Tecnicamente o episódio 10 não se encaixa com os outros dois. Bom, tecnicamente os três episódios contam histórias bem diferentes mas, como você vai ver, o que eu tenho a dizer sobre o final de Amanchu encaixa razoavelmente bem os episódios 11 e 12. O episódio 10 está incluído junto apenas porque eu acho que ele não diz nada demais. Nada que não tenha sido dito antes ou que não venha a ser dito depois. Claro que só faço isso pela excepcionalidade da situação também; estivesse em dia com os artigos e sairia um para cada, inclusive o 10. Mas hediondamente atrasado que estou, não acho razoável o esforço. Entrego um trabalho melhor assim, acredito.

O Pequeno Príncipe deve ser um dos livros mais conhecidos – principalmente por quem lê pouco ou nada mas se envergonharia de dizer isso em público. Ele também parece profundo o bastante, bem mais do que a maioria dos livros infanto-juvenis, embora eu pessoalmente ache Meu Pé de Laranja Lima muito mais pungente, apenas para dar um exemplo. Quero dizer, a profundidade de O Pequeno Príncipe é bastante … rasa. O que não é nenhum demérito considerando sua qualidade literária e seu público-alvo. Mas bom, esse artigo não é para falar do Pequeno Príncipe, mas sim da que provavelmente é sua mais famosa citação, quando a raposa diz “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Acho que a maioria das pessoas erra o ponto exato dessa afirmação, mas Amanchu acerta em cheio.

Ah é, preciso falar do episódio 10 também, suponho. Bom, as garotas saíram para comprar cadernos de registro de mergulhos (que mais tarde elas usarão como cadernos de desenhos, mas garantem que muita gente faz isso ou pior … bom, mergulhador não sou, então vai saber, não é?), a ruiva maltratou o irmão mais um pouco, elas também compraram biquínis e deram uma bela sessão de fanservice no final do episódio. Como assim um anime sobre mergulho poderia ousar terminar sem fanservice, não é? O problema é que a roupa de mergulho atrapalha, então que tal colocar um episódio onde as garotas vão normalmente para a praia? É, foi o episódio de praia de Amanchu. Mas eu achei o diálogo entre as duas protagonistas no final bem interessante, mas prefiro tratar disso falando sobre o episódio 12 a seguir.

Para ser justo, acho que só a Ai está usando biquíni. A Hikari está de top e mini-short e a Futaba está de camisola

Para ser justo, acho que só a Ai está usando biquíni. A Hikari está de top e mini-short e a Futaba está de camisola

Retomando O Pequeno Príncipe e o “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, o episódio 11 tem isso de forma bastante literal quando a professora diz “Não subestimem a vida!” para Hikari e Futaba. É a mesma coisa? Então, mais ou menos. Senta que lá vem a digressão! Vejo as pessoas no geral usarem essa citação querendo dizer “se eu me decepcionar com você por causa de expectativas que eu mesmo criei a culpa é sua!”. E talvez fosse isso mesmo se O Pequeno Príncipe não fosse uma enorme metáfora. Na prática esse é um comportamento egoísta mas a citação funciona com crianças porque elas vão pensar em primeira pessoa, se colocar no lugar do garotinho, e procurar ser boas e responsáveis com os outros. Pessoas mais velhas são mais astutas – astutas como uma raposa, se me permite o chiste. E se colocam na posição da vítima: a raposa.

No episódio 11 Hikari e Futaba encontram um filhote de gato, uma fêmea muito pequena, que ainda não desmamou e não é capaz sequer se fazer suas necessidades sozinha. Na natureza, não tenha dúvida: na melhor das hipóteses ela morreria de fome. Na pior, viraria alvo de outro animal ou se acidentaria. Se o segundo caso, que se afigurava mais provável, não a colhesse antes, talvez ela sofresse por dois dias ou três, não sei quanto tempo um gato tão novo consegue sobreviver sem comer (e não, ele não é capaz de comer comida sólida nessa idade ainda, muito menos por conta própria) até morrer como previsto pelo primeiro caso. Mas Hikari e Futaba a salvaram. Sem ter como cuidar dela, a recolheram. Foram fazendo o pouco que podiam na esperança de conseguir que alguém a adotasse logo, e levaram a bronca supra-citada da professora, aquela que remonta ao Pequeno Príncipe, quando ela percebeu que as duas não tinham ideia clara do que fazer e apenas meio que esperavam que tudo desse certo.

