Oi gente! Tudo bem? Fui convidada pelo Anime21 para falar de um tema que eu gosto mais do que é considerável saudável: representação feminina. Esse texto começou como um ensaio para uma disciplina da faculdade e depois decidi postá-lo primeiramente no meu Medium. Como o escrevi pensando num público leigo, ele é bem geral e pode ser meio “chovendo no molhado” para alguns. De qualquer forma, espero que gostem e descubram algo novo 🙂

Prontos?

Gals!

Gals!

Com a explosão da cultura nerd e da popularidade do feminismo, não é de se espantar que a crítica feminista da mídia tenha se espalhado pelo mundo acadêmico e virtual. Não que isso seja algo novo, apesar das reclamações de alguns, Simone de Beauvoir já fazia análises feministas sobre clássicos da literatura em O segundo sexo. Cresceu a preocupação com a representação das mulheres na ficção, procurando criar melhores exemplos de mídia que conduzam com a realidade (seja do mundo real ou imaginário). Não é mais tolerável limitar os humanos da ficção a estereótipos racistas ou ideais eurocêntricos de beleza.

Mas o que se fazer quando a mídia a ser analisada foge do contexto ocidental? Os quadrinhos japoneses, chamados de mangás, têm a característica de serem feitos exclusivamente para o público japonês, apesar de serem apreciados por milhares de pessoas em todo o mundo. Por causa disso, o debate da representatividade no Ocidente pode passar voando pela cabeça dos japoneses sem eles perceberem.

Anatolia Story

Anatolia Story

Mesmo assim, muitas feministas não deixam de analisar, discutir e questionar as representações femininas nos quadrinhos japoneses ou nas animações, que também são igualmente populares. Algumas rasgam elogios às histórias de garotas mágicas que salvam o mundo usando uniformes de marinheira ou condenam tudo por causa da objetificação que as personagens sofrem.

No entanto, para falar das mulheres dos quadrinhos japoneses é preciso lembrar antes que o cenário é mais complexo do que parece à primeira vista. A indústria do mangá lucra anualmente em torno dos bilhões de dólares por ano, mais do que os quadrinhos americanos de super-heróis podem sonhar (apesar deles andarem ótimos hoje em dia). As histórias em quadrinhos lá são consideradas entretenimento de massa e não ficam presas somente a um nicho específico de fãs, sendo lidas por todos os públicos e faixas etárias. Existem mangás feitos para crianças, adultos, homens, mulheres, amantes de gatos, etc.

No caso dos quadrinhos para o público feminino, chamados de shōjo manga (少女漫画), a maioria esmagadora das histórias são criadas por mulheres desde a década de 1960. É todo um universo próprio e independente, nas palavras de Sônia Luyten,pesquisadora da USP:

O desenho do mangá feminino é muito característico, simbólico e o que há de mais engenhoso dentro da técnica da quadrinização. […] Os temas são variados, sempre enfocando no amor impossível, as separações chorosas, as rivalidades entre as amigas, a admiração homossexual por outras, a tenacidade nas competições esportivas e a morte como solução viável aos problemas que envolvem tudo isso.

E não só nos quadrinhos femininos, as mulheres são criadoras e consumidoras dessa indústria tanto quanto os homens. São um público já estabelecido, reconhecido e que gera também muito lucro. Um cenário que confronta todo o senso comum machista que permeia o Ocidente de que o público feminino não consome ou produz nada de significativo no campo dos quadrinhos.

Dentro de uma sociedade patriarcal e hierárquica como a japonesa, os mangás são uma das poucas áreas onde as mulheres podem ficar em pé de igualdade com os homens, já que uma boa história não é determinada pelo gênero do autor. Trabalhar com quadrinhos, ou tornar-se mangaká, já chegou a ser a quarta carreira mais procurada pelas japonesas. Algumas das mulheres mais ricas do Japão são mangakás, como Rumiko Takahashi  —  criadora de Inuyasha, Ramna ½  —  e Naoko Takeuchi. Um dos mangás mais populares de todos os tempos, e desconhecido no Ocidente, é Sazae-san, feito por Machiko Hasegawa, que começou a ser publicado em 1946. Contava o dia a dia de uma dona de casa tipicamente japonesa e que registrou as mudanças que as mulheres passaram nos pós-guerra.

