É comum animes terem episódios clichê. Aquele tipo de cenário que você já viu várias vezes (se já tiver assistido vários animes) e tem mais ou menos ideia do que vai acontecer por causa disso. Coisas como o infame episódio de praia, piscina ou termas, por exemplo. Ou o episódio do festival escolar. Ou o episódio da pesca de galinha que é muito estranho porque não só não faz sentido tentar pegar galinhas com varas e anzóis, mas também porque os personagens ficam pulando em uma perna só, e ok, esse eu inventei, não leva a sério tá. E Bahamut tem o seu próprio episódio clichê: a dança.

Na primeira temporada, que eu tive a felicidade de cobrir aqui no Anime21 (foi um dos animes que cobri na primeira temporada do blog!), a dança foi no segundo episódio. O título que dei para o artigo foi “Olhe bem nos meus olhos”, e isso é ao mesmo tempo romântico e uma piada; se não assistiu, ou se assistiu mas não se lembra (duvido não lembrar, mas vai quê), de quando em quando o Favaro falava alguma coisa ou fazia uma promessa para a Amira e dizia para ela olhar em seus olhos para ver que não estava mentindo. Ele não conseguia manter uma expressão séria nem por um segundo e já fazia uma careta – e era esbofeteado. Nessa segunda temporada ninguém diz literalmente isso, mas a questão da troca de olhares continua firme e forte e também é ao mesmo tempo romântica e uma piada: a coitada da Nina sofre pra caramba evitando trocar olhares com homens bonitões para não se transformar sem querer em um dragão descontrolado.

Foi divertido ver o Baco agindo mais ou menos como um “pai” – ainda que pelos motivos errados

E o romance… Pode ser só impressão minha, mas acho que a Nina não ficou apenas excitada como ela costuma ficar na presença de homens bonitos. E a protagonista se apaixonou pelo Rei Charioce (“Chris”; aposto que esse é seu nome de batismo), que vem a ser apenas o principal vilão do anime até agora. Na primeira temporada, com idas e vindas, com hesitação do Favaro em alguns momentos cruciais, ele e Amira permaneceram juntos até o final, e com o mesmo sub-texto romântico até o último instante. O destino do casal de dançarinos dessa temporada, por tudo o que se sabe até agora, tem prognóstico bem pior.

Falando em prognósticos e amor, outra impressão forte que eu tive foi a de que o Azazel não a afetou em nada, mesmo a puxando pelo rosto e olhando direto em seus olhos. É como se, apaixonada que estivesse, agora ela não tivesse olhos para outros homens. Se for isso mesmo o demônio vai ter uma surpresa bem ruim no próximo episódio, quando colocará em prática seu plano que depende da Nina em sua forma dracônica.

Acredito que das duas uma: ou ela não vai se transformar (ou talvez sequer apareça no local combinado; pareceu bastante irritada com o Azazel) ou, pior ainda, vai se transformar e ao invés de ajudar os demônios irá defender o Rei Charioce tão logo perceba que ele é o seu amado Chris. Consegue imaginar o caos que sobreviria disso? E a coisa pode desandar por qualquer um dos dois lados: talvez seja Charioce a reconhecê-la – pode vê-la antes de se transformar ou depois de voltar à forma humana. Como ele reagiria se descobrisse que a sua adorada Nina, a garota com quem ele passou uma tarde agradável e pôde dançar e se divertir como não fazia desde menino, e o dragão vermelho que tantos problemas já causou, são a mesma e a única pessoa? E que ela está associada com Azazel!

Como quer que seja, isso é futuro. No presente, a Nina se tornou uma garota apaixonada adorável. Sua história separada do contexto do anime vale por um coming of age ou, se não tanto, por um despertar sexual pelo menos. Quando ela deixou de ser apenas uma criança e seu corpo começou a mudar de uma forma totalmente além de seu controle ela se sentiu perdida, confusa, passou mesmo a odiá-lo. Mas de nada adianta opor-se à puberdade – na verdade, mesmo os sentimentos de confusão e raiva são consequência das mudanças hormonais dessa etapa da vida. Assim é e assim foi, Nina nada podia fazer a cada vez que um jovem bonitão excitava seus hormônios em fúria. Até essa noite com Chris.

Até se apaixonar de verdade pela primeira vez. Ela conseguiu se divertir no festival e, mesmo que estivesse constrangida e ligeiramente excitada o tempo todo, nunca pareceu que estivesse a ponto de perder o controle. A dança apenas coroou essa transição na vida da jovem protagonista. É como se fosse o baile de debutante dela. Talvez agora ela consiga controlar e entender melhor o seu corpo. Mas ai! Como toda e qualquer pessoa que já passou há muito dessa fase da vida, sei muito bem que o pior é o que vem depois. Ter problemas para domar o próprio corpo é fichinha perto da dificuldade que é domar os próprios sentimentos.

