Suzumiya Haruhi é uma série de light novels escrita por Nagaru Tanigawa e ilustrada por Noizi Itou. A obra vendeu horrores e teve duas temporadas de um anime super popular que catapultou o sucesso, tornando-a não só uma referência no meio das light novels, como também um fenômeno cultural e o clássico incontestável que é.

Porém, a publicação da série de livros foi parada pelo autor e sem prazo confirmado para a volta. Restando aos fãs o desejo de que não acabe no limbo. No artigo comentarei minhas impressões do primeiro volume, A Melancolia de Suzumiya Haruhi, que dá nome a animação.

Acho que a primeira característica a destacar de Haruhi é que ela segue o caminho inverso ao que é o mais comum na ficção. Ao invés de destacar os elementos de ficção científica a obra os coloca em um plano abaixo, como se eles existissem apenas para realçar o slice of life, a comédia e o romance.

Não, não é como se esses outros gêneros importassem mais que o sci-fi, é o autor que os usa bem demais, sem perder as estribeiras no que tece ao cotidiano, ao comum em histórias de pano de fundo escolar como a de Haruhi.

Isso é importante justamente para dar o diferencial da obra, tornando a incomum.

Ainda mais porque Haruhi, a protagonista, quer encontrar aliens, viajantes do tempo, sliders e espers a fim de fugir de sua vidinha tediosa, quando na realidade ela faz mais que isso sem saber ao causar a aproximação desses seres.

Se eu contar o motivo será um spoiler que talvez estrague um pouco a sua experiência de leitura, então só posso comentar que sim, Haruhi está cercada por tudo que mais tem seu interesse e ela só não sabe disso, cabendo a Kyon, o protagonista, a difícil missão de lidar com tal garota tão excêntrica, quanto impulsiva e imprevisível.

Mas Kyon, diferente do resto, é bem normal e cético, precisando presenciar esses eventos considerados de outro mundo – não basta que o revelem essas verdades – para acreditar e passar a entender sua função em tudo isso.

Aliás, acompanhamos a história de seu ponto de vista, o que é uma jogada de mestre, porque Kyon se parece muito com boa parte do público alvo, é alguém jovem que quer viver experiências emocionantes e novas, sair de um cotidiano completamente normal.

O que talvez haja de diferente é que ele não quer ser o centro das atenções, ele quer o papel de coadjuvante, mas se pensarmos que é comum as pessoas quererem só o que há de bom das situações, sem os problemas, não fica difícil de vislumbrar que qualquer um dos leitores pode se imaginar no lugar do Kyon.

Alguém que, por ter começado a bater papo com a aluna mais peculiar da turma, foi apresentado a um mundo fascinante, sendo chutado da vidinha pacata de estudante que levava, ao mesmo tempo em que esse cotidiano continua ali, imutável, só que tendo a presença de elementos novos, de novos amigos, que, inclusive, agregam bastante a trama de Haruhi.

Yuki Nagato tem um jeito introvertido de ser que costuma instigar o leitor justamente por ele desejar ver quando a garota vai sair de seu estado quase robótico e demonstrar mesmo as pequenas reações mais comuns a uma estudante de sua idade, que normalmente faltam a ela.

Asahina Mikuru é aquela garota cuja fofura é elevada – que praticamente nunca falta em light novels, mangás e animes – e faz o seu melhor para lidar com os desmandos da prepotente e egoísta Haruhi. A jovem é fofa e ela faz o coração do protagonista ficar balançado, mas não é só isso também.

Já Itsuki Koizumi aparece menos que as outras duas, mas nem por isso desempenha papel menos importante, tendo uma pontinha no clímax, e fazendo revelações que comprovam a Kyon como há algo muito maior que eles rolando nos bastidores.

Todos, capítulo a capítulo, vão sendo aprofundados de acordo com revelações que fazem e as “provas” que dão ao protagonista de que tudo com o que Haruhi sonhou é sim realidade e que a garota e Kyon estão no centro de tudo.

Sem a mínima dúvida, mas nesse primeiro volume o mais importante é desenvolver a dinâmica desses cinco enquanto grupo, a controversa Brigada S.O.S, ainda que pouco ou quase nada interagem os cinco em grupo de fato.

É por meio de Kyon que vamos conhecendo os personagens, o que fazem na trama e o que desejam de Haruhi e dele mesmo. Adversidades surgem, é verdade, mas nada que não possa ser resolvido de maneira rápida e sem maiores problemas, tudo para manter o cotidiano que se alterado pode levar a destruição do próprio universo.

Não é adorável como japoneses adoram meter o que há de mais grandioso em um contexto escolar para que estudantes do ginasial ou colegial salvem o dia e quiçá o mundo?

Eu acho legal, ao menos se é bem feito como nessa obra, pois, Haruhi pode ser sim a personificação de uma garota mimada que coloca seus desejos sempre acima dos outros, mas, caso a correlação entre sua personalidade e atitudes e a figura ao qual ela é associada seja feita, não é difícil entender porque ela é desse jeito.

E como, mesmo ela sendo assim, há quem a desdobre. Não por ser um alien, viajante do tempo, slider ou esper; mas porque é uma pessoa normal que nem sempre tem resposta certa para tudo, ou a atitude certa para sair de todas as situações; que foi capaz de encarar, literalmente e figurativamente falando, Haruhi Suzumiya pelo que ela é: uma estudante entediada de uma personalidade terrível – mas nem por isso indigna de se fazer amizade.

Procurei ser sucinto para não dar mais spoilers do que acho necessário, mas posso garantir que essa é uma light novel que vale o seu tempo, ainda mais se você ainda não viu o anime e não sabe maiores detalhes sobre sua trama.

É verdade, ela se encontra com 11 volumes até o presente momento, mas incompleta, e isso não faz o leitor se sentir incentivado a dar uma chance, mas vai por mim, ainda que o autor nunca a acabe é uma experiência bacana ler um bom livro, ou uma série deles.

Seja você um alien, viajante do tempo, slider, esper ou só uma pessoa normal mesmo, a história de Haruhi Suzumiya e Kyon vale seu tempo!

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