Bom dia!

Esse é o primeiro artigo pra valer do Café com Anime em sua segunda temporada! Para quem está chegando agora, o Café com Anime é um bate-papo sobre alguns animes da temporada entre mim, pelo Anime21, e Vinícius Marino (Finisgeekis), Diego (É Só Um Desenho) e Gato de Ulthar (Dissidência Pop). Cada blog irá hospedar as transcrições das conversas de um anime: ao Anime21 caberá publicar os artigos sobre Violet Evergarden; ao Finisgeekis, Cardcaptor Sakura Clear Card; ao É Só Um Desenho, Kokkoku; e ao Dissidência Pop, Mahou Tsukai no Yome e Junji Ito: Collection.

Sem mais atraso, leia a seguir a conversa que tivemos sobre o episódio 1 de Violet Evergarden.

Fábio "Mexicano":
Acho que em termos de produção não há muito o que discutir, ou há? Esse é um dos animes mais bonitos e mais bem produzidos da temporada. Dos que eu vi, acho que só Sora yori mo Tooi Basho está no mesmo nível. De longe, o que mais me intrigou nesse episódio é a natureza da Violet: afinal, ela é um robô, é humana, ou é um ciborgue? Acredito que o primeiro episódio não forneça dados suficientes para decidir, apenas especular (e absolutamente não quero spoilers de quem já leu as novels), então a próxima pergunta é: isso é importante? Digo, para a história que Violet Evergarden está contando, faz muita diferença ela ser humana, ciborgue ou robô? Após assistir o primeiro episódio eu fiquei um bom tempo pensando só nisso, juro. Cheguei a uma conclusão, eu acho, mas gostaria de saber primeiro a opinião de vocês.

Que comece o Café com Anime de Violet Evergarden!

Gato de Ulthar:
Uma estreia bonita, sem dúvidas. Quanto a natureza da Violet, acho que não restam dúvidas que no momento atual em que se passa a história ela é uma ciborgue, em virtude dos braços mecânicos. Mas e no passado quando ela era só uma arma de guerra? Ela sangrava, se machucava, possuía sentimentos rudimentares, etc… De fato ela é orgânica, assim poderiam dizer que ela não é um robô, mas a questão é que há robôs orgânicos na ficção, como os Replicantes de Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?/Blade Runner.

Mesmo assim, ainda restando a possibilidade dela ser um robô, estou tendendo a achar que ela é humana mesmo, apenas possuindo algumas melhorias corporais e lavagens cerebrais desde a infância para se tornar uma arma perfeita. Isso respaldado por uma fala do episódio na qual é mencionado que ela servia ao exército desde criança. Esse tipo de situação não é nova nos animes/mangás, pois lembro de um dos meus animes favoritos, Gunslinger Girl, onde as protagonistas são meninas submetidas a lavagem cerebral e implantes sintéticos para se tornarem máquinas de matar perfeitas. Inclusive a situação de Gunslinger Girl seria muito parecida com Violet Evergarden, já que as meninas do primeiro anime também eram fortemente dependentes psicologicamente dos seus parceiros, sempre um homem adulto.

De qualquer forma, uma boa estreia.

Vinícius Marino:
Que coisa maravilhosa! Com um anime lindo assim, quem precisa de conteúdo?

Olha só: ele inclui até a foto que sempre sonhei em tirar, mas nunca consegui por morar em São Paulo.

Para fotografar a rotação da terra é preciso um tempo de exposição super longo. A não ser que você esteja no meio do nada, a luz artificial (dos postes, prédios, carros) acaba penetrando na foto e estragando-a.

Vinícius Marino:
Brincadeiras a parte, Violet parece ser uma fábula bem meiga. Misto de Gunslinger Girl com Plastic Memories e… Central do Brasil?

Adorei o lance do correio e acho que tem o potencial para uma grande história. O problema é cair no melodrama ou simplesmente na mesmice. Vamos torcer para ele ser mais Chobits que Plastic Memories nesse sentido.

Diego:
Vocês me tacam pedras se eu falar que realmente não me impressionei com a animação de Violet Evergarden? 😃 Piadas de lado, por boa que esteja a animação esse é um daqueles aspectos em anime que eu simplesmente não consigo entender o hype. Violet é bonito? Sim, sem dúvida nenhuma, mas eu realmente não consigo vê-lo como esteticamente mais agradável do que a maioria dos títulos que saíram até agora. Pra ser bem sincero, diria mesmo que o visual de Sora yori mo Tooi Basho e Yuru Camp me impressionaram mais. Talvez não seja o tipo de estética que mais ressoa comigo? Bom, ao menos a iluminação é certamente bem feita, bem como os reflexos das luzes.

