Em seu sexto episódio o Arco do Distrito do Entretenimento nos entrega um deleite visual em sincronia com um desenvolvimento narrativo de muita qualidade, assim Kimetsu no Yaiba segue intenso e com direito a surpresas familiares, tanto literalmente quanto não.

Os cabelos brancos da Daki, depois de receber suas faixas de volta, me lembraram do Instinto Superior do Goku, mas a lembrança ficou nisso mesmo, afinal, o protagonista de Dragon Ball jamais usaria seu poder para a crueldade, coisa que ela faz com naturalidade ímpar.

Agora sério, não sei se a transformação dela invalida minha teoria sobre um segundo oni, mas é certo que estava apontando para o alvo errado. Até agora as faixas que vimos diziam respeito apenas a ela mesma, a causa do emputecimento de nosso amado herói, Tangerina.

Adoro o apelido que deram para ele, mas adoro mais como o anime me faz duvidar de uma escolha narrativa por um instante para em poucos momentos depois justificá-la. A carta do Shinjuro para o Tanjiro foi bem isso, um evento que parecia deslocado, mas fez todo sentido.

Afinal, nosso herói é ou não é um “escolhido” para usar a respiração do sol como seu pai era? Se não, ele agora também tem como adversário o destino? Se sim, não é meio confuso, e até cruel, ele alimentar essa angústia? Não que isso seja capaz de minar seus movimentos.

E o que vemos a seguir é justamente isso, um festival de apelação do herói, que mesmo mais fraco e limitado por sua humanidade, foi capaz de não só bater de frente com a Daki, como dar a entender que seria capaz de exterminá-la, apesar do truque com o pescoço e a faixa dela.

E a crueldade da vilã ativou um gatilho nele, quebrando seus limites e investindo com tudo com uma técnica mais apurada, mas principalmente sentidos mais aguçados. Como cereja do bolo tivemos uma animação ainda mais fluida e bem acabada e uma direção afiada nesse trecho.

Esse episódio me lembrou muito o 19 da primeira temporada e o trecho mais intenso da luta do Rengoku contra o Akaza, mas a diferença para com esses dois momentos foi o quanto ele não viveu só da catarse, mas também do acréscimo e da retomada de elementos relevantes a trama.

Quem é a figura misteriosa impregnada na memória das células do Muzan? Pela marca na testa e as palavras dá para cravar que é descendente dos Kamado? Se fosse o pai do Tanjiro fazer esse mistério todo seria meio bobo, então aposto em um novo personagem, em uma nova história.

E com isso a trama se aproveita de um conceito com o qual trabalha desde praticamente seu cerne, que é o legado passado através do sangue, seja do sangue do Muzan que corrompe os seres humanos e os transforma em monstros, seja do sangue dos Kamado que não abaixa a crista.

Sangue carrega convicção, que não precisa de memórias nítidas para se fazer sentir, não à toa os discursos do Tanjiro e dessa figura misteriosa se aproximam (praticamente se igualam), o que creio se dever as convicções com as quais ambos foram criados, não por acaso devem ser parentes.

É claro que o anime trabalha a coisa de maneira muito mais lúdica do que seria na vida real, mas, ainda assim, acredito na ideia de convicção que pode ser passada através do sangue, mesmo que ela não seja um grito biológico e sim uma construção social baseada na criação e no exemplo.

Os Rengoku mesmo são outro exemplo de família em que convicções são herdadas e legados continuados, ou não, pelo menos não exatamente como vinha sendo feito. A questão é que conceitualmente esse episódio todo foi excelente, agradeço até pela fraquejada final do Tanjiro.

Sei que ela foi conveniente, mas sei que o argumento do limite do corpo humano não é ruim, ainda mais quando ele oferta espaço a Nezuko, que é em si uma contradição, mas também uma afirmação. Uma contradição sobre o sangue do Muzan, uma afirmação sobre a força da família.

São os laços com o Tanjiro, que começam devido ao sangue que compartilham, que a levaram a se erguer contra a Daki a fim de protegê-lo. Com uma comissão de frente mais avantajada, é verdade, mas ela não manipula o corpo como bem quer? Acho que posso engolir isso também.

O que não poderia engolir é um anime tão bem animado e divertido sem ideias, e como pode ver, Kimetsu tem bastante delas, o suficiente para eu achar esse episódio excelente em tudo aquilo que tentou fazer. Até a corrida infinita do Uzui e dos outros veio bem a calhar, não foi mesmo?

Até a próxima!

Daki ainda apanhou foi pouco

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