As jornadas pessoais de Angelo e Nero chegaram ao fim. Embora tenham caminhado lado a lado boa parte dos últimos 91 dias, seus caminhos e objetivos eram diferentes. Ou não eram? E o final ainda por cima foi ambíguo!

Ou não foi? Confesso que ao terminar de assistir o episódio final eu me senti inquieto, insatisfeito mesmo. Como assim? O que tinha acabado de acontecer? Mesmo assim eu tinha a sensação de que tinha assistido algo incrível. Ser incrível e deixar insatisfeito ao mesmo tempo?

Precisei refletir bastante tempo e até mesmo ler algumas outras análises por aí – de gente que gostou a gente que achou uma grande porcaria. Se eu não tivesse contado as cinco estrelas já denunciariam que estou entre os que gostaram, mas ao invés de dizer porque eu gostei, o que acho inútil a essa altura com o anime já terminado, utilizo esse artigo final para descrever o que eu entendi de 91 Days.

Começo caracterizando 91 Days. O anime não é ambientado no período histórico conhecido como Era da Proibição nos EUA. Digo, é, mas não é tanto um anime histórico quanto é uma homenagem ao gênero de ficção de máfia. Isso fica claro desde o logotipo, claramente baseado no de O Poderoso Chefão. Seus ambientes, sua história e seus personagens são todos homenagens ao gênero. Como filmes de máfia não se limitam a filmes sobre o Al Capone, o poderoso gângster real da Era da Proibição, 91 Days acaba sendo um pastiche que pode tanto incomodar quanto agradar os mais versados no gênero. Mas 91 Days não é um anime sobre a máfia.

91 Days é uma história sobre como seu protagonista, Angelo, e seu deuteragonista, Nero, buscam a paz pessoal. O evento que iniciou a jornada de ambos foi o mesmo: a chacina da família Lagusa pelos Vanetti, do qual Nero participou e Angelo escapou. Angelo ficou traumatizado por razões óbvias. Menos óbvio é Nero mas ele já havia tocado no assunto antes. Aquele foi o primeiro “serviço” do Nero, e ele não achou bonito o que viu, não gostou do que participou. Fosse apenas isso e talvez ele tivesse apenas desistido de se tornar um mafioso, mas havia mais: Vincent, seu pai, fez o que fez para proteger a família. Testa Lagusa era seu melhor amigo! Mas para proteger sua família Vincent o matou. Se isso sozinho não tiver sido suficiente para deixar Nero com peso na consciência, tem mais: Angelo escapou com vida por covardia do Nero.

Essa é a história deles. E esse foi o começo do fim.

Essa é a história deles. E esse foi o começo do fim.

Não foi porque Nero “não quis” matar, como ele disse antes. Foi porque ele teve medo. Ele não sabia se devia fazer aquilo, ele estava confuso, então fechou os olhos e deixou para a sorte decidir. E a decisão do destino é aquela que já sabemos. Vincent matou o próprio melhor amigo para proteger a família e Nero não teve coragem de matar um garoto que ele nem conhecia (talvez conhecesse de vista, quem sabe). Essa culpa perseguiu Nero e para encontrar a paz ele passou a não se importar mais, tudo fez que fosse para “proteger a família”, dali por diante. Curioso descobrir que até mesmo Vincent carregou o fardo da culpa até o final de sua vida e, nos braços do filho, só pôde lamentar a inutilidade de sua escolha. “Foi tudo em vão!”

De certa forma, Nero nunca mais abriu os olhos desde aquele dia. Angelo, por sua vez, profundamente pesaroso com a perda trágica e traumática de toda a família (no dia de seu aniversário, não menos!), fugiu para a floresta e de lá nunca mais saiu, até que recebeu a carta anônima de Ganzo: então ele voltou para casa enfrentar seus algozes. Nero tinha certeza que encontraria a paz se dedicando a proteger a sua família, como seu pai sempre fez. E Angelo tinha certeza que encontraria a paz se vingando dos carrascos de sua família. Cada um deles buscava a paz a seu modo, cada um deles nunca mais saiu daquela fatídica noite de abril, sete anos atrás. E os dois estavam errados.

