Love of Kill (Koroshi Ai) é um anime do estúdio Platinum Vision que adapta o mangá josei de Fe. Segue abaixo a sinopse da Crunchyroll (o streaming oficial do anime).

 

“Dois assassinos se enfrentam num prédio comercial: Chateau, uma apática caçadora de recompensas, e Ryang-Ha, misterioso e habilidoso. Os dois se tornam rivais após esse encontro, mas por algum motivo Ryang-Ha se interessa pela moça e começa a segui-la. Pouco a pouco, Chateau começa a formar uma parceria com Ryang-Ha, e se vê envolvida em sua disputa contra as organizações que o perseguem, além de se deparar com verdades de seu passado. Por que Ryang-Ha se aproximou de Chateau? O que o passado dela esconde?”

 

Esse anime tem um clima pesado que me agrada bastante, afinal, debilmente esperava por um simples e fofo romance entre assassinos, mas não poderia estar mais enganado. Koroshi Ai é a história de duas pessoas quebradas mergulhadas em uma trama de assassinatos… e amor?

Antes de mais nada, elogio as tentativas de comicidade do episódio, pois elas me permitiram tomar alguns fôlegos ao longo da narrativa. A cena inicial é inusitada e funciona bem a fim de nos apresentar a excentricidade do protagonista, mas a comicidade vem mesmo com outro núcleo.

A protagonista, Chateau, trabalha em uma agência de caçadores de recompensadas e seu chefe e colega são figuras cômicas que podem e devem eventualmente mostrar outras facetas, mas nessa estreia mais disseram bobagens. Ficando como destaque o assistente não ter boca.

Sobre esse mundo dominado pela máfia e que alimenta a existência de agências paralelas de assassinato, trazendo isso para nosso país, o que são as facções senão isso? Não carregam o nome de máfia como as do exterior, mas em si o que fazem e repercutem é muito parecido.

Além disso, o que são os pistoleiros (figuras comuns na terra em que vivo, o Ceará) senão uma espécie de caçadores de recompensas? O máximo que o anime faz de diferente é organizar, quase que estatizar, isso aí, mas em essência é bem palpável o que o anime nos apresenta.

Enfim, focando agora nos protagonistas e na relação disfuncional que constroem, o Ryang-ha ter a vida da Chateau em suas mãos facilmente é o que aproxima os dois em um primeiro momento, sendo o segundo estendido pelo que ele oferece a ele no que se refere ao seu serviço.

Isso por si só causa um desequilíbrio, criando uma relação de interesse e quase que chantagem se pensarmos que ela até pode recusar a ajuda dele, mas isso pode muito bem também se virar contra ela e resultar em sua morte. A cena dos dois bebendo suco reforça bem isso.

Ryang-ha é um assassino experiente e muito safo que está há anos no ramo, carrega dezenas (acho até que centenas) de assassinatos nas costas e parece se divertir com a recusa da Chateau aos seus avanços. Ele a tem nas mãos, gerando uma relação de dependência nociva entre os dois.

É verdade que ela também se aproveita disso para se dar bem no trabalho, mas o quanto ela precisa disso e por quê? Não sabemos. Aliás, o episódio acaba justamente quando parece que isso vai começar a ser explicado, com ela criança saindo de uma situação traumatizante.

E o que é a relação do Ryang-ha com ela senão isso? Porque, por mais que ela também se dê bem, por outro lado ela é praticamente coagida a aceitar a ajuda dele. Além disso, há a compensação, que é sustentar o teatrinho de romance que o protagonista tenta emplacar com ela.

Isso não significa que os dois não vão ou não possam mesmo se envolver amorosamente, mas que isso deve demorar e que, quase que inevitavelmente, se dará de forma bem disfuncional. Não há nada de normal, natural ou espontâneo na relação desses dois.

Isso, inclusive, me faz pensar se o Ryang-ha realmente gosta dela ou se seu cinismo esconde outros interesses (sejam estes escusos ou não), mesmo que o cheiro diferente que diz sentir nela caracterize esse desejo de se aproximar. Será que é tudo culpa de seu perfume?

Ryang-ha é uma figura excêntrica por natureza e deduzo que a atração dele pela Chateau se deva a sua “pureza”, afinal, ela é uma novata no submundo, mas se for mesmo esse o caso, isso vai mudar quando ela matar alguém (coisa que não lembro de ter visto nesse episódio)?

Não sei, e esse cheiro que ele diz sentir pode ser uma simbologia ainda mais profunda, que não tem como a gente deduzir por apenas um episódio. Ainda assim, é fato que não justifica a abordagem dele para com ela, que é muito mais de um stalker que de uma simples paquera.

A Chateau mesmo parece ter zero interesse em romance, então no fim a ideia que o anime vende é dificultosa, até porque ainda que a relação dos dois se desenvolva e resulte em um romance de fato, as chances disso acabar bem são zero, o que faz todo sentido por conceito.

Se a trama tivesse uma pegada cômica a história poderia ser diferente, pois ainda que existam alívios cômicos aqui, a trama não é preponderante nesse aspecto. Inconscientemente me peguei comparando com Spy x Family, que é uma comédia slice of life que também envolve assassinos.

Mas Koroshi Ai é bem diferente, não à toa é baseado em um mangá da demografia josei, focado para um público feminino mais velho, o qual costuma gostar do tipo de herói (misterioso e perigoso) que o Ryang-ha é, mas também não engoliria uma trama sem gravidade alguma.

O relacionamento disfuncional dos protagonistas é essa gravidade que venho apontado ao longo do texto e que aguça minha curiosidade para ver onde essa história vai parar, ainda que seja inevitável pensar que não acabará bem, como as palavras finais do Ryang-ha indicam.

Por fim, a Chateau é flagrada pelo chefe no fim do encontro com o alvo de sua agência e estou morrendo de curiosidade para ver como a situação será gerida por ele de agora em diante. Será que o chefe vai se aproveitar da ajuda que o Ryang-ha está dando a sua empregada?

Outro ponto em que queria tocar é em como o Ryang-ha poderia muito bem elevar as demandas em sua chantagem disfarçada. Ele poderia forçar avanços sexuais para cima da Chateau, mas não o faz, o que dá a mínima esperança dos dois terem uma relação saudável? Hm…

Sei não, hein… Uma explicação razoável é ele tê-la em conta justamente pelo cheiro, por sua pureza ou qualquer outro diferencial que o atraia, tornando esse “amor” imaculável, ainda que ele seja disfuncional no cerne, não que os personagens e as premissas do Ryang-ha já não o sejam.

Até a próxima!

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