Blade – A Lâmina do Imortal ou Mugen no Juunin, é uma história de samurais cheia de ação, filosofia, vingança e honra.

A obra de Samura Hiroaki foi originalmente publicada na revista “Afternoon” da editora Kodansha e durou de 1994 à 2012. Chegou a ter um anime baseado nas primeiras edições do mangá que não vingou (animação, traço e enredo muito fracos se comparados ao mangá) e um filme live-action muito bom (lançado em 2017 no Japão, mas que apresenta um final diferente para a saga) e recentemente uma nova incursão nos animes que será lançada pela Amazon Prime e promete traços e enredo fiéis ao mangá.

No Brasil, Blade a lâmina do imortal (nome adaptado para o português da tradução americana) chegou em 2004 pela editora Conrad. Nesse ano o Brasil vivia o auge da primeira fase dos mangás em terras tupiniquins, quando editoras como a JBC e a já citada Conrad, dividiam os espaços nas bancas, trazendo a cada mês cada vez mais títulos do Japão. Nessa época, além dos mangás mais famosos como Samurai X, Evangelion e Dragon Ball, costumavam aparecer nas bancas alguns títulos mais desconhecidos do público brasileiro. Blade era um deles e me chamou atenção primeiramente pela arte. O traço e design dos personagens de Samura foram o suficiente para me fazer desembolsar minha grana naquele mangá e depois de ler essa primeira edição, a premissa da história ali apresentada me fez voltar todo mês a banca de revista para comprar uma nova edição.

Manji é o personagem principal da obra e foi amaldiçoado com a vida eterna. O nome original do mangá em japonês é Mugen no Jyunin, algo como “o habitante do infinito”, uma referência direta a condição do protagonista. Depois de anos assassinando pessoas como um bom samurai, Manji se vê amaldiçoado com a imortalidade e faz um trato com a velha que inseriu nele os “vermes” que o tornam um ser eterno: Matar cem homens malvados para cada inocente que ele tirou a vida e assim voltar a ser um mortal. Nessa jornada ele encontra a jovem Rin Asano, que procura vingança pelo assassinato de sua família, massacrada pela escola de espadas chamada Ittō-ryū.

Manji e Rin, os protagonistas da história

O dois se unem e vão atrás dos aprendizes e líderes da Ittō-ryū enquanto aprendem um sobre o outro e tentam não serem consumidos pela chama da vingança que cada um carrega. Para quem curte mangás de ação, Blade é um prato cheio. Das diversas armas que os protagonistas e coadjuvantes usam, muitas delas criações originais do autor, às cenas de ação esplendidamente desenhadas, passando pelas técnicas de lutas mostradas, não há uma edição que decepcione nesse quesito. Para quem tem algum problema com cenas de violência explicita, bem, aconselho cautela.

A violência apresentada no mangá não é gratuita, assim como também não é apenas um pano de fundo para a história de samurais mas algo que faz com que os personagens reflitam e consequentemente leve os leitores a tirarem suas próprias conclusões. A cada degrau subido no caminho da sua vingança, Rin pondera as consequências das suas ações com Manji e reflete se essa é a melhor opção a ser tomada, afinal, cada morte gera consequências, e muitas delas, além de inesperadas, aproximam sua personalidade a dos seus algozes.

Os membros da Ittō-ryū. Típicos vilões ou mais que isso?

E aí está o grande diferencial desse mangá, no meu ponto de vista: o desenvolvimento dos personagens. Vemos coadjuvantes ganhando espaço, de ninjas e poetas psicopatas a maníacos homicidas e prostitutas, cada um tendo suas histórias saindo um pouco do pano de fundo e sendo enriquecidas com detalhes, enquanto que outros personagens evoluem de uma maneira que faz com que você se pegue torcendo para eles, mesmo sendo muito claro que eles foram apresentados como vilões no começo da história. Para isso o autor muda o foco dos personagens principais para os coadjuvantes em alguns capítulos, fazendo com que o leitor tenha a chance de conhecer melhor os habitantes do mundo de Blade.

Como disse no começo desse texto, Blade foi publicada no Brasil pela Conrad e teve 38 edições. Infelizmente essas edições não apresentaram a história completa e fiquei anos aguardando um final para a saga de Rin e Manji. O mangá parou em um ponto extremamente interessante, onde o autor consegue ser muito criativo com a ideia da imortalidade de Manji.

Poderia muito bem ter procurados versões digitalizadas do mangá em inglês na internet mas, por alguma razão desconhecida, os anos passaram e nunca fui atrás do final da história até que, em 2015, a editora JBC anunciou o relançamento do mangá em 15 edições, que traria a história completa do samurai habitante do infinito. Finalmente em 2019 consegui saber o desfecho da história de Manji, Rin e tantos outros personagens marcantes e não poderia recomendar mais esse mangá.

Se você curte histórias de ação, vingança e personagens complexos, que não pensam apenas em lutar para se tornar o mais forte (estamos de olho em você Son Goku), Blade a lâmina do imortal tem que estar na sua lista de leitura o mais rápido possível.

EXTRAS:

 

Manji é a pronúncia japonesa para suástica (卍) e é o nome do protagonista do mangá porquê ele usa um quimono com uma imensa suástica nas costas. Vale lembrar que a suástica é um símbolo místico oriental e é usado em religiões como o Budismo, e não tem nada a ver com a suástica nazista, que veio muito depois e que, por mais que tenha sido baseada na original asiática, representava algo totalmente contrário as religiões asiáticas. É comum ver a suástica em placas que indicam templos budistas no Japão.

A suástica com sua dualidade, representando a personalidad e dando nome a Manji

Samura Hiroaki baseia muitos dos seus personagens em bandas de rock e cantores desse gênero, como é possível ver ao longo do mangá e nas próprias explicações fornecidas pelo autor nas diversas edições da sua obra.

O personagem Kuroi Sabato – clara referência a banda de rock Black Sabbath

O autor também trabalhou como design de personagens para a Sega no jogo Dororo (Blood will tell, em inglês) de PS2. O jogo, que é baseado no mangá clássico de Osamu Tezuka, tem uma arte que lembra muito Blade (obviamente).

Capa do jogo de PS2 Dororo, por Samura Hiroaki

  1. Bom saber que é um manga finalizado talvez seja possível uma adaptação completa coesa com a história, o ruim que encontrar mangas lançados a um tempo precisa esperar a reimpressão para ficar com um preço viável ( dei uma rápida olhada e tá salgado os preços). No fim estou curiosos mas vou dar uma olhada no anime primeiro e se eu interessar vou ler.

Deixe uma resposta para Julio Moreira Cancelar resposta