Bom dia!

O Café com Anime é um bate-papo descontraído sobre animes da temporada entre mim e meus colegas Vinícius, do FinisgeekisDiego, do É Só Um Desenho, e Gato de Ulthar, do Dissidência Pop.

Continue lendo para ver como foi a conversa da semana sobre o Animegataris, episódio 11!

Fábio "Mexicano":
Nossa. Ok. Animegataris é uma daquelas maluquices que aparecem uma vez por geração, se muito. Nem sei o que dizer, estou … embasbacado? Não sei. Não encontro as palavras. Comecem, por favor.
Vinícius Marino:
Animegataris virou uma mistura de O Show de Truman e Jogador No 1. Com umas pitadas de Opus do Satoshi Kon jogadas lá no final.

A questão é saber qual dessas obras ele vai seguir na sua etapa final. A Minoa tentará “escapar” do anime/restaurar a realidade? O Nakano (ou seja ele quem for) decidirá conquistar o “mundo-anime”? O cara-da-boina do final propiciará um conflito final autor versus criatura?

Diego:
Eu não posso dizer que eu não esperava as coisas chegarem a esse nível de metalinguagem, sobretudo após os últimos episódios, mas mesmo assim eu devo ter passado a maior parte do episódio de queixo caído, honestamente falando. Por sinal, alguém lembra se os atritos com o Conselho Estudantil começaram antes ou depois da porta ser aberta a primeira vez? Porque se o motivo do conflito for por conta da porta, acho que dá pra dizer que explica a sandice toda (pontos bônus se o conflito for por conta da porta e o autor por trás de tudo for um diretor ou roteirista frustrado porque não consegue escrever nada bom, pois isso sim explicaria MUITA coisa 😛)
Vinícius Marino:
Imagina se tudo fosse uma grande rixa entre o cara-da-boina e o diretor da escola? Dois ex-colegas de trabalho divididos por diferenças, tipo Miyazaki e Oshii? Imagina o potencial de referências (e meta-referências) que esse conflito traria? Este sim seria um final digno à série!
Gato de Ulthar:
E não é que Animegataris continua surpreendendo? Depois de um episódio insano tivemos isso? Por essa nem eu esperava! É o ápice da metalinguística! Confesso que senti até um pouco de medo com a tensão deste episódio, ao melhor clima anime de terror. Ficou primoroso a Minoa aos poucos ir identificando que o mundo não era bem o que ela pensava.
Vinícius Marino:
A tomada dos amigos reduzidos a rascunhos foi de aplaudir de pé. Eu sei que o anime ainda não acabou, mas acho que já posso dizer que essa foi a melhor conclusão possível à série.

Tudo – até os momentos ruins – pode ser explicado por esse twist maluco. Ao mesmo tempo, ele é coerente (e aterrorizante) o suficiente para não parecer uma solução gratuita.

Fico me perguntando se a resolução trará alguma revisão à tese que Animegataris vem empurrando até aqui: a de que animes são bons e nos fazem pessoas melhores. Será que Minoa terá de admitir que ser uma otaku fedorenta também tem seus reveses? Ou mesmo largará o anime de vez (supondo que consiga escapar da sua realidade implodida em primeiro lugar)?

Diego:
Acho que não chegará a tanto. Imagino que a mensagem final será bem o que a Minoa vem tentando dizer: anime é anime e realidade é realidade, e não se deve tentar misturar as duas coisas. Ficção é interessante porque é ficção, e trazê-la para a realidade pode ter resultados… menos que excelentes 😛
Gato de Ulthar:
Também penso assim, creio que a mensagem do anime não será tão pessimista ao ponto de simplesmente a Minoa fugir dos animes. Acho mais fácil uma mensagem dupla, expondo os lados bons e os ruins dos animes.
Fábio "Mexicano":
É a minha impressão sobre o final também, ou mais do que impressão, é a minha expectativa. Se for muito diferente disso eu não sei o que eu vou pensar a respeito.

Sobre genialidades, a melhor para mim foi ainda no começo, quando a tela começou a reduzir lentamente para a proporção 3:4, e a Minoa quase “caiu” no vazio. Eu não vi aquelas faixas se formarem, não percebi, foi muito bem feito, até porque naquele momento eu ainda não estava esperando tanta insanidade.

Diego:
O episódio inteiro foi uma mina de ouro de metalinguagem. Eu acho que adorei sobretudo as pequenas coisas, tipo a Minoa vendo os corações que saem dos pais apaixonados e as estrelas saindo da Arisu, ou então a Minoa “trombando” com as palavras de transição de cena na frente da escola.
Fábio "Mexicano":
Sim, o anime começou com esses detalhes pequenos, que poderiam passar por loucura mesmo, e teve o ponto de virada quando os demais membros do clube admitiram que estão em um anime. Aí a coisa ficou louca de verdade.

A Minoa batendo na legenda no meio da tela foi impagável também 😃

Vinícius Marino:
Confesso que achei que, no final, todos descobririam estar num anime. Mas a solução proposta foi muito mais interessante. É justamente Minoa, a “newbie”, que leva o tombo.
Fábio "Mexicano":
E se entendi o final, parece ter alguma relação de semelhança com o caso do diretor também.

