Quando eu assistia Death Parade eu estava tão revoltado com o desperdício de enredo que eram todas as considerações e revelações sobre o além-morte onde as pessoas são julgadas que me limitei a dizer que a cena de patinação da Chiyuki foi bonita. Oh, foi bonita sim! Mas foi bem mais do que isso. Antes de começar, recomendo que assista o vídeo da cena inteira.

Patinadora artística durante toda sua vida, Chiyuki amava aquilo. A felicidade visível na cena e em flashbacks era genuína: ela não conhecia ou reconhecia outras felicidades que não fossem a patinação artística ou estivessem ligadas ao esporte. O presente que ganha é um novo par de patins. O homem com quem sai é seu treinador (ou assim eu entendi, o rosto dele nunca aparece então não se pode ter certeza). Suas amigas são todas amigas de patins. Tanto era o patins a sua vida que foi enquanto patinava que ela viu toda sua vida passar diante de seus olhos. Ela derramou sua vida na patinação.

Mas antes que pudesse perceber tudo havia acabado. Ela nunca mais patinaria. Estava viva, sim, mas desconectada para sempre daquela única coisa que a fazia feliz. Que a fazia se sentir viva. Massacrada pelo vazio existencial, desesperada por reunir corpo e alma, ela se suicida. Sua alma sem patins estava morta, e o que ela fez foi levar seu corpo ao encontro dela, já que reviver a alma não era possível.

A Chiyuki é um caso extremo, mas não tão incomum assim, de pessoa que coloca todo o significado de sua vida em uma coisa só. No mundo real, isso é algo comum em esportistas e alguns artistas, mas pode acontecer com qualquer pessoa. O que dá sentido à sua vida? É uma atividade? Um hobby? Um lugar? Uma pessoa? E se você perdesse isso da noite para o dia, como reagiria?