Para proteger sua família Nero matou seu irmão, Frate, forçado que foi a tanto por Angelo. Para obter sua vingança Angelo matou seu irmão, Corteo, forçado que foi a tanto por Nero. A situação parece mais paradoxal no caso do Nero, mas é idêntica em ambos. Acompanhe meu raciocínio: Nero e Frate eram irmãos de sangue que no entanto haviam se afastado conforme cresceram. Nero guardava no coração a lembrança de quando Frate era bem criança e se divertia com os truques de malabarismo que ele fazia. No final os dois tinham ideias bem diferentes sobre o que era preciso para proteger a família e Frate teria matado Nero para tanto se pudesse. A relação entre Angelo e Corteo é como expliquei no artigo anterior, mas faço um resumo: Eles não eram irmãos de sangue mas se consideravam mais do que irmãos de verdade. Corteo morreu para salvar Angelo, e Angelo arriscou a vida consecutivas vezes para salvar Corteo.

Cito o assassinato dos respectivos irmãos como metáfora para tudo o que Nero e Angelo perderam, que foi mais, muito mais do que isso. Os dois podem ter perdido a vida no final das contas. Mas na última viagem que fizeram, os dois, que deveriam se odiar, e em algum canto do coração certamente se odiavam, concluíram suas jornadas e encontraram, enfim, a paz que tanto procuraram. Angelo se desapegou da vingança depois de reconhecer o quão fútil ela foi e aceitar que ele só não matou Nero porque não quis. Traduzindo: porque gostava dele. Ele conseguiu gostar de alguém que destruiu sua vida e perceber isso o libertou. Ele saiu da floresta, saiu da casa, saiu daquela noite interminável, e caminhou pela areia da praia em um dia de sol. Nero, por sua vez, finalmente abriu os olhos: que família? A única pessoa que lhe restava era Angelo, e a despeito dele ter motivos para odiá-lo, gostava dele. O sorriso em seu rosto e a lata que levou como memória no banco do passageiro provam isso.

Ele disparou sim. Matou Angelo? Tanto faz. Àquela altura os dois já haviam encontrado a paz, os dois eram perseguidos pelos Galassia e a chance de acabarem mortos era grande de qualquer jeito. Fora isso, apesar de tudo, permanecia o fato de que Angelo quis morrer. Tomar um tiro nas costas naquele momento, da última pessoa que lhe era importante, poderia ser o último desejo de Angelo e um ato de misericórdia de Nero. Se Angelo tiver sobrevivido, por outro lado, foi o sinal de Nero de que tudo era passado. Eles se separavam ali, mas Angelo poderia viver. Deveria viver. Foi o que ele havia acabado de dizer, não é? De um jeito ou de outro eles não poderiam mesmo continuar juntos ou o ódio que sentiam um pelo outro poderia perturbar a paz que finalmente encontraram.

Mesmo que a água vá eventualmente apagar os rastros de nossa existência, devemos continuar caminhando em frente

Mesmo que a água vá eventualmente apagar os rastros de nossa existência, devemos continuar caminhando em frente