Em termos de história, eu curti bastante o episódio. Foi uma boa introdução a essa nossa protagonista, e pra ser sincero eu gosto como fizeram o arquétipo da “pessoa sem emoções”. Vez ou outra eu sinto que esse é um arquétipo levado ao pé da letra demais. Violet certamente não entende suas próprias emoções, tendo sido treinada para ser apenas uma soldado, mas ela claramente as têm. Fora isso, porém, não sei se terei muito o que falar. A ideia dela escrever cartas pelos outros pode render momentos dramáticos interessantes, mas francamente agora é esperar para ver.

Fábio "Mexicano":
É todo esse o ponto! Fico feliz que nenhum de vocês ficou tão bolado em saber se ela é um robô ou não, porque eu fiquei, hahaha! Depois parei para pensar e percebi que a ideia de um personagem, uma pessoa que voltou da guerra, que conheceu apenas a guerra, que a única gentileza que recebeu a vida inteira terminou em tragédia, e agora que pela primeira vez vai viver uma vida normal não faz ideia do que são os sentimentos que tem, o que significam, além de genericamente como se comportar em sociedade, nada disso depende dela ser um robô ou não. Funciona tão bem quanto em qualquer hipótese. Claro que pode haver alguns detalhes específicos que devem ser diferentes a depender da natureza da Violet, mas no geral não importa mesmo. Eu fiquei um bom tempo pensando sobre isso antes de conseguir colocar em ordem meus pensamentos sobre o resto do episódio – o “resto”, sabe, também conhecido como o que importa de verdade.
Vinícius Marino:
Exato. Ela pode ser só uma soldado doutrinada com dificuldades em se adaptar a vida civil. Os braços metálicos nesse caso funcionam quase como uma metáfora: ela é uma ciborgue não só por “fora”, mas também por “dentro”.
Fábio "Mexicano":
Várias coisas no anime sugerem fortemente que ela possa ser um robô completo, porém. A começar pelo fato desses robôs existirem, como vimos com as bonecas ghostwriters.

E eu, maluco por ficção científica, não vou conseguir deixar de ficar atento a isso até o final, ou até a confirmação 😃

Diego:
Sinceramente, não acho que ela seja um robô, nem de longe. O anime me pareceu deixar bem explícito que ela é uma humana, só que treinada desde cedo para ser uma arma. Um experimento militar, talvez? Primeira de muitos? Protótipo fracassado? Essas são perguntas que eu espero que o anime responda mais para frente, porque me soa meio estranho termos conhecimento de apenas ela como “arma”. Mas confio que teremos mais respostas ao longo da história.

Agora… De onde exatamente você tirou que aquelas mulheres são robôs, Fábio? Porque eu interpretei o nome “dolls” apenas como uma espécie de apelido, não como indicativo de que elas sejam mecânicas.

Fábio "Mexicano":
Na verdade eu li a sinopse da novel 😛 Elas foram robôs criadas originalmente por um sujeito aleatório para sua esposa cega poder escrever livros. Depois a tecnologia foi aprimorada e elas são alugadas.

Como são robôs feitos especificamente para entender sentimentos, elas são capazes de agir de forma bastante humana.

E provavelmente têm personalidade, individualidade, enfim, não devem ser “só máquinas”.

Gato de Ulthar:
O Fábio possui informações privilegiadas! 😛

Se a Violet for um robô mesmo, fica uma dicotomia interessante entre ela, uma robô criada para lutar, e as outras, criadas para escrever e entender sentimentos. Já até é possível ver onde uma história assim pode levar.

Na medida em que a Violet começa a tentar entender melhor os sentimentos, principalmente o amor, como ela mesmo disse no episódio.

Fábio "Mexicano":
Sim! Achei muito interessante isso. Não é que ela não tenha sentimentos. Elas os têm, isso está claríssimo. A Violet apenas não os entende direito – ou não quer entender.
Diego:
Sinceramente, ainda mais interessante seria se a Violet não for um robô, sendo uma pessoa que entende menos sobre os sentimentos humanos do que uma máquina.
Fábio "Mexicano":
Eu acho que de qualquer jeito pode ser interessante, depende de como o anime trabalhar isso. Nesse ponto da história, o ponto de partida, meio que dá pra ser tanto de um jeito quanto de outro

Falando sobre a história, como esperado do anime com mais hype de janeiro, Violet Evergarden não passou em branco e sofreu um monte de críticas – que eu considero injustas. A maioria diz respeito a “não ter história”, “ter pouca história” ou “ter uma história desinteressante”. O que acham?

