E foi esse episódio. Desculpe se te decepcionei, mas esse episódio me decepcionou e fiquei com vontade de dividir meus sentimentos. É o que eu faço nesses artigos afinal de contas, não é? Mas é interessante como decepção é algo relativo. Esse episódio foi bom, eu gostei do que vi ali. Só não gostei tanto assim, só não era o que eu esperava dados os episódios anteriores. Eu sabia que voltaria para o presente, isso é certo, mas não esperava que fosse de forma tão brusca.

Bom, não importa. Com ou sem esse episódio Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu é o melhor anime da temporada de janeiro de 2016 na minha opinião.

Mas bem que eu queria ter visto um pouco de como lidaram com a morte do Sukeroku e da Miyokichi. Pelo menos uma cena de funeral para eu me sentir emotivo, sei lá. Eu queria ter visto a Konatsu. Como ela reagiu quando soube, em que momento e com qual raciocínio passou a culpar o Yakumo, e como ele reagiu às acusações dela. Não há nenhuma cena imediatamente após a morte dos dois, não há um desfecho, não há um primeiro choque entre Konatsu e Yakumo.

Como eu queria saber mais sobre essa garotinha triste...

Como eu queria saber mais sobre essa garotinha triste…

Mas não é como se não houvesse nada. Há sim flashbacks que mostram a fumaça do crematório e uma breve cena pós-funeral, quando o Yakumo já havia assumido a guarda da Konatsu e eles discutem sobre ir para Tóquio. A garota estava compreensivelmente zangada com o Yakumo, culpando-o pelo que aconteceu aos seus pais. Essa já era a mentalidade da Konatsu adulta, eu realmente gostaria de ter visto a transição. Pior: como bem lembrado em um comentário no artigo sobre o episódio 12 no Not Loli (e como é triste precisar clicar em “artigos mais antigos” para chegar a Rakugo Shinjuu agora, hehe, será que a Chell vai escrever sobre algum anime dessa temporada?), tudo o que o anime mostrou, ou pelo menos tudo sobre o passado, é apenas o Yakumo do presente contando uma história.

Um último encontro etéreo

Um último encontro etéreo

Fatos podem ter sido modificados, removidos ou embelezados, tanto por vieses cognitivos que podem ter se formado na mente do Yakumo como mecanismo de defesa (ou de culpa, ou de qualquer outro motivo psicológico) quanto pela própria habilidade dele como um contador de histórias. A versão da Konatsu para a morte do pai, que apareceu no primeiro episódio muito brevemente e pouco inteligível, parecia bastante diferente da contada pelo anime – pelo Yakumo. E a garota também está sujeita à vieses, potencializados no caso dela por ser ainda muito nova quando tudo aconteceu.

Como resultado dessas distorções nas memórias e à ausência de detalhes fornecidos pelo anime, essa fase para mim interessantíssima do início do convívio entre Yakumo e Konatsu ficou muito pouco explorada e incompreendida. Eu gosto de imaginar que o Yakumo nutre carinho pela Konatsu, como a filha de seus dois grandes amores – o seu amor romântico e seu amor fraterno. De fato, em uma das cenas o Yakumo conversa brevemente com a garota apenas para dizê-la que pare de praticar rakugo, e ela primeiro o insulta e depois o ameaça de morte, e ele por sua vez identificou com sucesso o Sukeroku no insulto e a Miyokichi na ameaça – ou pelo menos essa é a minha interpretação, já que é a Konatsu que diz com quem aprendeu a falar uma coisa e a outra. Tendo convivido por tanto tempo com os dois, gosto de pensar que o Yakumo identificou até o tom de voz e as palavras exatas de Sukeroku e Miyokichi na boca da garotinha.