Isso quer dizer que era melhor ter deixado a gatinha para morrer? É lógico que não! Trata-se apenas de reconhecer a irresponsabilidade das garotas, que não pensaram direito antes de agir e que por isso mesmo poderiam acabar obtendo um resultado muito diferente do esperado. Moral da história: mesmo bem-intencionado, pense sempre e muito bem pensado na outra pessoa antes de agir. Não para evitar reações adversas subjetivas, como a mágoa, mas para evitar resultados ruins bastante objetivos. E a essa altura do texto acho que preciso explicar melhor minha interpretação da passagem da raposa em O Pequeno Príncipe.

O que fazer com um filhote fofinho que vai morrer se deixarmos aqui? Que tal esconder de nossos pais, professores e quaisquer outras pessoas responsáveis que poderiam ajudar? Bom plano!

O que fazer com um filhote fofinho que vai morrer se deixarmos aqui? Que tal esconder de nossos pais, professores e quaisquer outras pessoas responsáveis que poderiam ajudar? Bom plano!

O príncipe se entristece ao descobrir que a sua rosa não é única, e é tirado dessa tristeza pela raposa, que aparece e lhe diz que a rosa é, sim, única, porque é a rosa do príncipe, aquela para quem ele dedicou tanto tempo e carinho. É por isso também que o príncipe se sente tão responsável (isso é importante!) pela rosa. O príncipe, diz a raposa, cativou a rosa. Perceba como quem se frustrou foi o próprio príncipe, e não a rosa, e note também como tanto a responsabilidade quanto essa frustração nascem do empenho pessoal do próprio príncipe. Porque o príncipe cativou a rosa ele se sente responsável, ele a ama, ele se frustra. Mas em momento algum é dito que o príncipe é culpado (ou, vá lá, responsável) pelos sentimentos da rosa. Ele até mesmo cativa a raposa e se separa dela. Eles ficam tristes sim com a separação, mas a situação é tratada com naturalidade. Claro que em um relacionamento humano saudável os dois lados se empenham, bem como, consequentemente, nasce a responsabilidade e a cativação em ambos. Isso é um pouco complicado de pegar porque não parece óbvio na relação de um garoto com uma rosa geniosa. Ou de duas garotas e um filhote de gato. Esses não são relacionamentos equilibrados. E eu acho que quem cita a passagem da raposa pronto para usá-la como escudo não está pronto para um relacionamento equilibrado.

Mas o relacionamento entre as duas adolescentes protagonistas de Amanchu é equilibrado. Viu-se isso no episódio 10, viu-se isso em outros episódios, e coroou-se isso no episódio 12. Como o anime é basicamente do ponto de vista da Futaba, sendo ela a verdadeira protagonista na maior parte do tempo, e estando os problemas dela tão em evidência desde o começo, é fácil ficar com a impressão que ela é a única ali com problemas, ou que pelo menos é quem de longe tem mais problemas. Mas eu já suspeitava que a Hikari talvez fosse tão preocupada quanto ela há tempos, e acho que cheguei a especular isso em artigos anteriores. Se não cheguei, desculpe, mas por favor acredite em mim quando eu digo que já suspeitava. Os problemas que Hikari e Futaba tinham eram diferentes mas surpreendentemente complementares: Hikari é muito hiperativa, age sem pensar e acaba criando problemas para os outros que não conseguem seguir seu ritmo, enquanto a Futaba é tímida demais e precisa que alguém a pegue pela mão.

Deu tudo certo para as duas, o anime terminou em um tom bastante feliz (provavelmente o pico de todo o anime), o que por si só me fez desgostar um pouco desse final. Porque você vê, desde o começo Amanchu não é sobre as coisas melhorarem, é sobre as coisas serem o que são e você tirar delas o melhor que puder. Isso implica que as vezes o melhor ainda vai ser ruim. Vai ser pouco, amargo. Um final agridoce teria caído muito melhor – e aposto que será o final do mangá, que está em andamento. Sobre os episódios em si, não achei-os dos melhores. Muito bonitos, mas Amanchu não tem muita profundidade nem muita história, então foi um pouco entediante passar por esses três episódios finais. Deslumbrantes sim, mas já tive minha cota de deslumbramento com esse anime. Mas não achei o anime ruim não: ainda acho-o recomendável para quem gosta de slice-of-life.

