Blade – A Lâmina do Imortal, também conhecido como Mugen no Juunin, que em português significa Habitante do infinito, estreou em uma nova adaptação em anime, prometendo adaptar à totalidade da obra em mangá, ao contrário da última adaptação, de 2008, que optou por cobrir apenas um fragmento da história.

Mugen no Juunin está sendo patrocinado e transmitido pela Amazon em seu serviço de streaming oficial. Isso é importante, retomo o porquê mais adiante.
Mas introduções à parte, o que dizer desse primeiro episódio? Bem, para mim foi a melhor estreia da temporada até o momento. Explico.

O anime possui um financiamento saudável, mas não apenas isso, ele possui carta branca para a inventividade. Ficou patente já nos primeiros minutos que a direção escolheu a experimentação narrativa, e com habilidade e profissionalismo, resumiu muito bem a introdução do enredo da obra em um único episódio, condensando e utilizando de técnicas e cortes estilísticos para ambientar e desdobrar os conflitos chaves da história.

 

 

É bom ter em mente que eles optaram por não repetir uma introdução pormenorizada, já anteriormente desenvolvida na outra adaptação, mas sim adiantar a narrativa para avançar por terrenos ainda não explorados, ou no caso, animados.

A sensação ao assistir esse episódio foi muito próxima a que tive ao assistir filmes épicos que retratam os samurais, Kurosawa entre outros, ou mesmo animes famosos por suas poéticas visuais, de paleta de cores que se estendem até mesmo por entre o fluxo próprio do texto e das falas dos personagens. Shigurui, Champloo, Afro Samurai ou mesmo Ninja Scroll. Blade começou forte, trazendo já desde o início o peso gráfico e o gore, direcionando o drama para um tom seco e brutal, onde o sangue escorre sem pedir permissão e as lágrimas fluem sem poderem ser controladas.

 

 

Temos Manji, um samurai procurado pela justiça, assassino de 100 homens, perdido entre a expiação de seus pecados e a ausência de perspectivas. Chafurdado no sangue e na lama de uma vida sem qualquer esperança ou futuro. Temos Rin, uma jovem usurpada de sua família e de sua inocência, forçada ao caminho do ódio e da vingança, humilhada e desamparada. Sua jornada começa, sobretudo, para descobrir o que aconteceu com a sua mãe, mas rapidamente se transforma em um caminho sem volta pelos ladrilhos da aniquilação.

 

 

O anime nasce com uma personalidade própria, vivo e liberto, na medida do possível, de seu material base. O clima é denso, viscoso e fétido. A primeira ação de Manji é crua, visceral, no sentido de vísceras mesmo. A direção não se preocupa em enrolar, ela joga as cartas na mesa e descreve a situação. Alguém importante para Manji morreu, e logo depois alguém importante para Rin também morreu.

 

 

A jovem sai em peregrinação, tentando aprimorar a si mesma durante dois anos, mas em seu percurso, se depara com uma senhora que lhe ilumina o destino. Tem certeza de que é capaz de dar cabo de sua vingança sozinha? Vá atrás do matador de 100, contrate ele como seu guarda-costas.

Sem perder tempo com diálogos expositivos ou mesmo com narração explanatória, as cores, as emoções e a caça da Rin por Manji, e depois por Kuroi Sabato, são narradas por momentos e cortes de cena muito bem aplicados, utilizando com primor a ligação que este primeiro vilão tem para com a jovem, a torturando com cartas de amor e com palavras que preenchem tanto a tela quanto o fluxo narrativo do episódio. Ela, por sua vez, o encontra para o acerto de contas. Um desfecho perturbador para uma situação perturbadora.

 

Kuroi Sabato

 

A escolha pelo simples, pelo direto e pelo estético, fazem do episódio um mar de contemplação, e é claro, isso não vem sem consequências, pois para quem não conhece a obra, ou mesmo para quem não está acostumado com esse tipo de escolha para o fluxo dos acontecimentos, pode se sentir acuado, irritado, até mesmo insatisfeito pela ausência de informações e desenvolvimento do plot. Aturdido pela velocidade e impacto direto que abalam a protagonista, que nem tem tempo de respirar, sendo forçada a tomar uma decisão estúpida no calor do momento. Outras situações no decorrer do anime podem trabalhar melhor o peso psicológico que a carnificina tem sobre a Rin. Foi uma escolha por parte da direção do anime, e escolheram muito bem, pelo menos segundo a minha opinião, pois eles podem utilizar de momentos posteriores da narrativa para preencher lacunas que só emperrariam o ritmo do episódio.

 

 

Ir direto ao ponto e utilizar dos pilares centrais da trama, sabendo que o mangá já tinha sido adaptado anteriormente em anime, e mesmo que um Live Action também já havia sido feito, garante a equipe técnica a liberdade de escolher enfatizar a personalidade da série, e ao executar a proposta que escolheram, a executaram muito bem.

Os dubladores também se saíram muito bem, dando conta da responsabilidade de materializar as características dos personagens centrais, oferecendo novas tonalidades sem perder o prumo da caracterização mínima que tinham como referência no mangá.

 

 

E novamente retomo a importância que tem para o anime ter financiamento e carta branca da Amazon, isso se reflete na qualidade impecável da animação, no uso pertinente das cores e na aplicação da violência gráfica de modo mais contundente. Liberdade que eleva ainda mais as possibilidades desse anime ser um dos novos pilares junto aos clássicos, isso no que diz respeito a animes de samurais.

 

 

Finalizo essa breve apresentação, empolgado para ver o que acontecerá no decorrer desse anime, principalmente com relação ao seu final, ou no caso, como adaptaram o final do mangá, o qual me abalou bastante.

Até uma próxima resenha pessoas, que deve surgir aqui em breve, pois o episódio dois já foi lançado, e pretendo cobrir esse anime durante essa temporada!

Hyperlink do vídeo onde continuo o debate sobre esse primeiro episódio!

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