Terraformars – ep 1 – Daqui a 600 anos os mesmos uniformes escolares
Desde que soube que haveria um anime de Terraformars eu decidi que o assistiria. Já sabia da existência do mangá, embora nunca o tenha lido, mas a sinopse é interessante: os seres humanos terraformaram Marte, jogando lá musgos e baratas, e quando voltaram ao planeta não mais tão vermelho para ver o resultado foram recepcionados por baratas que evoluíram em velocidade alucinante e se tornaram insetos antropomórficos que não gostam de nós. Não vou dizer que é original porque não é, a luta da humanidade contra uma espécie mais poderosa sobre a qual sabemos pouco e que são muito mais poderosos que nós é tema recorrente. Alienígena ou não vai do gosto do autor. Os mais recentes que eu assisti com essa estrutura básica foram Black Bullet, Knights of Sidonia e Nobunagun. Se quisermos exemplos extremos (e ainda recentes), temos coisas bem legais como Ataque dos Titãs e temos bombas insuportáveis como Total Eclipse. Há muitos exemplos em outras mídias também, quem quer que pense por cinco minutos vai se lembrar de vários. De novo, nada original, mas é um tema que frequentemente é divertido. E mais frequentemente ainda raso, com enredo simples e personagens ainda mais simples. Ou seja, o legal aqui é a ação e a criatividade do autor em criar um inimigo temível, as formas dele nos aniquilar e as formas de nós nos defendermos e finalmente derrotarmos ele. E será que Terraformars vai entregar isso? Vejamos.
A história começa em um ringue de lutas no submundo. Como isso não tem nada a ver com a história, é só um rodeio para apresentar Akari, o protagonista, e dois agentes suspeitos que foram até lá observá-lo. A primeira coisa que me chama atenção, no mal sentido, foi a citação a magnatas do petróleo em uma conversa dos dois agentes, conversando sobre como lugares como aquele poderiam existir. Sério que daqui a 600 anos ainda teremos magnatas do petróleo? Não duvido que os atuais magnatas não queiram abandonar suas fontes de renda assim tão fácil, nem discuto isso, o que quero dizer mesmo é: sério que daqui a 600 anos ainda existirá petróleo? E que ainda será uma opção de geração de energia tão importante assim a ponto de sustentar impérios como os de hoje? A ideia é tão maluca quanto imaginar como seria o mundo hoje se a atividade motor da economia global ainda fosse a importação de temperos da Índia. Mas divago. Akari entrou nesse torneio ilegal (acredito que seja ilegal) porque uma amiga de infância por quem ele nutre sentimentos românticos está doente e precisa de um transplante. De algum órgão, sei lá qual, nunca contam. Nos flashbacks que mostram os dois descobrimos que o mundo daqui a 600 anos está praticamente igual ao de hoje. Nada de edifícios futuristas, de veículos voadores, de urbanização insana e incompreensível aos olhos do século 21. Nada disso, o pouco que aparece parece não ter mudado nada. Até os uniformes escolares são iguais aos de hoje em dia! Parece que em 600 anos só as baratas conseguiram evoluir.
Akari vai lutar contra um … urso. Um urso pardo feroz e antropófago (com nome e sobrenome!) é o adversário do protagonista. Pelo menos ele se espantou com isso, o que significa que não deve ser normal, nem para um torneio ilegal sustentado por magnatas do petróleo 600 anos no futuro. Mas Akari não desiste! Ele tem que salvar sua quase namoradinha! Ele pula em cima do urso e tenta sufocá-lo, acho, mas não deu muito certo. Ele tomou umas patadas e perdeu. E está agora tendo suas entranhas devoradas no meio da arena, para alegria dos magnatas do petróleo. Só que ele é o protagonista, então ele não morreu. Como os flashbacks e os agentes já haviam dado a entender, Akari é algo especial. Ele vira um monstro, todas as suas feridas desaparecem automaticamente e ele derrota o urso. Foi uma droga de luta. Pior ainda porque a censura foi ridícula, literalmente a tela inteira ficava borrada. Da primeira vez achei que fosse uma tentativa de simular uma visão borrada, desaparecendo, quando Akari estava à beira da morte enquanto o urso devorava seu intestino. Mas era só censura mesmo, conforme deu para perceber quando se repetiu mais algumas vezes depois da monstrificação do protagonista.
O protagonista venceu, mas descobre que sua namoradinha foi vendida! Lição aprendida: caso precise comprar ilegalmente um órgão para sua paixonite moribunda, não a deixe aos cuidados dos bandidos com quem você negocia. Mas está tudo bem, porque quem a comprou foram os agentes, e sabemos que eles são mocinhos e que vieram chamar Akari para a grande aventura que o espera (e que eu espero também). Mas nada está bem não, porque ela morreu! Já fazem dois dias que ela morreu, e ele não sabia! E mais: a doença que ela tinha era causada por um vírus alienígena! Os agentes que fracassaram em salvar a namoradinha do protagonista perguntam se ele então não quer arriscar sua vida para salvar todas as namoradinhas doentes do mundo. Porque ele é o protagonista ele aceitou. Uma pessoa normal que acaba de sobreviver a um urso se refastelando com suas vísceras jamais aceitaria isso. Mas ele é o protagonista e isso tudo desde o começo era só para dar “profundidade” a ele e introduzí-lo na história.