O chato de sentimentos é que você atinge um ponto de “felicidade máxima” e tudo depois disso parece ser ruim e triste

Observação: Talvez tudo isso que eu disse seja groselha. É possível que a Nina só não esteja se transformando por causa do eclipse entre as luas bem como é possível que o Charioce seja uma pessoa (ainda mais) horrível e já saiba ou esteja desconfiado que ela é o dragão – ou talvez a esteja confundindo pela filha (ou filho) perdido da Joana D’Arc. Deixo essas hipóteses aqui apenas para deixar o artigo mais completo, porque não gosto delas.

Outra observação: Eu tentei traduzir o que apareceu escrito na sepultura que o Charioce visitou mas sem sucesso, o contraste está muito ruim e embora não seja especialmente difícil entender o alfabeto de Bahamut, sem entender todas as letras fica complicado sair chutando. Se eu achasse pelo menos uma tabela de tradução para me facilitar a vida. De todo modo, não desisti e eventualmente traduzirei o que vai na lápide, fique de olho – e se já souber ou tiver traduzido você mesmo, me conte!

  1. Este episódio de Bahamut foi muito bom, e ficou melhor ainda com uma pitada de nostalgia, a dança. Eu amo o mundo de Bahamut, tudo nele me fascina e me faz lembrar das dezenas de jogos de rpg de fantasia que eu já joguei, mas é a parte da dança e do festival que me atrai mais a atenção. Já na primeira temporada de Bahamut, aquela dança linda entre a Amira e o Favaro foi muito bonita,a lembrar muito o clima das tabernas da Idade Média. E a segunda temporada, também tinha que ter se calhar o maior cliché de Bahamut a dança, mas eu fico feliz que o cliché deste anime seja a dança, eu já estou saturado dos episódios de praia ou de festival escolar que a maioria dos animes tem que ter obrigatoriamente nos dias de hoje.
    Agora passando, mesmo ao episódio, como eu acho a Rita engraçada, ela mesmo uma sendo uma zombie e necromancer ainda ajuda os Deuses caídos Baco e Hamsa com os seus negócios de variedades. Até a mão caída do Kaisar, Rocky dá uma ajuda na cozinha. O Charioce ou Chris, continua envolto em mistério, o que será que a pessoa que jaz naquela campa, que ele visita quase religiosamente era para ele, se calhar a mãe, já que ele era filho bastardo do antigo rei de Anatae, aquele gordo e porco que condenou a Joana à fogueira. Ou então um melhor amigo ou irmão, já que ele se arrisca tanto ao sair do palácio para ir ali. Eu cheguei a ponderar que aquela pessoa que está naquela campa, fosse uma mulher que o Charioce tivesse amado, mas esta hipótese já a coloquei de lado, já que ele próprio já admitiu que nunca tinha estado tão perto de uma mulher até que conheceu e conversou com a Nina. Já que tocaste no assunto da campa que o Charioce visita,eu tentei ler e posso dizer que nela estão presentes duas línguas, latim e inglês, dessa escrita só percebi Joane, logo aquela campa é de uma mulher, mas qual terá sido a influência desta mulher na vida o Charioce.
    Agora a parte da dança, ela foi muito boa, o clima de festa, a música, tudo nesta cena foi perfeito, menos uma coisa. Como o estúdio Mappa se atreveu a fazer a dança do Charioce com a Nina com computação gráfica, no caso do Charioce até que esta esteve bem disfarçada mas foi na Nina é que se notou bem os movimentos robóticos durante a dança. Foi meio que uma ofensa, se comparado ao excelente animação usada na dança do Favaro com a Amira. Mas em compensação a música e o ambiente de festa e celebração foram tão bons, que por momentos perdoei o uso de computação na cena da dança. Só de ouvir aquela música, fez-me lembrar dos saraus dos tempos da Idade Medieval e mesmo das festas de cariz histórico que se fazem aqui. Acho que toda a gente, pelo menos uma vez na vida, devia assistir e visitar uma feira medieval, aqui dá para ver como eram as festas e os desfiles de cavaleiros como se fazia no tempo dos réis.
    Só quero ver como o Azazel vai sair da merda, já que a Nina teve o seu coração roubado pelo Charioce. Prevejo que a investida dos demónios vai correr mal.
    Como sempre, mais um excelente artigo de Bahamut Fábio.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Como todo bom RPG eletrônico, esse anime de Bahamut está buscando se manter coerente com o anterior. As histórias podem ser diferentes mas temas e personagens se repetem. Poderia não ter dança, poderia não ter todos os mesmos personagens ou ser em outro lugar, enfim, poderia ter muitas “coincidências” a menos, mas essa é parte da graça e é algo que ajuda na imersão dos fãs.