Sazae-san

Sazae-san

Analisar a representação feminina nos mangás é algo tão complexo como vasto, dada as peculiaridades da produção e do mercado japonês. O risco de mal interpretar alguma personagem é constante, visto que o leitor ocidental tem acesso a apenas uma pequena fração do que é produzido no Japão. Além das diferenças culturais entre os países, que podem afetar como uma história é consumida por diferentes públicos.

O caso mais famoso dessa contradição seria Sailor Moon, de Naoko Takeuchi, publicado no Brasil pela JBC. O quadrinho conta a história de um grupo de guerreiras mágicas que lutam contra inimigos que desejam dominar a Terra, e foi um sucesso gigante no Japão e no resto do mundo. A saga das adolescentes que venciam o mal graças ao poder do amor e da amizade, usando roupas baseadas no uniforme de marinheira usado pelas colegiais japonesas, inspirou milhares de meninas. O que me inclui, lembro quando vi um comercial do desenho animado pela primeira vez, e corri gritando para a minha mãe sobre como Sailormoon “era o desenho de super heroínas que eu sempre sonhei”.

A protagonista, Usagi Tsukino, começa como uma menina chorona e preguiçosa que ao longo da narrativa vai amadurecendo e se torna responsável pelas suas decisões. Todas as personagens possuem personalidades diferentes, com qualidades e defeitos, com seus próprios dilemas e conflitos. Personagens LGBT aparecem tanto do lado das heroínas quanto dos vilões, em especial duas das guerreias mágicas que formam um casal homossexual (na adaptação animada, tentaram apagar o casal, alterando as falas das personagens quando a série foi dublada nos Estados Unidos e no Brasil).

Por outro lado, parte das feministas japonesas não veem o quadrinho com bons olhos porque julgam que a história só reforça padrões de gênero, como a ultrafeminilidade. Sem falar que apesar das personalidades diversas, todas são magras e esbeltas. Também acusam, a animação, principalmente, de objetificar as personagens, porque, por exemplo, nas cenas de transformação elas apareceriam “nuas” — o contorno do corpo é preenchido com um fundo colorido — e usam roupas que expõem demais as adolescentes.

Sailor Moon faz parte de um gênero conhecido como Mahō shōjo (魔法少女), que significa literalmente ‘garota mágica’. As narrativas têm a característica de que a(s) protagonista(s) obtêm mágica para alcançar algum objetivo, seja salvar o mundo ou conquistar o garoto dos seus sonhos (ou as duas coisas). Outros mangás populares que representam esse segmento são Card Captor Sakura e Guerreiras Mágicas de Rayearth, ambos do grupo CLAMP. Mesmo que essas narrativas possam ser criticadas pelas feministas japonesas, esse gênero caiu nas graças do público ocidental, carente de mulheres heroínas.

Guerreiras Mágicas de Rayearth

Guerreiras Mágicas de Rayearth

Card Captor Sakura conta a história de Sakura Kinomoto, uma estudante de 10 anos, que abrindo um livro misterioso acaba libertando dezenas de cartas mágicas pelo Japão. Com a ajuda de Kerberos, o guardião do livro, e seus amigos, ela precisa aprender a usar magia para conseguir juntar todas as cartas novamente. Esse também contém uma grande variedade de mulheres, valoriza a amizade entre meninas e ainda conta com personagens homossexuais, incluindo a melhor amiga da protagonista que nutre um amor não correspondido. O mangá e a versão animada fizeram muito sucesso mundialmente e o quadrinho chegou a receber uma reedição de luxo no Brasil, pela editora JBC.

No entanto, Guerreiras Mágicas de Rayearth pega elementos mágicos misturados com influências das histórias de aventura medieval e robôs gigantes (uma paixão dos japoneses). O mangá fala sobre a saga de três colegiais, Hikaru, Fuu, e Ami, que acabam sendo teletransportadas para outro mundo e precisam se tornar guerreiras para salvar a princesa Emeraude das garras do poderoso Zagato. O quadrinho também foi republicado no Brasil em edição de luxo.