Então ele acompanha os agentes (que são da U-NASA, uma versão global e pouco criativa da NASA que existe hoje) e passa por uma operação. Na verdade quando o vemos ele já foi operado e acaba de acordar após uma semana dormindo. Michelle (acho que é esse o nome), a agente loira, explica isso para ele e fica irritada quando ele se refere a ela com excesso de intimidade. Só o companheiro agente dela pode fazer isso. O protagonista é mais novo que ela então não pode, a não ser que se case com ela. Palavras dela! E ele olha os peitos dela decote adentro e ela deixa passar dessa vez, mas o ameaça para que ele nunca mais volte a olhar abaixo dos óculos dela (nada de olhar para o nariz, acredito). Zero baratas humanóides até agora. Corta para o outro agente conversando com três jovens alegres noutro canto da U-NASA. Parece que eles são mexicanos. Ou grande-mexicanos, já que se referem a seu país como Grande México. Apesar de grande, contudo, acho que o México continua sendo um país de terceiro mundo já que esses três jovens saudáveis escolhem de boa vontade se sujeitarem a uma operação na qual eles têm apenas 36% de chance de sobrevivência. São dois garotos e uma garota. A garota se chama Sheila, um dos garotos (o moreno, acho) se chama Marcus, e sei lá que raio de nome o outro tem. Em seguida aparecem mais dois personagens, um alemão que já trabalha na U-NASA e vai ser o superior direto dos grande-mexicanos, e que por ser alemão tem que ser loiro, frio, beirando a crueldade mesmo, e se chamar Adolf. Pelo menos não é Hans. Ou Chucrute. Junto com ele vem outra garota que também vai se sujeitar à operação, chamada Eva Frost. Ela está morrendo de medo, mas Sheila a anima e elas logo se tornam best friends forever. Adolf diz que provavelmente um ou dois deles vão morrer por causa da operação, mas quem ele está tentando enganar? É só o primeiro episódio, sabemos muito bem que nenhum personagem nomeado vai morrer.
Naturalmente, todos sobrevivem. Na cena seguinte vemos todos juntos (agentes, Akari, mexicanos, Hans Chucrute e Eva Frost) em um lugar sombrio. Michelle começa a explicar para os novatos a real importância da missão: eles precisam ir até Marte porque aparentemente apenas lá o vírus se reproduz. É um vírus que mata todos os que infecta mas nenhum cientista consegue reproduzí-lo em laboratório para pesquisar uma cura. Só em Marte isso seria possível. Então a missão deles é ir até Marte estudar as condições nas quais o vírus se desenvolve. Porém … baratas gigantes antropóides assassinas! Mais do que por causa da atmosfera rarefeita, é para lidar com essas baratas que todos precisam passar pela operação mortal que não matou ninguém. Elas comem pessoas? Que nada. Elas só nos esmagam para se vingar por suas parentes subdesenvolvidas que esmagamos em nossas cozinhas terrestres. Ou algo assim. Elas gostam mesmo é de comer o musgo que foi enviado para Marte junto com elas. Ou isso ou elas desenvolveram fotossíntese, porque não há mais nada o que comer naquele planeta.
Mas então eu me vi pensando: se eles precisam passar por uma operação tão arriscada para ir até Marte para estudar o ambiente no qual o vírus se desenvolve, por que eles não podem simplesmente fazer experimentos em seres humanos, aqui na Terra? Tenho certeza que o vírus se desenvolve dentro de seres humanos também, caso contrário eles não morreriam. E não é como se fosse impossível encontrar infectados que se sujeitariam a isso. Os jovens saudáveis do mundo têm 36% de chance de sobreviver a operação para ir à Marte, mas os doentes tem 0% de sobreviver à doença. Aposto que se quisessem encontrariam muitos dispostos a colaborar.
Voltando à história, agora já estão decolando. São 100 pessoas ao todo, o que garante que nossos protagonistas devem viver bastante, há bucha de canhão de sobra para o autor matar. A nave é hedionda de horrível, e decola do mesmíssimo jeito que os nossos foguetes espaciais decolam hoje. Mesmo tipo de combustível, estágios de lançamento, etc. Em 600 anos terraformamos Marte, mas nossa tecnologia aeroespacial não avançou quase nada. Nosso design aeroespacial, contudo… deixa para lá. O episódio acaba aí, com uma música de encerramento feia. Cadê aquela música legal que tocava nos trailers?
Em resumo: um episódio inteiro apresentando o cenário e os personagens. A pouca ação que teve foi ruim e severamente censurada. Espero que os combates contra as baratas (a propósito, elas são chamadas de terraformars) sejam mais legais.
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