e que explicam sua reação com Caska no inicio do episódio. De Acordo com Griffith devemos buscar nosso lugar no mundo, aproveitar nosso potencial ao máximo e não deixar nossos sonhos morrerem por pouco, isso estabiliza mais ainda a noção que Guts é alguém que sonha em ter um sonho, e admira aqueles que o cultivam.

Já no acampamento, não demora pra percebermos que a Farnese tem tão pouco poder quanto ela aparenta ter, tudo indica que ela é a a líder do grupo meramente por questões burocráticas como sua linhagem nobre e que enquanto todos respondem diretamente ao cavaleiro da ponte por respeito a sua conduta e feitos a maioria dos membros se não todos menos o Serpico só responde à Farnese pelo medo de contrariá-la perdendo assim seus postos. Não ajuda que Farnese é sádica e mimada, não hesitando em ferir Guts gravemente com seu chicote quando o mesmo se recusa a responder a seus anseios da forma que ela gostaria que ele o fizesse.

 

Ainda assim, mesmo mantendo pose de durona e se escondendo atrás de uma mascara de “líder dos cavaleiros” Farnese é incrivelmente fraca e frágil mentalmente. Não só Guts não vê problemas em zombar dela e deixá-la irritada com a simples constatação de sua inferioridade com relação ao cavaleiro da ponte como após finda a sua sessão de tortura Farnese decidiu se auto punir para fortificar suas resoluções e fé. Basicamente ela chegou ao ponto em que precisa se autoflagelar para se convencer de que o que ela está fazendo é certo e de que está seguindo a vontade divina.

E pra finalizar com chave de ouro, se não estava claro que Farnese é bitolada até a alma com uma esperança vã de que por rezar o suficiente ela será aceita, Puck nos deixa essa certeza absoluta agora, numa referência quase impossível para o telespectador entender, Farnese é incapaz de ver elfos, o que significa que ela não aceita a existência de criaturas mágicas de forma alguma, mesmo vivendo num mundo onde criaturas fantásticas são comuns, Farnese repudia e ignora qualquer conhecimento que vai contra seus princípios cristãos para que sua frágil fé não seja ainda mais abalada.

O checkmate de uma obsessão

O checkmate de uma obsessão

  1. Finalmente Berserk, começou a melhorar em termos de animação (acho que a equipa técnica deve ter recebido uma visita de um ser lá de cima para fazer um trabalho melhor. A animação melhorou bastante em relação ao primeiro episódio, teve mais 2D, as partes do passado do Gutts foram as melhores. Outra coisa que destaco foram os detalhes das armaduras dos cavaleiros estavam muito bem feitas, os detalhes estavam óptimos, bem melhores que o design dos personagens mas ok. Não gostei da Farnese, é muito mimada e fraca, se não fosse o bocado de madeira que o Serpico atirou na perna do Gutts,a Farnese já não tinha cabeça. A Farnese faz-me lembrar muito os fanáticos que pereciam à Santa Inquisição, eram sádicos, intolerantes e ainda se auto-flagelar para redimir os seu pecados. Gostei bastante do Azan um cavaleiro veterano e honrado, que ao contrario da Farnese e dos seus cavaleiros nobres, sabia lutar muito bem mesmo já sendo um pouco velho. Estou a gostar bastante do Puck, um companheiro sempre fiável, para ajudar o Gutts a fugir do cativeiro. Achei bem interessante a Farnese não conseguir ver o Puck, mas também descrente e fanática como ela é já não me admira nada. Agora só quero ver como o Serpico se vai safar com os demónios do Gutts.
    Como sempre uma excelente matéria Iwan.

    • Exatamente Kondou, me impressionei em como eles conseguiram estabilizar o problema do episódio passado, e ainda mantendo os flashbacks em ótima qualidade (que eram o ponto forte do episodio passado em termos técnicos também), a farnese claramente não é alguém para se gostar ainda, porém esse episódio fez um esforço particular para que as pessoas não só sintam raiva como também pena e vergonha alheia dela, o episódio retrata Farnese como alguém em frangalhos que se agarra em ensinamentos divinos como uma forma desesperada de manter sua sanidade e felicidade. (mesmo que ela seja uma babaca convencida no peocesso) então realmente, é bem fácil não gostar dela lol.
      O Azan é um personagem interessante porque a ideologia de vida dele se contrapõe a do Guts, só que enquanto é verdade que ele é retratado como o certo no episódio (e tudo indica que ele seja) não acho o arquétipo “tiozão certinho” muito interessante para um personagem, apesar de logicamente simpatizar com ele já que ele mantém a compostura mesmo com uma maluca inútil comandando ele.
      O puck é ótimo, super companheiro pro que der e vier, honra suas promessas, serve de alivio cómico e sempre está ao lado do Guts mesmo quando ele aje como um babaca (vide episódio 1) porque sabe que têm algo estranho com ele.
      Eu gostei muito da introdução do Serpico por sinal, ele é um cara de boas que aparentemente entende a Farnese de um jeito que nós que assitimos não entendemos e que enquanto preza sua vida não se importa de desafiar o Guts pelo bem dela (e realmente, espero que de tudo certo com os demônios do Guts que o atacaram de surpresa)

      • Por aquilo que percebi no preview no final do episódio, talvez desenvolvam melhor a Farnese e o Serpico é forte ele vai escapar ileso (ou quase) dos demónios.

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