Tsuki to Laika to Nosferatu (Irina: The Vampire Cosmonaut) é um anime com uma sinopse no mínimo estranha, mas que executa sua história com seriedade o suficiente para fazer com que o público tema pelos protagonistas. Mas o final compensa o investimento emocional e de tempo?

Vou falar sobre tudo aqui nesta resenha, fique comigo e aperte o sinto, pois a viagem é para fora do planeta, mais exatamente pela atmosfera da Terra, junto de uma vampira (mesma voz da Rei de EVA), um idealista (realista), uma cientista louca (com a cabeça no lugar) e russos (de araque).

Em Laika o que vemos é uma corrida espacial sob o ponto de vista russo, diferente do mais comum, que é explorar o ponto de vista americano, não à toa os protagonistas, a vampira Irina e o militar Lev, são “cosmonautas”, como se fala na Rússia, não “astronautas”, como é nos EUA.

Antes de mais nada, sim, a heroína é uma vampira, sendo que nesse mundo os vampiros são uma espécie de minoria étnica sobre a qual paira forte preconceito (ao menos no equivalente a Rússia no anime). Há também dampiros, mestiços com humanos, mas pouco se fala sobre eles.

O grande chamativo do anime e a relação de parceria e aprendizado entre Lev e Irina, afinal, o primeiro é encarregado de treinar a segunda para ir ao espaço e com isso testar a nave a fim de aí sim promover o primeiro voo espacial da humanidade, que acaba sendo feito pelo protagonista.

Aliás, o clichê da personagem que detesta seus algozes, mas fará de tudo para derrotá-los em seu próprio joguinho, é bem explorado na figura da Irina, uma jovem que, como o Lev, sonha com o espaço, até mesmo com a lua. Assim fica ainda mais fácil torcer pela dupla, pelo “casal”.

O anime não vai tão a fundo na questão romântica, até porque tem coisas mais urgentes acontecendo o tempo todo com os protagonistas, mas faz o suficiente para que o público perceba a cumplicidade da dupla, que não demora a se entrosar e fazer amizade, muito por causa do Lev.

Mesmo sendo militar ele não engole as baboseiras do governo de seu país. Na verdade, ele sabe de todos os seus defeitos e idiossincrasias, mas não se priva do direito de soar hipócrita em troca de seu sonho, que é ir para o espaço. Aliás, acho que ele nem fazia questão de ser o “primeiro”.

Mas como a Irina vai ao espaço e ele faz uma promessa com ela, isso potencializa esse desejo. Eles treinam bastante, sofrem resistência interna do exército, trocam confidenciais e histórias de vida, até momentos inesquecíveis e sublimes, em uma relação que só cresce ao longo da trama.

Ali, de ladinho, tem a Anya, uma cientista doidinha, mas bem simpática que cuida da Irina e até faz um pouco o papel do Lev quando ele se afasta. Ela dá uma preenchida na trama quando se precisa mudar de direção, o que era inevitável a fim de dar o final que queriam para o anime.

Além dela há outros coadjuvantes úteis, como a cozinheira (que na verdade é uma agente disfarçada) e a secretária de estado (um símbolo do maior plot twist da trama). Existem figuras antagônicas que tentam sabotar e hostilizar a Irina, como é de se esperar nesse tipo de história.

Mas antes de falar da grande virada (que escancara o ponto mais frágil da trama), devo pontuar alguns belíssimos momentos de interação entre os heróis, principalmente nas datas festivas em que os dois saem, bebem, conversam, trocam confidências e fortalecem a relação.

A direção de Laika não é exatamente genial nem carecia de muitos recursos, mas ela fez um bom trabalho, principalmente nesses momentos em que um apelo mais lúdico, mais “espacial”, era necessário, o que é feito sem encobrir ou esquecer dos problemas reais que eles têm em mãos.

Outro momento adorável é quando ela precisa beber sangue para se fortalecer e toma o dele, o que pode não ter tido efeito igual ao que seria um beijo, mas para mim encantou tanto quanto ou mais que um. A conquista pessoal dela não seria possível sem o “sangue” dele.

Ao mesmo tempo, não é injusto falar que ele também só foi para o espaço por influência direta dela, afinal, tudo foi premeditado para provocar uma reviravolta social enorme, e eis o grande plot twist da obra, o qual dá uma “passada de pano” para os russos do anime? Dá sim, oh se dá.

É difícil imaginar qualquer correspondente aos russos na ficção tomando tal atitude, afinal, o reconhecimento da viagem espacial da Irina é um marco de apelo popular as minorias. Ela se torna a porta-voz de gente que costuma estar abaixo na pirâmide, e até hoje nunca saiu de lá.

Pelo menos não aos olhos de quem detém o poder, realidade que em nosso mundo muda aos poucos, não acontece de forma abrupta e até surpreendente como é no anime, ainda que vários acontecimentos que antes não tinham justificativa passem a fazer sentido com essa revelação.

Por isso essa mudança radical na trama não cai tão bem, além de que, repito, ela dá uma passada de pano na escrotice dos russos sim. É claro, a crítica é feita constantemente, e pelos dois protagonistas, mas acabar assim, com essa roupagem de conto de fadas, trabalha contra o anime.

Felizmente, se pelo aspecto de mundo Laika tem um desfecho no mínimo questionável, no que compete aos protagonistas e a relação deles, terminar com os dois em pé de igualdade, e correndo atrás de seus sonhos, é muito gratificante, mesmo sem beijo ou casal formado.

Por fim, Tsuki to Laika to Nosferatu é um anime inusitado que derrapa na forma como resolve seus problemas, mas acerta no micro, no contato humano. Ou melhor, entre um humano e uma vampira, ambos apaixonados pelo espaço e de olho na lua, ambos cosmonautas por excelência.

Até a próxima!

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