O Nakano diz:

“Sem o observador (o espectador), a ordem será destruída.”

Fábio "Mexicano":
O anime fica cada vez mais insano quanto mais vezes aquela porta é aberta – o que parecia ser a “chave” para o plano do Nakano. O diretor desistiu de produzir anime por causa da reação dos fãs – os “observadores”. O anime dele era, de fato, insano. E durante esse episódio eles comentam, no clube, como os espectadores podem reagir mal à mudanças de gênero no meio da história.
Gato de Ulthar:
O engraçado é que todo mundo, tirando a Minoa, estava ciente de que aquilo era um anime e deveria trabalhar para fazer ele funcionar.

Por isso a similaridade com obras como O Show de Truman.

Vinícius Marino:
Se esse realmente for o caso, então a ação de todos – sobretudo a do Conselho Estudantil – se torna até meio trágica. Ninguém “deseja” fazer nada: apenas seguem os ditames do roteiro. O Show de Truman tem uma subtrama bem marcante em que uma das funcionárias do programa – incumbida de ser a namorada do Truman – decide se demitir, pois se apaixona de verdade por ele. Pergunto-me se teremos algum conflito moral desse tipo em Animegataris: uma personagem se rebelando contra a vontade do criador.
Gato de Ulthar:
Pena que o anime chega no fim em um momento tão promissor! Talvez ainda haja esperança com os amigos de Minoa acordando para a manipulação e se rebelando. É triste se somente a Minoa “sair da caverna”.
Diego:
Eu quero ver como o anime vai lidar com essas ideias, porque ele meio que deixou indicado que não é que os personagens estão em um anime, mas sim que o mundo dos animes está “invadindo” o mundo real através daquela porta.
Fábio "Mexicano":
Não foi o que eu entendi. Entendi que é um anime sim, só que antes eles não tinham consciência disso. Passaram a ter mais consciência e o mundo foi ficando mais maluco conforme a porta foi aberta, e depois da terceira vez que a Minoa a abriu, o anime foi “cortado” do mundo real, talvez passando a ter existência autônoma, independente dos produtores e dos espectadores.
Diego:
Mas o Neko-senpai disse que o Nakano veio “do outro lado” assim como ele. Esse último detalhe exclui que o Nakano tenha vindo do mundo real, já que não há gatos falantes por aqui. Então ele só pode ter vindo do mundo dos animes, o que coloca o mundo de animegataris como o mundo real.
Fábio "Mexicano":
Não é como se necessariamente existisse um único “mundo dos animes”, né? E sempre pode ser um pequeno furo ou imprecisão de tradução.
Vinícius Marino:
Pode ser que o Nakano seja um otaku hardcore que finalmente encontrou um portal ao mundo dos animes. Mesmo “sabendo” que nada naquilo é “real”, ele é genre savvy o suficiente para se aclimatar bem rápido.
Fábio "Mexicano":
Está com cara que alguém quer ter o “controle total do mundo”. Quem quer que seja, qualquer que seja esse mundo.
Vinícius Marino:
Eu aposto numa quebra da quarta parede, em que nós, espectadores, somos o “Observador”.
Fábio "Mexicano":
Foi a minha impressão também. Por isso não entendi como o Diego, que o mundo de Animegataris seria, originalmente, o “mundo real”.
Vinícius Marino:
Se Animegataris fosse chutar o balde de vez, eu até faria um final pseudo-interativo em que as personagens perguntariam a nós o que desejamos. Há um romance piradão chamado Special Topics in Calamity Physics que fez algo similar: ele termina com uma prova múltipla escolha no estilo vestibular, basicamente nos deixando “escolher” o final da trama.
Fábio "Mexicano":
Bom, eles podem fazer um “Você decide” com a audiência japonesa 😛

(E os “finais alternativos” poderiam vir no BD/DVD)

Fábio "Mexicano":
Como isso é custo extra e não funciona bem com público internacional (e mesmo com o público japonês pode ter problemas, dado que muitos gravam para assistir depois), um só episódio pode apresentar, digamos, uns três finais diferentes, deixando o final feliz por último e “rebobinando” o episódio duas vezes.
Vinícius Marino:
Isso me lembra o filme do jogo “Detetive” (Os Sete Suspeitos). Ele tinha três finais diferentes, com três “versões” diferentes do crime. Assistindo a ele na TV quando criança, lembro-me de ter visto os três finais consecutivamente. Quando do lançamento original, no entanto (1985), um terço dos cinemas apresentou cada final.
Fábio "Mexicano":
Teve filme disso? 😮 O que foi de minha vida esse tempo todo….
Vinícius Marino:
Nunca duvide dos anos 1980 😝
Fábio "Mexicano":
Em um dos finais o culpado foi o Coronel Mostarda né? Nos meus jogos ele sempre era o culpado…
Diego:
Eu sabia da existência desse filme, mas não lembrava que era dos anos 80. Sobre Animegataris, eu acho que o anime não iria assim tão longe, e imagino um final mais mundano onde as coisas voltam ao “normal” – como eu disse, eu acho que para o anime aquele era o mundo real antes da porta ser aberta.
Fábio "Mexicano":
Então, “voltar ao normal” é um dos finais possíveis; dar tudo errado também, e é até mais fácil, só continuar na rota em que está

