Chainsaw Man é um anime (certamente o mais hypado da temporada de outono) do estúdio MAPPA que adapta o mangá de Tatsuki Fujimoto. Segue abaixo a sinopse extraída da Crunchyroll (o streaming oficial do anime).

 

“Denji é um adolescente que mora com Pochita, o Demônio da Motosserra. Por conta das dívidas que herdou de seu pai, ele vive na miséria, exterminando outros demônios com Pochita para pagar as contas. Até que, um dia, Denji é traído e morre. Em seus últimos momentos de consciência, ele firma um contrato com Pochita e renasce como o Homem-Motosserra – um humano com coração de demônio.”

 

O hype de Chainsaw Man é enorme, seja pelos números de vendas do mangá, uma fanbase em pleno crescimento, o fato de ser um battle shonen da Shonen Jump ou a polêmica tradução da scan que não deve ser nomeada (zoeira) e ajudou a popularizar o mangá por aqui.

Além disso, hype é para ser cultivado e o de CM foi, pois quando você junta uma história de Tatsuki Fujimoto (talvez o autor mais promissor da atualidade) e o estúdio MAPPA, e anuncia o anime com muita antecedência, não dá para esperar menos que um “blockbuster.”

Não à toa só anunciaram 12 episódios para a primeira temporada (ou o primeiro cour dela), com cada um tendo seu próprio encerramento, foi para trabalhar esse hype ao extremo, o que só pode ser feito se cada episódio entregar uma experiência de entretenimento única.

Não posso falar pelos próximos, mas essa estreia entregou? Eu acho que sim. Só faço duas ressalvas, uma de tradução (que só compete ao streaming que exibe o anime) e outra de animação (comentarei isso mais a frente no artigo), mas nada tão problemático.

Quanto a tradução, é falta de organização usar um termo na sinopse (demônio) e outro na legenda (diabo). Por outro lado, foi elogiável a tradução na abertura e no enceramento, os quais, inclusive, entregaram belas canções e belas cenas; no caso da abertura, claro.

Agora, tratando da história, não vou cair no erro de me aprofundar em questões complexas de crítica social tendo apenas um episódio como parâmetro, mas me parece óbvio que não é por acaso a apresentação do protagonista como um rapaz marginalizado.

Aliás, não só marginalizado, mas f*dido mesmo. Quer seja uma crítica ao capitalismo ou não, eu acho que a crítica aqui é mais a natureza humana, as barbaridades que somos capazes de cometer contra nossos semelhantes pelos motivos mais mesquinhos.

Forçar uma criança a miséria e exploração, com o Denji tendo até que vender órgãos para abater uma dívida que nunca vai conseguir pagar, pode ter sido uma forma de simbolizar a “armadilha do capitalismo,” mas me prenderei mais a utilidade disso na trama.

A partir desse ponto tudo que acontecer com o Denji é lucro? É provável que sim, e não é à toa que seus desejos não são mais do que “mundanos;” comer minimamente bem, ficar com uma garota, se divertir; é porque o sonho de herói nunca esteve tão distante.

E isso se conecta as gerações que coexistem nesse momento como público-alvo da história, os jovens e jovens adultos que não se interessam mais tanto pelo heroísmo por natureza dos protagonistas de mangás dos anos 80, 90 e até do início do século.

Claro, não posso garantir que seja isso, mas essa é a impressão que tenho, que estamos mais críticos, que somos menos fáceis de “ludibriar” por vocações heroicas do que erámos há uma década, tornando protagonistas como o Denji mais “acessíveis” para se espelhar.

Além disso, pensa comigo, o quão mais inteligente é começar com uma exigência baixa? Para um autor é um acerto, pois ao longo da jornada do herói ele pode tanto maximizar essas intenções, quando se manter apegado a elas. A chance de decepção cai por tabela.

E decepção é tudo o que não podemos chamar essa estreia, pois se a animação (um híbrido de animação convencional com CG) não entregou o mesmo encantamento que um Kimetsu no Yaiba da vida, com certeza não fez feio também, longe disso.

Acho que a luta foi muito bem coreografada, teve bastante sangue, golpes de impacto e uma construção de clima convincente (com ajuda de uma trilha sonora intensa e de tons escuros que encaixam muito bem na proposta), do tipo que empolga para os próximos episódios.

