Antes do artigo, uma preocupação séria. A dubladora da Yatri, Risa Taneda, tirou um tempo do trabalho para se tratar de uma doença não revelada para a qual ela já vinha tentando se tratar enquanto continuava trabalhando mas não apresentou melhora. Ela já foi substituída em um papel que interpretaria em um anime da temporada que vem, WWW.Working. Se Alderamin for acabar só com 13 episódios talvez ela já tenha todo o seu trabalho gravado, senão corremos o risco de testemunhar uma substituição no meio do anime. Depois da morte da Miyu Matsuki (dubladora da Anna, de Shimoneta) no ano passado em situação assustadoramente parecida, isso não é assunto para se brincar.

Agora voltando à Alderamin, vou tirar a poeira desse anime que deixei acumular três episódios antes de assistir (agosto foi um mês complicado). A religião Aldera, para a qual eu mal dava bola, se tornou mais relevante nesses episódios, ajudando a revelar mais um aspecto das estruturas tradicionais da sociedade katvarniana, principalmente ao compará-la com as tradições de um povo que vive dentro do território do reino mas que não compartilha de suas tradições. A tentação é forte para simplesmente criticar e condenar qualquer forma de “tradição” ou “religião”, mas vamos com calma aqui!

Seres humanos são animais sociais. Mesmo os seres humanos fictícios de animes são animais sociais. Bom, dependendo do anime acredito que eles sejam apenas animais mesmo, mas em Alderamin eles são animais sociais. Mas o que é uma sociedade? Ou uma pergunta melhor: como manter a coesão social? Esse é o papel das tradições. Cultura, religião, costumes, todos esses valores compartilhados por um grupo de pessoas que os mantém unidos. Uma sociedade suficientemente avançada e racional poderia viver sem tradições? Acho essa uma pergunta errada. Acredito que mesmo a frieza da lógica constituiria em si uma tradição, caso fosse adotada como referência para uma sociedade qualquer.

O que não livra tradições de problemas. Vários aparecem e são criticados em Alderamin. Crenças avessas ao desenvolvimento do conhecimento podem congelar a evolução técnica e tecnológica de uma sociedade – e isso é bastante aparente em Alderamin. A manipulação metódica e inteligente de valores sociais podem transformas coesão em dominação social. E Alderamin sugere que esse possa ser o caso: segundo a interpretação do Ikuta, o deus Alderamin é uma construção social para a manutenção de poder, mais do que uma crença compartilhada. Essa conclusão é apresentada quando a religião Aldera é comparada às crenças dos sinacks, que idolatram os espíritos tanto quanto os katvarnianos mas não acreditam em um deus único que os tenha enviados. Se duas crenças diferentes são incompatíveis, pelo menos uma delas está necessariamente incorreta, não é? E não resta dúvida de que em Alderamin Katvarna é pintada em tons sombrios e suspeitos.

Mas esses são apenas os grandes temas. Tem as miudezas do dia à dia e as estratégias de guerra, parcialmente derivadas dessas grandes narrativas, e elas dominam parte desses três episódios. Assim que a Grande Alafatra é apresentada no anime e é descrito como elas nunca foram atravessadas, eu logo intuí que elas serão, então, atravessadas. Mas não são apenas as montanhas que dificultam a travessia: o povo sinack que as habita é corresponsável pela inviolabilidade da fronteira setentrional de Katvarna. E katvarnianos e sinacks vivem uma paz tensa. Interpretando as palavras da líder sinack, Ikuta conclui que as ideias que saíram de sua boca não eram dela. Antes, roupas de peregrinos Aldera haviam sido encontradas de forma suspeita na casa do líder da vila katvarniana próxima à Alafatra, atacada pelos sinack.

