Existe uma antiga lenda asiática que deu origem ao festival japonês conhecido como Tanabata, nela contam que Orihime, a princesa Tecelã, foi apresentada por seu pai, Tentei, a Hikoboshi, o Pastor do Gado, e logo eles desenvolveram uma intensa paixão – a qual os fez negligenciarem suas obrigações.

Devido a irresponsabilidade do casal, Tentei decidiu separá-los, mas ao ver a tristeza da filha deixou que o casal se reencontrasse uma vez por ano, mas apenas na sétima noite do sétimo mês – dia em que se comemora o Tanabata. Mas o que esse episódio ou o título desse artigo tem a ver com isso?

Vega é a estrela que representa Orihime e Altair a que representa Hikoboshi, mas se considerarmos os sentimentos da Mayuri o que seria ela senão Vega sem Altair, uma Orihime sem o seu Hikoboshi? É ciente dessa tocante paráfrase que comentarei esse excelente episódio. Que se abra o Steins Gate!

Só de ver essa expressão no rosto dela eu já tava me preparando 😭…

O episódio inicia com uma já esperada tentativa falha de fazer o Telefone Microondas funcionar de novo, mas o que importa mesmo em seus primeiros minutos é o encontro do Okabe com a Mayuri e como nele fica clara a distância que se estabeleceu entre os dois. Enquanto o Okabe almeja estudar fora do país e já não se importa da mesma forma com o laboratório ou com as pequenas coisas que traziam aconchego a Mayuri no convívio dos dois naquele lugar, ela sente o baque ao perceber que seu melhor amigo já não dá mais tanto valor aquelas coisas que eram tão preciosas para os dois. É como se ele tivesse crescido e deixado de se importar, mas por que crescer tem que significar deixar coisas para trás? A Mayuri sente bem isso e por isso se afasta, para que ela não se magoe ainda mais.

Eu sei bem que com o tempo as coisas e as pessoas mudam, mas por que abrir mão de algo que fazia a pessoa feliz, de um espaço cheio de amigos e animação? A resposta pode ser encontrada no clímax desse episódio. Enfim, esse trecho inicial passa e o Ruka aparece – é bem estranho ver ele com roupa de garoto, né – para confortar a Mayuri, oferecendo seu sempre útil ombro amigo para ouvir como a amiga se sente, como alguém que deseja ser a Orihime de outra pessoa, mas sabe que não pode ser isso para o Okabe, aquele que ela ama incondicionalmente – sentimento que vai além do romântico.

Secretamente eu shippo Mayuri e Ruka, admito!

Com o estabelecimento da cisão entre nossos heróis, o episódio continua e ao visitar o laboratório o Okabe se vê diante daquilo que ele mais tentou evitar desde a morte da Kurisu – o desenvolvimento da máquina do tempo. Ao ver a banana coberta em gel verde a reação dele não poderia ser diferente dado a forma que ele lidou com tudo o que ocorreu em sua vida no último ano. É aqui que o conflito se instaura e é iniciada uma guerra entre argumentos distintos quanto ao uso da máquina do tempo.

Sentiram falta da banana mais gostosa do mundo?

Entretanto, antes de comentar o que vem a seguir não poderia deixar de frisar o quanto a única cena mais descontraída foi divertida – mesmo intercalada entre momentos bastante tensos. Bato palmas a produção do anime por ter conseguido botar o Daru para falar besteira em um momento sério sem tornar a situação apelativa ou ter quebrado seu ritmo. Afinal, é do Daru que se trata, então era certo que ele falaria algo ridículo – mas daquele jeito, e naquelas circunstâncias, foi inesperado e divertido.

Como rebater uma cena típica do otaku hardcore que é o Daru? Entregando uma cena em que ele faz algo muito diferente do seu usual. Dessa vez ele foi contra o que o Okabe disse, não apenas metendo um soco nele com o punho, mas também o golpeando com suas palavras. O que fez muito bem feito, afinal, não é pelo Okabe ter passado por tanto sofrimento que ele pode menosprezar os sentimentos e esforços dos seus amigos. Ele não é o dono da razão, nem a única vítima da situação, e precisa logo entender isso, o que só deve ser possível após as duas conversas que ele ainda vai ter nesse episódio.

Você não vai ver o Daru fazendo isso todo dia, então, aproveite!