E também gosto de imaginar o contrário: apesar de tudo, a Konatsu também tem algum carinho pelo Yakumo. Senão, por que razão continuaria vivendo com ele até depois de adulta? Nesse episódio é revelado que ela chegou a se mudar, mas aposto que poderia ter se mudado antes. Ela já parecia suficientemente adulta quando o Yotaro chegou, no primeiro episódio. Talvez ela não quisesse deixar o Yakumo sozinho? Claro que ela vivia dizendo que queria se vingar, matá-lo e coisa e tal, mas é lógico que isso não é sério. Quero dizer, oportunidades com certeza não faltaram para transformar as ameaças em ações. E no final, nesse episódio, ela retorna para a casa dele, depois de engravidar. Ele não protestou que ela tenha engravidado (embora ser mãe solteira fosse e, creio, ainda é um tabu na sociedade japonesa), quem fez isso foi o Matsuda mas o Yakumo não pareceu ter levado a sério, ele simplesmente aceitou que ela tenha engravidado e aceitou que ela tenha voltado. Talvez ele tenha mudado de abordagem depois de perder Sukeroku e Miyokichi exatamente por não poder apenas aceitar as escolhas deles, por ruins que fossem?

Konatsu e Yotaro se dão bem, como "irmãos"

Konatsu e Yotaro se dão bem, como “irmãos”

Independente de toda essa divagação sobre o relacionamento entre Yakumo e Konatsu, me incomoda o tratamento que a história dá a ela no final. Ela foi trabalhar com o quê? Ela sempre trabalhou? O que mais ela gostava de fazer? O que mais ela fazia da vida, gostando ou não? Como era um dia típico da Konatsu, com quais tipos de pessoas ela se relacionava? No final ela apenas engravidou de qualquer um, e com o objetivo declarado de gerar um Sukeroku. Se nascer uma garota, ela faz o quê? Eu sei que não será o caso porque isso é ficção e se a autora quiser nasce um cabrito montês (e porque apareceu na prévia da próxima temporada, no final), mas em uma história onde os personagens são a força-motriz central da narrativa, seus anseios, sentimentos, medos e alegrias, a Konatsu pareceu bastante rasa no final. E ela é tão interessante, tão mais interessante que o ex-gângster engraçadão que aleatoriamente quis ser um contador de histórias porque riu pra caramba com uma apresentação do Yakumo na cadeia e decidiu ser seu pupilo.

Yotaro Sukeroku soa bem?

Yotaro Sukeroku soa bem?

Mas a segunda temporada vai ser a história dele, o Yotaro. Eu me interesso por ele sim, mas não é tudo isso não. Nem vi como foi o treinamento dele. Só sei que ele parece ser uma pessoa tão simpática que barbeiros e sei lá mais quem estão todos super felizes por ele ser promovido e oficialmente deixar de ser um aprendiz. Todo mundo já sabe e está feliz pelo Yotaro, e está festejando com o Yotaro, embora ainda devesse ser um segredo. Ele é um cara legal e querido assim. Mas não tem profundidade nenhuma, e esse Yotaro quer ser um Sukeroku, e até aí tudo bem, ele foi construído para isso desde que apareceu no primeiro episódio, mas ele precisava além de tudo pedir a Konatsu em casamento? Eu meio que enxergava os dois formando um casal no primeiro episódio, mas agora a Konatsu está em um nível totalmente diferente dele. Se ela apenas se tornar a-esposa-do-protagonista na próxima temporada vou ficar muito frustrado. Enfim, esse episódio foi bom, deu muito o que pensar, mas empalidece na comparação com os anteriores. De um jeito ou de outro, melhor anime da temporada, e forte concorrente a melhor do ano.

Até a próxima temporada!

Até a próxima temporada!

