Sentimentos escondidos, os conflitos internos e a persistência dos sentimentos de tristeza são apenas algumas das nuances que acometem seus expectadores. Com suas perspectivas e objetivos particulares, um grupo de amigos distanciados pelo tempo se reúne na tentativa de aliviar uma antiga e especial integrante. Como os laços podem se desenrolar? Como a paz pode ser alcançada (e protegida)? Como as memórias podem transcender a existência? Eu sou Luiz Henrique e tudo isso (e muito mais) você encontra em AnoHana.

Ano Hi Mita Hana no Namae o Bokutachi wa Mada Shiranai, algo como: “Nós Ainda Não Sabemos o Nome da Flor Que Vimos Naquele Dia” é uma animação de 2011, produzida pela A-1 Pictures, na temporada de abril (primavera), e conta com 11 episódios. Com uma animação acima da média para um anime desse gênero e com roteiro e direção extraordinários, ele conquistou uma grande quantidade de admiradores e atingiu resultados altíssimos no My Anime List , figurando no 38º lugar em popularidade.

Um grupo heterogêneo na busca de uma paz comum. Essa premissa perpassa por todos os episódios da trama, através de constantes revitalizações de sentimentos dos mais profundos, como a culpa e a dor. Superação é outra palavra presente nesse contexto de ressentimento. Na tentativa de alcançá-la, o grupo vai expor suas falhas, feridas e fracassos a todo o custo, tentando dar uma espécie de encerramento ou pelo menos um encaminhamento digno e livre de negações (essencialmente patológicas).

“Jintan” costumava ser o líder dos “Super Protetores da Paz”, até a morte de Menma e de sua mãe. Depois disso, ele recusou a sociedade e tornou-se um hikikomori devido a sua proximidade afetiva com ambas. Após o reencontro paranormal, o antigo elo que unia o grupo ensaia se restabelecer e avança na medida em que ele almeja realizar o desejo da jovem, paradoxalmente ao que ocorrerá quando seu desejo for realizado.

Jinta Yadomi

“Menma” é a menina que supera a morte em um trágico acidente de carro e volta alegre e falante em um dia de verão. Se isso não fosse impactante o suficiente para a situação, ela retorna com o mesmo vestido que usava no dia em que faleceu e, tendo consciência plena de sua morte, vem ao auxílio de seu amigo isolado, valorizando suas memórias de infância com o grupo, embora só possa ser vista e ouvida pelo Jinta.

Meiko Honma

“Anaru” é uma amiga de infância que se divide entre frieza e preocupação escondida. Numa esfera de ciúmes, sentimentos de culpa e decepção, ela vai sendo desenvolvida logo no início do anime.

Naruko Anjou

“Yukiatsu” é outro amigo de infância, mas tem na indiferença extrema para com Jinta sua forma de encarar a dura realidade do passado. Suas características físicas, esportivas e popularidade criam uma dicotomia com seu âmago ainda preso às memórias de Menma. Nele também está uma das maiores facetas da sensação de culpa que pode acometer outro ser humano.

Atsumu Matsuyuki

“Tsuruko” é a veia racional do elenco. Com sua personalidade lógica, quieta e observadora, ela dialoga frequentemente com suas convicções a medida que a trama avança e seu colega de escola (Yukiatsu) vai evidenciando sua natureza.

Chiriko Tsurumi

“Poppo” era o admirador oficial do “incrível” Jinta. Dentro de um jovem alegre e ainda fiel aos princípios do antigo grupo, ele conflita sua gratidão por ter sido aceito como era com sua tristeza, fundada na ideia de que poderia ter feito algo, ter mudado algo.

Tetsudou Hisakawa

Dentro dos grandes temas humanos trabalhados na obra, como o sentimento de culpa, aliado à mortal possibilidade de ter feito algo diferente ou de dever ter prestado mais atenção a algum detalhe “insignificante” (muito comum em doentes terminais ou pessoas previamente cientes de sua iminente partida), a história se desenrola e (por que não?) se enrola em todas as direções pautada nesse aspecto da natureza humana, alimentado pelo menos por cinco personalidades diferentes em torno de um toque sutil de transcendentalidade.

O autor sugere com isso não apenas a universalidade que demarca esse grande aspecto das vidas na trama, como, também, expõe os desafios que compõem o sentimento de resignação nas atitudes diárias, confrontadas pelas memórias e ações do passado. Além disso, a visível convergência das reações dos membros do grupo, no sentido de inundar a tela de lágrimas e alcançar crescimento pessoal com isso, trás a ideia de que a vida humana, mesmo em sua unidade, individualidade, incompletude merece algum tipo de libertação fundada nas relações feitas em vida. Esse contexto dialoga profundamente com o pensamento de Voltaire: “Todo homem é culpado do bem que não fez”.

Por fim, em Ano Hana, Menma, além de materializar na figura da “flor = hana” um espírito (ou intenção) de pureza, franqueza, virtude numa espécie de ressurgimento, uma vez que apesar de todo o ocorrido, perdoa e aceita sem ressentimentos o ocorrido, transfigurando a imagem de fantasma a uma alegoria que representa a manifestação da culpa. Essa dupla simbologia, aliada a uma animação competente e roteiros bem definidos (apesar do enfoque mais juvenil), fazem com que esse anime, que dialoga entre o maduro e o imaturo (ressaltando a passagem cronológica e psicológica entre essas etapas como inerente aos fenômenos humanos em sociedade), pertença exatamente ao lugar que está como uma das mais bem cotadas animações de drama (com ótimos alívios cômicos, rsrs) nos últimos anos e mereça minhas mais sinceras 3,5 estrelas (algo superior a minhas médias para animes desse gênero).

O tempo e a construção humana.

Para você ficar mais inteirado no universo dos animes de drama, recomendo que veja esse vídeo, que discute sobre como analisar animes desse gênero e essa lista dos 10 animes mais tristes.

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