Uchi no Shishou wa Shippo ga Nai (My Master Has No Tail) é um anime do estúdio LIDENFILMS que adapta o mangá de TNSK. Segue abaixo a sinopse extraída, traduzida e adaptada do HIDIVE (o streaming oficial do anime).

 

“Ao longo das eras os tanukis, criaturas sobrenaturais que se transformam, adoravam pregar peças nos humanos. Uma sapeca tanuki, Mameda, não é diferente, mas ela tem um problema. Mameda não nasceu nos velhos tempos, mas na era moderna em que os humanos são mais sagazes. Como ela pode se dar bem se as peças que prega são coisa do passado? É ao encontrar a misteriosa Bunko, uma mestre rakugo (arte tradicional e popular de contação de histórias) que Mameda decide usar o rakugo para enfeitiçar a humanidade, mas primeiro a traiçoeira tanuki precisa convencer a excêntrica Bunko a tomá-la como sua aprendiz.”

 

Misturar garotas fofas e rakugo parece um tanto quanto estranho, mas o plus de sobrenatural (presente em ambas as protagonistas) alinha um pouco as coisas, tornando essa estreia leve e divertida, mas também cheia de nuances que evocam ao drama, por exemplo.

O plot que dá pontapé a história é simples, envolve uma tanuki jovem que tenta replicar as histórias que ouvia do pai, mas sofre com o anacronismo devido a evolução tecnológica da sociedade, que ainda se atrai pelo deslumbre do sobrenatural, mas é mais resistente a ele.

Com isso a Mameda se torna uma vítima da própria falta de bom senso, da própria inocência, o que é totalmente justificável levando em consideração que ela nunca havia saído da floresta, do convívio com os outros tanukis, até ser encarregada de uma tarefa na cidade.

Não vemos a mãe da Mameda e ela perdeu o pai, o que torna ainda mais crível seu isolamento. Ela não se sente parte do meio em que habita e por isso parte para a cidade grande, para viver as aventuras que a deslumbravam e dar vazão a natureza “serelepe” de sua espécie.

Mas é claro que não daria certo, e acho que foi muito nisso que essa estreia acertou, nas viradas de perspectiva ante o que se apresenta para a protagonista. Primeiro ela quer enganar as pessoas, mas fracassa retumbantemente e em um segundo momento muda sua abordagem.

Essa mudança de rota é impulsionada pelo rakugo, pois ao experimentar o envolvimento que essa arte provoca, a Mameda descobriu algo que ela poderia fazer e aplacaria sua solidão, sua carência, algo que transparece muito em suas ações inconsequentes e erráticas.

E quem traz o rakugo para a trama é a Bunko, que por coincidência conhece a tanuki, mas não por acaso detém seus olhos nela. Bunko também é uma entidade sobrenatural, a qual, meio que como a Mameda quer fazer, usa o rakugo para poder estar entre os humanos.

Essa estreia deu a entender que ela ama muito o rakugo e por isso se arrisca em sua posição, mas foi apenas um episódio, ainda é cedo para descartar maiores semelhanças com sua futura aprendiz, que busca algo para preencher o vazio existencial que a impulsiona.

Outra coisa que gostei muito foi do reconhecimento da Bunko sobre o que o mundo se tornou na era moderna e qual é o lugar das entidades sobrenaturais em meio a tantas mudanças, como elas podem se encaixar para sobreviver no meio de humanos cada vez mais sagazes.

Assim a gente pode observar um contraponto muito interessante e pertinente que reside na citada vontade inerte do ser humano de querer ser “enganado”, de se deslumbrar com alguma coisa que vá além do mundano. Todo mundo está enfrentando o tédio, o tempo todo.

Ao mesmo tempo em que a complexidade da existência humana a dá vantagens sobre as outras espécies com as quais ela divide o planeta, não é como se tal complexidade não trouxesse também fraquezas, sendo essa inquietude constante talvez a mais expressiva delas.

Elencar duas entidades sobrenaturais ao posto de protagonistas da trama e igualá-las em conceito ao que são os humanos que elas tanto almejam cativar tornou a história intensa e divertida nessa estreia, restando a sequência ser criativa quanto as perspectivas da trama.

Infelizmente, o pós-créditos se sabotou ao gastar muito tempo para resumir o episódio, quando é óbvio que quem chegou e permaneceu até ali já havia visto. Entretanto, é de se frisar que nos outros aspectos o anime entregou pelo menos o mínimo da qualidade e coerência.

Por fim, curti o ritmo do episódio (exceto o pós-créditos), a adaptação da heroína as adversidades e a oportunidade de vida nova que ela vislumbra no rakugo. My Master Has No Tail tem tudo para ser fofo e divertido, mas também explorar bem o drama, além da arte do rakugo.

Até a próxima!

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