Recentemente, o Anime News Network, um famoso site de notícias sobre a indústria de entretenimento japonesa, publicou uma entrevista com a staff de Megalo Box 2: Nomad. Os entrevistados foram o diretor Yo Moriyama (Shingeki no Kyojin, Gungrave), e os escritores Katsuhiko Manabe (Shin Kyuuseishu Densetsu Hokuto no Ken: Raoh-den Gekitou no Shou) e Kensaku Kojima (Megalo Box).

Dentre os vários tópicos interessantes que foram discutidos nessa entrevista, um que me chamou atenção foi a preocupação dos entrevistados em relação a filosofia “machista’’ de Ashita no Joe, e como eles precisaram tomar cuidado para não deixarem certos valores dessa obra passarem para Megalo Box.

 

 

A razão de tratar desse tópico é porque ele se encaixa perfeitamente no episódio 11 e também em toda a temporada, principalmente pelo contraste que ele coloca entre Megalo e seu antecessor.

Em Ashita no Joe, o protagonista passou toda a história indo em direção a sua própria destruição, nunca pedindo ajuda ou colocando o próprio bem estar à frente do ringue, e tais atitudes o consolidaram como um personagem trágico e também como um dos maiores ícones da indústria dos animes e mangás.

Já em Megalo Box 2 esses valores são confrontados, como vimos por diversas ocasiões, a história critica o egoísmo e a aversão de Joe em compartilhar suas razões e emoções, o que acabou por destruir sua família e o tornar um viciado em analgésicos, pois para ele, era mais fácil viver com a dor do que ousar compartilhá-la

Contudo, nesse episódio vimos Joe finalmente pedindo a opinião daqueles a sua volta, além de ser honesto sobre sua vontade de enfrentar o Mac. Isso gerou não só um melhor entendimento entre todas as partes, mas também uma melhora na vida de Sachio, que voltou a estudar mecânica, e de Yuri, que ao ter feito o mesmo episódio passado resolveu ajudar seu antigo rival a pedido de Liu.

 

 

O arco de Joe nesse episódio e a forma como foi colocado em contraste com a progressiva tragédia que é a vida de Mac proporcionaram ainda mais comentários e observações interessantes sobre a questão do legado.

Enquanto nosso protagonista afirmou que o “ Gearless Joe” não é algo que pertence a ele, mas sim um símbolo para todos se inspirarem, Mac foi colocado como objeto, não só para a Rosco, que não possui qualquer preocupação real com seu bem-estar, mas também por sua esposa, que o tornou um rato de laboratório em prol de outra pessoa.

 

 

Enquanto a questão da masculinidade tóxica é uma tentativa de se contestar os temas de Ashita, tudo que envolve Mac é um resgate de um dos temas principais do clássico dos anos 60: A luta de classes e a desvalorização da vida do boxeador em prol dos empresários.

O heroísmo de Mac o tornou um símbolo vazio, alguém que só existe como peça de marketing, para manipular os mais fracos e conseguir lucro. Da até para fazer correlações entre o personagem e alguns dos rivais do Joe original, em particular Wolf Kanagushi, que era vendido como o próximo campeão mundial até ter seu maxilar quebrado e ser jogado na rua, a mercê de uma vida de crimes.

 

 

O fato dessa temporada não ser apenas uma celebração de Ashita no Joe, como foi a primeira, ou uma tentativa de desconstrução, mas uma adaptação que visa transportar o espírito de um grande clássico de maneira que a audiência moderna possa aproveitar, é a maior prova do carinho posto nessa obra.

Isso junto do trabalho de escrita e direção que mostrou grandes auges nesse episódio, como a cena final onde Mac cai de joelhos em terror por sua condição, com diversos pôsteres de si mesmo como herói no fundo, e o aumento da tensão entre Shirato e Rosco, além do excelente uso da trilha sonora e direção de som. Esses e outros fatores tornam Megalo Box 2 um deleite não só para os fãs de Ashita no Joe, mas também para amantes de boas histórias em geral.

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