Todas as Rainhas Demoníacas derrotadas por Lúcifer se cansaram de Belial e a abandonaram – com a previsível e prevista exceção de Astaroth, a Rainha da Melancolia. O anime se encaminha para, ao seu final, ter como pecados capitais aqueles que são considerados pela Igreja e pela cultura popular como os pecados capitais de fato, substituindo a vaidade e a melancolia pelo orgulho e a inveja. Coerente que, enquanto Lúcifer parte para enfrentar Belial, Leviathan fique para trás lutando contra Astaroth.

E como sempre, tem ainda mais do que isso!

Aparentemente, na demonologia cristã, Belial antes de ser um demônio era o primeiro arcanjo. Não encontrei a fonte disso, mas vários textos citam isso. Se é algo já estabelecido há séculos como boa parte das referências que pesquisei sobre esse anime ou se é uma ideia popular relativamente moderna eu não sei, mas é interessante de todo modo. O segundo arcanjo era, naturalmente, Miguel, com quem descobre-se agora Belial está associada. O plano de Deus é não menos do que limpar a Terra e o Inferno (é o Apocalipse? Aguardo Gabriel soar a primeira trombeta), e embora eu duvide que Belial pretenda colaborar até o fim, não seria de todo inesperado.

Astaroth não quer acreditar que foi enganada por Belial. Um final adequadamente melancólico.

Veja, ela é a Rainha da Vaidade, certo? Lembro-me de já ter lido certa vez que o capitão não afunda junto com o navio por honra, mas por vaidade. Até o fim, é ele quem manda ali, e nem mesmo a força da natureza o fará se mover se ele não quiser. Faz sentido. E pode ser exatamente o que Belial está fazendo: que importa se o inferno vai acabar? O que vale é que ela seja sua líder máxima até o fim. Não que eu esteja convencido de que seja de fato esse seu plano, mas que faz sentido, faz. E essa forma de vaidade é bastante semelhante ao orgulho, não é? De fato vaidade já foi considerada um pecado capital mas foi removida, justamente por ser considerada apenas uma forma de orgulho. Lúcifer, a Orgulhosa, a desafia.

Melancolia contra Inveja

No Tanakh, o mais próximo de um equivalente judaico para a Bíblia, Belial não é um nome próprio, mas um substantivo comum que é no mais das vezes traduzido como “sem valor”, e com menos frequência como uma série de expressões diferentes que podem de um jeito ou de outro ser interpretadas como “que não se submete”, no sentido de não aceitar restrições, ser indisciplinado. Para a Bíblia cristã passou apenas o “sem valor” (ímpio) mesmo. É Belial que no Tanakh (que não é originalmente uma entidade, mas ignore isso porque não é divertido) viria um dia a ser identificado com o diabo. Lúcifer não existe na tradição judaica – existe uma única referência à “estrela da manhã” e se trata do planeta Vênus. E isso é importante!

A sem valor que acredita que só ela vale algo

O Deus vingativo, como no Velho Testamento (mais fortemente associado à herança judaica da Bíblia por razões óbvias, embora Deus não seja considerado vingativo na tradição judaica), forjou (talvez indiretamente, através de Miguel) uma aliança com Belial, a líder do inferno, para expurgar o mundo. Primeiro por se opôr a esse plano Lúcifer foi expulsa do Céu, e caindo no Inferno vem desde então travando uma guerra contra Belial. Acho que não estou conseguindo me explicar muito bem mas a vitória de Lúcifer será a salvação de toda a humanidade, o que para tradição cristã começa com Jesus e os livros que relatam isso compõe o Novo Testamento. Até Maria está lá. Esse anime é herege do começo ao fim.

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