Saindo das fantasias, o velho romance adolescente tem muita força nas revistas femininas. Essas histórias em quadrinhos mudaram desde que começaram a circular. Na década de 70, as personagens principais costumavam ser tímidas, fracas, submissas, mas de grande força de caráter e capazes de tudo para viverem com o amado. Atualmente as protagonistas se diversificaram, podemos encontrar jovens “desbocadas”, escandalosas, vaidosas e sexualmente ativas como as de Galism, de Mayumi Yokoyama. No entanto, clichês do passado ainda permanecem vivos e fortes, como acontece com a protagonista de Kimi ni Todoke, de Karuho Shiina, onde a protagonista demora dezenas de capítulos até consegui dar um beijo no garoto de quem gosta. E é ainda raro encontrar protagonistas que não tenham uma preocupação constante com a aparência, ou não sejam incentivadas a isso.

Nem sempre tudo são flores dentro do mundo colegial. O maior exemplo disso seriam os mangás Vitamin e Life, de Suenobu Keiko, onde a autora faz uma crítica feroz do sistema de ensino japonês e expõe os horrores do ijime, o nome japonês que dão ao bullying. Em Vitamin, a jovem Sawako é intimada pelo namorado a transar dentro de uma sala de aula vazia, e acaba sendo flagrada por um colega. A fofoca se espalha e ela se torna vítima de uma série de violências que, sem auxílio da escola, a fazem abandonar os estudos. No entanto, essa história termina num tom de esperança quando ela começa a criar mangá para superar o bullying.

Vitamin

Vitamin

Os casos mais preocupantes são quando as histórias de amor romantizam atitudes abusivas. Surgem cada vez mais ‘mocinhos’ que desejam dominar a protagonista, muitas vezes de forma sexual. Ou bancam o papel do ‘protetor’, diminuindo a capacidade da protagonista de se defender por si própria. Em Black Bird, de Kanoko Sakurakoji, a personagem principal é constantemente assediada e vigiada pelo suposto mocinho, que justifica suas ações dizendo que quer apenas protegê-la. Toda vez que a garota tenta enfrentar uma situação sozinha, é punida de forma cruel. No fim, ela aceita tudo e se casa com o jovem. Pior ainda, no mangá Love Celeb, de Shinjo Mayu, chegam a acontecer cenas de estupro cometidas pelo mocinho contra a protagonista.

E tudo isso circula em revistas direcionadas a jovens de 12 a 17 anos.

Todas as histórias mencionadas até agora são protagonizadas por colegiais. A colegial é um elemento forte no imaginário cultural e social japonês. Numa nação que vê a beleza no efêmero, a beleza da flor da cerejeira que floresce na primavera é que ela existe por poucos dias, a juventude tem um peso forte. A estudante colegial representa a liberdade e os sonhos antes das obrigações da vida adulta destruírem as ambições. Não é à toa que tantos mangás fazem uso de uma personagem colegial, seja como protagonista, interesse amoroso, assassina, objeto sexual, anjo etc. O jornalista Brian Ashcraft, do portal Kotaku, tenta explicar essa fascinação:

A estudante japonesa é tanto um rude samurai, forte e poderoso, quanto gueixa,bela e provocante. Vestida em seu uniforme de influência ocidental, ela traz estes elementos juntos em um estado de grande flexibilidade — a capacidade de ser, ao mesmo tempo, forte e passiva. Japonesa e ocidental, adulta e infantil, masculina e feminina. Em casa ou no exterior, a colegial japonesa é uma metáfora do próprio Japão.

Fora da bolha dos quadrinhos voltados para meninas, podemos ir do céu ao inferno em questões de representatividade. Uma demografia relativamente recente são os mangás feitos para mulheres adultas, conhecidos como Josei (女性), onde muitas mangakás têm mais liberdade para explorar temas como gravidez, mercado de trabalho, velhice, filhos, até mesmo culinária.

No mangá de suspense e mistério Helter Skelter, de Okazaki Kyouko, acompanhamos uma modelo de personalidade horrível em sua espiral de loucura por causa do medo de envelhecer. Em In Clothes Called Fat, de Mayoco Anno, vemos a história de uma moça que desenvolve um distúrbio alimentar após perder o namorado. Kimi Wa Pet, de Ogawa Yayoi, conta a história de uma jornalista importante que intimida seus colegas de trabalho homens por ser bem-sucedida, tendo problemas assim para arranjar um namorado fixo, e acaba “adotando” um jovem bailarino, pelo qual acaba se apaixonando.

Helter Skelter

Helter Skelter

Nos mangás Josei, as mulheres fictícias mudam radicalmente de personalidade. Talvez por não estarem mais no paraíso da adolescência e já inseridas no sufocante mundo adulto, são mais soltas. Brigam, gritam, choram, comem muito, exigem, bebem muito, fumam, esperneiam e refletem sobre um mundo onde elas estão em desvantagem.

