Esse artigo demorou bastante a sair, mas não mais do que o anime a voltar. 86 Eighty-Six teve uma despedida temporária e marcante ao encerrar o arco narrativo do Kiri com a Frederica com excelência. E até tenho ressalvas a fazer, mas elas não apagam os méritos desse episódio.

Antes de mais nada, o que você achou dos clichês usados na luta? Teve o clichê dos companheiros ficando pelo caminho para deixar o protagonista lutar sozinho contra o antagonista, o clichê das death flags e o clichê da interferência enigmática que não é enigma nenhum.

Eu acho que foi tudo bem razoável e bem aproveitado na trama, ainda mais vendo o Shin lutar tão bem, tão leve, sozinho. Foi como se a melhor saída realmente fosse um embate entre os dois, ainda que várias interferências tenham sido responsáveis pela vitória dele no final.

Mas antes de comentá-las mais a fundo, gostaria de tocar em um ponto que vem me incomodando um pouco no anime, que é a mania que a narrativa de 86 Eighty-Six tem de vilanizar a vítima. Sim, o Rei e o Kiri também pegaram em armas na guerra, mas quem eles mataram?

O Rei lutou contra drones e o Kiri pensou que a princesa que protegia com a vida estivesse morta; ambos acabaram se tornando máquinas de ódio a alimentar a Legion, mas e os verdadeiros vilões dessa história, quem criou a Legion, ou melhor, os Albas que segregavam os Eighty-Six?

Eventualmente esses personagens podem ser explorados por suas “culpas”, mas quais as chances disso acontecer em uma história na qual o inimigo são robôs que no máximo se valem de “ecos” da mente daqueles que faleceram? 86 Eighty-Six perde uma grande oportunidade aí.

Enfim, a verdade é que apesar de achar uma pena, isso não é exatamente um defeito e nem invalida esse arco do anime, que teve um desfecho bem digno pela forma crível como envolveu a Frederica em tudo ao mesmo tempo em que mostrou um Shin forte, mas não imbatível.

Sem o apoio dos amigos ele jamais teria chegado no Morpho tão pronto para a batalha, sem a abertura que a Frederica abriu ele jamais teria conseguido dar o tiro de misericórdia, sem o bombardeio que só poderia ter sido feito por uma pessoa ele não teria tido mais tempo.

Aliás, é de se elogiar a produção por ter focado recursos na batalha e ter nos apresentado a ótimos cortes, principalmente no combate curto, mas certamente o que mais me chamou atenção foi o bombardeio inesperado, e até ousado, que obviamente foi feito pela Lena.

Que outra pessoa teria as ideias que ela teve e interviria em uma hora tão crucial para o confronto? Vai ser ridículo se não for ela, até pelo lado do qual o bombardeio veio, o lado oposto para o qual as forças deles estavam mobilizadas. Shin não venceu sozinho, muito longe disso.

Destaco também a trilha sonora, que se ergueu no momento certo e tomou o campo de batalha de assalto, provendo a empolgação devida e o equilíbrio certo entre roteiro e visual. Inclusive, também adorei a forma como as habilidades em combate curto dos dois foram destacadas.

Era inevitável traçar paralelos entre Shin e Rei, Frederica e Kiri, e nisso a emocionante cena em que o cavaleiro se despede de sua princesa acertou em cheio ao mais uma vez evidenciar aqueles que se foram na guerra em contraposição aqueles que ficaram, o ceifador e a imperatriz.

Elogio também o trecho em que o Kiri expôs seu ponto de vista sobre a tragédia pessoal que lhe acometeu, a qual pode até ter sido atenuada com a descoberta dele de que a Frederica não morreu, mas não tinha mesmo como ser o suficiente para pará-lo naquele estado em que estava.

Não importava o que ela fizesse, só seria revertido em desculpa para continuar a destruição, então sim, apesar de ter sido bem pesado ver uma garotinha apontando uma arma para a própria cabeça, de que outra forma ela seria capaz de atrair a atenção dele e fazê-lo vacilar?

A força do Kiri foi justamente a sua ruína, mas ele precisava disso para se libertar das amarras que ainda o prendiam a um destino cruel, uma vida que lhe foi roubada. E, repito, essa foi uma forma crível de lidar com a situação sem expor demais a Frederica e nem se esquivar da batalha.

Os momentos poéticos desse episódio (e do anime como um todo) existem no imaginário, servem para ilustrar os sentimentos dos personagens, mas não são o suficiente para justificar os desfechos das situações, então a atitude da princesa/imperatriz era necessária para chegar a esse final.

Final esse que nos apresentou a outra death flag safada, afinal, está na cara que nenhum dos cinco vai morrer, no máximo vão ficar em estado grave por um tempo, até porque o anime deve acabar no reencontro com a Major e ele só seria plenamente satisfatório com todos vivos.

Por fim, foi um episódio lindo, nem parece que a produção teve problemas (que não avacalharam episódios, mas zoaram todo o cronograma da produção) e o pré-clímax encerrou muito bem o arco da princesa e seu cavaleiro. Agora só nos resta saber o que será da Major e seus soldados.

Até a próxima!

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