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Você não fica às vezes com a impressão que o mundo foi feito para beneficiar os egoístas, os canalhas, os ladrões, em detrimento das boas pessoas? É quase como se tivesse sido projetado para ser assim, e em vista disso é difícil não pensar em planos maquiavélicos ou conspiracionistas para que seja assim. A boa notícia: o mundo não foi projetado para ser assim. A má notícia: ele é assim de todo jeito. Veja o caso dos egoístas por exemplo: em tudo o que envolva recursos compartilhados, os mais egoístas e preguiçosos sempre acabam levando vantagem. Ainda que não façam nada, alguém terá que fazer, afinal. Por isso esse tipo de gente não se importa em ver a louça suja empilhando na pia: eles sabem que alguém, em algum momento, vai ter que lavar tudo aquilo. E sabem também que não vai ser eles. Isso é só um pequeno exemplo do mundo real. Mundos de ficção podem ou não simular essa mecânica, e sem sombra de dúvida em Rakudai Kishi compensa muito ser uma pessoa horrível. Ou pelo menos compensa bem pouco, sendo muito mais um fardo do que um benefício, ser uma boa pessoa. Ikki vem experimentando isso repetidas vezes ao longo do anime e de sua vida, mas esse episódio deu um destaque especial a esse aspecto. Foi um bom episódio.

O Conselho Estudantil já havia feito sua sombria estreia no anime no episódio passado, e não pareciam estar planejando nada de bom para os protagonistas. Esse episódio começa com dois membros do Conselho sendo derrotados por Ikki e Stella no torneio. Ainda que eles possam ter mexido os pauzinhos por baixo dos panos para realizar essas lutas, o conjunto não pareceu especialmente desonesto. Ikki e Stella puderam se defender com o seu melhor e não foram atacados pelas costas, afinal de contas. Essa foi a única parte tranquila do episódio.

O Conselho Estudantil "coincidentemente" estava no restaurante onde Ikki foi agredido

O Conselho Estudantil “coincidentemente” estava no restaurante onde Ikki foi agredido

A maior parte dele tratou-se do Ikki lidando (ensinando) com uma terceiranista que o perseguia já há uma semana mas estava tímida demais para falar com ele. Ela queria apenas a ajuda dele para treinar. É filha de um espadachim (não mágico) famoso (bom, tão famoso quanto pessoas sem magia podem ser, suponho), que foi uma das referências para o Ikki enquanto ele treinava seu estilo de espada. O tal mestre está hospitalizado e sua filha precisa urgentemente melhorar a própria técnica, por isso recorreu ao Ikki. Ayase é seu nome. Até aqui tudo estava fácil ainda, a garota já havia decorado todo o estilo de seu pai, afinal, Ikki só precisou corrigir sua postura e ela se tornou instantaneamente muito melhor. Claro que essa correção de postura envolveu uma generosa dose de fanservice, porque anime nenhum é de ferro, né? Mas havia algo sombrio sobre a tal garota. Por que seu pai estava hospitalizado em primeiro lugar? E por que ela precisa tão desesperadamente ir ao grande torneio?

Sim, só ajudando a acertar a postura, claro

Sim, só ajudando a acertar a postura, claro

O primeiro a perceber as trevas sobre Ayase foi Alice, aquele que possui o apropriado poder de se mover pelas sombras, entre outras coisas relacionadas à sombras – incluindo um rosto sombrio boa parte do tempo, eventualmente carregando sorrisos que parecem forçados, e que estimula abertamente a irmã mais nova de Ikki a investir romanticamente sobre o irmão muito embora até as pedras do colégio já tenham percebido que há algo rolando entre Ikki e Stella (ainda que eles oficialmente não tenham assumido nada em público). Mas no começo, a única coisa mais grave a acontecer foi o esperado ciúme da Stella, coisa com a qual o Ikki soube lidar muito bem (e a Stella também, devo dizer – adoro esses dois). As coisas começaram a sair de controle quando um grupo de valentões conhecidos da Ayase a encontrou em um restaurante e o Ikki a defendeu deles, apenas para ser agredido. Foi desafiado a usar seu poder contra eles, lembrando que isso pode custar sua expulsão do colégio. E nesse momento, mais do que em qualquer outro, fica claro como a escolha mais difícil é ser correto: Ikki tomou uma garrafada na cabeça e não pôde revidar. Ele apanhou e foi humilhado, mas se tivesse dado o justo troco teria sido expulso do colégio, o que acabaria sendo muito pior. Valentões em grupo não parecem se preocupar com isso, na verdade esperam que suas vítimas não retribuam por razões dessa natureza. Assim, ser um canalha acaba sendo um comportamento recompensado.

Ayase é boa de espada, mas é péssima para se esconder

Ayase é boa de espada, mas é péssima para se esconder

A situação era ainda mais grave do que parecia, o que infelizmente diminui um pouco o peso da escolha do Ikki. Quero dizer, ele não sabia que haviam membros do Conselho Estudantil por ali, mas nós, espectadores, sabíamos. Desde o começo sabíamos que não era questão de escolha: ele seria com certeza expulso se retribuísse. Da posição dele, ele ainda não tinha como saber. Se ninguém descobrisse, ainda poderia continuar no colégio, não é mesmo? Então com isso em mente, ele foi forçado a tomar uma decisão. E tomou a decisão correta, sem saber que na verdade ele não tinha escolha. De todo modo, duvido que a presença do Conselho Estudantil ali tenha sido acidental. Se estão testando o Ikki ou armando contra ele eu ainda não sei, mas aposto na segunda alternativa.

E no final do episódio, ainda antes dos protagonistas (e de nós espectadores) descobrirem qual era o problema da Ayase com os valentões, a bomba: a próxima luta de Ikki e Ayase seria um contra o outro. Me diga: por que em um sistema de luta em chaves em que você não conhece seus próximos oponentes alguém se daria ao luxo de ajudar um possível adversário? Ikki nem pensou duas vezes antes de ajudar a Ayase. O Ikki não pensou duas vezes antes de ajudar ninguém no episódio anterior, nem nunca. De novo é a escolha correta, e é a escolha mais difícil. O episódio termina com a Ayase o chamando para uma armadilha óbvia, na qual ele escolhe cair mesmo assim. Ela exibe um sorriso um tanto maligno no rosto enquanto o recebe em sua armadilha, o que é uma pena porque torna mais fácil ao espectador aceitar a eventual e inevitável decisão do Ikki de não deixá-la ganhar. Mas ele vai até lá preocupado com ela. O Ikki é uma boa pessoa, afinal.

Não faz essa cara, Ayase...

Não faz essa cara, Ayase…

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