Os papéis de gênero na sociedade japonesa são rigorosos, com a pior desigualdade de gênero entre os países desenvolvidos, que dita que o objetivo da mulher é sempre o casamento e tornar-se mãe em tempo integral. Nos mangás mais antigos, a magia, as aventuras e a fantasia acabavam quando a data do casamento era marcada porque era o momento de contribuir com a sociedade e gerar crianças.

Como a realidade é inflexível, muitas mulheres usam os mangás como forma de explorar as barreiras entre os gêneros. Torna-se emblemático que o primeiro mangá shojo longo seja Ribon no Kishi (Princesa e o Cavaleiro), de Osamu Tezuka, cuja história era sobre uma princesa que “tinha um coração de menina e um coração de menino”. A homossexualidade feminina e masculina também é bastante explorada nos mangás. Apesar de que, no caso das histórias de amor entre mulheres, a maior parte das narrativas se passa na época escolar ou em ambientes onde não existem homens por perto (porque o casamento é obrigação social de todas).

Nana

Nana

Quando entramos nos mangás para jovens garotos, a maior e mais popular de todos as demografias, as personagens mulheres diminuem em importância e como protagonistas. Elas ainda estão lá, mas como parte do universo dos protagonistas, seja como interesse amoroso, princesas, colegas de classe, mães, professoras, irmãs, amigas de infância. Podem até ir para a batalha junto com os homens, mas poucas são as vezes que roubam os holofotes. Porém, a objetificação aumenta. O tamanho dos seios aumenta, a cintura afina, os cabelos ficam mais compridos, as roupas diminuem de tamanho, às vezes os garotos conseguem ver a calcinha das meninas — que sempre usam saias ou vestidos.

Em Katekyo Hitman Reborn!, de Akira Amano, um mangá de ação e lutas envolvendo mafiosos com poderes mágicos, todas as personagens femininas são diminuídas a possíveis romances, ou reféns em algum ponto da história. Passam a maior parte do tempo cozinhando e limpando para os heróis. Em determinado momento da história, cansadas de não saberem a situação da batalha, decidem fazer uma greve deixando de cozinhar e limpar para mostrar como são necessárias para os garotos. Aparentemente funciona porque nenhum deles era capaz de lavar um copo.

E também existem casos como Full Metal Alchemist, de Hiromu Arakawa, onde a história é sobre uma dupla de irmãos tentando consertar erros do passado, mas as personagens femininas que encontram são bem desenvolvidas, com dilemas complexos e variados, assim como os personagens masculinos. Magi: The Labyrinth of Magic, de Shinobu Ohtaka, possui personagens guerreiras e imperatrizes tão fortes quanto os protagonistas, mas que são alvos de piadas de assédio sexual ou gordofóbicas.

Magi - The Labyrinth of Magic

Magi – The Labyrinth of Magic

Sem falar que existe todo um nicho de mercado voltado para histórias que não são exatamente pornográficas, mas se aproveita da sexualização extrema das personagens mulheres. Roupas rasgam do nada, ventos improváveis levantam as saias das personagens — muitas vezes adolescentes — ou homens acabam assediando as personagens “sem querer”. Um clichê nesses tipos de história é quando, por alguma razão qualquer, o protagonista homem acaba colocando as mãos/rosto nos seios de outra personagem feminina. É um clichê tão antigo, que até piadas sobre o fato de isso acontecer sempre em mangás é um recurso metalinguístico próprio. Um exemplo dessa categoria seria Sekirei, de Gokurakuin Sakurako.

As possibilidades de representação das mulheres nos mangás variam muito de acordo com o público que serão direcionadas. Não é de se surpreender que as histórias voltadas para mulheres tenham mais protagonistas mulheres ou lidem com temas que não se espera que sejam abordados em quadrinhos. Os mangás são uma válvula de escape em uma sociedade com regras tão rígidas, onde muitos procuram ali encontrar histórias com as quais se identificam.

De maneira geral, as histórias em quadrinhos são um fruto da sociedade onde foram criadas. Podem criticar ou elogiar, repreender ou promover o que há de bom, ruim ou diferente naquele contexto social. Tanto quanto criar personagens femininas que sejam mais do que um arquétipo, eu acredito que é fundamental valorizar o trabalho feito por mulheres dentro dessa indústria. Tanto que, com exceção de Ribon no Kishi, todos mangás aqui citados foram escritos por mulheres.

