O que é melhor que uma mente genial? Resposta simples, são duas mentes geniais. E ambos os gênios estão logo acima.

Mas vamos ao episódio. Novamente não tenho motivos para destacar o aristocrata da vez. Que ele é mau apenas o fato dele se entreter em seu campo de caça matando pessoas já deixa bem claro. O que destaco é o plebeu, aquele que tinha a missão de irrita-lo. Isso porque o próprio anime deixou claro que ele também era uma pessoa má, justificando assim o seu sacrifício.

Eu estava esperando o anime mostrar isso, e quem sabe até explorar esse ponto. Pois é um fato que pessoas más se encontram em ambas as classes sociais. E uma vez isso admitido a culpa recai sobre o indivíduo e não sobre a sociedade. Ideia essa que contraria a crença do Moriarty sobre a própria natureza do mundo. Porém, o anime não deixa brechas para esse tipo de interpretação.

Não irei me repetir pois já discuti sobre a visão de mundo do Moriarty no artigo do episódio três. Mas em suma, todas as pessoas estão “amaldiçoadas” e essa “maldição” é sustentada pelos “demônios” que são os nobres. Então perceba, toda a imoralidade da plebe pode ser justificada tendo em vista o fato deles serem vítimas da “maldição” que distorce seus corações.

Quando vier o “novo mundo” se espera que essas pessoas sejam novamente puras, mas até lá se elas são ou não culpadas de seus atos é algo a ser discutido. Em certo sentido são e não são, desde que se aceita a visão de mundo do Moriarty. Mas o anime não adentra o problema.

Uma das coisas que mais estava animado para ver nesse anime era o Sherlock Holmes. Principalmente para ver um embate entre duas das mentes mais geniais da literatura universal. E aqui cada um mostrou suas afiadas deduções. Podemos dizer que a disputa foi um empate. Mas ainda que prefira o Holmes, admito que o Moriarty é uma mente superior. A dedução do detetive foi bem forçada como o próprio Moriarty percebe, mas é inegável que ela está correta em sentido lógico. Já as deduções do Moriarty não foram totalmente explicadas, o que é uma pena.

A personalidade do Holmes está bem parecida que aquela que estamos acostumados. Ele sempre foi excêntrico e exibicionista. Mas alguns comportamentos seus estão bem próprios assim como a sua aparência física. Muito disso devido ao traço do personagem, coisa que não é nenhum problema. O próprio Moriarty é irreconhecível quando o comparamos com sua ilustração clássica. E na verdade, a parte visual é um ponto elogiável do anime.

E falando nisso, uma das coisas que me agradaram no navio foi toda a parte estética e das cenas referentes aos hábitos aristocráticos. Isso é, a dança, a música, etc. Pode parecer banal mas é importante para a imersão. Outra coisa é o nome do navio, Noahtic, que nos lembra da história de Noé.

Em toda a minha vida eu poucas vezes vi uma opinião tão idiota como a concluída por esse nobre. A comparação entre Noé e a aristocracia foi até triste de ver. Isso é o tipo de coisa que culpo diretamente o autor. Por quê? O trabalho da ficção se sustenta na capacidade da imaginação de conceber experiências e as apresentar seja por meio de palavras e/ou imagens.

Na realidade, são as experiências e as pessoas, até porque um não existe sem o outro. Não há experiências sem pessoas e não há pessoas sem experiências. Sejam as experiências baseadas em memórias do próprio autor, de um relato de outro ou na capacidade dele de imaginar aquilo por ele nunca vivenciado. Você pode falar sobre o amor sem nunca ter amado, falar de guerra sem numa ter lutado numa, e por aí vai.

O gênero “histórico” tem como característica reviver determinada época e suas formas de pensar e agir. Como elas não existem mais cabe ao autor o trabalho de imaginá-las. E acho que ficou claro como o autor não consegue fazer esse trabalho com a aristocracia. Mas nesse ponto creio que seja proposital. Assim como a sua falha em fazer um retrato fidedigno da sociedade da época. Então não diria que esses pontos sejam defeitos, mas apenas escolhas tomadas tendo em vista um fim narrativo.

Mas claro, isso torna a obra bastante vazia, pois o anime fala sobre muitas coisas mas não consegue trabalhar suas ideias na prática. As ideias podem até ser interessantes mas a obra não consegue criar pessoas (personagens) que possam concebê-las de maneira coerente. Então não me assusto quando vejo o oposto acontecer também, as ideias se tornarem incoerentes. Já que seu representante, o ser que pensa nelas, é apenas uma casca vazia com propósitos narrativos se espera que suas ideias também se tornem vazias tal qual o seu possuidor.

E não podia deixar de citar a GRANDE ideia do Moriarty. Isso mesmo, vamos destruir a cidade inteira espalhando crime por ela. Ah, como nós somos bonzinhos não é mesmo? Na verdade acho que o anime não fará isso, seria um tiro no pé do seu “herói”. O que deve acontecer é de fato inúmeros casos isolados de assassinatos que pouco a pouco venham a unir o povo contra a aristocracia opressora. E nesse ponto o Moriarty irá se mostrar e liderar a revolução. Enfim, algo assim.

Como ele mesmo disse o crime é apenas o meio dele para alcançar o que deseja. É tentador fazer a velha pergunta “os fins justificam os meios?” mas essa pergunta não cabe aqui. Novamente eu retorno ao ponto do Moriarty poder justificar todas as suas ações utilizando-se de sua visão de mundo.  Então qualquer discussão nesse sentido nada mais é que somar zeros com zeros. E assim como o anime eu não me importo nem um pouco com essa discussão. Basta saber que ela é infrutífera.

Falando agora de modo geral, esse episódio me agradou. Acho que é o primeiro que achei minimamente interessante. Tenho que elogiar a narrativa dele que estava muito boa, não senti falta de nada aqui. Foi feita uma boa adaptação, coisa que o anime vem falhando e muito.

Estou bem curioso quanto ao próximo episódio. Qual será o plano do Moriarty? Ele irá parar em apenas uma morte, ou planeja algo ainda maior? Acho que esse deva ser o caso. Mas lembremos que há alguém naquele navio. Alguém chamado Sherlock Holmes. Ele irá se opor ao Moriarty? Se o fizer tem tudo para dar um grande trabalho ao professor.

Enfim, muitas coisas interessantes para acontecerem ainda. Até mais.

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