      Eu sou capaz de apostar que naquele túmulo jaz a mãe do Charioce mesmo, mas como eu disse, não consegui ler nada daquela lápide ainda. Pesquisei na internet se alguém havia conseguido mas ainda nada. As partes em latim devem ser termos comuns (como um “requiescat in pace” ou coisa semelhante), e as em inglês devem ser as descrições exatas que permitem identificar a pessoa no túmulo e talvez outras coisas importantes como sua afiliação, condição de morte, etc.

      Eu acho que a dança da primeira temporada foi melhor também, mas juro que nem reparei que a da Nina tinha ficado visível que fosse 3D. Em qual parte? De todo modo, a dança ali foi apenas a coroação de um encontro longo e feliz que a Nina teve e que, quero crer, foi feliz para o Charioce também. Apesar dele ser um racista genocida eu tenho a impressão que ele vai evoluir muito ainda na história e, gostemos dele ou não, ele vai perdurar, talvez até se redimir, então melhor torcer pelo melhor para ele desde já.

      E bom, já vimos que o Azazel não saiu da merda, apenas se afundou ainda mais nela =D

      Obrigado pela visita e pelo comentário!! =)

  2. Eu vou descrever os minutos e os segundos, onde se nota mais facilmente o uso de 3D. Do minuto 17:41 ao minuto 17:46 é que se nota a postura robótica da Nina, notando-se computação gráfica. E no minuto 17:58 também se nota a Nina a ter movimentos robóticos. Depois confirma pelos tempos que te dei, para ver se eu tenho razão. Mas o Charioce e mesmo os músicos também tiveram um pouco de computação gráfica, mas bem disfarçada. Pare que agora, a maioria dos animes, estão a seguir a nova tendência do falso 3D, o exemplo maior desta temporada é Tsuki Ga Kirei. Não sei o que passou pela cabeça do estúdio Feel, por usar essa técnica inovadora em Tsuki Ga Kirei, é que aquele design meio feio dos personagens, são moldes em 3D com pintura a imitar o design 2D, e ficou uma bosta. Mas Bahamut na cena da dança, usou essa mesma técnica no Charioce e nos músicos na parte da dança e essa técnica revolucionária ficou muito bem disfarçada.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Ah, esse primeiro o foco estava no Charioce e não capricharam na Nina. No segundo eu nem percebi =D

      De todo modo, o futuro tende a ter cada vez mais CGI (3D ou não), por questão de custo.

      • Eu não me importo muito com o 3D, eu já vi Sidonia no Kishi e Blame que eram completamente em computação gráfica e gostei de os ver. O meu problema é quando o 3D é uma porcaria, em que as personagens e alguns cenários parecem tirados daqueles jogos antigos para pc e consoles. Nesta temporada temos Tsuki Ga Kirei, cuja a história é boa, os personagens razoáveis mas a animação é horrível, tantos nos personagens com destaque como as multidões que às vezes aparecem no fundo, que mais parecem robôs a andar de um lado para o outro. Outro exemplo de péssimo uso de 3D nesta temporada é em The Kings Avatar, cuja a acção para um anime completamente chinês está excelente, mas perde qualidade quando destaca os figurantes que estão em 3D da idade da Pedra, já vi jogos antigos com melhores gráficos que aquilo.
        O 3D é excelente para fazer as casas e alguns cenários de fundo, mas personagens em si, não funciona muito bem, pelo menos para mim.

      • Fábio "Mexicano" Godoy

        Qualquer técnica pode ser bem ou mal executada, e pode ter um resultado bom ou ruim. Além de Sidonia e Blame, que você citou, gosto muito de Bubuki Buranki também – é exatamente a mesma técnica, mas com uma estética bastante diferente e que colabora muito para o resultado final. Ainda usando exatamente a mesma técnica, Ajin eu achei uma grande porcaria.

        Tales of Zestiria tem uma animação quase inteiramente em 3D muito boa, Berserk está tendo a animação 3D mais hedionda que já vi (e os filmes de Berserk haviam usado bastante 3D também, mas de outro tipo, também ficou ruim mas não tanto). Kingdom começou a primeira temporada totalmente em 3D e estava uma droga, até o décimo episódio abandonaram todo o 3D exceto nas cenas de batalhas de exércitos – e nessas cenas era ok. Ronja foi um dos primeiro animes que cobri no blog, o primeiro e único anime para TV do estúdio Ghibli e totalmente em 3D, e os modelos não estavam muito bons (principalmente cabelos e roupas que pareciam rígidos) mas a movimentação estava excelente.

        E isso tudo só falando de 3D. Dá para listar bons e maus exemplos, pelos mais diversos motivos, que utilizam qualquer técnica =)

Deixe uma resposta para Fábio "Mexicano" Godoy Cancelar resposta