Estamos alcançando níveis de shonen ai nunca antes vistos, nada contra, I guess, mas devo dizer que só consegui rir quando o Yuri fez a piada do “vou ficar grávido mesmo sendo homem” :v. Enfim, o anime segue em um ritmo excelente e tivemos um episódio extremamente intenso e acertado com um embate de estilos que demostrou perfeitamente a dualidade entre Ágape e Eros, o que quer que isso signifique.

O Ágape representa o amor divino incondicional, portanto sua coreografia prima na leveza de seus movimentos e tem por objetivo impressionar a plateia com sua sutileza e graça, como pode ser visto com a reação de nossa amiga de infância número 1; é um amor que prima na busca do prazer sentimental e sólido de uma relação familiar, como a que Yurio tinha com seu avô. Já o amor Eros é o intenso amor carnal da sensualidade, ele é indicado pela busca dos prazeres e da sedução sem nenhum sentimento envolvido, como dança sensual ele tem por objetivo representar aquilo que te deixa mais excitado (ou no caso do Yuri, o que faz o estômago dele roncar mais…) e tenta causar na plateia… bem…

...isso

…isso.

A dualidade entre Eros e Ágape advém das ideias gregas de amor, elas são 4 em sua totalidade e cobrem cada uma um tipo de amor específico. São elas: Ágape, Eros, Philia e Storge, e essas duas últimas cobrem as demais relações interpessoais. Philia é o amor da amizade, o lindo bromance entre rivais num battle shonen genérico ou não e, em minha humilde opinião, é nesse amor que você vai concentrar a maior parte de sua vida se quiser viver de forma plena (sim eu sou mega piegas com amizade, me processe). A Storge, por outro lado, é a especifica relação de amor familiar (e que na verdade seria o sentimento que Yurio tentou transformar em mote para sua Ágape (o que pode ou não ter afetado o processo).

Falando em Ágape, ela que é o amor divino que você vai ver sendo advogado por sujeitos como o padre Marcelo Rossi em seus sermões e livros, por via de regra é um amor religioso, matrimonial, é dito como o amor que Deus tem por “seus filhos”. No caso de Yurio, ele tentou focar seu Ágape nos sentimentos que nutria por seu tio e, infelizmente, não foi capaz de unir seus sentimentos à sua performance e por conta disso ficou tremendamente desolado por não achar que estava fazendo uma obra digna de seu amor. A performance de Yurio foi incrível por conta de seu talento e esforço, porém ele falhou onde Yuri conseguiu, ele não subverteu seus sentimentos de playboy cabeça dura e, por culpa disso, teve uma crise de tsunderise e não aceitou o “novo eu” que deveria aceitar para passar no teste do Victor (apesar de ter feito uma performance incrível de qualquer jeito).


E então chegamos ao Eros. Yuri que primariamente pensou em fazer sua performance representando seu amor por Katsudon, percebeu que havia algo muito maior nisso tudo. O seu amor por Katsudon representava sua luxúria, não por ele ser um depravado que morre de prazeres sempre que come um Katsudon, mas porque comer um Katsudon representa para ele o efeito de ter vencido uma partida, e vencer uma partida por sua vez significa estar ao lado de Victor, patinando e treinando com ele, Victor esse que é seu ídolo de toda a vida e a quem Yuri objetiva se tornar um igual, ou seja, a razão da apresentação de Yuri ter dado tão absurdamente certo se resume a muito mais do que ser o Katsudon mais gostoso da cidade; Yuri venceu aquela partida porque pegou seu Ágape (admiração divina que sente por Victor) e transformou ele em base para que o prazer da vitória (o Katsudon) se unisse ao prazer que ele sempre se acostumou a ter (o amor incondicional que um jovem tem por seu modelo de vida).

Nessa transição, Yuri não só foi impecável em um sentido mental como também usou o melhor de seu Ágape físico (a passividade unida da vontade do parceiro o notar), que havia usado no episódio um antes que sua declaração de amor fosse anulada por 3 crianças e um marido valentão, com os efeitos de um Eros. Ao considerar a si mesmo uma donzela Ágape que tenta conquistar um playboy Eros (Victor), Yuri transferiu perfeitamente a história da música que queria contar para sua realidade, mas como se não bastasse isso, ele subverteu não só a si mesmo, mas o mundo ao seu redor, ao por “a donzela” como protagonista e “o playboy” como os observadores na plateia, tal feito seria basicamente equivalente a se fazer Psycho Pass inteiramente sobre a ótica do sempre misterioso Makishima Sougo ao invés de Kogami e da detetive Akane.


E assim Yuri vai se inovando e melhorando não só como patinador mas como personagem também. Como pequenos comentários, achei muito válido terem feito um jovem impetuoso como o Yurio falhar justamente no discernimento de “quem é ele e como ele pode se representar em sua música”, que é algo muito mais apropriado para alguém com quase 10 anos a mais que ele como o Yuri (tanto que o fez magistralmente). Não vou dizer que gosto do antigo interesse amoroso do Yuri ter sido descartado tão descaradamente como uma personagem de enaltecimento do fanservice alheio mas acho que é o jeito, fora isso o episódio está muito bom e fora umas piadas fora de foco o anime está fazendo um bom trabalho.

 

Revisado por Tuts

  1. O episódio 3 de Yuri On Ice foi bom, principalmente pela parte final. Os dois Yuris se esforçaram nas suas coreografias, cada um à sua maneira, houve uma parte em que tive uma restea de esperança que os dois Yuiris se pudessem vir a dar bem, aquela em que o Yuri japonês pede ao Yurio que lhe ensine determinado passo, mas enganei-me. Entre os dois Yuris existem grandes diferenças, principalmente na forma de agir, o Yurio é mais impulsivo e prepotente, tende a fazer tudo à sua maneira só porque é um génio em ascensão. Já o Yuri é diferente, é mais tímido e deprimido, não é um grande patinador, não é capaz de executar passos mais difíceis, mas é aqui que o Yuri se destaca, ele não desiste e se esforça ao máximo para alcançar os seus objectivos, nem que para isso tenha que levar a sua resistência física ao limite.
    A parte em que os dois personagens se enfrentam foi muito boa, o Yurio como sempre com uma excelente execução técnica, mas falha em transmitir os seu sentimentos. Já o Yuri, tentou fazer o melhor com o seu Eros, mesmo com dificuldade na parte técnica ele soube fazer a sua actuação com sentimentos, mesmo com uma falha num dos saltos (eu acho que ele tem desculpa ele já é considerado velho para aquilo, afinal já tem 23 anos ao tempo que o Yurio tem 15).
    Como sempre um excelente artigo Iwan.

    • Sim, acho que o Victor buscava algo mais específico (aliás tenho certeza) do que só técnica
      tanto que agora o Yurio está tendo que aprender na marra a se subverter em uma bailarina
      o diferencial imenso do yuri foi a transmissão de sentimentos que simplesmente lavou as chances do yurio (tanto que ele mesmo sabia o resultado)

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