Gato de Ulthar:
Um grande besteirol. Provavelmente esse tipo de crítica vem do pessoal que endeusa buchas como Kujira e Charlotte! Onde diabos Violet Evergarden não tem história? O anime mal começou, e o pouco que mostrou já demonstra possuir um potencial interessante.
Vinícius Marino:
Não tem história? Tivemos a) o flashback do passado de Violet, b) a introdução ao mundo onde vive e c) a apresentação do mote a ser seguido nos episódios futuros. Foi um perfeito piloto, digno de série da Netflix (não é a toa que está passando lá). Que mais história as pessoas precisam?

Se vai cumprir o potencial ou não são outros quinhentos. Há o risco de degringolar para um slice of life envolvendo as robôs do correio, tal como Plastic Memories degringolou para uma novela. Mas vamos torcer pelo melhor, não? Já tivemos um Kujira nas nossas vidas.

Diego:
Essas críticas vieram sobretudo do Japão, e são meia dúzia de comentários negativos em algum site qualquer, que o pessoal por aqui está repetindo e compartilhando como se fosse verdade absoluta – o mesmo pessoal, quero lembrar, que adora reclamar do “shittaste” dos japoneses quando sai alguma lista de animes mais populares do ano ou de hits da temporada. Em suma, o povo só quer um motivo pra criticar negativamente o anime pra poder pagar de superior e contra-corrente, porque “eu sabia que o hype não ia corresponder” e mimimi.
Fábio "Mexicano":
Quero acreditar nisso também, mas fundado ou não, acredito que esteja de fato afetando a popularidade do anime. Em que pese o episódio em si não ter nenhum dos defeitos apontados – vocês não acreditam que teve, eu não acredito que teve também, o que será que criou essas falsas expectativas em primeiro lugar, frustradas na estreia? Eu só consigo pensar em como os trailers, de fato, sugeriam uma coisa mais dinâmica, com mais ação – mas aquela ação toda é só flashback, afinal.
Vinícius Marino:
De fato, não é um anime de ação. E, dependendo do rumo que a carruagem tomar, não parece ser o tipo de anime que agrada às massas otakus. Há sempre o risco de cair na “armadilha josei”: sério demais para fãs de shoujo, amoroso demais para fãs de seinen. Eu amo esse tipo de história, mas sei que nós, fãs, não encheremos uma arquibancada tão cedo.

Isso me lembra de Sky Crawlers, um anime introspectivo, simbólico e mais hermético que jarra de picles, que foi vendido pelos trailers como um filme de ação à la Michael Bay.

Fábio "Mexicano":
Divulgação é sempre uma questão complicada, né?

Bom, além da Violet, o outro personagem que mais apareceu no episódio foi seu novo guardião de fato, o ex-coronel Claudia Hodgins (se qualquer coisa, vale a pena falar dele só porque ele se chama Claudia, 😃). Ele sim parece um veterano de guerra traumatizado mais “normal”, e parece estar escondendo muita coisa. Fiquei com a impressão que ele está fazendo tudo o que está fazendo pela Violet não por legítima camaradagem ou cuidado ou pena, mas por arrependimento, por culpa, para tentar aplacar seus demônios internos.

Diego:
Por agora eu acho que a culpa que ele sente é de não ter feito nada enquanto a Violet era treinada desde pequena para ser uma máquina de guerra. Mas talvez ele sinta que tem algum tipo de obrigação especial ou caso não resolvido com o ex-“dono” da Violet, e decidiu se redimir ajudando a garota agora que ele morreu.
Gato de Ulthar:
Parece que ele era amigo do major, e muito provavelmente foi o último desejo dele que ele zelasse pela Violet. Até acho que isso foi dito né? Mas realmente parece que ele sabe mais do que conta. O que realmente me incomodou foi o fato dele não ter contado a verdade para a Violet. Esconder esse tipo de informação sempre causa sérios transtornos no futuro.
Vinícius Marino:
Também acho que essa omissão vai persegui-lo no longo prazo. De uma forma mais geral, no entanto, acho que o problema do Hodgins é aquela velha questão que aflige veteranos: o trauma do sobrevivente. Muitas pessoas que perdem amigos na guerra (sobretudo combatentes) acabam desenvolvendo uma culpa por terem vivido. O fato do major ser seu amigo proximo só piora as coisas
Fábio "Mexicano":
Qual é o caso do Hodgins a gente só pode especular. E isso torna ainda mais difícil julgar as ações dele.
Vinícius Marino:
Outra questão importante é a dificuldade de se reintegrar a vida civil depois da guerra. O Hodgins parece ter dado sorte nesse sentido, mas foi um problema bem comum no entre guerras, época em que o dieselpunk de Violet é baseado. Os camisas negras do Mussolini foram em grande parte veteranos da primeira guerra, ostracizados pela sociedade e levados ao fanatismo.
Fábio "Mexicano":
A gente nem sabe direito ainda quem é a Violet, mas em qualquer caso, me parece que seria temerário simplesmente dizer a ela que o seu amado Gilbert morreu. Se ela for humana, ela claramente precisa de terapia. Se for um robô, vai saber o que pode fazer ao descobrir isso…
Diego:
Honestamente, o pior que a Violet parece capaz de fazer seria se matar. O que talvez justifique a decisão do Hodgins, caso ele conheça a Violet o bastante para pensar isso. Porque essa também é uma questão em aberto ainda: o tipo de relação que há entre os dois. Sabemos que se conhecem há algum tempo, mas se estavam em contato com frequência ou se eram apenas conhecidos que mal se falavam ainda não ficou claro, eu acho.
Vinícius Marino:
Eu vejo cenários muito piores. Por exemplo: a Violet entrando em modo “berserk” e caçando ex-quadros do exército em busca do Gilbert. Ou punindo Hodgins por ter mentido a ela. Ela é uma arma, não se esqueça. Foi treinada para matar, não para viver em sociedade.