  1. O episódio 10 nem valia muito a pena ser referido,não teve nada de especial, eu sinceramente até à parte do diário de mergulho até estava a gostar de ver o episódio, mas quando chegou à parte descarada dos biquínis desanimei um pouco, eu já sei que as personagens femininas são bonitas, não preciso que façam fanservice descarado com elas e acho que tal coisa não combina com este estilo de anime. O episódio 11 até que foi bom, aquele dilema de ficar ou não ficar com a gata até que foi bonito e aqui se viu que a Hikari é mesmo amiga da Futaba, ela estava disposta a adoptar o animal, mesmo a sua mãe sendo alérgica a gatos. No final tudo acaba bem, o director ficou com a gata e o Cha finalmente ficou com uma companhia.
    Agora quanto ao episódio 12 só tenho uma coisa a dizer, finalmente a Futaba mergulhou, nessa cena quase que dei um pulo, estive o anime inteiro à espera deste momento. A parte do teste de mergulho eu gostei foi tudo muito bonitinho e tal, a Futaba e a Hikari com os seus amigos todos felizes da vida até faz parecer que mergulhar do mar é a coisa mais simples no mundo. Para uma pessoa que não sabe nadar e tem medo da água como eu, mergulhar até ao fundo do mar não seria para mim, acho que morria pelo caminho, eu quando tenho água pela cintura na piscina já tenho o coração quase a explodir então no mar tinha morte imediata. Aquela cena em que a Futaba e a Hikari falam no final foi muito bonita e de certa forma explicativa, afinal a Hikari também tinha os seus problemas, ela própria admitiu que às vezes age sem pensar, e por isso as pessoas não a conseguem acompanhar e a Futaba era tímida e precisava que alguém a guiasse como tu bem referiste cada uma tinha os seus problemas e de certa forma se complementavam. Aquela cena em que a Hikari diz que gosta da Futaba parece meio yuri (eu não tenho nada contra) e a Futaba também diz que gosta da Hikari foi bem bonitinha, quem diria que estas duas se iam tornar melhores amigas.
    Amanchu acabou e já sinto a falta dos seus personagens carismáticos, principalmente da Ai (se bem que comecei a gostar mais dela na parte final) ela agia como uma irmã mais velha para a Futaba e a Hikari, mas de forma geral gostei de todos os personagens ( tinha muita pena do irmão gémeo da Ai ele ele era o saco de pancada da irmã) e não me posso esquecer da sensei super cool.
    Em suma não me arrependo de ter dado uma hipótese a este anime, eu nem era para o ver mas fui influenciado pelas tuas primeiras impressões do anime e posso dizer que gostei, ele é bastante calmo, a temática não pode agradar a todos, mas a temática slice of life está lá coisa que eu gosto de ver. Quanto ao final acho que não foi mau, mas acabar com o final feliz não me pareceu ser a escolha mais acertada como tu bem referiste podia ter acabado com um final menos positivo sei lá, mas a um todo é um anime recomendável pelos menos para mim.
    Como sempre um excelente artigo Fábio.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Olá!

      Achei divertido no geral, embora esse seja um slice of life que dá razão a fama de história lenta e sem foco que o gênero costuma ter, e isso pode incomodar algumas pessoas. O humor também nem sempre pareceu bem posicionado, e o abuso no uso do SD além de tudo torna difícil descobrir quando é uma cena de humor legítima e quando é só a história normal. Mas o que realmente me incomodou mais foi o final em tom grandiloquente, positivo, pelos motivos que eu já expliquei e que você entendeu bem, hehe.

      Pelo menos gostei das personagens principais, disso eu não posso reclamar =)

      Mais um anime acabou, Kondou! Quais estávamos acompanhando ainda? Estava assistindo Alderamin ou Zestiria? Vou escrever sobre esses ainda. Enfim.

