Nem mesmo deus sabe o que o criou, assim o anime escapou pela tangente e não respondeu com todas as letras a pergunta de um milhão de dólares. Ao mesmo tempo, sua última cena meio que indicou uma resposta para ela. Vamos falar sobre esse final “destruidor”?

Saber quem veio primeiro, deus ou a humanidade, a existência ou o universo, o ovo ou a galinha, isso é relevante? Não, ao menos não em uma ficção que jamais chegaria a respostas concretas de qualquer forma. Aliás, quando vamos chegar a essa resposta? No fim de nossa jornada?

Antes de me debruçar sobre o final e esse questionamento, queria dizer que realmente me surpreendi com a Yuri, que demonstrou não ser a pessoa fútil, ao menos não tanto, que eu imaginava. Além disso, o Yoneda foi bem espertinho ao tomá-la como sua assistente.

No fim, a conta acabou caindo para o laboratório, não para ele. Enquanto isso, a vida do Mirai e da Saki progrediu exatamente como a gente imaginava, sem tirar nem pôr, com direito a namoro, novo visual e noivado. Só é uma pena que o casal não me cative em nada.

Nisso surge o diálogo entre os dois que chama a minha atenção não pelo Mirai temer o sexo antes do casamento ou pelo quão os dois são sem graça mesmo namorando, mas sim pelos questionamentos levantados, que vem para fechar o arco narrativo do herói.

Para o Mirai a felicidade é o próprio ato de viver, está contida nele, é indissociável a existência. Digo, a busca pela felicidade, pelo contentamento, afinal, nem todo mundo alcança. Enquanto para a Saki, a felicidade é a providência divina que reuniu os dois.

Quando ela fala sobre rezar para a paz mundial isso soa como piada, mas não vamos julgar uma garota que foi salva pela graça de um anjo e encontrou o amor da sua vida, né? Acaba que a felicidade para eles já estava em curso, quando se casaram e mesmo antes no namoro.

Com isso o objetivo da Nasse se cumpre, mas por que ela tinha esse objetivo para começo de conversa? Tenho uma teoria que vou guardar para comentar mais a frente. Quanto a ela ser o primeiro organismo que deus encontrou ao pisar na terra, minha teoria contempla isso também.

Passando a bola para o Yoneda, foi peculiar vê-lo recebendo flores de seus “amigos”, sorrindo e aceitando a derrota parcial no que competia ao desvendar dos mistérios da flecha vermelha. Nisso a gente lembra da promessa que o Nakaumi o fez e do deus que o parasitava.

Ainda acho que o Nakaumi foi a escolha mais sensata para o cargo, ao mesmo tempo em que ele era a mais perigosa por suas tendências suicidas e personalidade bondosa no sentido de se incomodar de verdade com o sofrimento alheio e o mal que não poderia remediar.

O problema realmente foi o que ele combinou com o doutor, que conduziu a situação para um final que ao mesmo tempo em que invalidava a teoria dele, também poderia muito bem valida-la. A questão é que ele jamais teria como determinar qual, ainda mais sem tempo.

O Nakaumi não se deixou parasitar completamente e com isso cometeu suicídio com a flecha branca, finalmente tomando uma atitude, algo que deus nunca tomou. O que pega é que isso levou a humanidade junto, provando que a vida de deus e dos humanos estava atrelada.

Isso significa que deus era verdadeiro (criou a humanidade) ou apenas uma criatura (criada pelos humanos)? Provavelmente o segundo se pensarmos que a cena derradeira do anime dá a entender que entidades outras criaram deus, e um deus capaz de morrer, diferente deles.

Ainda assim esse mesmo deus pode ter criado a humanidade ao mesmo tempo em que ela pode ter sido criada por essas entidades outras, ou melhor, não importa quem criou o quê, só que deus e toda a existência na Terra estava alinhada e tudo isso não passava de um experimento.

Um experimento que sempre contou com um fator impreciso, incerto: a Nasse, a qual nem mesmo deus sabia a origem ou podia prever os passos. A Nasse foi o artifício de roteiro que mudou drasticamente o destino da disputa e, por tabela, a vida na Terra como um todo.

Contudo, nem mesmo ela se dá conta disso. Será que seu propósito de tornar o Mirai feliz não foi para tanto, por esse desejo irremediável dessas entidades outras pela morte? E nisso o primeiro ser vivo, a Nasse, bebeu na fonte de deus e com isso pôde subvertê-lo.

Enfim, com isso quero falar do Yoneda, que é certamente o personagem mais bem escrito do anime (talvez o único). Por quê? Porque o tempo todo ele se demonstrou um cientista vaidoso e egoísta, ao mesmo tempo em que foi capaz de reconhecer esses defeitos e recuar.

Yoneda tentou o tempo todo justificar seu ponto e ao que tudo indica ele não estava completamente errado. A questão é que ele não teria como saber disso, o normal seria admitir derrota quando a flecha vermelha sumiu e as pessoas começaram a desaparecer.

Mas ele não o fez, insistiu em tentar achar uma resposta que contemplasse seus próprios desejos. Talvez esse tenha sido o caminho da felicidade para ele, algo compreensível para um cientista que ao mesmo tempo em que era tão brilhante, também era imaturo em vários aspectos.

Yoneda foi em tudo um personagem humano, falho e interessante, que, diferente do execrável Metropoliman, foi coerente até o fim. Melhor, não foi desagradável a um ponto sem volta. Yoneda não foi um vilão clichê babaca, apesar de ter culpa no cartório pelo fim do mundo.

Por fim, o Mirai e a Saki têm um momento fofo e se despedem de suas vidas de maneira bastante madura, mas coerente para quem um dia pensou em tirar a própria vida e aproveitou como bem quis o “tempo extra” recebido. Agora vou falar o motivo para odiarem esse final.

Esse final em que todo mundo morre é excelente, não exatamente inovador, mas excelente. O problema é o que o anime fez para chegar até esse ponto. Não vi ninguém realmente tocado pela morte dos heróis ou de nenhum outro personagem. Por quê? porque não foram cativantes.

Ao mesmo tempo, se eles fossem cativantes talvez a gritaria tivesse sido ainda maior. Na verdade, o problema reside na trama como um todo, que tem uma primeira parte sofrível e uma segunda bem melhor, mas que joga mais ideias boas do que consegue apurar.

Platinum End termina bem dentro do conceito do que dá sentido a vida, que é a morte, o problema foi a inabilidade do roteiro para lidar com questões tão complexas e delicadas, o que se não jogou tudo no lixo, abraçou a mediocridade, que era o que a maioria esperava do fim.

Até a próxima!

Comentários