Esses dois episódios foram diferentes em diversos sentidos, mas compartilharam algo muito importante em comum. Aliás, algo bastante trágico em comum. Pois se um deles foi cheio de ação, de digimons poderosos e até de evoluções, então o outro foi muito parado e calmo, sem novas evoluções e sem nenhuma batalha. Mas ambos compartilharam uma mesma temática: a morte.

Isso sem falar que os dois desenvolveram o Gammamon enquanto personagem. O que já é bastante surpreendente tendo em vista que o Gammamon não é um personagem fácil de ser trabalhado. É complicado acrescentar a ele camadas e desenvolve-lo de uma forma interessante. Mas o anime fez isso de uma forma bastante surpreendente.

Para começar temos que citar o quão importante é o sacrifício do Bokomon. A primeira coisa a ser dita é que o Bokomon tinha muito carinho pelo Gammamon, carinho este que era recíproco. O que torna essa perda muito impactante para o Gammamon.

Também é válido lembrar de que o tema da morte não era visto no anime, nem nos acontecimentos e nem na imaginação dos personagens. E soma-se também o fato do Gammamon ser muito ingênuo, o que torna a morte algo pouco compreensível para ele. Por todos esses motivos é que ele foi tão fragilizado por aquela situação ao ponto de perder o controle de si mesmo.

E nesse momento de descontrole ocorre a evolução para GulusGammamon. Numa cena muito expressiva, pois foi uma grande explosão de numerosos sentimentos. De uma incredulidade para aquilo que via, o medo da perda iminente, uma raiva por sabe-se lá o quê, até mesmo uma culpa e uma angustia que cresciam em seu peito, mas o que prevaleceu foi o sentimento de ódio.

Um ódio que cresce como se não tivesse fim, ao ponto de alterar o seu próprio ser por meio de uma evolução. Aliás, o contraste entre o GulusGammamon e o Gammamon é gigantesco. Um é praticamente o oposto de tudo aquilo que o outro é, embora o próprio anime já tenha indicado de que na verdade há algo dentro do Gammamon, lá no fundo do seu ser que já pendia para este lado.

Para um GulusGammamon que se tornaria exatamente como a figura a qual o seu ódio se dirigia, inclusive ao executar aquele que era chamado justamente de executor. E assim como aquele que tanto odiava, ele também se voltou contra os seus amigos e colocou todos em risco.

Porém, era algo semelhante demais para que o Gammamon que estava lá dentro não notasse. Quanto o Hiro tentou se sacrificar, exatamente da mesma forma que o Bokomon havia feito pouco antes, justo nesse momento ele retornou para sua forma original. Mas exaurido de suas forças e sem as suas memórias de GulusGammamon.

Agora, se no episódio treze aconteceu essa morte, então o episódio quatorze foi justamente sobre como lidar e aceitar essa perda. O que foi tratado de uma forma bastante poética e infantil. Algo muito coerente tendo em vista o público ao qual o anime se dirige. Mas é interessante notar que ainda que tenha esse tratamento infantil, o próprio tema é algo bastante delicado, o que torna bastante elogiável a abordagem que o anime empregou nesse episódio.

É destacável a seriedade de seu tema que não apenas é valioso por si só, mas que engrandece o próprio anime enquanto obra ficcional. Foi muito inteligente a presença do Koemon no episódio, com todo o seu drama sobre a perda que em muito lembrava a situação do próprio Gammamon.

Mas diferente do Koemon, que se tornou solitário após sua perda, o Gammamon continuou com vários amigos e entes queridos. Ele não precisa sair em uma jornada, assim como o Koemon precisou, porque os seus companheiros já estão ao seu lado.

E estas companhias, esses apoios, essa é a resposta que o anime dá para o problema da perda. A resposta que o anime traz é, portanto, olhar para aqueles que estão a sua volta e ser capaz de ver que o mundo é um lugar muito grande e que nele há muitas vidas para conhecermos e muita vida para ser vivida. Enfim, foram dois bons episódios, talvez os melhores de todo o anime. Espero que assim continue. Até mais.

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