Para eu que pensava que só o povo ainu apareceria em Golden Kamuy, parece que eu estava enganado. O povo uilta é uma outra tribo nativa já em vias de desaparecer no Japão da época. Não consegui descobri se já desapareceu a essa altura, mas uma coisa é certa, abordar outras culturas na mesma trama enriquece as possibilidades de uma história já bem interessante.

Parece que o autor pensa primeiro na história e geografia do Japão antes de escrever. Aliás, não parece, tenho certeza disso, afinal, de que outro modo a caracterização encaixaria tão bem? Ela se aproveita do contexto histórico dá época, mas também das peculiaridades dos diferentes países que a época se podia encontrar no Japão. É hora de Golden Kamuy no Anime21!

Quem diria que teríamos um episódio todo voltado para a Asirpa e seu novo grupo? Já estava na hora e o mais legal é que a tendência é de que o próximo também os tenha dominando a tela. Quanto a heroína em si, ela segue o caminho do pai para estimular suas lembranças dele, o que até aqui não fez muita diferença, mas imagino ser um foreshadowing para algo maior.

Nossos heróis (na verdade, só a Asirpa é uma) seguem rumo a vila mais próxima e lá encontram o povo uilta, e este, assim como os ainus de Karafuto, sobrevivem com o que têm a sua disposição quanto a fauna, a flora e o clima. Todavia, eles conservam costumes que os distinguem de outras tribos com as quais dividem a mesma região.

Isso é comum mesmo em tribos próximas situadas no mesmo país. É só puxar pela memória e vai notar como algo similar acontece com os índios por aqui. Inclusive, acho ótimo como a história trata isso de forma bem normal, distinguindo bem o que é o quê, qual tribo é qual. Os ainus estão sempre em foco por motivos óbvios, mas há uma riqueza de outras culturas a explorar.

Os próprios russos são um excelente exemplo disso, e o melhor é que mesmo só tendo relevância nessa terceira temporada, um personagem como o Kiroranke era uma conexão já bolada para isso. Não há improviso no que é mais importante nessa história, isso fica para a comédia, a qual pode não ter se esparramado nesse episódio, mas cedeu espaço a “ação e emoção”.

Até a revelação sobre o passado do Kiroranke o episódio estava ótimo e continuou assim depois com a embosca preparada pelos russos. O interessante é que o Ogata está no grupo do Sugimoto e mesmo assim é pego no fogo cruzado, prova, não que precisasse, do quanto o tenente Tsurumi é sacana. Aliás, é justamente por isso que adoramos ele. Eu adorei o que ele fez, na boa.

Porque isso instigou o Kiroranke e o próprio Ogata a agregar mais ao episódio. Por um lado deu para ver como o ex-jovem revolucionário é sagaz e corajoso, que é mesmo um homem preparado para tudo, e por outro vemos o quanto o Ogata é um snipe de primeiríssima categoria. Não que não já soubéssemos, mas colocá-lo para se digladiar com outro sniper evidenciou.

Inclusive, o que ele fez no final foi uma clara emboscada para o sniper russo, o induzindo a atirar para denunciar sua localização, enquanto ele se escondia com outra arma em outro ponto. Ao menos é o que espero, já que ficou claro como não havia ninguém ali debaixo da capa segurando a arma. Se não me engano ele até já havia usado essa estratégia antes, não?

Enfim, Golden Kamuy 3 mudou de ares, ainda que com uma estrutura similar em quase todo episódio, o que foi bom para entendermos melhor a situação dos protagonistas (da distância entre eles) e descobrirmos mais coisas interessantes sobre os personagens e o mundo que os envolve, o qual tem um papel especial nessa aventura multifacetada. E não precisa ser russo para não esquecer dela não.

Até a próxima!

  1. Este quinto episódio foi um prato de cheio de conhecimento, não apenas de história como de cultura.

    O facto de haverem vários povos, cada um com as suas crenças e estilos de vida só veio enriquecer ainda mais a cultura deste anime. Os ainus por si só são muito interessantes, juntado os uilta e o outro povo cujo nome não me lembra, faz todo o aspecto histórico e cultural ainda mais rico. Do povo uilta achei muito interessante a forma como eles se despedem dos mortos, fazendo os funerais dele em cima das árvores.

    Antes de avançar, o aspecto histórico deste episódio esteve a níveis astronómico. Como fã da história das armas de fogo, ver que o velho uilta tinha um fuzil Berdan M1870, o Vasili tinha o mítico rifle Mosin-Nagant, e o Ogata o seu rifle Arisaka Type 30. O fuzil Berdan M1870 russo no ano em que o anime se passa já estava muito obsoleto, tal como o rifle Murata que o Gengiro pegou do caçador Nihei. Já sabia que o Kiroranke era perigoso, agora que ele tinha assassinado um imperador foi uma grande surpresa. O Imperador Alexandre II da Rússia foi talvez o regente mais progressista em vários séculos na Rússia. Ele acabou com a servidão de milhões de servos, deixou esses mesmos servos ficarem nos grandes latifúndios em que trabalhavam, queria diminuir o poder dos nobres entre outros factores que estavam mal. Mas com essas decisões, as minorias étnicas foram prejudicadas, em especial as do extremo leste. O assassinato do Imperador foi bem feito no flashback. Com o assassinato do imperador Alexandre II, os que o seguiram no poder reprimiram o povo ao máximo, tudo para evitar que terminassem como ele. Dentre esses, o Czar Nicolau II viria a pagar o preço mor por essa repressão e abuso do povo.

    Voltando ao episódio, o Ogata é um monstro, a forma como ele se mantem frio em situações de perigo, a indiferença dele pela queda dos outros é assombrosa. A forma como ele atingiu um dos soldados russos da fronteira numa questão de milissegundos é mais uma confirmação da ameaça que o Ogata é. Por sorte o lado russo também tem um sniper de primeira, o Vasili vai ser ameaça a ser reconhecida.

    O Kiroranke neste episódio esteve bem, ainda não o suporto por ele estar a enganar a Asirpa, mas ele teve bolas de aço ao ir buscar o velho uilta que tinha levado um tiro na cabeça. Deu calafrios quando o soldado russo mostrou o cartaz de procurado, quero ver até onde o Kiroranke consegue ir.

    O facto do velho uilta ter sobrevivido não me surpreendeu, o chapéu que ele estava a usar era bem grosso e as balas daquela época tinham pouca potência.

    Como sempre, mais um excelente artigo de Golden Kamuy Kakeru17.

    • É sempre ótimo o complemento histórico que você faz aos artigos Kondou, pontual como sempre. Foi um episódio muito interessante como construção de mundo, mas também desenvolvimento de personagens, afinal, o Kiroranke e o Ogata soltaram suas asinhas, jogando ainda mais lenha na fogueira nessa caçada ao ouro. Em breve sai o artigo do sexto episódio e lá discorro sobre o que o anime vai aprontar na sequência.

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