  1. Este anime para mim é um dos melhores animes do ano estes dois últimos episódios foram muito bons. O episódio 11 para mim foi o melhor episódio do anime inteiro, nele veio-se a descobrir algumas coisas bem interessantes. O Vicent não era assim tão mau como parecia, ele até ao final da sua vida carregou o fardo de ter matado o seu melhor amigo, neste caso o pai do Angelo. Nunca num anime vi um titulo tão acertado como este episódio 11 de 91Days, “Foi tudo em vão” o próprio pai do Nero o admitiu, tanto esforço para manter os Vannetis seguros e em uns instantes está tudo perdido. O Angelo neste episódio esteve demais, tudo correu conforme os seus planos, mesmo quando tudo parecia que ia correr mal, quando ele foi apanhado em flagrante a matar Del Toro pelo Barbero. O Angelo depois que matou o seu irmão estava mais do que na cara que ele ia ficar ainda com mais ódio dos Vannetis. Durante o interrogatório do Barbero o Angelo mais um pouco ainda ria na cara dele, afinal ele já não tinha mais nada a perder, mesmo a ser torturado nunca perdeu a posse. Como que raios nunca ninguém desconfiou do Ganzo, estava mais do que na cara que ele não era flor que se cheirasse ele queria o controlo da família para si, eu percebi melhor isso naquela cena do episódio 11, onde o Vincent já debilitado fala orgulhosamente do seu teatro e o Ganzo diz de mau modo que o Vincent não se calava com o raio do Teatro. Agora a cena que para mim merecia nota 5, quando o Angelo bate na porta do camarote vip, do Vincent e do Don Gallasia a dizer que eles tinham que sair dali, estava mais do que na cara as más intenções do Angelo. Aquela parte em que o Angelo confronta o Vincent até me deu um arrepio de tão bem feita que estava, Vincent nunca na vida ia imaginar que o filho do seu melhor amigo Lagusa estaria vivo e em principio estava ali para o matar, até que o Angelo dispara com caprichos de malvadez no Don Gallasia, para o Angelo não bastava matar o Nero e o Vincent ele tinha que destruir de raiz os Vannetis, no preciso momento que Angelo disparou contra o Don Gallasia os Vannetis tinham os dias contados. Aquela cena em que o Ganzo é cravado de tiros foi muito satisfatória, ele teve o carma que merecia. Ao fim ao cabo tive um pouco de pena do velho Vincent ele acabou por morrer cheio de arrependimentos e a sua família que ele tanto se esforçou para manter a salvo a ser destruida, aquela última cena dele com o seu filho Nero foi muito triste.
    Quanto ao episódio 12 não tenho muito a dizer, tu já referiste quase tudo no artigo. Eu tive pena dos subordinados do Nero todos morreram a combater os Gallasias, se bem que desde o inicio estavam em desvantagem numérica, até o pobre Tigre que se tinha aguentado até ao final do episódio 11 morreu a atrasar os inimigos para que os seus companheiros pudessem fugir porem sem sucesso, todos eles morreram e assim a família Vanneti foi quase exterminada. Este episódio teve bastantes momentos reflectivos, mas aquele que mais gostei foi aquele em que o Nero discute com o Angelo no meio de uma mata e ele questiona o porque de o Angelo ter feito aquilo, até que o Angelo grita para o Nero, o porque de o Nero não o ter matado naquela noite fatídica de 7 anos atrás assim tinha acabado logo com o sofrimento do Angelo e o Nero tem um flashback dessa mesma noite, onde não foi capaz de o Angelo, achei uma cena bem feita.
    Quanto ao final gostei, mesmo o Angelo ter morrido ou não, o anime para mim acabou bem. o Angelo encontrou a paz que tanto ansiava e o Nero em principio também encontrou a sua paz. Aquela cena em que o Nero se vai embora da praia no carro e olha para o lado e vê a lata do ananás enlatado e sorri, pode ser um indicativo que não matou o Angelo ou então que já não tinha mais ressentimentos. Se bem com a perseguição dos Gallasias o Nero e o Angelo continuassem juntos era bem provável que eles fossem mortos. Afinal o Angelo apegou-se ao Nero, já que naquela cena da praia ele próprio diz para o Nero que só não o matou porque não quis. Aquele encerramento dos créditos até foi bem eficaz a deixar a dúvida se o Angelo morreu ou não, já que o mar foi apagando o seu rasto, mas eu acho que o Nero matou o Angelo, este mesmo que sobrevivesse ele era uma casca vazia, já não tinha nada para proteger ou se apegar, se o Nero o matou, foi apenas para livrar o Angelo da sua miséria.
    Em suma gostei muito deste anime, tirando a animação, tudo o resto foi bom, história, argumento, banda sonora que é aquilo que eu mais destaco neste anime e grande detalhe nos cenários e armas.
    Como sempre um excelente artigo Fábio, os artigos de 91Days vão deixar saudades.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      É verdade, se vamos criticar algo, comecemos pela animação, hehe. Nos close-ups e quadros mais fechados em geral ela vai bem, mas nos quadros amplos e à distância é tudo bem porco. Técnica por técnica, isso é compensado pela excelente trilha sonora.

      Foi tudo em vão, disse Vincent. Foi tudo em vão, disse Angelo também! Nero não estava tão furioso com a morte de toda sua família quanto estava com o Angelo por dizer que eles tinham morrido em vão. A viagem dos dois poderia ter acabado ali, mas pela primeira vez Angelo mostrou fraqueza genuína, chorou, e Nero o entendeu.

      Duas almas perdidas em uma noite escura correndo com convicção em direção ao abismo, isso é 91 Days. No último instante enxergaram a luz. Se conseguiram evitar a queda eu não sei, e nem importa.

      E se destaque o episódio 11 pelas melhores cenas de guerra mafiosa do anime inteiro, hehe. O Del Toro mostrando porque se chamava “Toro” foi um espetáculo à parte.

      Obrigado pela visita e pelo comentário! Mais um anime que se vai! Logo acabo todos! =)

      • O Del Toro era uma fortaleza ambulante para deitar o homem a baixo foram preciso 3 homens, aquela cena em que ele quebra o pescoço de um dos homens que o queriam matar impôs respeito. Realmente o episódio 11 teve as melhores cenas de guerra mafiosa, os Vannetis nem tiveram hipótese contra os Gallasias, o que um pistola pode fazer contra um metralhadora Tommy, os homens dos Vannetis estavam muito mal armados, como o Vincent permitiu que os Gallasias tivessem mais homens que ele no seu próprio teatro. Agora só me falta comentar os teus últimos artigos de Amanchu.