E nem só da luta eu gostei. Por exemplo, você notou o quão consistente parece o mundo de Chainsaw Man? É claro que praticamente só vimos o subúrbio no qual o Denji cresceu, mas foi o suficiente para notar uma solidez de cenário que vende bem a proposta.

E esse pano de fundo é importante, pois dialoga com a narrativa dessa estreia, afinal, aquele mundo cinza, sóbrio, mórbido até, é tudo que o Denji conhece, sendo que o sonho dele é justamente romper isso, viver uma nova vida com novas experiências e em outro lugar.

Ele nunca seria capaz de fazer isso naquele local, com a máfia na cola dele cobrando a dívida a cada respiração. E aí retornamos a discussão conceitual de outrora, que para muitas pessoas (na realidade, a maioria) é literal. Em uma vida não dá para se libertar do seu “prognóstico.”

Foi preciso morrer uma vez para que o Denji conseguisse um poder capaz de mudar a sua realidade. E não, não se iluda achando que o demônio fofinho com uma motosserra na cabeça o abordou por nada, como não se iluda com a Makima também, nada é preto no branco aqui.

Mas não vou dar spoilers (desculpa), se ainda não leu o mangá sugiro que você embarque no anime e acompanhe a história do Denji como um caçador de demónios estatal. O máximo que posso fazer é garantir para você que nada é de graça nesse começo e talvez na história toda.

Okay, talvez algumas coisas que sejam mantidas no anime aconteçam por pura zoeira do autor, mas me refiro a detalhes maiores, de construção de enredo mesmo, até porque é importante aprofundar as questões que ficaram flagrantes por essa estreia.

Denji “vendeu” sua alma a um demônio de maneira até que doce se pensarmos no próprio exemplo do chefe yakuza que vendeu a alma de todos do seu grupo (incluindo a si mesmo) por poder, e deu “sorte,” a sorte do demônio gostar dele e tê-lo agraciado com essa oportunidade.

Oportunidade de quê? De, através da sua força, mudar a própria realidade e realizar seus sonhos. Da sua força sim, afinal, mesmo que as motosserras brotem por causa do Pochita, no final, se o dois não tivessem feito o contrato os dois teriam morrido.

Pelo menos é isso o que a trama dá a entender, então não podemos achar que esse poder não é do Denji, quando é, e ele precisou perder sua humanidade para tê-lo. Mas o quão relevante foi essa perda? Se pensarmos que a vida que ele levava era tudo menos digna acho que nenhuma.

Mais importante que não ter sangue e poderes de demônio correndo pelas próprias veias é ter algum valor, algum lugar, enquanto ser humano, coisa que o Denji não tinha antes e terá a chance de ter agora, e sem falso moralismo quando a demônios e humanos.

Pois essa estreia deixou bem claro que humanos podem ser tão cruéis quanto demônios (chefe yakuza) e demônios podem ser tão gentis quanto humanos (Pochita). Chainsaw Man dá o dedo do meio para o maniqueísmo típico do battle shonen e coloca tudo e todos no mesmo balaio.

Isso é bom? Isso é ruim? Só o tempo vai dizer, mas acho que essa estreia deu todos os sinais para cremos no potencial de CM para ser algo diferente do battle shonen padrão. Denji quer apenas ter uma vida “normal,” vamos ver o quanto de normal a misteriosa Makima irá proporcioná-lo.

O futuro é pika!

Até a próxima!

  1. Eu já me propus a embarcar nessa história e já estou gritando aos quatro ventos que me parece o nosense gore mais maravilhoso que vi desde Parasyte rsrsrs

    Esse tema de débitos infelizmente parece algo bem comum na comunidade do Japão e da Coréia do Sul, né? Essa coisa de herdar divida de agiota. É o único crédito que a pessoa a margem da sociedade tem acesso, e acaba sendo uma completa armadilha.

    Enfim, estou completamente vendida e já procurando uma plush de pochita kkkkkkk

    Espero que o Denji encontre ao menos um pouco de alívio e alegrias daqui pra frente.

    • Agradeço o comentário e fico feliz que tenha gostado da estreia. Chainsaw Man promete ser um dos animas mais divertidos, loucos e cheios de ação desse ano, e vai ser só uma palinha da história, pois anunciaram apenas 12 episódios. Quanto aos prazeres que o Denji ainda vai experimentar, pode ficar tranquila que, apesar dos sofrimentos inevitáveis, acredito que as benesses valerão a pena. É aquilo, né, para quem não tem nada, a metade é o dobro…

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