  1. Excelente matéria (como sempre) Fábio, este anime foi o meu favorito na temporada passada, animação quase suprema em relação a outros animes da mesma temporada (repare-se no esforço do estúdio Deen na animação do ambiente e dos personagens mesmo com verba limitada), personagens bons e quando digo bons, são mesmo bons, com histórias que retratam a vida das pessoas que viveram naquela época. Já para não dizer que este anime tinha dubladores de topo ( por exemplo no Yotaro foi dublado pelo mesmo seyuu de Gilgamesh de Fate (O rei dos Reis) entre outros que fizeram um excelente trabalho neste anime (arrisco-me a dizer que em termos de esforço dos seyuus este anime foi o mais exigente da temporada passada).
    Quanto à história em si, eu gostei muito, principalmente na parte do percurso de vida do Yakumo desde a sua juventude até à fase adulta (aposto que muita gente, ficou a pensar, na parte em que o Yakumo se lesiona no treino de dança das geishas (sim sempre existiram geishas homens, se havia mulheres geishas para satisfazer as necessidades dos homens, porque não haver homens geishas para satisfazer as mulheres (Japão sendo liberal, desde os tempos imemoriais), de ressaltar a excelente ambientação ao longo da trama, os dramas da guerra, a fase do declínio do rakugo, os dramas da vida dos personagens, principalmente da Miyokichi que no inicio eu tinha esperança que ficasse com o Yakumo (houve uma altura, em que pensei que ele fosse gay, por rejeitar o contacto com mulheres, mas depois percebi que ele só tinha interesse em aplicar-se no Rakugo) mas a Miyokichi de todos os personagens pareceu-me que tinha uma vida mais difícil, ser aprendiz de geisha, depois ser geisha e a única coisa que ela sabia fazer era isso confirmou-se com o avançar da trama, mas houve uma coisa que me deixou a pensar, as geishas muito raramente engravidavam (mesmo dormindo com muitos homens) elas tomavam um chá com uma planta que servia como anticoncepcional (muito antes do ocidente ter inventado a pílula), eu acho que ela engravidou do Sukerou de propósito só para para o forçar a fugir com ela, só mesmo para afectar o Yakumo, já que ele não a quis, ela para se vingar arrancou-lhe o seu melhor amigo (ou irmão), o que foi um grande golpe para o Yakumo.
    Quem não gostou a Konatsu em adulta, quanto mais em criança, para mim a minha personagem favorita, carácter forte, personalidade forte, independente etc, ressalve-se as excelentes dubladoras das duas fases da vida da Konatsu (gostei bastante da voz da pequena Konatsu, parecia mesmo uma criança a falar) e a voz da Konatsu um pouco mais grossa mas também muito boa. Eu pessoalmente acho que a Konatsu não odeia assim tanto o Yakumo (já quando ela era criança já sabia que a mãe dela não era grande coisa) e que o pai só sabia fazer rakugo, e para mim o maior rancor da Konatsu com o Yakumo é que este não lhe salvou o pai (já que ela não gostava da mãe) mas isto nota-se mais nem é na versão do anime da tv mas sim nos OVAS que saíram com o mangá, numa cena onde o Yakumo e Konatsu estão a falar sobre o rakugo e o Yakumo diz à Konatsu para deixar de fazer rakugo e depois o Yakumo começa a recitar nozarashi e a Konatsu entra numa espiral emocional e começa a chorar.
    Boa continuação na tua escritura de novas matérias (qualquer dia já podes lançar um livro, Como aprender a fazer críticas construtivas sobre animes, este seria um bom titulo para o teu primeiro livro).

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Obrigado pela visita e pelo comentário!

      Quanto à tua análise de Rakugo Shinjuu, não tenho o que acrescentar. Concordo com tudo, como meus artigos aqui publicados não me deixam mentir =)

      Muito obrigado pelos elogios pessoais, mas livro? Não sei se sirvo pra isso não, hahaha! Volte sempre, a cobertura da nova temporada mal começou!

  2. Que anime incrível! Fazia tempo que eu ficava tão ansiosa esperando pelo próximo ep. Sobre a próxima temporada, o que eu posso dizer é que te prepara que vem coisa boa por aí, digo isso depois de tomar um belo spoiler no tumblr que me deixou completamente chocada! kkkkkk Quanto ao Yotaro, ele é um bobalhão mesmo mas o passado criminoso dele poderia lhe adicionar uma maior complexidade. Ele é um cara super simpático mas já foi um bandido e ninguém sabe muito bem o que ele aprontou nesse tempo ou o motivo de ter sido preso. Ñ sei se a autora vai por esse caminho mas acho que seria interessante. E sobre a Konatsu, eu só espero que ela ñ vire apenas uma esposa bela, recatada e do lar… é tudo que eu peço! rs

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      HAHAHA, bela, recatada e do lar =D Vejo que meu artigo e seu comentário vieram com um bom timing, hein? =D Mas é isso mesmo, eu ficaria MUITO frustrado se a Konatsu fosse reduzida à “filha do Sukeroku, mãe do neto do Sukeroku e esposa do Yotaro”.

      Mas espero que a próxima temporada seja muito boa sim, Rakugo Shinjuu merece =)

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