      • Fábio "Mexicano" Godoy

        Bom, certamente a Família Galassia era maior e mais poderosa, não teriam aceito estar lá em outras condições. O Vincent só queria paz. Era para tudo dar certo. Mas um garoto que havia fugido no passado estava lá, convocado que foi por um traidor.

      • Aquele Ganzo na minha sincera opinião era o mais podre daquilo tudo, não lhe bastava pertencer à família ele queria tudo, posso mesmo afirmar que ele era pior que o Angelo. Mas aquele final dele foi muito satisfatório, nada correu como ele quis. O Vincent pobre coitado morreu, peço desculpa a expressão na merda, tanto trabalho para salvaguardar a sua família de ser engolida pelos Gallasias para que no final ter sido tudo em vão, ainda por cima morrer no seu tão amado teatro, um dos cenários que mais gostei no anime.

      • Fábio "Mexicano" Godoy

        Já era esperado que tudo fosse acabar no teatro, mas quem esperaria que teríamos pena do Vincent no final, não é? Ver o Ganzo assistir atônito seus planos fracassarem bem diante de seus olhos quase compensou por isso.

      • Aquela carinha do Ganzo antes de morrer para mim não teve preço, ele colheu o que plantou. Quanto ao Vincent eu tive pena o velho era mais do que certo que ia morrer, mas ao menos fosse uma morte tranquila, já que ele estava debilitado, nesta parte destaco o excelente trabalho do seyuu dele aquela voz debilitada foi muito bem feita. De todos aquele que teve a morte mais limpa e rápida foi o Barbero que levou um tiro na cabeça pelo Ganzo, se bem que o Barbero já se estava a tornar um personagem inconveniente,

      • Fábio "Mexicano" Godoy

        O Barbero era inconveniente, chato, irritante, e a gente sabe que ele era tudo isso porque antes de tudo sentia inveja da posição que o Angelo galgou tão rápido ao lado do Nero. Só não sabemos o quanto dessa inveja era por afeto e o quanto era por interesse, né? Mesmo assim dava um pouco de pena dele porque bom, ele estava certo o tempo todo enquanto parecia apenas um lunático histérico aos olhos dos outros.

      • Aliás o Barbero com aqueles óculos parecia um lunático como tu bem disseste. Eu acho que ele era realmente amigo do Nero, ele preocupa-se com ele, claro que ele também devia ter o seu interesse nos negócios. Estava na cara que ele nunca tinha ido com a cara do Angelo, então quando o Nero se tornou Don e escolheu o Angelo para ser o seu braço direito ele certamente ficou com inveja. Ele quase conseguiu desmascarar o Angelo se não tivesse levado um tiro na cabeça.

      • Fábio "Mexicano" Godoy

        Ele conseguiu, apenas foi tarde demais. Até porque ele estava tão preocupado com o traidor que veio de fora que jamais percebeu o traidor que havia no seio da família. Quando ele mandou chamar o Ganzo eu já soube que ele estava acabado.

  2. De certo modo ainda me sinto insatisfeita com o final em aberto porque de qualquer forma o Angelo queria vingança contra o Nero e achei um pouco injusto no final aquele que busca a vingança morrer por aquele que nós esperamos o anime inteiro morrer, esperamos ver como Angelo ia matar Nero e no final Nero mata Angelo isso me deixa bem insatisfeita de certo modo se os dois ficassem vivos já faria desse final, um final mas satisfatório.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Em briga de bandidos, não faz sentido falar em “justiça”, hehe. Depois de tudo o que sacrificou para chegar até ali o Angelo não seria feliz se continuasse vivendo. O Nero, por outro lado, embora estivesse presente ao massacre da família do Angelo, não derramou sangue. O próprio Angelo só sobreviveu para poder se vingar um dia porque Nero não atirou nele.

      Tudo terminou com uma bagunça enorme, e sequer sabemos direito se o pai do Angelo era um traidor e merecia morrer (“merecer” na lei do crime, claro), porque o pai do Nero tomou o poder, todas essas coisas. Quero dizer, foi tudo contado muito por cima, quem será que realmente estava com a razão? A gente nunca vai saber. Mas a gente sabe que uma máfia chefiada por Nero e Angelo teria sido incrível.

      Injustiça do destino, se quiser. E 91 Days se tornou o que desde o começo estava destinado a ser: uma anedota de alerta sobre como a vingança é fútil e contraproducente.

      Obrigado pela visita e pelo comentário! =)

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