Quando criança eu corri atrás de muito gato. Não se preocupe que nunca fiz mal a nenhum gato não, eu corria pra pegá-los porque eu era um moleque e gostava de correr, e eles eram gatos e gostavam de ser fofinhos. Tinha muitos gatos no condomínio onde eu morava, porquê uma senhora tinha algumas dezenas deles e deixava as janelas de seu apartamento abertas para eles irem e virem. Você já deve ter ouvido histórias sobre “velhas dos gatos”, pois saiba que eu conheci uma dessas de verdade, elas existem!

Mas quando eu era criança e corria atrás de gatos nunca ganhei um beijo por isso. Então agora exijo meus beijos retroativos, Nunnally! Enfim, isso dito, se eu quisesse ver traquinagens de gatos eu não estaria aqui ao PC assistindo anime. Eu tenho duas gatas e estaria lá me divertindo com elas (como fiz hoje, como aliás faço todos os dias). E devo dizer que gatos com máscaras não correm.

Já viu um gato vestindo qualquer coisa, mas principalmente na cabeça? Gatos ficam muito incomodados. Dependendo do que for até perdem o equilíbrio. Definitivamente não correm, não são capazes de correr, a não ser que estejam acostumados a se vestir com aquilo, o que quer que seja. E certamente o Manquinho (vou chamar ele assim, porque não deram nenhum nome ainda, né?) não tem costume de vestir a máscara do Zero. Nem o Lelouch tem costume em usar aquela máscara ainda, que dirá um gato vira-lata!

Episódio nota 10

Mas por que raios estou falando tanto de gatos em primeiro lugar? Bom, que posso fazer se o episódio foi inútil assim? Não aconteceu nada. Vamos ver, vou listar aqui o que mais aconteceu além da grande caça ao gato que não mudou nada na história (pelo menos nada que precisasse ser feito de forma tão bufona assim):

  • Suzaku e Lelouch se reencontraram oficialmente e isso foi curto, rápido, e sem grandes implicações
  • O mundo está na merda, mas a Pizza Hut vai bem, obrigado, para a alegria da C.C.
  • Parece que o imperador fala com mortos. Ou é louco mesmo
  • A Cornelia massacrou um monte de japoneses anônimos da resistência
  • O Jeremiah foi rebaixado por ter deixado o Zero pintar e bordar com ele
  • A Euphemia ficou emocionada com uma coleção de quadros pintados pelo falecido Clovis, e um deles parece ser da família do Lelouch
  • Os estudantes ficam todos receosos com o Suzaku por perto, muitos são preconceituosos mesmo, mas dos que importam a Nina “Mas ele é um eleven!” é a pior
  • De novo o imperador: seu discurso elitista no funeral do filho não tem nada a ver com um funeral ou com o Clóvis
  • Provavelmente mais um monte de coisa sem importância nenhuma

De tudo isso, acredito que as coisas mais importante, ou talvez as únicas importantes, sejam aquelas relacionadas ao imperador. Que francamente poderiam ter sido melhor introduzidas na história, mas vá lá. Pelo menos ele não ficou correndo atrás de gatinhos. E gostei daquele lugar pós-apocalíptico onde ele estava no começo do episódio (que provavelmente não tem nada de pós-apocalíptico, é só muito mal gosto mesmo). Me lembra Southern Cross, de Hokuto no Ken. Será que o anime vai terminar com a Nunnally se suicidando dali porquê Lelouch se corrompeu? Eu pagaria para ver esse final. A seu próprio modo, Hokuto no Ken também era bastante prepotente, assim como Code Geass. Mas no fim das contas ele é tão trash (trash nível: Sylvester Stallone com as habilidades do Bruce Lee no mundo de Mad Max) que acho que não dá pra levar a sério. Será que em seu tempo alguém o levou a sério, como muitos ainda levam Code Geass a sério? Talvez se eu assistisse Code Geass esperando algo trash desde o começo me divertiria mais?

Enfim, voltando ao imperador. Ele conversa com os mortos, ok, grande coisa. Digo, uma grande coisa mesmo, porque isso significa que ele potencialmente já sabe que o Lelouch está vivo e que foi ele quem matou o Clovis. E talvez saiba que ele tem um geass. Mas o anime tem 25 episódios só nessa temporada, e mais uma segunda temporada com outros 25 – ao final dos quais o imperador certamente deve ser derrotado de algum modo, nem que seja apenas uma derrota moral. Dá para ser mais incompetente assim, ou mais negligente? Sem dúvida, é sempre possível piorar. Mas então como Britannia está conseguindo se expandir? Minha teoria: os imperadores anteriores eram inteligentes, tiveram guerras quando necessário e entregaram um grande império para a geração seguinte. O atual que é burro e declarou guerra contra o mundo.