      Obrigado pela leitura, comentário e por acompanhar Amanchu! no Anime21 =)

      • Eu vi praticamente todos os animes que tu estavas a comentar, eu Alderamin até costuma comentar mas não me senti mais com vontade de escrever alguma coisa sobre esse anime, não por eu não ter gostado, simplesmente não me sinto inspirado para o comentar, mas se vier o último artigo dele lá direi a minha opinião sobre o mesmo. Tales só não comentei mais porque o anime na segunda metade já não me agradou tanto, nem a presença da Alisha me deixou com vontade de comentar, Tales até pode ter sido aquele anime com a melhor animação da temporada passada. mas em termos de história era mais raso que as coisas rasas, mas quando sair um novo artigo dele eu vou comentar (se calhar faço como fiz com Re vou comentando os artigos mais antigos aos poucos).
        Com Amanchu já faz três animes que consegui comentar até ao final, o mais engraçado é que só faço esta proeza com os teus artigos ( se bem que quase sempre escolhes os melhores, já tens olho clínico para os animes bons).

      • Fábio "Mexicano" Godoy

        Hahaha, vamos ver né? Eu sempre escolho mais animes também, né. Nessa temporada tem editor novo entrando, vai ter bastante anime cobertos tanto por mim quanto pelo resto da equipe do blog, espero que goste de muitos!

      • Esta temporada nem está tão má como eu esperava, estou a seguir uns 20 animes, na sua maioria animes curtos e continuações, mas aqueles que estou a gostar de ver é o Shuumatsu no Izeta (o meu preferido até agora), até dei uma hipótese ao Yuri on Ice (que eu pensava que ia ter muito mais fanservice para as mulheres mas o 1º episódio foi contido) a animação estava muito boa.

      • O Sangatsu no Lion também foi bom, a animação estava muito bonita, Udon No Kuni teve o 1º episódio mais kawai desta temporada, a criança Tanuki é muito engraçada. O Drifters foi uma treta eles simplesmente apresentaram o mesmo que o Ova que tinha saído antes, Keijo (que raio de nome) eu vi o primeiro episódio e até agora nem sei o que dizer (é por estas e por outras que não sou capaz de gostar de ecchis) e até vi a nova versão de Chi´s sweet home com aquele 3D que parece plasticina, mas ouvir a voz da Chi já compensa ver o episódio.

      • O Keijo é aquele tipo de anime em que vejo pausadamente e quando acabo passando uma horas já nem sei o que vi. Provavelmente verei o segundo episódio mas o mais certo é o drop não gosto das cenas exageradas que elas fazem lá.

      • Fábio "Mexicano" Godoy

        Fanservice por fanservice, prefiro Okusama, que pelo menos a história é um romance e os enquadramentos eróticos compõem o enredo. Bundas e peitos gratuitos me tiram do sério.

      • Okusama é outra conversa eu vi a primeira temporada e gostei, este cumpre o que prometeu desde o inicio, aquela relação da presidente do conselho estudantil e o vice presidente é muito engraçado.
        Já Keijo é puro fanservice, está bem que não mostram nada como em Okusama, mas ainda assim é um ecchi pesado e exagerado, elas não sentem dor na bunda e nos peitos depois dos jogos (se aquilo se pode chamar assim) e aqueles biquínis nem digo nada ainda torna Keijo ainda mais pesado do que Okusama, aquele estúdio xebec gosta de exagerar nas personagens femininas.

      • Fábio "Mexicano" Godoy

        Sim, para sua proposta Okusama é muito bom. E Keijo … acho que para sua “proposta” ele se sai bem também, o problema é a própria proposta em si =P

  2. Bom, como fã confesso de slice-of-life, não me incomodou nenhum pouco o ritmo desta belíssima obra. O traço, bem diferente do mangá (mais apurado e delicado no anime, sem dúvidas), a personalidade das personagens e o humor leve ficaram perfeitos, contrastando com as “lições de vida” e as advertências dos mais velhos (a avó e a professora), apontando um novo ponto de vista da vida para os mais jovens (principalmente a Futaba). Mais um slice que entrou para minha galeria de grandes animes. Só não o elegi o meu favorito da última temporada, porque Amaama to Inazuma ficou com este posto (tanto que devorei todos os capítulos do mangá disponíveis no app da Crunchyroll) e New Game! ficou logo atrás (desculpa Pikari, mas a Aoba e a Tsumugi-chan “mitaram”, para mim) … Foi muito bom acompanhar o review desta obra aqui!

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Tem mais isso ainda, a temporada foi boa para slice of life, cada um com cenários e propostas bem diferentes, tornando mais difícil que Amanchu se destacasse. Mas pelo menos ele com certeza foi o mais bonito (visualmente mesmo) de todos =)

      Obrigado pela visita, pelo comentário, e por acompanhar esse anime conosco!

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