Depois da ação desenfreada dos episódios anteriores, das crises e batalhas (e mortes e revelações) que se revezaram em ritmo veloz, sem dar tempo para que nós ou os personagens respirassem, finalmente um episódio calmo. Mas nem preciso dizer, não é? Que isso é só a calmaria que antecede a tempestade. Ou aquela do olho do furacão. De alguma forma o flashback nesse episódio não pareceu atrapalhar, não o deixou arrastado.

Mesmo assim, não aconteceu muita coisa. Nada mudou, nada aconteceu, foi só uma pausa para descanso antes do próximo arco, que deve ser o final (essa temporada terá apenas 12 episódios). Ou algo mudou? Depois de escrever um artigo especial sobre a música de abertura dessa temporada de Ataque dos Titãs, eu acho que teve uma coisa bem pequena que mudou sim. É pouco importante em si, mas tematicamente torna o anime muito mais coeso. Isso é bom.

Desde que era criança, desde o primeiro episódio da primeira temporada, desde antes do primeiro ataque dos titãs, o Eren já perturbava todo mundo dizendo o quanto era errado viverem presos dentro de suas próprias muralhas. Ainda que houvesse paz já há 100 anos, aquelas pessoas todas haviam perdido impulsos inerentemente humanos: a ambição, o desejo de descoberta e de aventura. Construíram um muro gigante ao redor de seu pequeno reino e trocaram tudo por uma sensação de segurança que logo se provaria falsa. Nesse mundo você pode ser tudo o que quiser, pode fazer o que quiser, pode sonhar o que quiser, desde que seus desejos e sonhos caibam dentro das muralhas. A maioria das pessoas parecia ter se resignado a isso.

É com isso que o Paraíso deve se parecer

Instituições como a Igreja das Muralhas e o suspeito e até agora invisível governo certamente têm grande parte da culpa por isso. Lograram êxito em construir uma sociedade voltada para dentro de si, preocupada apenas com as mesquinharias mundanas do dia a dia. O personagem que dá voz a esse cidadão médio que não quer nada a não ser apenas continuar vivendo sua vida despreocupada e irresponsável é o Hannes. Um soldado raso qualquer que não se esforça sequer para ser um soldado direito, como visto na primeira temporada e retomado nesse episódio com um flashback de sua vida vadia. Embora garantir a ordem fosse sua função, ele não queria saber nem de separar uma briga de crianças – pelo contrário, ele se divertia assistindo! Isso era tudo o que ele queria ser da vida, um beberrão vagabundo que recebe para não fazer nada enquanto se diverte. Mas o mundo real é mais difícil do que isso e quem fica de bobeira acaba sendo devorado pela vida.

Ou literalmente pelos titãs, logo todos descobriram isso. Eren não mudou – ele sempre quis acabar com todos os titãs, a morte de sua mãe foi apenas um motivo a mais para isso. A Mikasa não mudou, ela queria ficar ao lado do Eren e o proteger e é isso o que ela faz até hoje. O Armin … eu sei lá o que o Armin queria antes e o que ele quer agora! Ele é o amigo inteligente, ainda que meio fracote e covardão do protagonista, ele não tem uma história então não vale a pena mencioná-lo. Da maioria dos personagens sabe-se pouco, e aposto que muitos deles mudaram, mas não estou tão curioso assim para descobrir isso agora. Se esse flashback do Hannes (que na verdade foi apresentado como sonho da Mikasa, e serviu igualmente para ambos propósitos) tivesse vindo em qualquer outro momento mais frenético eu estaria aqui reclamando sobre o quanto eu não me importo o suficiente com o Hannes para querer ver a história do passado dele ao invés de continuar vendo titãs comendo pessoas, mas nesse episódio foi uma adição positiva.

O beberrão se torna o herói improvável que restaura a moral dos soldados que em algum lugar da sua memória ainda são apenas as crianças da sua vizinhança

O Hannes mudou. Ele ainda quer ser um vadio de merda, mas ele percebeu que até mesmo para ser vagabundo ele precisa se esforçar antes. Ele só quer seus dias de vagabundice de volta, mas os titãs não vão deixar. É uma tragédia que ele só tenha percebido isso já tão velho porque provavelmente ele não está em forma e não tem a mesma habilidade sequer que os novatos que já enfrentaram vários titãs, que dirá os veteranos de sua geração que devotaram suas vidas a caçar titãs. O que quero dizer é que a determinação de Hannes acaba de levantar uma enorme death flag acima de sua cabeça. Mas o mundo de Ataque dos Titãs ainda vai exigir muitos sacrifícios de jovens e de adultos antes que todo mundo possa ter a certeza de que, malandro alcoólatra ou irmã incestuosa, se possa viver como quiser e em paz.

E tudo isso está na letra de Shinzou wo Sasageyo, eu realmente acho que se você gosta do anime deveria ler a letra traduzida e o artigo que escrevi sobre 🙃

“Você já leu o artigo sobre Shinzou wo Sasageyo, não leu?”

  1. ” Mikasa não mudou, ela queria ficar ao lado do Eren e o proteger e é isso o que ela faz até hoje.” Sabe que isso me deixa chateado. Ela é uma personagem badass e tal, mas sua função na história. é só proteger o Eren. Quando o Eren “morreu” no começo do anime, a Mikasa aceitou que deveria continuar vivendo em um mundo em que o Eren não existisse, mas, depois, ao ver o que o Eren está vivo, ela parece que volta a ter a mesma função. Sei lá, sinto que o autor desperdiçou uma personagem em potencial.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      É verdade. Ataque dos Titãs tem tantos personagens que soa mesmo muito mal que uma personagem do núcleo duro, uma das mais próximas do protagonista, seja tão rasa. Ela é apenas uma mistura triste de kuudere, inexpressiva na maior parte do tempo, com yandere, assustadora em qualquer coisa que envolva o Eren, mesmo que não faça o menor sentido.

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