E teve o discurso do rei no final do episódio, que nada tem a ver com o Clóvis. Ele disse uma verdade: as pessoas são diferentes. Elas nascem em contextos diferentes, com potenciais diferentes, e se desenvolvem de forma diferente. Mas ele usa isso para justificar o conflito estúpido e, de forma oblíqua, uma sociedade de castas. A igualdade que nações ocidentais perseguem (ou deveriam, ou um dia já perseguiram) é a igualdade jurídica: ninguém vale mais do que ninguém, ninguém tem mais direitos ou mais deveres por princípio. Isso nada tem a ver com negar a natureza, muito pelo contrário: a partir do momento que uma entidade coletiva e que dura por mais do que uma geração, como é o Estado, se abstém de privilegiar uns em detrimento de outros, os indivíduos diferentes podem desenvolver ao máximo seus respectivos potenciais. Diferentes.

É preciso ser darwinista social, eugenista, e no geral adotar um conjunto de teses preconceituosas há muito ultrapassadas para acreditar que todo um povo seja naturalmente superior a outro a ponto de justificar os crimes de Britannia. E tem quem ache Code Geass genial. Então tá bom, né, quem sabe, há ainda 44 episódios para que o anime me convença do contrário.

  1. ´Eu sabia que esse episódio com o gato usando a máscara teria a menor nota de todas, haha. Foi mesmo uma enrolação que só serviu para fazer o Suzaku ser integrado ao Conselho Estudantil e assim ficar mais próximo do núcleo de personagens. Não havia pensado sobre essa questão envolvendo gato. Como não tenho um e não conheço tão bem o animal, não achei uma cena tão forçada assim para padrões, digamos, “animescos”.
    Gosto do teor crítico dos seus textos. Code Geass, pelo menos na minha memória, continua sendo um dos melhores animes que já vi (ok, eu vi já faz uns 10 anos). O que me faz manter essa impressão são os reviews de jovens adultos que tiveram contato com o anime agora e que, no geral, são bem positivas. Mas é legal ler seus textos e observar os furos do anime. Mas como você disse, ainda faltam 44 episódios. Vai ser interessante ver você voltando atrás na opinião ou continuando a descer o martelo, rs.
    p.s: também corria atrás de gatos.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      E note um padrão muito comum em minhas resenhas e que eu não escondo: quando acho bom, quando gosto, quando faz sentido, tendo a negligenciar pequenos furos. Posso até mencioná-los, mas digo que não tiveram importância nenhuma. Já quando não gosto, quando é ruim, quando não faz sentido, eu pego pesado principalmente nas coisas menos importantes – é o caso do gato mascarado correndo nesse episódio. Isso tende a ridicularizar ainda mais o que já se está criticando negativamente. No fundo acho que a maioria das pessoas faz isso só que ou não admite ou sequer percebe. Já eu acho divertido ter oportunidades de exercer minha maledicência de vez em quando =D

      E com certeza, considerando quanto ainda tenho de Code Geass pela frente, eu espero que essa droga melhore e muito! Mas já dá para saber que algumas coisas, notavelmente a forma como ele super-simplifica tudo, jamais irão mudar. Mas tudo bem, se a história conseguir ser boa, quem sabe? E três coisas poderosas operam nesse nível e fazem com que muita gente goste, ainda hoje, de Code Geass, independente dele ser mesmo bom ou não:

      A primeira é a nostalgia em si. Ou não exatamente nostalgia, mas o fato de a maioria dos fãs da série a terem assistido quando eram muito mais novos e tinham muito menos experiência com animes. Não preciso sair de meu caminho para admitir que Code Geass é sim, pelo menos, bastante original para sua época, o que com certeza cativou milhares (estou falando apenas de brasileiros, hein!) de pessoas até então acostumadas só com Dragon Ball, Cavaleiros do Zodíaco e Sakura Card Captors.

      A segunda é o que chamo de fator maratona. A maioria das pessoas que assiste Code Geass hoje em dia o faz vários episódios por vez. A história assim vem de forma concentrada e o que é ruim e pouco importante tende a passar despercebido ou ser rapidamente esquecido pelo próximo discurso ou plano mirabolante do Lelouch.