No final da Segunda Guerra muitos japoneses se recusaram a se render e continuaram a lutar uma guerra de guerrilha contra os civis das ilhas do Pacífico. Alguns ficaram nessa até os anos 1970. Se pessoas normais são capazes desse nível de fanatismo, imagina alguém como a Violet? Sabe-se lá no que ela pode transformar a devoção ao Gilbert.

(Não acho que o anime vai por essa linha, mas é uma consequência lógica da personagem que temos até agora).

Gato de Ulthar:
Eu penso um pouco diferente. Como a Violet foi “programada” desde nova a obedecer ordens, ela não iria ficar tresloucada com a morte do Gilbert, mas sim entrar em um estado de apatia profundo. Ela continuaria obedecendo ordens, de maneira ainda mais mecânica, pois o “tempero” da vida dela, o major Gilbert, morreu.
Fábio "Mexicano":
São todos cenários altamente indesejáveis, não é?

Não sabemos qual a realidade desses personagens dentro da história, mas a facilidade com a qual imaginamos como as coisas podem dar muito errado justifica, eu acho, a decisão do Hodgins até agora.

Falando em expectativas de forma geral, o que acham que vem pela frente agora em Violet Evergarden, para encerrar a primeira edição do Café com Violet?

Vinícius Marino:
Trapalhadas da Violet tentando se habituar à vida de escritório.

Lágrimas. Muitas lágrimas.

(Não necessariamente nessa ordem)

Diego:
Violet escrevendo cartas 😃 Imagino uma estrutura talvez episódica de “cartinha da semana”, ao menos por um tempo, com ela lentamente aprendendo mais sobre seus sentimentos no processo.
Gato de Ulthar:
Esquetes tocantes motivadas pelas cartas que ela terá que vir a escrever. Ao longo do tempo ela irá se habituando mais aos sentimentos humanos.
Fábio "Mexicano":
Ou talvez ela escreva coisas inapropriadas? Como quando ela foi curta e grossa com a mulher que ia acolhê-la. Ela não quis ofendê-la, mas deve tê-la magoado profundamente. Esse é um tipo de erro que “faz parte” de uma jornada de alguém tentando aprender sobre sentimentos.
Gato de Ulthar:
Ela sendo curta e grossa me lembrou o Elias no episódio 14 de Mahou Tsukai no Yome, que também foi curto e grosso com a vampira, quando o Joel estava morrendo. Em ambos os casos os dois precisam aprender sobre sentimentos humanos.
Fábio "Mexicano":
É verdade, e ambos são algo “não humanos” que precisam ou desejam “aprender a ser humanos” ☺
Fábio "Mexicano":
Enfim, foi um bate-papo muito bom para um primeiro episódio. Até o próximo!
  1. eu gostei da história, sobre a violet ser um robô, acredito que não, pois, até o momento, as únicas coisas mais robóticas que ela em são os braços. Nesse aspecto, gostaria de relatar algo interessante. Os braços da Violet certamente ão caros, e ela não tem, como a mesma falou para a senhora evergarden, uma família… então minha pergunta é, de onde veio o dinheiro para ela ter esses braços, e se ela tem significa que ela ainda tem alguma importância como arma? Foi o claudia que fez isso por ela? estranho…

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