Enquanto a temporada não começa e enquanto não consigo me forçar a escrever uma resenha completa de um anime, por favor me acompanhe em mais esse breve comentário sobre uma única cena. Dessa vez a escolhida é do episódio 15 de Shigatsu wa Kimi no Uso.

Kaori está hospitalizada, o que não é novidade nenhuma para ela mas ela vinha até pouco tempo escondendo de seus amigos e o anime escondia isso dos espectadores. Para ela é normal, só mais uma hospitalização de rotina, ela está até caminhando feliz pelo corredor escuro do hospital vazio durante a noite. De repente, ela cai. Ela também já teve crises antes, não teve? Será que essa seria pior? Mais forte? Igual? Ela vai melhorar, não vai? Essa é a esperança que ela ainda deve ter (nem que seja uma esperança ilusória), e certamente a esperança de muita gente que assistia o anime até aquele momento. Uma sequência de quadros aleatórios do hospital no entanto responde com tamanha eloquência que é até difícil chamar isso de metáfora: não há mais volta para a Kaori.

Setas no chão em um encontro de corredores: duas interrompidas, apenas uma continua. O sinal de saída de emergência: Kaori quer escapar desse sofrimento! Uma luz vermelha: negação, proibição. A sandália tombada da Kaori jaz no chão em cima do único caminho que resta: o azul. Cor da tristeza. A partir desse ponto, se alguém ainda tinha dúvidas, não tem mais direito de ter: a tragédia é inevitável.

  1. Este anime quase nem tenho palavras para o descrever, acho que foi dos poucos animes que vi, que me fez olhar para vida de uma forma um pouco diferente tanto pela sua história como os seu personagens (principalmente a Kaori).
    Eu desde o inicio que sabia que a Kaori iria ser daqueles personagens com algum problema de saúde, aquela maneira de agir nos primeiros episódios não era normal ela fazia as coisas quase como se fosse o último dia da sua vida. Esta cena do episódio 15 de Shigatsu foi um pouco dolorosa para mim, a doença da Kaori provavelmente seria ELA (esclerose lateral amiotrófica) eu tive uma pessoa próxima com esta doença e posso dizer, que esta doença é mesmo filha da mãe rebaixa o ser humano ao máximo até que a morte seja a única saída viável. Esta cena da Kaori no hospital também esteve cheia de simbolismos como tu bem referiste neste pequeno artigo, a Kaori apenas queria ver-se livre daquele sofrimento, mas também estava mais do que na cara desde o inicio do anime que o destino da Kaori já estava traçado.
    Como sempre um excelente artigo Fábio.

    • Fábio "Mexicano" Godoy

      Eu acho o anime bastante forçado. Ele quer que a gente se sinta triste pelos personagens. Para complicar, essa doença é estranha: se for mesmo uma doença degenerativa, não conheço cirurgia que resolva.

      Mas depois eu li sobre isso e faz todo o sentido. Cirurgias de tudo ou nada são um recurso dramático potente. Fora isso, se fosse uma doença conhecida no mundo real, e por acaso surgisse a cura (ou tratamentos melhores) para ela pouco após o término da história (ou pior, durante ela), Shigatsu ficaria muito datado, ou até mesmo meio idiota. Li sobre isso, compreendi, e entendo essa parte. Sobre o drama em si ele até poderia ter forçado mais, mas foi no mais das vezes bastante simbólico (no meio do anime tem uma cena dela em um campo, iluminada ao sol, sorrindo, e no episódio seguinte ela está no mesmo campo, com o mesmo enquadramento, e dessa vez está de noite, e o lugar está cheio de vaga-lumes – que são simbólicos para a morte, no Japão).

      No final das contas, depois de meses, eu até meio que gosto do anime. Só continuo achando desnecessário o garoto ter sido espancado pela mãe durante a infância.

      Obrigado pela visita e pelo comentário =)

      • Essa doença que eu referi no meu texto acima, não ter cura, mas existem tratamentos para retardar em alguns casos se a doença for detectada a tempo, existe a possibilidade de uma cirurgia invasiva para retardar os sintomas da doença. A ELA (esclerose lateral amiotrófica) não tem cura, a pessoa que tenha esta doença já tem o destino traçado, ficam sem qualidade de vida, têm que tomar medicação super forte por causa das dores até que eventualmente os seus músculos atrofiam e a pessoa fica em estado vegetativo e em muitos casos quando a pessoa já não se consegue mover a doença já está em estado avançado e a pessoa morre.
        Eu gostei deste anime, tanto que dei uma nota boa no MAL, mesmo tendo alguns exageros e algumas coisas forçadas, eu ri e chorei ao ver este anime e o mais engraçado é que só comecei a gostar mais dele depois de alguns meses depois de o ter acabado de ver.

      • Fábio "Mexicano" Godoy

        Sim, eu conheço (mais ou menos) a ELA. A questão é que no anime apenas parece ser, mas não é, necessariamente. O autor nunca diz qual é exatamente a doença. E o motivo é esse que eu disse: nesse tipo de história os autores evitam dizer qual é a doença para que ela não se torne datada. Hoje não tem cura. Talvez daqui cinco anos? Para um mangá que acabou de acabar seria um prazo muito curto ainda. Claro que sempre podemos ler pensando “ah, mas na época em que foi escrito…” mas eu entendo o sentimento do autor, ele não quer passar uma abstração, não quer que você racionalize o contexto, ele quer passar uma sensação bem definida.

        É diferente, por exemplo, de biografias de pessoas reais. Eu gosto bastante dessas, hehe. Já leu Um Litro de Lágrimas? Eu fico aqui com vontade de chorar só de pensar. Ou Tempo de Despertar (Despertares, em Portugal). Outros nos enchem de esperança, como O óleo de Lorenzo (Acto de Amor, em Portugal), embora no fundo saibamos bem que esse tipo de resultado em caso de doença grave é muito raro.

        Obrigado por mais uma visita e comentário =)

      • Fábio "Mexicano" Godoy

        São todos histórias de doentes =D

        Se gostar de rock progressivo e gostar de Tempo de Despertar/Despertares, ouça Octavarium do Dream Theater. Um dos atos da música é baseada na história, é muito legal =)

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