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Ah, vocês podem encontrar outros textos meus e resenhas na revista digital Ovelha e no BlymeYaoi.

  1. Uma excelente matéria posta, até que enfim alguém faz uma analise profunda e muito bem baseada dessa “cachaça” chamada anime ainda mais em relação as mulheres (isto dito por um grande apreciador do mistério que é a alma feminina). Mas para aprofundar referências eu recomendo humildemente a série Otona Joshi no Anime Time elaborado por escritoras o ep. 03 é um must! O mais engraçado e bem a mulherada (na minha humilde e desprezivel opinião masculina)…Vai gostar…

  2. Achei o texto bem interessante (e até deu vontade de ler alguns dos shoujo e josei citados), contudo acho que o único pecado do texto foi ter colocado o nicho lá como simples resultado de machismo, patriarcado, costumes etc. Sei que o foco do texto não era esse, mas poderia-se utilizar dessa brecha para falar mais sobre a idealização da mulher na sociedade japonesa e quem sabe até traçar paralelos aqui. Até se entra nesse mérito, mas, com relação ao ecchi, isso é esquecido, sendo que, de fato, um arquétipo em suma é um ideal. Colocando mulheres como ideais, temos um problema não só social e já discutido amplamente… Temos a questão de “por que esses mangás e animes vendem?”. Se eles não são pornográficos, o que o público procura além da sensualidade ali? Difícil falar por indivíduos, mas consigo identificar algo bem comum que esse tipo de recurso de narrativa pode incentivar os leitores, principalmente do sexo masculino, a sentirem: catarse. Eles querem estar no lugar do protagonista, eles querem poder ter contato íntimo com alguém do sexo oposto, eles querem que a “main heroine” faça parte da vida dele como uma boa “waifu”. Sendo assim, se fosse possível encontrar alguém que caísse nesses ideais, o cara não iria querer mais nada. Nem entregar nada na relação, provavelmente. De qualquer maneira, como Hideaki Anno, criador do anime Neon Genesis Evangelion e grande crítico da indústria de animes e mangás, já dizia, “vocês na verdade querem uma mãe como parceiras para a vida inteira”. Vejo que essa carência, que ainda é mais forte no Japão e está até auxiliando alarmantemente o declínio populacional, não é só o resultado da manutenção da ideia de que as mulheres nascem para servir, como também a negligência que se tem quanto a formação pessoal de cada indivíduo na sociedade japonesa (e diria até mundial) somada com o incentivo da própria indústria do entretenimento como contexto social a colocar a mulher como uma deusa, ou uma “idol” ou qualquer outra coisa inalcançável (paradoxalmente inferior e superior na sociedade) e, consequentemente, tornando-se uma fantasia que gera problemas graves para todo mundo…

  3. Adorei! Este é um tema que venho procurado bastante. A representação feminina deve ser cada vez mais discutida! Mulheres consomem desse conteúdo, não queremos ser vistas apenas como um fan service para o público masculino. Conhece o Teste Bechdel? Esse teste avalia em 3 critérios a representação feminina em obras (seja mangá, anime, livro, filme…) :
    – Existem duas ou mais personagens femininas com nome?
    -As personagens conversam entre si?
    -Quando conversam, falam sobre algo que não sejam os homens?
    Se as respostas forem sim, a obra “passa” no teste! (pretendo escrever sobre isso no blog que faço parte se a equipe me abrir espaço rs)
    Artigo incrível, parabéns!

    • Oi Vitória! Que bom que gostou 🙂

      Conheço sim o teste, mas ele é super simples. Ele só mede a quantidade de personagens femininas num filme e mesmo se elas não falam sobre homens, não quer dizer que a história vai ser boa ou não. Como esse teste foi inventado nos EUA, eu acho complicado de aplicar ele a animes e mangás – principalmente pela quantidade de obras que SÓ tem meninas mas não são pro público feminino, saca? É uma questão a se pensar.

  4. odorei seu artigo, está me ajudando bastante a delimitar meu tema de pesquisa sobre a representação feminina nos mangás, achei fantástico como vc abordou o tema, oque inclusive me deixou com vontade de saber um pouco mais, continue assim. Sim, se for possível gostaria de conversar um pouco mais com vc sobre esse assunto.

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