O fim da disputa marca a morte de deus, que não interfere diretamente na vida dos humanos por se tratar de um deus falso? E se esse deus não for “falso” no final das contas? Seria engraçado demais ver a cara de tacho do Dr. Yoneda se sua teoria se provasse errada.

Em todo caso, entendo a ideia do doutor de desejar que a humanidade escolha seu próprio fim e não o arrisque nas mãos de uma criatura que ela próprio criou. Contudo, questiono seus métodos e esse episódio foi preciso no porque o critico. Me acompanhe.

Em 300 anos a humanidade conquistará a imortalidade e depois o tempo e então perecerá, será mesmo? Essa mania de jogar números no anime me irrita, o que mesmo se tiver algum embasamento científico me parece desnecessário visto que cai na especulação muito fácil.

Além disso, não parece só uma justificativa artificial para fortalecer as convicções do doutor? Um futuro previsto não pode ser o motivo para matar e violentar as crenças alheias. Se tem algo em que o Dr. Yoneda erra é em sua falta de humanidade, de empatia, ao tratar com ela.

Tenho certeza de que a maioria dos que torcem pelo doutor mudariam de opinião se conhecessem suas ideias. O que resta então? O Red, que até certa altura parecia ter forças para se tornar a criatura, mas tudo mudou quando o projeto de Ryuk (o doutor, claro) agiu.

Mirai que alcançar a felicidade como ser humano mesmo que tenha que virar deus para isso, mas o que é a felicidade para o Mirai senão que os outros vivam e sejam felizes também? Ao mesmo tempo, ele é contraditório, pois prioriza a vida da pessoa pela qual está apaixonado.

E sabe o que acho disso? Que isso é ótimo. Mirai é humano e por mais que seus ideais sejam de abnegação e preocupação com um futuro bom para os outros, no fim do dia o que conta é nosso egoísmo, nossa individualidade, sentimentos dos quais não conseguimos abrir mão.

Por quê? Porque somos falhos, contraditórios, queremos uma coisa, proferimos tais palavras, mas mudamos de ideia quando envolve coisas que vão além de nós mesmos. O amor, a amizade, o companheirismo são isso, até porque são compartilhados com outra(s) pessoa(s).

E antes mesmo dele falar isso e começar a ser julgado pelo povo, suas ideias já eram vistas com desconfiança, por quê? Porque eram boas, mas assustavam por tanta boa vontade, assim como ele foi contraditório ao tanto defender a vida, mas determinar pesos para ela.

Ainda assim, não vejo como condenar o personagem ou o roteiro, se muito critico a exposição de seu processo de mudança para chegar nesse ponto, mas não exatamente esse resultado, pois ele é coerente com a construção do personagem. Mirai nunca abriria mão do mais simples.

E o mais simples, o mais compreensível, era se dedicar ao sentimento que tem pela Saki com a mesma devoção (aliás, com devoção maior) com a qual dedica a seu ideal de felicidade. Na vida escolhas precisam ser feitas e não há felicidade para o Mirai sem a Saki, não mesmo.

Entretanto, questiono bastante os esforços do anime em fazer nos importarmos e torcermos por esse casal, assim como a quase que total inércia da heroína em meio a todo o conflito valendo a sua vida e a vida de seu amado. Ligo menos para o casal que para a ideia por trás dele.

O importante para mim é que, com erros e acertos, o Mirai não poderia ter dado resposta melhor, mais coerente, e isso em meio a uma virada de mesa bastante previsível, afinal, vimos o projeto de L receber a flecha branca. Uma hora ele iria usá-la, não tinha jeito.

Não que eu ache que ele vai necessariamente matar alguém com ela, mas é certamente uma carta poderosa de ameaça, a única capaz de dividir de maneira tão violenta a vida dos amados trágicos. Trágicos entre muitas aspas, pois eles não devem morrer ou será que…

Será que o anime vai dar uma de “Metropoliman” e matar um deles ou acabar sem o casal formado? Não sei, mas creio que podemos esperar algo assim, ainda que me pareça praticamente óbvio inferir que o Mirai não vai morrer acertado pela flecha branca do Yoneda.

Seria extremamente anticlimático e um desperdício do potencial de reviravolta que esse cliffhanger propôs. Além disso, os defeitos intrínsecos a narrativa voltariam a atormentá-la em um momento desses, pois nenhuma das candidatas restantes teria condições de parar o vilão.

A Yuki está mais preocupada com sugar daddies que com o destino do mundo e a Saki é um poço de nada. Achei incrível como mesmo em meio a um momento foda do amado ela não teve uma fala bacana, uma atitude espirituosa, uma expressão interessante. NADA.

A representatividade feminina do anime é um lixo e apesar de entender que uma flecha branca nas mãos de alguém imune a flecha vermelha é uma carta na manga quase insuperável, foi um tanto patético ver o L de araque fazer três mulheres de refém só com uma breve resistência.

Por fim, apesar do clichê da donzela em perigo ter sido sacado de novo em uma narrativa que carrega problemas desde fases anteriores, eu não posso deixar de dar algum mérito as ideias mais interessantes com as quais esse fase da narrativa tem trabalhado e a própria direção.

Sim, a direção, que não surpreendeu ao entregar uma cena final com boa trilha sonora e tensão minimamente pungente, mas ainda assim merece algum elogio. Todo o cliffhanger fez jus ao cara mais legal (por ser o mais humano) do mundo que o Mirai foi nesse episódio.

Até a próxima!

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