A conversa dele com a Maho não teve apenas um roteiro primoroso muito bem adornado pela ótima trilha sonora do anime e a expressividade dos dois na cena, mas também foi o melhor momento para entendermos como pensam e o que sentem os dois cientistas que são essenciais para pôr o Telefone Microondas 2.0 em funcionamento. Ela pode não ter passado por todas as situações desesperadoras que o Okabe passou, mas se tem uma coisa que a Maho evita ser é hipócrita, então o seu argumento de que mesmo a sua “experiencial convencional com o fracasso” é válida não é ruim porque parte do mesmo princípio, mas aqui proponho uma reflexão simples e válida, será que ela pensaria desse jeito se tivesse passado pelas mesmas dificuldades que ele passou? Ela ainda ter esperança e não crer que há algumas coisas pré-determinadas não se deve a isso? Acredito que sim, mas isso não faz do ponto de vista dela ruim, pelo contrário, pois o resultado da discussão dos dois é que o Okabe de agora está de volta à estaca zero na qual ambos já se encontraram muitas vezes antes. Mas o que isso significa?

DUELO DE GIGANTES!!!

Isso significa que, enquanto cientista, no momento em que ele deixou de acreditar nas possibilidades foi que ele perdeu de vista a pessoa que ele era, alguém capaz de tanto desvendar os mistérios da ciência, quanto ter amigos que se reuniriam a sua volta para se divertir e amadurecer juntos. Desistir de salvar a Kurisu naquele dia fez ele desistir da própria felicidade, pois abrir mão de alguém especial para ele em prol de outro alguém especial não era a resposta, e sim arriscar, tentar mudar o mundo a sua volta, aceitar que ao dar o primeiro passo mandando um d-mail ele não poderia mais fugir, ele teria que continuar nesse vendaval de problemas e sofrimento até encontrar o desejado Steins Gate!

Adoro quando falam o nome do anime no anime.

Ter desistido de utilizar a máquina do tempo torna o Okabe um mal personagem ou um ser humano digno apenas de reprovação? De forma alguma, pois ele é um personagem extremamente humano, suscetível a ter medo de falhar e se acovardar por isso; coisas que costumam afetar qualquer pessoa em qualquer situação. Ele ser um herói falho – o que na verdade não é nada heroico – o aproxima do que o público poderia esperar de uma pessoa real na mesma situação em que ele se encontra e acho isso um acerto da obra, pois não é sobre “resolver tudo em um passe de mágica” que ela se trata, né.

A Mayuri melancólica pode me partir o coração, mas também é extramente bela…

É aí que uma personagem tão essencial quanto qualquer máquina do tempo, Okabe ou Kurisu; volta ao foco se sentindo culpada não por ter ouvido atrás da porta, mas por achar que o principal motivo do seu amigo estar sofrendo é ela. A Mayuri carrega a culpa por não ter incentivado o Okabe a tentar de novo e ela se culpa também pela barreira que foi erguida entre eles. Não que isso seja culpa dela mesmo, mas o que ela poderia pensar se ele mudou logo após a morte da Kurisu, o ato responsável por ela se manter ao seu lado? Foi um episódio de cortar o coração para quem gosta da personagem.

No fim das contas, a dor e o sofrimento mudaram o Okabe drasticamente, mas se isso é irreversível ou não, se não existem possibilidades em que a verdadeira felicidade para ele seja possível, só o que ele fizer de agora em diante será capaz de responder. O anime tomou um caminho inesperado para mim – agora acho que ele vai desistir de estudar fora independente do que for acontecer –, o que é normal porque não joguei a visual novel e esse episódio adaptou parte da rota focada na Mayuri – o nome dele é Vega e Altair, quase o título desse artigo. Até o promissor episódio da próxima semana!

Curiosidade

Vega é uma estrela da constelação de Lira, o que traduzindo para o inglês dá Lyra, que e é o título da música usada como encerramento do oitavo episódio. Coincidência? Isso não existe em Steins;Gate…

  1. Complementando um pouco essa curiosidade que você colocou no final, a música Lyra não foi usada apenas no anime, ela é um dos encerramentos da VN também. Basicamente ela toca ao final de 3 rotas e entre elas está justamente a rota da Mayuri, a chamada Vega and Altair.

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