Nada como belas músicas de jazz para embelezar qualquer história. Mesmo sem apresentar uma trama elaborada Black Lotus tem melhorado o suficiente para merecer elogios e dar boas expectativas sobre seu desfecho. Espero que esse anime não seja uma lembrança fácil de esquecer.

O passado do J era algo necessário e ainda que ele não tenha sido muito mais que um checkpoint, realmente não acho que precisávamos de mais para entendê-lo. Não só sobre a Elle ser a projeção de outra pessoa, como a própria ideia do Blade Runner apegado a replicantes.

Serena, a bela e emotiva cantora de jazz, foi a pessoa que mudou seu coração, o que pode parecer de repente, mas se levarmos em consideração que esse seria seu último trabalho e que ele foi um Blade Runner proeminente e longevo, dá para entender que o J se cansou daquela vida.

Sim, é verdade que ele ainda a mata no final, mas que outra escolha ele teria com o colega no encalço dos dois? Se tentassem fugir a luta seria contra o sistema e o J sabe que os dois iriam perder. Ainda assim, ele pelo menos deu vazão ao que sentia, o mínimo, mas deu.

Isso o corrói por dentro e justifica a predileção que tem por proteger e ajudar a Elle, como se a reparar a escolha sofrida que fez ao desativar (matar, na verdade) Serena. J é alguém atormentado pelo passado, um pouco como a Elle é, a diferença é que ela pode expurgar seus demônios.

Ele é seu próprio demônio, que hesitou em seu serviço, mas, principalmente, não via os replicantes como o que eles são, apenas seres humanos com uma origem diferente. Ficou claro que a Serena, assim como a Elle, sentia o mesmo que os humanos “normais” e não era diferente destes.

Por outro lado, temos o Niander Wallace filho, que era quem estava negociando com o J para ajudar a Elle (não é estranho que os dois se conheçam dado o ofício que o J tinha, né) e aparece no final desse episódio meio que repetindo o “teatrinho” que fez com a Elle.

É óbvio que ela induziu a Elle a fazer o que ela fez, deve tê-la programado para isso. A questão agora é como a Elle reagirá, se ela vai tentar matá-lo, se tentará ser amada por ele ou se vai se rebelar e buscar uma terceira via, que seria, por exemplo, viver sem sua influência.

Para alguém que parece obcecado pela ideia de controle, ver se rebelar alguém que antes comia na sua mão com certeza seria mortificante. Repito, ele não deve morrer (exceto se o eu dele que aparece no filme recente é um clone e eu não lembro disso), então há menos opções.

Apesar de outra construção narrativa bem básica (a de ir atrás de alguém que não é quem se pensava), esse episódio acabou se sobressaindo pela forma como apresentou esses plots. O primeiro de forma sucinta, mas agradável, o segundo era previsível, mas foi capaz de surpreender.

Eu apostava que o contato do J era com a Davis que, apesar de ter sido afastada, poderia ter negociado uma situação diferente com alguém de um ministério público ou um desafeto da companhia Wallace, então sim, me surpreendeu um pouco o contato ser justamente o vilão.

Aliás, fica a ressalva, como o J não se tocou disso antes, se o último alvo era justamente Niander Wallace pai e não o filho, que é justamente quem desenvolve os replicantes? Além disso, como ele vai agir agora que sabe que o magnata estava só brincando com a Elle?

Esse episódio realmente conseguiu tornar os contornos do anime mais interessantes. Não muito, mas um pouco, além de ter nos deleitado com belas insert songs, expandindo o que as endings já vinham fazendo. A história de amor trágica do J e da Serena ficou mais bela com elas.

Por fim, Clair de Lune não é jazz, é a grande composição de Debussy, apesar da minha preferida dele ser Rêverie (até por isso fiz esse “desafio” no título do artigo). Em todo caso, ouça ambas as canções e espere por mais uma tragédia (é o provável) envolvendo humanos e replicantes.

Até a próxima!

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