      Finalmente, há a pressão por adequação ao grupo. É a mais difícil de admitir ou sequer perceber, mas o fato é que tendemos a gostar daquilo que nossos círculos sociais gostam, e a detestar o que eles detestam, independente de ser realmente bom ou ruim. Esse fenômeno é mais facilmente perceptível nas hordas de haters que criticam uma obra qualquer sem jamais terem assistido. Code Geass é um anime que todo mundo ama, então quando alguém finalmente decide assistir, hoje em dia, a tendência é amar também por pura expectativa – ou ficar achando que há algo errado consigo mesmo.

      Tudo isso contudo leva a um efeito nefasto: é difícil pra burro agradar fãs. Porque uma história totalmente nova ou terá todos os defeitos da antiga, e dessa vez eles serão notados e apontados porque não protegidos pela nostalgia ou pressão de pares, ou virá sem esses defeitos e daí rejeitada por não “respeitar” o original ou alguma baboseira desse tipo. E vem Code Geass 3 esse ano, anota isso que eu estou falando e me cobra depois! =)

      Eu espero que Code Geass seja bem melhor do que esses seis primeiros episódios fizeram parecer ser. Mas se não for também, tudo bem, me divirto de um jeito ou de outro!

      Obrigado pela visita e pelo comentário =)

  2. Cara, quando você falou sobre essa nostalgia, me lembrei de que, naquela época, o site da Naruto Project divulgou o anime de Code Geass (acho que para apresentar a ClampProject). Eu lembro que Code Geass não era assim tão conhecido em sua primeira temporada (na verdade, eu conheci por meio do Gundam 00, pois vi algumas pessoas dizendo que estavam mais empolgadas para a 2º temporada do CG do que a do Gundam), daí então a coisa explodiu junto ao início da nova leva de episódios. E como o Naruto foi a porta de entrada para muita gente, muitos dos que assistiram CG naquela época, como você falou, foram pessoas com pouca bagagem de anime fora do padrão shonen.
    Quanto a melhora de Code Geass, fui dar uma olhada na lista de episódios. Provavelmente uma estrela ele não tira mais, rs.
    Obs: por alguma razão, a caixa de texto trava enquanto escrevo. Não sei se é do site ou do meu navegador.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Nada mais de episódios correndo atrás de gatinhos, viva! Se eu quisesse muito assistir animes de gatinhos tem Chii’s Sweet Home, né? =D

      E já identifiquei um bug na caixa de comentários, não sei se é o que te aflige: se você tira o cursor do mouse de cima da caixa de texto, ela perde o foco automaticamente e aí não adianta mais continuar digitando. Tem que clicar de novo e manter o cursor em cima. É uma droga. Ainda não descobri como corrigir.

  3. Ah, o episódio do gato da máscara, dos poucos episódios de Code Geass, que eu à 8 anos atrás sentia vontade de passar à frente. Só pelo facto deste episódio. ter se focado na introdução do Suzaku na escola onde o Lellouch estava, este episódio para mim nem merecia nota. Já para não falar da Nunnally, eu nunca consegui gostar dessa personagem, mesmo sabendo as dificuldades que ela passou, mas ao longo do anime, as merdas que ela faz com o irmão, a meu ver não têm perdão.
    Como sempre mais um excelente artigo Vintage, de Code Geass Fábio.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      O Suzaku nem teve culpa de nada nesse episódio, poxa. Ele até tentou ao máximo ajudar, ou pelo menos não atrapalhar, dado o que ele sabia. A Nunnally eu fiquei com vontade de esganar quando ela chamou o Conselho Estudantil, mas ela também só queria ajudar, não sabia que estaria colocando o irmão em apuros. Já a presidente do Conselho Estudantil, essa sim agiu de má-fé, LOL, mas em sua defesa, ela jamais poderia sonhar que estava mexendo com coisa tão séria.

      Obrigado pela visita e pelo comentário! =)

      • Eu não suporto o Suzaku, nem que ele estivesse coberto de ouro de 24 quilates. Acho-o fraco, manipulável, ele não tem ideais próprios, não me vou alongar mais no meu comentário cheio de rage. A Nunnaly, só a comecei a suportar na segunda temporada. De todo o anime, as partes que eu menos gostava, eram as partes da escola e desse tal conselho estudantil.

      • Aquilo que eu mais gostava, em Code Geass, eram as batalhas de mechas, entre os rebeldes e as forças de Britânia. A parte política também era bem interessante. Mas a parte da escola, a meu ver era desnecessária.

      • Fábio "Mexicano" Godoy

        E é mesmo. Está lá só porque os protagonistas são adolescentes, e eles só são adolescentes porque o público-alvo é adolescente. Japão tem umas teimosias desse tipo.

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