Achei o conceito de “Pessoas Dentro de Nós” bem aproveitado nesse episódio, pois, ainda que o Deku não tenha salvado o dia, essa ideia de “empate técnico” veio bem a calhar para estabilizar uma tensão necessária para o prosseguimento natural da trama.

O Midoriya é cheio de limitações mesmo em seu subconsciente e isso não é por acaso, é para tornar ainda maior a recompensa quando ele conseguir faze as coisas por si só. Mas por si só entre aspas, afinal, ele não está sozinho. Deku é o emissário de uma mensagem que o transpassa.

Ele é o herdeiro, assim como o Shigaraki é, a diferença é que há mais do que uma pessoa atrás dele, validando suas ações. É como se sua mente não fosse mais apenas sua, mas sim uma egrégora dos fatores de consciência daqueles que o antecederam. O All Might vai chegar lá?

Se morrer, deve. Mas ele vai morrer? O Kouhei vai ter essa coragem? Faria diferença agora? Nisso não consigo traçar um paralelo entre o herói e o vilão, pois se um está umbilicalmente ligado ao seu mestre, o outro está ligado a outros portadores e não a quem o “doou” o poder.

Inclusive, essa ideia de fator de consciência da individualidade é muito interessante por expandir a perspectiva genética do poder e mexer num vespeiro que não deve ser tema de muitos trabalhos acadêmicos. De outra forma o mundo estaria mais “preparado” para o AFO.

Porque a diferença dele é essa, como ele consegue se relacionar intimamente com essa fator de consciência da individualidade, que pode ser só um vestígio do portador, mas incomoda de forma palpável. O tormento que ele cita foi muito interessante para “florir” o personagem.

Não, não estou aqui simpatizando com ele, mas é fato que o OFA só existe por causa dele e da conturbada relação que tinha com seu irmão mais novo, outra figura relevante nessa caminhada do Deku. E não vejo mesmo com maus olhos o AFO ainda ter tanto espaço na história.

E por que isso? Porque, diferente do All Might, ele sabe de coisas e pode provocar situações que desvendem mais mistérios quanto ao poder acumulado, e que não é mais apenas força bruta acumulada, mas também as vontades de heróis de gerações e histórias diferentes.

Essa ideia de intriga familiar misturada a herança de propósito e dualidade de princípios dá contornos muito interessantes a treta que move a trama central, conferindo as semelhanças e diferenças entre os polos algumas características muito pungentes.

Por exemplo, se o AFO usa o Shigaraki por seus próprios objetivos, o Deku é carregado por pessoas que não estão o manipulando, mas com as quais ele compartilha motivação genuína. O Shigaraki é, muito claramente, um peão que o AFO usa por puro sadismo e oportunidade.

As interações entre as duas “facções” e o “empate técnico” entre elas deixa transparecer bem isso se pensarmos que o Deku pode até ser mais fraco e inexperiente que o Shigaraki, mas seu alinhamento com aqueles que o apoiam valida bem suas convicções.

Por outro lado, o AFO e o Shigaraki não conseguem sincronizar e tomar o OFA do Deku, demonstrando uma dissonância que dá brecha para que o herói se fortaleça antes do embate final. Ele precisa, afinal, esse arco deixou bem clara toda a superioridade do vilão.

Quanto ao outro núcleo abordado nesse episódio, adorei a Uraraka e a Toga terem tido mais tempo de tela, mas odiei a lógica furada da Toga quanto ao tratamento que os heróis dão a eles. Sério que ela mata os outros e quer ser salva tal qual uma vítima? Tá de brincadeira, né, minha filha?

Esse papinho furado não é papinho furado quando há contexto e lastro, mas é tão repetido no anime que uma hora cansa. Concordo que em algum nível, e em algum momento, os vilões principais já foram vítimas, mas sério que eles acham ruim se são detidos por heróis?

Eles pararam de agir violentamente quando os heróis pediram? Não, então que arquem com as consequências de seus atos. Pelo menos a Uraraka foi perfeita ao responder o questionamento da vilã, demonstrando um pouco de sua força, algo que estava em falta na trama.

Contudo, faço uma ressalva. Custava dar mais tempo a heroína? Para personagens menos importantes, como o Dabi, se cria todo um hype em cima de um arco (Dabi Dence) que pode e deve ser bom, mas precisava ser assim e agora? Kouhei não é meu céu, infelizmente…

Até a próxima!

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