Sugar Apple Fairy Tale é um anime de aventura, fantasia e romance do estúdio J.C.Staff que adapta a light novel escrita por Miri Mikawa e ilustrada por Aki. Segue abaixo a sinopse extraída da Crunchyroll (o streaming oficial do anime).

 

“Num mundo onde fadas são compradas e vendidas para quem paga mais, a convivência entre os humanos e o povo feérico não é lá muito amigável. Mas amizade é exatamente o que Anne Halford quer de Challe, sua fada guarda-costas, ainda que ele não goste tanto da ideia. Como seu mestre, Anne lhe ordena que a escolte por uma área bastante perigosa, mas com um guarda-costas ansioso para escapar da escravidão, ela terá que encarar um desafio muito maior do que imaginava…”

 

Uma estreia sólida para um anime de potencial imenso. Por quê? Porque a questão de preconceito abordada nessa estreia foi bem interessante, dando espaço para questionamentos e minúcias relevantes se a intenção é abordar um tema delicado desses com maturidade.

Além disso, a roupagem dada pela produção foi toda muito precisa, com uma trilha sonora que chega a soar brega em alguns momentos, mas nunca dissonante da animação consistente ou do roteiro eficiente em passar as mensagens que queria passar em sua estreia.

Por exemplo, sem precisar apelar para exposição fica claro que a protagonista tem questões com sua mãe que partiu. Mas partiu para onde? Não sabemos, e deixar essas respostas para um momento posterior, provavelmente junto ao desenvolvimento da heroína, é bem inteligente.

Tudo poderia ter sido explicado em flashes, mas que graça teria? Como a questão do preconceito, que até é explicada na introdução, mas é muito mais eficiente demonstrar como ele ocorre na prática. Foi caricato, é verdade, mas não foi sem propósito narrativo.

Se a ideia era explorar o contraste entre a Anne e uma pessoa avessa as fadas (não à toa as caçava), o barraco no meio da rua foi bem funcional. Mas o melhor nem foi a intromissão da garota ou a resposta da fadinha fujona (que seguirá a heroína) e sim o que vem depois.

Ann pode ser uma pessoa gentil e honesta, mas ela também é realista, e é justamente por sê-lo que a garota apela a um sistema com o qual não concorda, e muito por influência da mãe, que também a influenciou em seu trabalho com o açúcar, força motriz de sua viagem.

Uma viagem perigosa para a qual precisará de uma fada guerreira como guarda. Sim, ser uma fada de proporções tais quais as de um humano (quando nenhuma outra fada igual dá as caras nessa estreia) é conveniente, mas a história não funcionaria igual se fosse diferente.

É justamente por Challe ter o tamanho, a imponência e o objetivo que tem que a relação dele com Anne desabrocha com tamanho potencial. Primeiro, porque desde o princípio ele a trata de forma compreensível (ainda que ela faça a boazinha). Segundo, ela não sai da “personagem.”

Mas afinal, é uma personagem? Anne é mesmo uma boa moça contrária a escravização das fadas pelos humanos? Se é, então por que escravizou uma? Seus interesses pessoais justificam suas ações contraditórias? Eu acho que sim e não, ou melhor, é necessário que assim o seja.

Por quê? Porque é nessa contrariedade de ideias que a trama tem a oportunidade de se aprofundar e prover uma abordagem mais palpável, menos fantasiosa, do tema que busca discutir, que é o preconceito, o qual me arrisco dizer ser o principal objetivo da obra.

Há a questão da filha com a mãe, e ela é importante para a heroína, mas é em sua relação com Challe que Anne deve expandir seus horizontes e descobrir mais sobre si, afinal, existe uma diferença entre ter ideais bonitinhos e sentir na pele o peso de defendê-los ou não.

Anne escolhe não seguir a mentalidade vigente e busca tratar as fadas como iguais, mas como sustentar esse desejo se ela apela ao que quem pensa diferente faz? Mesmo se ela nunca machucar a asa do Challe, não é como se não estivesse o mantendo cativo, né?

Minha expectativa é de que, ao longo da jornada, a heroína amadureça ao passar tempo com Challe, compartilhar de seu ponto de vista das coisas e das dificuldades que ele sofre no tipo de relação que os dois tendem a desenvolver. Além disso, há o teor romântico…

Você gostou dele? Eu gostei e achei de bom tom. A interação dos dois é muito divertida, mas é ainda melhor porque (ao menos nessa estreia) em nenhum momento perdeu o ponto da tensão, necessário a fim de deixar claro que ele não a aceita e que ela não é uma falsa.

O que a Anne faz ainda é hipócrita, não deixa de ser, mas também não a iguala ao caçador, que chega a jurar a fadinha de morte. Fadinha essa que ganhou a minha simpatia já de cara, mas também, sofrendo como sofreu, fica difícil não querer que tenha um destino melhor.

E ao lado da Anne eu acredito que isso possa acontecer, mas não sem idas e vindas em uma aventura que promete ser sangrenta, emocional e conflituosa. E não podemos esquecer das esculturas de açúcar, que não fariam a Anne cair em contradições se não fosse importante.

Em sua estreia Sugar Apple Fairy Tale nos deu apenas uma palinha de todo seu potencial no que tece a sua construção de mundo, mas, principalmente, a relação de seus personagens centrais, a qual, no fim do dia, é o que costuma cativar nossos corações.

Mal posso esperar para ver os próximos episódios e se todo o potencial demonstrado nessa estreia se concretizará. Nem preciso dizer que não precisa fazer a regra dos três episódios para esse daqui, né? Sugar Apple Fairy Tale é uma das minhas apostas para anime da temporada!

Até a próxima!

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