Seminua com uma capinha por cima em um lugar sempre frio, essa "líder" também é "suspeita"! Mas falando sério, esse cara que parece ser um "conselheiro" dela deve estar por trás de toda a armação

Seminua com uma capinha por cima em um lugar sempre frio, essa “líder” também é “suspeita”! Mas falando sério, esse cara que parece ser um “conselheiro” dela deve estar por trás de toda a armação

Se o Ikuta fala é verdade, não é? Só resta completar o quebra-cabeça e descobrir então quem é que está mexendo as cordas por trás das cortinas para provocar essa guerra. Retornando um pouco, se o objetivo é tornar a fronteira norte transponível, até onde sabe-se há apenas uma possível interessada nisso: a República de Kioka, a inimiga externa de Katvarna. Qualquer que seja o resultado de uma guerra de eliminação em larga escala entre katvarnianos e sinacks, Kioka se beneficiaria com a provável facilidade que teria para atravessar a Grande Alafatra em seguida. A última tarefa é interpretar o comportamento do general Safiida e determinar se ele faz parte da conspirata ou é apenas um idiota útil. No momento, acredito não haver elementos para qualquer conclusão a esse respeito.

Eu acho que ele é só um idiota

Eu acho que ele é só um idiota

Qualquer que seja o caso, aposto que Ikuta irá salvar o dia. Confesso que me impressionei com o final do episódio 8 porque esperava que o protagonista fosse ficar mais abalado com a morte da Kanna. Mas acho que faz sentido, para alguém que já perdeu os pais, ser capaz de superar a morte de uma conhecida. Ele é, enfim, um líder militar nato capaz de pesar suas alternativas para tomar sempre a melhor escolha sem se arrepender. De todo modo isso não quer dizer que ele não sinta nada, e acredito que a pequena conversa que ele teve com Matthew sobre ter medo e querer superá-lo indique que ele possui sentimentos como qualquer pessoa, só é melhor treinado em não deixar que eles transpareçam.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Acabei não assistindo. Vejo algumas pessoas falando bem, outras nem tanto. Talvez no futuro eu maratone o anime? Enfim =)

      Obrigado pela visita e pelo comentário!

  1. Esse artigo demorou bastante, só não mais que o MeuAnime, no OtakuPT, haha.
    Irei comentar sobre o episódio oito, o mais emocionante, na minha opinião.

    O drama feito na morte da Kanna não foi extravagante, mas é possível notar a tristeza do personagem principal. Ele podia, talvez, ter salvado ela caso não fizesse a parada para evitar a hipobaropatia (escassez de oxigênio em grandes altitudes), mas caso continuasse, estaria arriscando a vida de seus homens, que eram a prioridade dele como líder militar, e amigos, que presumo serem importantes para ele.

    Desde então, os líderes militares vem se mostrado cada vez mais burros, exceto o Ikuta e, ao que me parece, o aconselhador da comandante inimiga, tanto que a morte da Kanna demonstrou isso. O personagem principal escolheu o lado racional e teve que lidar com as consequências, e foi isso que fez.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Nem me lembra da “Meu Anime”, não tenho conseguido assistir nada direito (os atrasos de artigos aqui são reflexo disso também) daí que não tenho conteúdo pra escrever lá, mas juro que volto =x

      E sim, eu sem dúvida percebi a tristeza do Ikuta. Foi um caso em que pequenos gestos falam mais do que palavras (embora tenham havido palavras também, na minha opinião desnecessárias, teria sido mais dramático e pungente sem elas). Mas foi, como definir? Uma tristeza controlada? Pragmática? Até nisso ele tem que ser melhor do que todo mundo, afinal.

      E sobre o quão bom comandante ele é, preciso dizer o que já disse noutro artigo: ele é muito bom no absolutamente normal e esperado. Todos os demais é que são terríveis, inacreditavelmente ruins e burros. Esse contraste faz o Ikuta parecer mais incrível do que é, funciona, mas fica meio cansativo. Quero dizer, com comandantes assim, como é que Katvarna ainda está de pé como um país? Não parece ter um que preste! E os bons sempre morrem rápido – isso quando não são mortos pelo próprio estado ou enviados para a morte certa.

      Acho que o que realmente destaca o Ikuta é sua capacidade de sobreviver enquanto um comandante racional =D

      Obrigado pela visita e pelo comentário!

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