Daí que algo assim não seria inimaginável. Mas estamos só especulando mesmo, naturalmente

Fábio "Mexicano":
Vamos encerrar o artigo? Vamos!
Fábio "Mexicano":
O RPG de costume ☺️ Não sei se todos vocês aqui jogam, já jogaram ou são familiares com RPG, mas de todo modo certamente não podemos contar que nossos leitores todos sejam, então uma explicação sobre um termo de RPG de mesa (que existe em muitos RPGs eletrônicos também, de todos os tipos, mas costuma ser automático e não se percebe): Hoje vamos falar de Falha Crítica. É quando uma ação do personagem jogador (ou de algum NPC) não apenas dá errado, mas dá muito errado. Não apenas fracassou em conseguir o que queria fazer, mas foi da pior forma possível, provavelmente com danos.
Fábio "Mexicano":
Então vamos com esse meta-rpg, para honrar o meta-anime que estamos assistindo: Em nossa jornada até aqui, nós, os jogadores, tomamos várias decisões por nossos personagens fictícios (que em nosso jogo são apenas nós mesmos em uma realidade alternativa). Em algum momento, alguma de suas escolhas resultou em uma falha crítica. Agora a graça: você pode escolher quando foi a falha crítica, e descrever o que de tão terrível aconteceu. Valendo!
Vinícius Marino:
Acordei, tateei o criado-mundo em busca dos meus óculos, mas eles caíram no chão. Levantei-me para pegá-los: falha crítica. Ouço aquele crek e percebo que já era: quebrei meu último par. Coço os olhos para tentar enxergar alguma coisa, mas não tem jeito. Tudo à minha volta está estranho. Coraçõezinhos saem da cabeça dos meus pais. Seus rostos estão distorcidos, como personagens de Tokyo Mew Mew. Aí me lembro que faz nove anos que não moro com meus pais, e a realidade implode em um turbilhão de Pokémons, personagens de Love Live, um RahXephon em pleno vôo e dakimakuras da Miyuki-Chan, protagonista do OVA erótico da CLAMP. Então um sujeito loiro chamado “Aurora” começa a berrar um discurso sobre “libertar o mundo dos animes”, mas eu não escuto nada, pois nós míopes também ouvimos mal sem óculos.

Então me lembro que carrego lentes de contato na mochila (perks de ser cosplayer) e tudo volta ao normal.

Gato de Ulthar:
Penso que a falha crítica se deu quando assistimos um anime de nome Animegataris, onde o mundo dos animes envolve a realidade. A partir deste ponto começamos a duvidar sobre a realidade do mundo em que nos rodeia. Aparentemente está tudo normal, mas um quadro fora do lugar habitual, uma parede ou outra de alguma cor diferente, algo sutil, como de um tom areia para um bege. Uma porta em uma posição levemente alterada. Começamos a duvidar das pessoas ao nosso redor, algumas falas parecem um tanto pouco naturais. Algo de estranho está definitivamente acontecendo. mas o que será? Até que em um momento de epifania, nos damos conta que estamos em uma realidade 2D!
Diego:
Tento escrever algo legal para o nosso pequeno RPG. Falha crítica: tudo o que consigo pensar varia do idiotamente mundano até o genérico demais pra valer a pena escrever. Espero para ver o que os demais escrevem, mas todo já tiveram a vez, eu continuo sem ideias, e o artigo tem prazo pra sair… Então, sobrou isso aqui 😛
Fábio "Mexicano":
A minha falha crítica: ter escolhido Kujira no Kora. É, não tem nada a ver com Animegataris, mas não acho que vocês vão discordar 😛
Fábio "Mexicano":
Até semana que vem, até o episódio final!
  1. Ok, depois de ler aqui tô quase acreditando que esse anime é genial xD
    Acabei de ver e ainda tô confuso, não sei se acho bom, ruim, com certeza foi engraçado, mas desesperador ao mesmo tempo (uma sensação de “o que que tá acontecendo?!”). Por um momento também achei que ia ser cancelado no episódio 11 e eles tavam só chutando o balde. A conversa sobre mudança de genêro reflete mais ou menos o que tava pensando dos últimos episódios (tipo, é realista ou comédia non-sense?).

    • Acho que enquanto Animegataris estava sendo didático sobre algum elemento qualquer da indústria anime ou seu fandom, ele estava em seu melhor. A interação entre os personagens era ótima. Os repetidos conflitos com o Conselho Estudantil eram bem menos do que ótimos. Agora no final eu entendo porquê foi assim, mas isso não muda que eu estive irritado com esse anime mais do que queria, e mais vezes do que queria. Como conciliar isso com a genialidade do final? Eu não sei. Mas estou gostando bastante, e acho que nunca vi algo do tipo em anime.

      Obrigado pela visita e pelo comentário =)

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